Categoria: Martelando o Teclado
História de uma multa
E então o caboclo, sabe-se lá por quais motivos, precisou transportar a moto de um lugar para outro.
Fez o de praxe: tirou a máquina da garagem, trancou tudo, deu partida, aguardou um tempinho pra esquentar (sim, ele sempre foi cuidadoso), colocou o capacete, afivelou, refez o trajeto mentalmente, engatou a primeira e foi.
Mas não foi longe – na realidade bem ali perto. Isso porque o transporte ia ser feito usando o reboque de um amigo. Chegou, deu uma buzinadinha, foi atendido – o carro e reboque já estavam na rua – colocou uma prancha, subiu com a moto, prendeu-a de modo bem firme, desceu do reboque, agradeceu o amigo, pegou a chave, ligou o carro, engatou a primeira e foi.
Um dia até fresco num bairro tranquilo, abriu a janela, cotovelo apoiado, um olho na rua, outro no retrovisor e seguiu seu caminho…
Mas a cada semáforo percebeu que as pessoas invariavelmente apontavam em sua direção e algumas até mesmo riam. Esquisito aquilo. Olhou pra trás: a moto estava bem firme lá no reboque. Paciência. Gente esquisita, essa. Continou seu caminho.
De repente – já viu de longe – um comando lá na frente. “Tudo bem”, pensou consigo mesmo. “Toda documentação está em ordem, tanto do carro, quanto da moto e até mesmo do reboque. Se me pararem vão perder seu tempo comigo.”
E não é que mandaram que parasse?
Sorriu, deu uma acenadinha, reduziu a marcha, ligou a seta, encostou o carro, puxou o freio de mão, desligou o motor, abriu a porta, desceu, já meteu a mão no bolso, tirou a carteira, puxou os documentos e, ali na rua mesmo, dirigiu-se ao guarda.
– Documentos, né? Tá tudo aqui, ó: os do carro, da moto, do reboque, minha habilitação…
– Meu senhor, está tudo bem?
– Uai, tá sim.
– O senhor tem certeza?
– Claro que tenho certeza. Que coisa! Olha, se o senhor puder já conferir os documentos e me liberar, é que eu tô meio com pressa, sabe?
– Meu senhor, por favor venha aqui para a calçada. Precisamos conversar.
– Seu guarda, não estou entendendo. O que é que tá pegando? Por que é que o senhor está me tratando assim?
– O senhor tem certeza que não sabe?
– Claro! Não estou entendendo nada!
– Olha, quando vi o senhor vindo já achei esquisito. Por isso que pedi pra que encostasse o veículo. Agora que o senhor desceu e está aqui conversando comigo, estou achando muito mais estranho ainda. Por favor, insisto, venha aqui para a calçada.
– Seu guarda, faça o favor de explicar o que é que está acontecendo!
– Então vamos fazer o seguinte: primeiro, acalme-se. Agora, se o senhor fizer o favor de tirar esse capacete então poderemos conversar com calma, tá certo?
Só então, só daí, já morrendo de vergonha, foi que ele percebeu o que realmente estava acontecendo desde o momento que saiu de casa…
Quié?
Vocês estão achando que tudo isso é invenção, é?
Bem, com multas como essa abaixo, já dá pra perceber que não…
Ai, que saudade d’ocê!
Hoje sonhei com você.
Como há muito tempo não sonhava!
Sei que andamos distantes, distraídos e praticamente sem contato. Coisas de nossas vidas, entendo bem isso. Afinal de contas, é basicamente minha a decisão de não estar por perto. Você sabe bem o quão complexo e complicado eu sou e, ainda que eu venha a sofrer com toda essa lonjura, vamos combinar que, para mim, é meio que um instinto de autopreservação…
Mas sonhos não se dão a esse luxo.
Sonhos, talvez, devem ser manifestações psíquicas das necessidades físicas de um ser humano. E ter você por perto – não se engane! – é, sim, uma necessidade física!
E foi um daqueles sonhos tão vívidos, tão reais que, ao acordar, ficamos na dúvida se ainda não estamos sonhando.
E, nesse sonho, encontramo-nos casualmente. Não me pergunte onde, não sei! Mas sei que, como sempre, à distância mais senti sua presença que realmente te vi. E quando menos esperava já havia me aproximado, já estava do seu lado, sorrindo, te desejando, num flerte aberto e escancarado. E você, impassível. Um gelo. Normal.
E, ato contínuo, já estávamos a sós. Delicadamente, segurando todo meu afã, sem pressa, te despi, expondo toda sua pujante nudez.
Antevi aquilo que estava por vir, já me lembrando de sua textura, de teu sabor, de teu cheiro – ah, teu cheiro! Odores estão diretamente ligados à memória e a memória a estes. Não tem como não meramente lembrar de você sem lembrar desse teu saborosíssimo cheiro… É inebriante! Alguma vez você já se deu conta disso?
E, tal qual numa dança, lenta dança, prazerosa dança, segurei-me ao máximo para sequer te tocar. Nosso ato de consumação não poderia ser leviano – nossas preliminares deveriam ser respeitadas. Um simples toque poderia colocar tudo a perder.
De tão próximos, mesmo não te tocando, senti tua temperatura. E teu cheiro. Novamente teu cheiro! E foi nesse instante que tive a plena certeza de que não mais conseguiria me segurar. Era impossível me segurar. Queria – precisava – ter você, novamente, só pra mim.
E então, quando estava praticamente no momento final de dar início ao nosso íntimo ato, de te penetrar, já começando a sentir o teu aconchegante contato, já antevendo a alegria de, mais uma vez poder te saborear total e completamente num devaneio de arroubo de prazer…
Acordei.
Tonto, perdido e deslocado.
E então me dei conta: era um sonho.
Ainda não foi dessa vez que voltamos à nossa antiga relação…
Fica pra próxima.
Quem sabe.
E ficamos assim: sorvete de creme, vai vivendo tua vida e eu, a minha.
Sobre o que tem importância…
#fato
Pensamento do dia
Fotosofando…
Né?
Tem gato nessa tuba…
Sim, tenho certeza que em algum momento de sua vida você já ouviu essa expressão.
E o que ela quer dizer? Quer dizer que alguma coisa está errada, que alguma coisa ou situação pode ter algo a mais que aparenta ter, que algo que deveria se comportar de um jeito está se comportando de outro. Enfim, quer dizer que tem caroço nesse angu, que algo cheira mal, que a história tá mal contada, que nesse mato tem coelho, que há algo de podre no Reino da Dinamarca (outras deliciosas expressões…).
Ninguém sabe ao certo a origem dessa expressão, mas diz a lenda que um músico que tocava tuba – um gigantesco instrumento metálico de sopro, com uma campânula enorme – achou que o som estava muito estranho e ninguém conseguia saber o porquê. Toca daqui, afina dali e nada. Até que, ao desmontar o instrumento, descobriram que havia um gatinho dentro da tuba!
Ou seja, quando algo não está soando bem, dizemos que “tem gato nessa tuba”…
Aliás, já que estamos falando de cultura inútil, dessas expressões citadas outra que gosto muito é que “há algo de podre no Reino da Dinamarca” – essa de origem mais certa e nobre.
É originada na peça teatral Hamlet, de William Shakespeare. Nela, o príncipe Hamlet, filho do rei da Dinamarca, é encarregado pelo fantasma de seu pai para vingar seu assassinato. Hamlet o faz, mas no processo acaba liquidando toda a família real e, ao final, ele mesmo acaba mortalmente ferido por um florete envenenado. É… bem mexicana essa tragédia grega britânica…
Mas, enfim, em determinado momento da peça, um dos personagens, ao concluir que existem traições dentro de traições, tramóias e assassinatos que estão acabando com o reino, solta a pomposa e futuramente famosa frase: “something is rotten in the state of Denmark”.
O que exatamente ele quis dizer com isso?
Fácil.
Que tem gato nessa tuba…