O melhor da gramática portuguesa

Até onde sei, esta é uma redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco – Recife, que obteve vitória em um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa. (Publicada na coluna LIVRE PENSAR, de Ivaldo Gomes):

Mesóclise a Trois

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.

O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice.

De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo.

Aí, ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa.

Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

E ainda há quem diga que já esgotamos todas as possibilidades de uso da língua falada e escrita. Pelo jeito, quem fez tal afirmação não leu este texto.”

“Motivação”

“carpe diem”

MOTIVAÇÃO. Motivo. Ação. Motiva a ação. Aquilo que dá motivo à ação. Motiva a ação em função deste. Motivo sem ação resta perdido. Ação sem motivo resta inócua. O motivo faz que a ação seja prazerosa. A ação faz que o motivo se realize. O motivo fundamenta. A ação executa. Fundamenta a execução. Motiva a ação. Motivo. Ação. Motivação.

Heh… Agora eu entendo como Lewis Carrol conseguia se divertir tanto com as palavras…

Que língua é essa?

Ah, eu não ia falar, mas não consigo aguentar. Devo estar ficando (cada vez mais) velho, gagá ou senil. Ou os três juntos. Vejam, não é tão difícil assim escrever num português corrente, inteligível para qualquer leitor mediano.

Mas encontrei a seguinte pérola no Orkut (“IoRgute” para os íntimos):

” eu to ótima i vc? ainn brigadaummmmm! “

Mas o que, por Júpiter, leva um SER a escrever dessa maneira?

Ach!

Liberdade, igualdade, fraternidade e…

“Advogados à beira de um ataque de nervos”

FUNCIONÁRIO PADRÃO DO MÊS DE JANEIRO :

Por sua dedicação exclusiva no cumprimento do dever.

Após o advento da Internet é surpreendente a quantidade de textos cuja autoria se atribui a alguém famoso. Recentemente recebi uma corrente com um poema pseudo-religioso, escrito em 2005, e atribuído a ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade!

Ainda que sob o risco de eventualmente estar cometendo uma gafe, segue um texto pra lá de interessante cuja autoria foi atribuída a Millôr Fernandes (mas acho que é dele mesmo):

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se!” que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do “foda-se!”? O “foda-se!” aumenta a auto-estima, torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta.

“Não quer sair comigo? Então foda-se!”.

“Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!”.

O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.

Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

“Pra caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “Pra caralho”?

“Pra caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

Mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo!”.

O “Não, não e não!” e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “Não, absolutamente não!” o substituem.

O “Nem fodendo” é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral?

Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!”. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um “é PHD porra nenhuma!”, ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!”. O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior.

É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “Puta-que-pariu!”, ou seu correlato “Puta-que-o-pariu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba… Diante de uma notícia irritante qualquer um “puta-que-o-pariu!” dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cu!”? E sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu cu!”.

Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu cu!”.

Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: “Fodeu!”.

E sua derivação mais avassaladora ainda: “Fodeu de vez!”. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:

O que você fala? “Fodeu de vez!”.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!!!

Tirinha do dia:
Garfield no início, em 1978.

Recordando…

E eis que já tá acabando o ano…

Numa noite insone, diretamente das sombrias catacumbas de meu computador, eis que encontrei alguns bons e velhos textos e poemas interessantes, que me tocam a alma…


O que é REALMENTE IMPRESSIONANTE é que o poema seguinte tanto pode ser lido no sentido normal quanto de trás para frente (verso a verso) – o que muda totalmente seu sentido…

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…

CLARICE LISPECTOR


EU QUISERA

Eu quisera que encontrasses nos meus olhos
Todas as respostas que não sei te dizer;
Eu quisera que procurasses dentro de mim
Tudo o que ainda não consegui encontrar;
Eu quisera que estivesses realmente segura do que és – és tu para mim;
Eu quisera que todo meu ser não tivesse um só segundo para mim
Eu quisera muitas coisas
Mas resumindo, eu só quero que tu me queiras
Eu quisera acima de tudo o teu amor.


ISMÁLIA

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar.

ALPHONSUS DE GUIMARAENS


LIBERDADE

Você tem liberdade de ser você mesmo, de ser o seu próprio eu, aqui e agora, e não há nada que possa impor-se no seu caminho. Essa é a lei da Grande Gaivota, a lei que é. Cada um de nós é uma ilimitada idéia de liberdade, uma imagem da Grande Gaivota, e todo o corpo de vocês, da ponta de uma asa à ponta da outra, não é mais que o próprio pensamento de vocês.

Se a nossa amizade depende de coisas como o espaço e o tempo, então quando finalmente ultrapassarmos o espaço e o tempo, teremos destruído a nossa fraternidade. Mas, ultrapassado o espaço, tudo o que nos resta é AQUI. Ultrapassado o tempo, tudo o que nos resta é AGORA. E entre AQUI e AGORA você não crê que poderemos ver-nos uma ou duas vezes?

RICHARD BACH

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

E Guarulhos decola!

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 05, de setembro/2005 )

Definitivamente o Município de Guarulhos resolveu decolar, alçando um vôo em escalas jamais previstas nas pistas de seu próprio aeroporto. Porém essa decolagem diz respeito à adoção do software livre no âmbito do próprio Município de Guarulhos.

Neste último dia 11 de setembro foi realizado um Seminário sobre Software Livre na Prefeitura Municipal de Guarulhos – espero que apenas o primeiro de uma série. Nas palavras dos organizadores:

“No atual contexto nacional e internacional, o Software Livre vem ocupando um espaço cada vez maior, tanto na esfera pública quanto na iniciativa privada. Hoje em dia, existem soluções livres de altíssima qualidade para uma quantidade muito grande de atividades, tanto em servidores de rede quanto em estações de trabalho. Cientes da importância social e econômica do software livre, a Prefeitura de Guarulhos realiza o seminário sobre Software Livre, com o objetivo de disseminar os conceitos de software livre e incentivar o seu uso na administração pública e na cidade e Guarulhos.”

E assim, através de palestras e apresentações – às quais eu tive a felicidade de estar presente – é que se desenvolveram as atividades nesse dia memorável. A seguir, algumas delas…

Elói Pietá – Prefeito Municipal

Com todo o respeito ao excelentíssimo senhor Prefeito Municipal de Guarulhos, a impressão que se tem ao conhecê-lo é que o negócio dele continua sendo a boa e velha máquina de escrever. Que o computador, na prática, ainda não faria parte de seu dia a dia. Talvez lhe falte um pouco daquela vivacidade que costuma tomar conta dos apaixonados por software livre quando defendem sua causa.

Mas não se enganem: sua percepção se demonstra aguçada ante o simples fato de ele ter depositado o voto de confiança em sua equipe para que se implante esse projeto que, ainda que não seja revolucionário, ao menos é ousado o suficiente para abalar as estruturas tradicionalíssimas de um poder público municipal.

Simplesmente não conheço nada de seu plano de governo ou das metas para sua administração, mas sei reconhecer um pessoal engajado e com competência para realizar seus planos quando decididos. E, sinceramente, lá tem uma boa turma assim.

José Luiz F. Guimarães – Secretário de Admnistração

Magro, barba suave, já um tanto grisalha, e ostentando um rabo de cavalo que faz lembrar – de longe – o Mestre Jedi vivido por Liam Neeson em Star Wars I…

Em sua abertura frisou que a política adotada pelo Município será o de uso PREFERENCIAL do software livre, o que por si só já se revela como uma boa notícia, pois demonstra que não existe – aparentemente – a intenção de se forçar o usuário à aceitação de uma nova situação, mas que o trabalho será de desenvolvimento, adaptação, persuasão e conquista desse mesmo usuário.

Frisou quatro pontos que foram decisivos para a decisão pela adoção do software livre.

Em primeiro lugar, a autonomia tecnológica. O software livre definitivamente permite ao usuário se libertar das amarras do software proprietário, de modo que ele se torna customizável para atender suas demandas específicas. Contudo, na minha opinião, há que se providenciar o treinamento e a especialização de uma boa equipe, pois sem ela um projeto desse porte estará fadado ao fracasso. Simplesmente não funciona. O usuário mediano não está interessado em programação e configuração, mas simplesmente em sentar em frente de sua máquina, fazer seus textos, elaborar suas planilhas, visitar alguns sites, encaminhar e-mails, etc.

Em segundo lugar, o compartilhamento da experiência com outros Municípios. Essa, pessoalmente, eu acho uma decisão louvável. Sou da opinião de que temos que aprender com os erros dos outros, pois não teremos tempo de cometê-los todos. Da mesma maneira que Guarulhos poderá se aproveitar da experiência de migração para o software livre já realizada em outros municípios, também assim poderão outros municípios, futuramente, sorver da experiência dessa cidade, evitando cometer eventuais equívocos que tenham ocorrido, bem como acelerando seus próprios processos de implantação face a uma experiência bem sucedida.

Em terceiro lugar, seria uma solução para a pirataria. Cumpre-me ressaltar que a pirataria não tem fim. Simples assim. Por mais que haja a preocupação com sua erradicação, a atividade bucaneira já é uma “tradição” que está total e completamente arraigada no inconsciente coletivo da comunidade. Aquele que nunca usou um software pirata que atire o primeiro disquete!

E, em quarto lugar, significaria uma redução de custos. Pelo que entendi, redução esta não só no tocante à emissão de licenças de uso, como também na própria manutenção das máquinas, uma vez que, com software ESTÁVEL, acabaria a necessidade de remessa diuturna de equipamentos à manutenção, havendo também o prolongamento da vida útil dos mesmos.

Assim, com esses parâmetros em mente decidiu-se pela adoção em escala municipal de alguma das versões da distribuição Debian, que fará conjunto com o Open Office já na implantação do software livre. Outros produtos alternativos, com o tempo, seriam também devidamente homologados para utilização.

Com essa decisão já foi possível fazer um cálculo matemático de que a economia aos cofres públicos chegaria, num primeiro momento, a cerca de R$734.000,00 por ano!

Ou seja, a meta adotada é justamente “vencer a resistência ao novo”. Entenda-se, no caso, que essa resistência dar-se-ia por parte de novos usuários, que não estariam dispostos a mudar sua maneira de trabalhar, de pensar, face a algo que não conheceriam.

Para colocar em prática esse projeto foi criado um Grupo Permanente de Software Livre, cuja sigla, GPsL, ao menos para mim, não deve ter sido elaborada com essas letras por mera coincidência…

Gustavo C. Q. Mazzariol – Metrô de São Paulo

Num primeiro momento passa a impressão de ser um mero tecnocrata que estaria ali para simplesmente nos passar números e gráficos que comprovariam o sucesso pessoal de seu gerenciamento.

Ledo engano.

Se o Metrô de São Paulo tiver 30 anos, então ele está lá há pelo menos 32… Conhece absolutamente TUDO acerca dos desdobramentos daquela obra, bem como é um dos responsáveis – senão O responsável – pela implantação do software livre no Metrô.

Em primeiro lugar fez questão de frisar que software livre é diferente de software grátis. Um software pode ser livre e não ser grátis, bem como pode ser grátis e não ser livre. Destacando-se o fato de que sendo grátis não significaria que seria um software de “segunda linha”, mas simplesmente que deveria obedecer ao conceito do copyleft.

Nesse sentido fez a explicação acerca do que seria o software livre, comparando-o com uma “receita de bolo de chocolate da vovó”… Ou seja, ela teria uma receita de bolo que seria delicioso e a compartilharia com outras pessoas, suas irmãs, filhas, etc. Elas, por sua vez, poderiam perceber que haveriam alguns itens a serem melhorados nessa receita e os acrescentariam por conta própria, e, assim o fazendo, teríamos um bolo mais saboroso, de qualidade ainda melhor que o original. E essa nova receita seria compartilhada de volta com a vovó, com as demais pessoas que já a tinham e com quem mais a quisesse. E essas outras pessoas poderiam simplesmente receber e usar a receita do jeito que estaria ou melhorá-la mais ainda, repetindo assim o ciclo e “lapidando” cada vez mais a receita.

Ora, o software livre possui exatamente esse mesmo princípio. A única obrigação que um usuário de software livre – qualquer que seja – teria, seria somente o de estar sempre compartilhando não só o próprio software, como também os melhoramentos que viesse a introduzir no mesmo. Daí o ponto que eu sempre ressalto: para uma implantação em larga escala há que se ter um pessoal técnico capacitado para poder efetuar por conta própria todas as adaptações e melhoramentos, sob o risco de se ficar eternamente preso a alguma emmpresa ou entidade que seria detentora da capacidade de realizar esse trabalho.

Destacou que para a implantação do software livre não bastaria simplesmente o argumento de corte de despesas, uma vez que é imprescindível também investir em qualidade. Não se trata de uma alternativa: ou se cortam despesas ou se investe em qualidade. Isso porque, para que se obtenha um real sucesso, NUNCA se deve abrir mão da qualidade.

Dessa maneira, numa real análise das necessidades dos usuários, fica mais fácil perceber que para determinadas situações – ainda que poucas – realmente o software livre não seria viável, de modo que um sistema híbrido é o que atenderia da melhor maneira os usuários.

Independente disso, há que se ter PERSISTÊNCIA, pois toda inovação implica, também, em mudança cultural. O usuário tradicional por excelência é dotado não só de rebeldia como extremo conservadorismo, sendo em sua maioria avesso a mudanças.

Daí a necessidade de se ter CRIATIVIDADE na crise, pois a crise seria mesmo uma oportunidade que se apresenta para implantação de novos conceitos. E essa criatividade deve ser levada em consideração em todas as situações.

Citou como exemplo a renovação do parque informático. Ao consultar um usuário tradicional se gostaria de ter um equipamento mais novo e mais potente este responderia: “Sim, é lógico!” Daí o pulo do gato: “Ok. Porém esse equipamento não virá com o MS-Office, mas com o Open Office.” Ora, se o usuário responder que assim ele não quer, ótimo. Vamos para um outro que queira. Simples assim. Que ele continue com a sua máquina antiga até que esteja disposto a mudar seus próprios conceitos.

E não é tão difícil assim, pois existe software livre para praticamente todas as situações. Citou a relação do que é usualmente utilizado por ele:

 - Sistema Operacional:       Debian Sarge
 - Interface Gráfica:         Blanes 2004
 - Suíte de Escritório:       Open Office
 - Navegador de Internet:     Firefox
 - Gerenciador de E-mail:     Thunderbird
 - Gerenciador de Arquivos:   Konqueror
 - Manipulador de Imagens:    Gimp
 - Banco de Dados:            MySQL / Postgree
 - Rede:                      Nagios

 
E quem olha e utiliza seu notebook, ainda que usuário ferrenho do MS-Windows, pode nem vir a notar a diferença…

E, dentro de sua conclusão, chamou a atenção para o fato de que o software livre não pode ser associado a ideologia, credo ou bandeira política.

Heh… Nesse sentido, pessoalmente, acho um pouco complicado, pois os próprios usuários e desenvolvedores de software livre são ferrenhos defensores de suas distribuições e aplicativos… Mas, creio eu, ele não estava se referindo à esse tipo de conduta, mas sim à vinculação do software livre, principalmente, a algum tipo de conduta política, o que certamente contaminaria os ideais necessários para sua implantação.

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Ctrl-C nº 05

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 05, de setembro/2005 )

* NOTA: Essa foi a abertura de uma das edições de um e-zine que escrevi, de nome Ctrl-C, a qual transcrevo aqui no blog para viabilizar futuras buscas por artigos.

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    #####       ##            ####          #####      set/05
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   #######     ##### ####     ####         #######  Ctrl-C 05
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      Hoje não é o forte que engole o fraco.
      É o ligeiro que mata o lerdo.
                                   ( Joelmir Betting )
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Buenas.

Heh… Que tal essa? Menos que um e-zine por ano… Isso deve ser algum novo record editorial…

Pois bem. O digníssimo “www.habeasdata.com.br” morreu. Faleceu singelamente, sem que (quase) ninguém percebesse. Deixou bens, documentos, saudades e herdeiros. E o seu herdeiro direto é o “www.legal.adv.br”, um site bem mais LEGAL, tanto no sentido estrito, quanto no sentido amplo da palavra. E justamente em função desse novo site, onde mantenho um pseudo-blog, é que deixei de trazer informações mais recentes aqui para o nosso clássico Ctrl-C.

Da última vez que me manifestei neste espaço meu segundo filho estava começando a falar. Nada de novo debaixo do sol da Dinamarca, pois agora meu TERCEIRO filho é que está querendo começar a falar. Mas não se preocupem. Chega de filhos. Já contratei um bom taxidermista, mandei cortar, empalhar, e pendurei na parede, sobre uma placa com os seguintes dizeres: “Cumpriu seu dever com honra!” Ou, nas palavras de um amigo, transformei a zona industrial em área de lazer…

Continuo na Prefeitura de Jacareí, ainda na área de Licitação, Contratos e Convênios, agora já na segunda gestão. Cada dia aprendendo um pouquinho mais dessa área absurdamente prolífera em novidades. Também continuei com meus estudos genealógicos – que, atualmente, encontram-se no freezer por algum tempo. Tenho que dar uma centrada na vida.

Meus gibis – pra desespero da Dona Patroa – continuam se multiplicando, e tenho brincado um pouco mais com gravação de CDs e DVDs. As famosas “cópias para avaliação perpétua”. Ou seja, nada de diferente do resto do mundo.

Mas não é segredo nenhum que eu só retomo este espaço quando tenho alguma coisa enroscada na garganta, encalacrada em meu cérebro, querendo tomar forma e necessitando sair para o mundo real. Tenho conseguido um bom desabafo nas páginas do Legal (psicóloga pra quê?), mas percebi que o assunto que pretendo focar aqui – software livre na Administração Pública – iria tomar um espaço muito grande. Então nada melhor que gastar um pouco da paciência de vocês no bom e velho estilo Ctrl-C – Ctrl-V…

 [ ]s!                  ________________         _
                         __(=======/_=_/ ____.--'-`--.___
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 Adauto                           .--`--'../
                                 '---._____./!

                             INFORMATION MUST BE FREE !

 
ADVERTÊNCIA:

O material aqui armazenado tem caráter exclusivamente educativo. Como já afirmei, minha intenção é apenas compartilhar conhecimentos de modo a informar e prevenir. Não compactuo nem me responsabilizo pelo uso ilegal ou indevido de qualquer informação aqui incluída. Se você tem acesso à Internet e está lendo estas linhas significa que já é grandinho o suficiente para saber que a utilização deste material visando infringir a lei será de sua própria, plena e única responsabilidade.

Você pode, inclusive com minha benção, reproduzir total ou parcialmente qualquer trecho deste e-zine. A informação tem de ser livre. Mas não se esqueça de citar, também, quem é o autor da matéria, pois ninguém aqui está a fim de abrir mão dos direitos autorais.

NESTE NÚMERO:

I. E Guarulhos decola!
II. IV. Edição Anterior