O homem; as viagens

Poético…

Ontem à noite a Lua estava linda, o clima gostoso e, tal qual como aconteceu com Rita Lee ao compor a música “Mania de Você”, eis que minha veia poética veio à tona. Deixemos tudo o mais um pouco de lado e desfrutemos uma saudável auto-avaliação…

O HOMEM; AS VIAGENS

O homem, bicho da terra, tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua.
Desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas
Elas obedecem, o homem desce em Marte.
Pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
Humaniza Marte com engenho e arte…

Marte humanizado: que lugar quadrado!
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil
Vamos a Vênus
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto – é isto?
idem
idem
idem.

Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar
ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

(Sim, essa é do VERDADEIRO Drummond. E não como aqueles textos pífios em Powerpoint que de quando em quando recebo e que costumam vir com a “assinatura” de autores consagrados, numa vã tentativa de lhes dar credibilidade).

Tirinha do dia:
Deus!

Escrevinhação do Damásio Santiago

Quinta “normal” (cadê aquele friozinho gostoso?)

Volto mais uma vez com esta coluna diária, que, semanalmente, publico uma vez por mês…

Respondendo às perguntas: voltarei, dentro em breve, aos comentários sobre a Lei nº 9.609/98, assim que consiga devolver ao meu dia as 24 horas que ele costumava ter antigamente.

Pra não passar em branco, e com sinceros agradecimentos ao amigo Paulo (http://www.ohermeneuta.ubbi.com.br), segue um texto escrito por Damásio Santiago da Silva, da 5ª Vara Cível do Fórum de São José dos Campos, SP, comprovando que os poetas não morrem jamais, apenas têm sua veia artística adormecida dentro de si, aguardando o momento exato para brindar o mundo com sua arte…

ELA ESTAVA LINDA!

Um contorno iluminado, realçando bem mais o seu esplendor.

Discretamente, assentei-me num banco da praça e absorto fui bebendo a sua beleza com todo gosto de um homem insaciável.

Sua forma arredondada, bem cheia, abasteciam meu olhar fixo, deixando-me hipnotizado.

Fiquei ali, absorto, por um longo tempo embevecido.

Minha imaginação fluía, minha mente coordenava meu desejo latente de um simples encontro.

Por algum tempo aquela presença exuberante me enchia de interrogações: Que se há de dizer de uma rainha tão encantadora?

Como posso expressar-me de forma tão nobre a ponto de não esvaziar o conteúdo da sua elegância? Como traduzir sem erros a vontade de contemplá-la?

Então arrisquei-me colocar as idéias no papel com certa plausibilidade, expressando o máximo respeito e cuidado.

Arranhando algumas linhas fui deixando o coração dizer o que os olhos traduziam às impressões íntimas dos sentimentos, com a correspondência respeitosa da mente.

Habilitei-me gastar um tempo na contemplação e outro na dissertação, transcrevendo certos dados que o meu cérebro transmitiam-me.

E ela, ali mesmo paralisada, sem esboçar qualquer movimento se deixava fotografar pelos meus olhos incandescentes e minha caneta registrava tudo que podia com a mais rapidez possível, temendo a sua partida.

As horas foram passando, o tempo fora embora. Eu precisava partir. Mas fui feliz, sussurrando: Que Lua!…Que Lua!…

Autor: Damásio Santiago da Silva

Tirinha do dia:
Deus!

Dia da Mulher

(Terça ensolarada)

Buenas!

Eu ia originariamente escrever parabenizando as mulheres pela data de hoje… Mas, pensando bem, pra quê?

É JUSTO ter um único dia específico para lembrar a importância que o sexo feminino representa no contexto mundial? Ainda mais se esse dia foi feito para “comemorar” a data de um massacre havido no começo do século passado?

Não acho nem um pouco justo.

A chamada mulher moderna já representa tanto no dia de hoje, como nos demais 364 restantes, o poder decisório de nossa sociedade. Desde criança já começam a se preparar para vida adulta em suas brincadeiras de “casinha”; quando adolescentes atingem a maturidade sexual MUITO mais rapidamente que os meninos que as rodeiam; na vida adulta, repletas de charme, feminilidade, inteligência e perspicácia, costumam trazer os homens a seus pés; quando se tornam mães exercem o poder discricionário direcionador da vida de seus filhos, transmitindo-lhes suas experiência, anseios e expectativas; no mercado de trabalho são excelentes profissionais, detalhistas, preocupadas e com uma visão espacial enorme; e, mesmo na velhice, são as matriarcas que possuem o poder agregador ante seus parentes, em torno das quais todos se movimentam, mantendo a coesão familiar.

E nós, meninos? A única diferença com relação à infância é que nossos brinquedos ficam mais caros…

Sei que não estou sendo original, mas, creiam-me, estou sendo FRANCO. Em que pese o sexo masculino achar que o mundo gira a seu redor e segundo seus ditames, é, verdadeiramente em função do sexo feminino, essa presença subjetiva desde nossa mais tenra infância, que as engrenagens do mundo giram. Que o digam todas as heroínas e mártires que se sacrificaram por uma sociedade mais justa. E, também, todas as mulheres comuns, que, com sua presença velada, impulsionam diuturnamente nosso povo sempre avante.

Assim, um VIVA às mulheres! E que não me venham dizer que esta ou aquela merece mais ou menos que outras, por este ou aquele motivo, pois, em verdade, TODAS as mulheres são lindas, maravilhosas, perfeitas e acabadas. E quem achar o contrário é porque não conhece realmente a inexplicável, poética, romântica e misteriosa força contida na beleza do sexo feminino.

Deixo portanto de parabenizá-las por um mero dia, e saúdo-as com a inebriante taça da alegria por todos os dias compartilhados de sua existência!

Sinceramente,

Deste fiel vassalo,

Adauto de Andrade
em 08 de março de 2005.

“Considerações”

(Sabadão… Ano-Novo… Vida Nova? Dia para divagações…)

Sempre ouço falar das famosas mudanças de Ano Novo. Eu mesmo, aqui neste espaço, já fiz algumas promessas nesse sentido…

Sinceramente? Besteira!

Nós não mudamos nossa essência em função de uma simples alteração no calendário. Somos MUITO mais complexos que isso. As verdadeiras mudanças levam tempo. Ou são pontuadas por momentos especiais, quer sejam tragédias, conquistas ou convicções pessoais. Podem até coincidir com a virada do ano, mas seria tão-somente uma coincidência.

Posso falar com alguma propriedade sobre o assunto. No decorrer de minha vida houveram diversas mudanças. Algumas radicais e outras tão suaves que eu mesmo só as percebi quando parei para pensar no assunto. E hoje percebo que essas mudanças, em sua maioria, estiveram diretamente ligadas com o coração. Nessa vida já tive a felicidade de passar por dois amores e inúmeras paixões. Sim, inúmeras, pois sou da firme convicção que todos se apaixonam o tempo todo, quer seja por pessoas, por coisas, por situações, enfim, sei lá. Mas, ao contrário do AMOR, que é perene, a paixão é fogo, que arde e dilacera, até que vai se aquietando e se apaga de vez ou, como na maior parte das vezes, se transforma numa acolhedora brasa, com a qual convivemos – não sem antes ter deixado algumas cicatrizes ou queimaduras…

Quando pequeno era um dos meninos mais comportados da escola. Daqueles que NUNCA tiveram uma nota abaixo da máxima. Faltar à aula era algo jamais cogitado e a obediência cega aos padrões estabelecidos pela sociedade era o roteiro para uma vida feliz. Isso foi a minha verdade durante algum tempo.

Chegou a adolescência e os feromônios se agitaram!… Uma primeira grande mudança. O cabelo cresceu, o gosto musical se tornou mais ácido e tornei-me um rebelde da causa inaparente. A vida era boa e o futuro simplesmente não existia.

Deixando de lado as paixonites de infância, houve uma primeira grande paixão que realmente mexeu comigo. O nome não interessa, mas isso me fez QUERER mudar, entrar naquele mundo tão diferente do meu, fazer parte, simplesmente. O cabelo foi cortado, a gandaia ficou de lado, a escola voltou a ter importância e o futuro passou a existir, ainda que longínquo. Essa foi a segunda grande mudança de minha vida. E o que aconteceu? Nada. Simplesmente ela não correspondeu àquele sentimento que lhe expus. Apesar da pele de cordeiro, minha fama continuava sendo a de lobo… E mudanças, depois de implementadas, são praticamente impossíveis de se desfazer.

Algum tempo passou, a vida continuou e conheci minha alma gêmea (daquela época). Enamoramo-nos e casamo-nos. A vida era boa e o futuro havia chegado. Mesmo casados por quase dez anos, fomos um mero casal de namorados. E como qualquer casal, o relacionamento se desgastou. Foi uma mudança mais sutil, mas foi uma mudança. Os valores da adolescência foram ficando de lado e a vida adulta manifestou-se no dia-a-dia. De tal maneira que aquela vida “deixou de me servir”. Eu queria mais. Queria mais compreensão, mais parceria, mais vida doméstica, mais desafio profissional. O desfecho final se tornou óbvio: separamo-nos.

E, enfim, casei-me novamente. Amo minha esposa, bem como os três filhos maravilhosos que temos. Reconstrui (mais uma vez) minha vida e hoje temos uma situação, se não ideal, ao menos administrável…

E o que me fez escrever esse texto? Recentemente senti no ar algo que me cheirava a ventos de mudança. Algo impalpável, uma coceira que não passa e não tem como alcançar… E vi-me obrigado a reavaliar muita coisa em minha vida. A primeira impressão que tive foi que eu havia mudado muito no decorrer de tantos anos. Que os interesses já não eram mais comuns e que a solidão – ainda que cercado de pessoas – cada vez mais se fazia presente… Porém, revendo o assunto como um todo, pude concluir que todas essas mudanças pelas quais passei foram na realidade uma evolução. Não quero dizer que evolui para um ser melhor e mais bem acabado; simplesmente evolui. O que sou HOJE é reflexo de TUDO por que já passei. Tanto as coisas boas quanto as ruins. Caso tivesse faltado algo, eu simplesmente não seria a mesma pessoa.

Por mais que me sinta tentado a resgatar uma fase boa que já passou, ora, JÁ PASSOU. Devo, sim, manter presente aquelas características que me tornaram o que hoje sou, mas também devo aprender com minha vida atual e, principalmente, com minha cara-metade. Isso não significa obediência cega – que seria submissão – nem tampouco revolta total – que seria conflito. Não desejo uma coisa nem outra. Mas o caminho do meio. E o caminho do meio implica num trabalho constante e duradouro. Não tem fim! Mutuamente apontar os erros e reconhecer os acertos da mesma maneira que avaliar os próprios erros e comemorar os próprios acertos.

Não pretendo matar ou sufocar minha essência até que seja necessária nova erupção vulcânica de mudanças. E impor meu ponto de vista seria de igual maneira sufocar ou matar a personalidade de outrem. A vida É boa e o futuro voltou a ser longínquo. E é lá que deve ficar.

Problemas existem e sempre existirão. A caixa de Pandora foi aberta e cada vez mais se escancara… Seus males jamais retornarão! A competência de evoluir é intrínseca a cada um de nós para que possamos suplantar – e aceitar – esses “males” no decorrer de nossas vidas. É de uma agradável falsidade achar que a vida já foi melhor e que poderíamos retomá-la de algum ponto no passado. De igual maneira a revolução e o reinício também poderia ser encarado como simplesmente mais uma fuga, se acovardar diante do problema ao invés de enfrentá-lo.

E essa é, hoje, a minha verdade!

TE AMO MI…

Definição de crônica

Já faz alguns dias que estou querendo escrever sobre essa Lua linda e maravilhosa que vem nos brindando com sua brilhante face nessas últimas noites quentes… Mas passou o momento… Foi um fato que me fez querer escrever, também, sobre poesia num contexto metafórico, mas também esse momento ficou pra trás…

A famosa e recorrente correria do dia-a-dia sempre atropela meus pequenos projetos. Via de regra consigo elaborá-los somente quando estou in itinere, ou seja, transitando de carro de um lado para outro. É lógico que assim que chego a meu destino a maior parte de minhas idéias simplesmente desaparece, como no despertar de um sonho logo pela manhã, pois o trabalho e as obrigações profissionais me chamam de volta à realidade.

Contudo lendo o novo suplemento de informática do Estadão – gentilmente fornecido pelo excelentíssimo senhor doutor advogado de direito jurídico Nelson Jr. – conheci a coluna de Ricardo Anderáos, que trouxe uma excepcional definição de crônica, de autoria de Eça de Queiróz, publicada no “Distrito de Évora” em 6 de janeiro de 1867:

A crónica é como que a conversa íntima, indolente, desleixada, do jornal com os que lêem: conta mil coisas, sem sistema, sem nexo; espalha-se livremente pela natureza, pela vida, pela literatura, pela cidade; fala das festas, dos bailes, dos teatros, das modas, dos enfeites, fala de tudo, baixinho, como se faz ao serão, ao braseiro, ou ainda de verão, no campo, quando o ar está triste. Ela sabe anedotas, segredos, histórias de amores, crimes terríveis; espreita porque não lhe fica mal espreitar.

Olha para tudo, umas vezes maliciosamente, como faz a lua, outras alegre e robustamente, como faz o sol; a crónica tem uma doidice jovial, tem um estouvaento delicioso: confunde tudo, tristezas e facécias, enterros e actores ambulantes, um poema moderno e o pé da imperatriz da China; ela conta tudo o que pode interessar pelo espírito, pela beleza, pela mocidade; ela não tem opiniões, não sabe o resto do jornal; está aqui, nas suas colunas, cantando, rindo, palrando; não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico; tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando.

Ora, passado mais de um século e guardadas as devidas proporções, esta seria uma perfeita definição para os blogs atuais que pululam na Rede. Aliás, de se destacar alguns de bastante interesse:

http://www.letsvamos.com/letsblogar;

http://www.pensarenlouquece.com; e

http://puragoiaba.wunderblogs.com.

O único defeito da mulher

Numa falta de assunto inominável, e curtindo via fone de ouvido as músicas de Ceumar (se ainda não conhece, procure conhecer!), mas para não deixar abandonado esse nosso cantinho, resolvi transcrever um texto que recebi há algum tempo e que gostei MUITO. Segundo consta, seria de autoria de Sérgio Gonçalves, redator da Loducca – se bem que nessas épocas de Internet torna-se fácil duvidar da real autoria de qualquer coisa que nos seja postada…

Se uma memória restou das festinhas e reuniões familiares da minha infância foi a divisão sexual entre as pessoas: mulheres de um lado, homens do outro.

Não sei se hoje isso ainda ocorre. Sou anti-social a ponto de não frequentar qualquer evento com mais de quatro pessoas, o que não me credencia a emitir juízo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos.

Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto observando tudo.

Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas. A fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.

Explico: do lado masculino imperava o embate das comparações e disputas.

Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou três por noite e outras cascatas típicas da macheza latina. Já do lado oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir.

Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava.

Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo.

Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres. Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, frequentando e levando bomba no bê-á-bá da vida, as mulheres já chegam na metade do segundo grau. Qualquer menina de dois ou três anos já tem preocupações de ordem prática.

Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já chega sabendo. E o que não sabe, intui.

Já com os homens a história é outra. Você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do Imposto de Renda? Não, nunca viram e nem verão.

Porque o homem nasce, vive e morre uma existência juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos.

E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida, para os meninos é fantasia, é competição. É fuga.

Falo sem o menor pudor. Sou direto. Sou assim. Todo homem é assim. Em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia.

Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe. É só saber olhar. Todas têm sua graça.

E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones de cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem.

PORQUE TODA MULHER ACREDITA FIRMEMENTE NA POSSIBILIDADE DO HOMEM IDEAL.

E esse é o seu único defeito.

Metáforas

Se tem uma coisa que eu adoro são as metáforas. Sem sombra de dúvida elas ajudam – e muito – sempre que tento expor alguma idéia um pouco mais complexa. Principalmente na minha vida profissional, pois, juntamente com a usual explicação em “juridiquês” costumo aplicar alguma metáfora que auxilie na compreensão da idéia que tento passar. De preferência na área de atuação de meu interlocutor, ou seja, se engenheiro civil, comparo com obras, se bancário, comparo com o dia a dia de um banco, e assim por diante.

Aliás, ante a pompa que alguns colegas de profissão costumam apresentar, acho até que a utilização de metáforas deveria ser matéria obrigatória na faculdade… Algum tipo de “Metaforês Forense”, ou “Metáfora Jurídica”, ou até mesmo “Juridiquês Metaforado” (essa foi horrível!)…

Mas sobre o que falávamos? Ah, sim! Metáforas…

Essa pequena introdução veio somente para ilustrar uma conversa que tive dia desses com minha caríssima metade, que ainda não se decidiu se encontra-se em depressão leve, chateação profunda, ou ainda resquícios puerperais. Segundo ela, estava difícil de “pegar no tranco”, pois, mesmo sem querer, acabava ficando pensando na vida, se auto-analisando, porém sem chegar a conclusão nenhuma. Uma espécie de ciclo vicioso, uma espiral sem fim.

Daí veio a comparação. No melhor estilo de Garfield buscando o sentido da vida (não, Monthy Phyton, não), e pensando no meu velho carrinho que – ufa! – já passou da eterna fase de oficinas, disse-lhe que a vida seria como um carro relativamente velho que ainda está rodando. Não nos cabe perguntar COMO exatamente ele funciona ou o porquê de estar rodando, desde que ele continue nos levando pra cima e pra baixo. É certo que existem alguns barulhos estranhos, às vezes solta um pouco de fumaça, puxa um pouquinho pra esquerda, o banco não é lá muito confortável, mas CONTINUA ANDANDO!

O que ela estava fazendo era nada mais nada menos que, com o carro de sua vida funcionando, parando o veículo, sentando no meio-fio e pensando nos problemas dele: “O que será esse barulho?”, “Será que conseguirei trocar o banco por outro mais confortável?”, “Será que o motor vai fundir por causa dessa fumaça?”. Isso quando não ficava pensando na própria trajetória: “E se tiver um buraco lá na frente? Ou um acidente? Ou um congestionamento?”.

Ressaltei-lhe que nada disso importa, UMA VEZ QUE O CARRO CONTINUA ANDANDO! Adversidades com certeza virão, mas fazem parte do trajeto. Fazemos uma manutenção preventiva de quando em quando, mas não encostamos o veículo na oficina por causa disso. QUANDO e SE o carro parar, aí então vamos correr atrás do motivo e fazer o máximo para que ele volte para a estrada o mais rápido possível.

Desde então, sempre pela manhã conversamos sobre a situação daquele dia… Quem nos ouve pensa que é uma conversa de loucos: “E aí como está?”, eu pergunto. “Pneu furado, mas ainda não está vazio”, ela costuma responder, ou então alguma outra metáfora do gênero. E me devolve a pergunta e eu também respondo a altura. E assim vamos levando. Creio que é humanamente impossível ter nosso veículo da vida funcionando perfeitamente, pois sempre vão existir pequenos reparos a serem feitos. Mas o que importa é que O CARRO CONTINUA ANDANDO!