Sobre Terapia

Roberta Romanato

É chegado o tempo em que a consciência, mais do que questão de bem estar, mais do que questão de sabedoria, é questão de sobrevivência.

Quem não tem consciência de si simplesmente está aí. E quem apenas está aí não é. E em não sendo, não vive.

Não sei o que sou. E se não sei o que sou, sei tampouco do que sou capaz. E se não sei essas coisas, que saberei eu da vida?

Mundo de sonâmbulos este de pessoas que só têm olhos para o que está fora.

É preciso grande esforço para voltar olhos tão doutrinados a olhar para fora, para dentro. O músculo não acompanha. É preciso alongar, esticar, ensinar. E ah, como dói.

Mas se não nos permitimos sentir a dor, também não nos fazemos possível sentir prazer. E, ah, que delícia que é o lugar de transcendência desta dor.

O lugar de abrir os olhos e olhar para si mesmo. O lugar de abrir os olhos e, enfim, enxergar.

Sobre gordura abdominal

Não sou técnico nem médico, mas tudo parece nos conformes com o que já li sobre o tema… Roubartilhei daqui.

Os alimentos que estimulam uma grande produção de insulina pelo pâncreas são os maiores responsáveis pelo acúmulo de gordura abdominal, levando ao desenvolvimento da resistência à insulina. Essa resistência à insulina pode levar ao diabetes. A insulina é um hormônio fundamental para colocar a glicose dentro da célula para produzir energia, entretanto quando produzido em excesso vai causar um desequilíbrio no organismo: vai fazer lipogênese (produção de gordura) na região abdominal e também vai aumentar o hormônio do apetite (grelina) além de diminuir o hormônio da saciedade (leptina), aumentando assim a compulsão alimentar.

Alimentos que aumentam a gordura abdominal:

– Carboidrato de alto índice glicêmico (farinha branca refinada e seus derivados, açúcar, e doces em geral), porque necessitam de muita insulina;
– Carboidrato de alto e baixo índice glicêmico em quantidade exagerada numa mesma refeição, pois produz excesso de insulina;
– Gordura trans (biscoito recheado, pipoca de microondas, bolo industrializado, etc);
– Gordura saturada em excesso (carnes gordas, pele de frango, salame, linguiça, manteiga, bacon, etc).

Alimentos que não aumentam a gordura abdominal:

– Carboidrato de baixo índice glicêmico em quantidade moderada (pão integral, hortaliças, frutas, cereais integrais, grãos, etc), pois produz nível adequado de insulina;
– Gordura monoinsaturada em quantidade moderada (azeite de oliva extra-virgem, amêndoa, castanhas, nozes, etc);
– Gordura poli-insaturada em quantidade moderada (salmão, atum, sardinha, chia, linhaça, etc);
– Antioxidantes (vitamina C, vitamina E, selênio, zinco, betacaroteno, licopeno, antocianina, flavonoides, etc). A gordura abdominal produz citocinas (substâncias inflamatórias) que oxidam as células e os antioxidantes vão protegê-las.

Fontes de Antioxidantes:

– Vitamina C (laranja, tangerina, abacaxi, morango, vegetal verde escuro, etc);
– Vitamina E (azeite de oliva, óleo vegetal, oleaginosas, abacate, etc);
– Selênio (castanha do Pará, uma grande fonte);
– Zinco (nozes, frango, feijão, etc);
– Betacaroteno (cenoura, mamão, abóbora, vegetal verde escuro, etc);
– Licopeno (tomate, melancia, goiaba, etc);
– Antocianina (açaí, berinjela, cebola roxa, repolho roxo, etc);
– Flavonoides (uva, cebola, chá verde, cacau, etc).

Por onde andará a Lua?

Por onde andará a Lua?

Essa menina benfazeja, Nova na sua essência eis que seu pouco prateado teimava em aparecer apenas em alguns dos raros pelos brancos que lhe recobriam o dorso. Olhos verdes inquiridores, insaciáveis pela sua natural curiosidade, serenos em sua usual companhia. Dizem que gatos são bichos independentes, que se afeiçoam à casa, ao território, e nada mais. Mentem. Ela sempre teve a capacidade de pressentir quando estávamos por chegar ou quando pretendíamos sair. Alguém já viu gato responder ao próprio nome? Pois bem, esta respondia. Sempre.

Por onde andará a Lua?

Era apenas uma pequena e arisca bolinha de pelo preto nos idos de 97, quando a encontramos em Caraguá. Ou melhor, será que não foi ela que nos encontrou? Impossível não se apaixonar por aqueles olhinhos estralados e suplicantes desde o primeiro momento do primeiro contato. Veio, viu, ficou. Pra sempre. Fui o primeiro a conquistá-la (ou será o contrário?), pois sempre procurava meu colo quando, a namoro, eu surgia na casa. E ela foi a companheira do fim de solteirice da Dona Patroa, foi a companheira das pequenas tarefas e consertos de meu sogro, foi a companheira dos crochês e tricôs e costuras e invencionices em geral de minha sogra – e quando esta, doente e debilitada sequer conseguia se locomover, ainda assim lá ainda ela permanecia, fiel como sempre. Mesmo dos sobrinhos, hoje adultos, foi a companheira oculta – pois bastava aquela criançada chegar que ela já se escondia em algum canto até que eles se fossem e lhe devolvessem o sossego de sempre. Meus próprios filhos, hoje adolescentes, nasceram e cresceram com ela. Tornou-se mais família que a própria, eis que sempre presente. Sempre.

Por onde andará a Lua?

E assim, ano após ano, companheira sempre foi. Por longos dezesseis anos. Teve suas crias – várias – que também se foram para outros lares. Até que, derradeira vez, uma delas recusou-se a sair. E ficou no ventre. E a necessária cirurgia estirpou-lhe a capacidade de novas crias. E, provavelmente, lá se foi também a primeira de suas sete vidas. Inúmeras também foram as brigas com cachorros e outros gatos da vizinhança, pois vez ou outra, surgia estropiada – mas serena. O pequenino pedaço de orelha que lhe faltava na profundidade de um corte era a maior prova disso. E pelo menos quatro outras vidas devem ter sido levadas nessas desventuras. Dezesseis anos… Quase oitenta, se humana fosse. Mas quem disse que não o era? Sempre pôde compreender nossos mais íntimos sentimentos muito melhor que muita gente por aí afora. E, mesmo em mudo silêncio, compartilhava nossas dores e alegrias, quaisquer que fossem. Sempre e sempre e novamente. Sempre.

Por onde andará a Lua?

Mas o tempo passa e cobra seu inafastável preço. De repente, do nada, de uma hora pra outra, adoeceu. Sua pata com uma chaga exposta e constantemente sangrando deixou claro que algo de muito errado havia. Diagnóstico: câncer. Sim, esse mal também aflige o mundo dos animais. Amputar? O melhor. Mas, pela idade, pelos rins falhando, pelo quadro clínico geral, não sobreviveria. Restava tão-somente cuidar e minimizar seu sofrimento. Remédios, pomadas, preparados, nada parecia adiantar. E eis que, num de seus usuais arroubos de maga-bruxa, a Dona Patroa suspende tudo e passa a tratá-la somente com seiva de babosa. Miraculosa babosa. Funcionou, resolveu, cicatrizou. Mas certamente lá se foi sua penúltima vida. Pra sempre.

Por onde andará a Lua?

Nada dura pra sempre. O “pra sempre” sempre acaba. Meses se passaram desde então e eis que, de repente, a Lua sumiu. E a mais antiga, presente e fiel companheira da Dona Patroa se foi. De nada adiantaram as buscas e as lágrimas. “Gatos sempre somem quando sentem que vão morrer”, foi o que lhe disse seu pai, do alto de sua oriental sabedoria. Verdade. Todo aquele que gosta de gatos sabe que eles escondem suas doenças até que estejam em estado avançado – é o instinto que restou de sua história ancestral. Na natureza seriam presas fáceis de predadores mais fortes e é por isso que se escondem até que se restabeleçam; até que estejam prontos para voltar a lutar ou fugir de vez. Ou, pior, até que sucumbam. E a Lua, ainda que especial, nesse ponto nunca foi diferente. E coube a mim, já há uma semana de seu desaparecimento, encontrá-la. Ou melhor, não, não a encontrei. Encontrei apenas sua casca, vazia e aninhada num canto, num esconderijo, que provavelmente deveria ser um de seus preferidos. Pois ela não estava lá. A prova disso está no que sinto, nas lágrimas que nublam os olhos enquanto escrevo, no seu sabor salgado que materializa sua ausência. Ela se foi. Ela não estava lá. Sua sétima e última vida a levara de vez. Pra sempre.

Por onde andará a Lua?

Se existe um “céu para os gatos” é lá que ela está. Companheira, guerreira, amiga, fiel escudeira. Já sofreu tudo que tinha que sofrer nessa reta final de sua longa vida e merecidamente precisava descansar. Se no Antigo Egito gatos foram deuses, então certamente ela ascendeu à sua própria divindade. E, garanto-lhes, nunca mais me será possível olhar para a Lua que no céu desfila aos meus olhos sem lembrar da Lua que no chão ronroronava a meus pés. É lá que ela está. É lá que, para mim, ela está. E sempre estará.

Pra sempre.

O mecânico

Dia desses fui assistir o terceiro filme do Homem de Ferro. Alguém já havia me falado que não tinha gostado, que esperava mais, que o filme poderia ser melhor, etc. Algo assim. Mesmo assim, assisti. A eterna desculpa de que “fui levar a criançada” sempre é ótima!

E lá estava eu, como de praxe, com minha pipoca – doce por baixo, salgada por cima e muita manteiga…

E, independentemente, do pré-conceito que me foi passado, de um modo geral gostei do filme. Ah, antes de mais nada, para aqueles que não assistiram, fica o alerta de spoiler… Bem, tá certo que a estória se arrasta em alguns momentos, enquanto que em outros exageraram nos efeitos especiais. Talvez o ideal fosse dividir o filme em duas partes, de modo que se tornasse possível aprofundar um pouco mais, tanto na trama de um modo geral, quanto na do personagem, de um modo particular. Isso tudo significa que não gostei do filme? Não, antes o contrário! Aliás, melhor explicando, gostei da mensagem que o filme passou.

Tire as tecnologias de Tony Stark. Tire os brinquedos. Tire o dinheiro. Tire tudo. Ainda assim, o que resta? O mecânico. Isso ficou patente em todos os três filmes. De um jeito ou de outro, o personagem retrata um sujeito que gosta de construir coisas. Que tem um dom. Que cria. Que, no final, conclui por um retorno à simplicidade. Não existe? Eu faço. Eu que fiz? Posso desfazer. Desfez-se? Faço de novo. Quebrou? Eu conserto.

Tanto o é que, ao final, Tony Stark, o cientista, o gênio, o empresário, o filantropo, o bilionário, o playboy, o super-herói – e sabe-se lá quantas outras alcunhas – assina como? Simplesmente “o mecânico”.

Um resgate às origens.

E, de todo o filme, compreender essa mensagem é o que me foi mais importante.

Quantas vezes já não discuti isso aqui neste nosso cantinho virtual? Sobre o que verdadeiramente importa? Em especial, acho eu, neste texto. Velejando pelos jargões e clichês de sempre, será que a criança que eu fui gostaria do adulto que me tornei?

Invariavelmente costumo discorrer sobre a inevitabilidade da vida, para onde o Destino nos conduz. E por isso mesmo – brilhante concepção! – encantei-me com uma das frases finais do filme Forrest Gump: “Não sei se cada um tem um destino ou se só flutuamos sem rumo, como numa brisa… Mas acho que talvez sejam ambas as coisas. Talvez as duas coisas aconteçam ao mesmo tempo…”

Ou seja, sim, existe um Grande Plano. Mas também existe um Grande Caos. E uma coisa tanto leva à outra quanto depende da outra. Jogue uma pedra num lago e observe o efeito das ondas repercutirem sobre sua superfície. Jogue outra, com idêntico formato, peso, força e local. Jamais você conseguirá o mesmo efeito já obtido.

Seja uma pedra. Sinta-se lançado no lago do tempo. As ondas que hoje você vive são a repercussão de tudo o que até hoje você já fez. Você somente é o que é por tudo que você já fez e já viveu.

E, já que falávamos de filmes, daí, talvez, o grande encanto pelas estórias em que personagens de alguma maneira voltam no tempo, como em Em Algum Lugar do Passado (Somewhere In Time), Feitiço do Tempo (Groundhog Day), O Exterminador do Futuro (The Terminator), De Volta Para o Futuro (Back To The Future) e, provavelmente meu preferido, Peggy Sue – seu passado a espera (Peggy Sue got married). De todos, este último tem uma das cenas mais interessantes com relação a esse conceito acerca da possibilidade de mudar seu passado para influenciar seu futuro (ou seja, sua vida atual). Nesse filme de Coppola, a personagem, no passado, conversa com seu avô (o qual acredita realmente que ela viajou no tempo) e lhe pergunta algo como:

“Vovô, o que você faria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo?”

Ao que ele responde:

“Teria cuidado melhor de meus dentes.”

E qual é o encanto dessa singela passagem? É a plena consciência do ancião de que qualquer coisa que tivesse feito lá atrás poderia mudar o que ele é hoje. E essa passagem sempre fez minha cabeça dar voltas – e até hoje faz. Mais ou menos como aquela crônica de Veríssimo, Versões. Cada situação que eu passei é que me trouxe ao presente momento. Qualquer mínimo desvio de rota e eu não estaria onde estou com a consciência que tenho. E, de um modo geral, até que gosto de quem sou. Creio que não me admito, hoje, sem ter conhecido cada uma das pessoas que conheci, sem ter passado por cada uma das situações que passei, sem ter cada um dos filhos que tenho. Qualquer desvio de rota no passado, por ínfimo que fosse, teria alterado meu futuro. Ou melhor, meu presente.

E – divagações cinéfilas à parte – o que tudo isso tem a ver com o mecânico?

Que, apesar de tudo, de todas as nuances, de cada uma das ondas deste nosso lago temporal que foram necessárias para vislumbrar o efeito do que hoje somos – parece-me que as coisas se tornaram complexas demais. Melhor: tornei as coisas complexas demais. Uma volta às origens sempre será necessária. Às vezes olho-me no espelho e não me reconheço! Alice, quem é esse cara mal humorado que me fita do outro lado? Esqueci a simplicidade. Onde está aquela criança que enfiava pequenas peças encontradas no chão em uma caixa de fósforo e a levava na oficina, orgulhoso, para mostrar ao pai que também estava consertando algo?

Enfim, preciso resgatar o mecânico adormecido que paira em algum lugar do meu coração. Ou de minha alma. Ou de ambos. Não devo – nem posso – descuidar do plano global de minha vida, mas é imprescindível retomar os pequenos prazeres das pequeninas coisas. Viver a vida a mil? Legal, Janis. Mas chega um tempo – e esse tempo sempre chega – que a dez é bem melhor.

E nesse exercício de paciência para todo aquele que chegou até aqui depois deste longo texto de quem há muito não colocava as próprias estapafúrdias idéias em evidência, diga-me: e você? Existe alguém preso na masmorra de seu coração ou na torre de sua alma que precisa ser resgatado?

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