Categoria: Pra ficar na história
O Chico Anysio que conheci
Não vou perder tempo aqui tentando defender ou acusar a pessoa, nem seus detratores e tampouco seus fãs. Mas o fato é que Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, mais conhecido como Chico Anysio, faleceu ontem às 14h52min, no Rio de Janeiro, aos 80 anos.
E, antes de mais nada, era um ser humano, como qualquer um de nós.
Tá, nem tanto assim…
Afinal de contas, nas palavras de Ziraldo, “É inacreditável um sujeito como esse poder ser inseguro, mas o ego dele era muito grande, não se satisfazia com o sucesso que tinha. Queria ser respeitado como escritor, pintor, comentarista de futebol.” Isso porque, nas seis décadas de sua carreira, dentre outras coisas, foi radialista, redator, locutor, escritor, pintor, músico e ator de teatro, cinema e TV. E, nas próprias palavras de Chico (em 2002), “Minhas músicas são quase renegadas, minha pintura é desqualificada, meus comentários de futebol são considerados idiotas, minhas poesias nem chegam a ser lidas.”
Ou seja, no decorrer de sua carreira teve falhas e sucessos, como qualquer empreendedor que se preze.
Esse cearense (de Maranguape), nascido em 1931, começou sua carreira no rádio em 1952 e partiu pra TV em 1957. Em 1960 revolucionou a TV com seu programa “Chico Anysio Show”, na TV Rio. Já em 1970 foi para a Globo, onde em 72 inovou novamente o padrão televisivo da época com a estréia de “Chico City”. Daí em diante o resto é história – o que certamente será muito melhor contada pelos principais veículos de comunicação.
Com sua capacidade prodigiosa de criar tipos, protagonizou 209 personagens – alguns mais famosos, outros nem tanto – que retratavam figuras arquetípicas de todos os cantos do país, não se tratando de mera maquiagem e vestuário, mas cada qual com sua alma, característica e personalidade distintas, pessoas incrivelmente parecidas com aquelas que muitas vezes conhecemos e encontramos em nosso dia a dia.
Cresci assistindo Chico City – e foi esse o Chico que conheci – sendo que desde aquela época já pelo menos três de seus personagens me cativavam (e ainda cativam):
Pantaleão – Com seu jeito simples e rústico, sempre de pijama, mentiroso de mão cheia, contador de causos como ele só, que, ao final de cada estória virava pra sua mulher e finalizava com o bordão: “É mentira, Terta?”
“Seo” Popó – Velhinho chato, muquirana e encrenqueiro. Colocava defeito em tudo e, invariavelmente, a culpa no final era do seu parceiro de cena, Alpamerindo – “Idioooooota!”
Tavares – Sempre bêbado, no limite do limite, tinha ótimas tiradas e um senso de equilíbrio (ou falta de) típico do ébrio inveterado. Sua frase de praxe: “Sou, mas quem não é?…”
Mas, à parte de todos seus personagens, acho importante ressaltar que no decorrer da última década acabou por afastar-se da TV simplesmente porque, na opinião de seu amigo, o ator Lúcio Mauro, “Não havia hipótese de ele, sendo o que era, conviver com tanta incompetência e burrice, que se alastrou nos últimos anos.” Creio que não dá pra discordar desse ponto de vista…
Enfim, ainda que tenha minha convicção absoluta de que não é a opinião geral, concordo plenamente com o ponto de vista expressado pelo jornalista Marcos Augusto Gonçalves, “Restam poucos talentos vinculados ao tipo de humor que Chico Anysio representou, popular sem ser popularesco, politicamente incorreto sem precisar ser imbecil e gratuitamente ofensivo.”
E agora, por raro que seja, sempre que assisto à TV, cada vez mais rio menos…
A Estória do Jovino
Mais um trecho do livro “Pedaços e Pedacinhos” (falei dele aqui) – uma coletânea dos escritos e pensamentos de Brasílio Duarte (1915-1998), que traz a viva lembrança de uma São José dos Campos de outrora…
Era uma tarde de intenso calor, por ocasião do renceseamento nacional do ano de mil novecentos e quarenta, quando adentramos no casebre, a fim de colher dados para o censo demográfico.
Ali estava um casal de velhos que, bondosos e solícitos, acolheram-me com uma hospitalidade que jamais vou esquecer. Enquanto a senhora acendia o seu tucuruva (um fogão de um cupim cortado ao meio e ao cumprido com buracos em cima e com os fundos e a boca ao nível do chão batido), o velho, muito desinibido, nos contava: “Seu moço, eu num sei a minha idade”.
Só me alembro de tê visto, uma vêis, o imperadô, quando ele passô na estrada, numa carruage que briava e que, atrais dele e na frente, iam uns cavalêro cuma espada e uns cavalo munto bonitos. Ah!… Isso já faiz tanto tempo… eu era minino… e tava levando água, café e broa pros home que trabalhava no ‘eito’.
“Tudo isso se passô lá pelas bandas de Taubaté, perto da fazenda de um tar de Visconde. Mai não é isso que eu quero contá, deis que mecê me perguntou a minha idade. O senhor tem um tempo? Será que não tô atrapalhando?”
Tenho tempo, seu Jovino. Pode contar.
“Tá bão. Ô Tereza, arrume um café pra nóis. Intão bamo lá”.
A Estória do Avô de Jovino
“Meu avô (que Deus o tenha) que morreu com mai de cem janêro, um dia me contou e aconseiando: “Meu neto, caminhe bem no seu destino, levando a benção deste véio, porquê vancê vai vê que nóis nem sabemo pensá, de tão bão e tão feio ao mermo tempo”.
Ó! Jovino, me contaro que uma veis chegaro nestas banda uns índio que vierum fugido.
Tinha um índio véio pajé, uma índia e argum índio e índia mais môço e criança.
O véio pajé era muinto bão. Ensinava tudo com muinta sabidoria. Conhecia remédio do mato, eles conheciam o que era veneno e trabaiavam e caçavam.
Munto depois, apareceram uns hóme de rôpa preta cumprida, falavam mansinho, davam presente pros índios, ajoeiavam, ajuntavam as mãos erguidas prô céu… ninguém entendia nada, nem sabiam como foi que eles apareceram na “Ardeia”. Mai não tiverum medo.
Eles confiavam no Pajé, proquê ele sabia muinta coisa, apesá de já tê muinta idade.
Os padre, que eram os hóme de rôpa preta, procuravam falá com os índios e perguntavam: “Como é o seu nome meu fio? Os índios que não podiam entender, queriam que o padre falasse com o Pajé e diziam: guaianá, guaianá!
Intão os padres ficaro sabeno que eles eram da tribu Guaianá. O Pajé tava sentado perto da sua casa que era coberta com folha de coquero.
Tinha com ele arguns índios e índias de rôpa de pele de bicho, colar e pena de cor.
O véio, que era munto sábio, fêis sinar pros padre que eles precisavam aprender a língua dos brancos pra podê entendê. E assim foram fazendo até que ficô mai fácir. Argum tempo despois, os padre trouxeram um tar de “otoridade” e esse hóme mandô que todo mundo dali se mudasse pra ôtro lugar mais alto que era prá mor de se defendê mió dos inimigos. Esse lugá ficava a légua e meia dali. Quando tava nessa artura, o chefe dos padre mandô que eles fossem embora pra ôtro lugá.
E vieram ôtros padre, mai não eram tão bãos como os premêros. Judiavam dos índios, pegavam as índias pra escrava e ainda trouxeram uns hóme branco que num eram padre e que faziam tudo de ruim pros coitado.
Então Jovino, dizem que o Pajé ficô doente e morreu e tudo ficô meio largado.
Trouxeram mais gente branca, vieram outros índios deferentes e tudo ficô muito ruim de vivê na nova “ardeia”. Sem o véio Pajé, ninguém mai obedecia sem apanhá e até havia ôtros castigos ainda pió. (Jovino faz uma pausa).
Seu moço, é mió nóis i parano por aqui, mai ante de pará quero dizê só mai um poquinho.
O finado avô disse que logo veio um tar de “carregado” e reuniu a gente do lugá pra dizê que deis daquele dia, a “Ardeia” tinha nome. Chamava-se “Vila de São José do Paraíba” e que lá onde tinham começado se chamava “Vila Véia”. Ói seu moço, isso foi o que meu finado avô me contô. Pode sê que arguma coisa num seja bem a verdade… nossa famia é tudo pescadô…
Foi nesse momento que Tereza apareceu: “Eta véio prosa. Chega de contá lorota. Convide o moço pá tomá café. Ói moço, é café de rapadura com farinha de mio. Tem cada biju que é buniteza. Tudo é nossa mesmo, daqui do sítio. Mecê pode bebê sem vergonha, mecê tá na sua casa, num faça luxo”.
Jovino – meio encabulado, balbucia aos meus ouvidos: “o Sítio é do Belardo, nosso neto, é ele que trata de nóis. num faça causo da Tereza… Ela é um poço ranzinza… num tem leitura… mai é boa muié… já tem quaji oitenta…”
Eu poderia ter simplesmente parado por aqui, pois o comentário final já fecha com chave de ouro essa história (ou seria estória?). Mas lembrei-me de outro livro que tenho: São José dos Campos e sua História, de autoria de Agê Junior. Na página 35, ao citar as sesmarias doadas na região, curiosamente revela:
“Em 1650, outra Sesmaria foi concedida, conforme o documento abaixo transcrito:
…’atendendo à Lei de 1611, que facilitava e protegia a infiltração dos brancos no desbravamento de regiões inhospitas, organizando e mantendo postos de ligação, defesa de remonta, nos percursos para as minas em exploração, ou nas catas de ouro, foi concedida a Sesmaria requerida, de quatro léguas quadradas, a Angelo de Siqueira Afonso, filho de Antonio Afonso, – fundador de Jacareí, – sua esposa Antonia Pedroso de Morais e um conterrâneo de nome Francisco João Leme. foi dada posse dessa Sesmaria em 1650, e a área situava-se no antigo Rio Comprido, mais tarde Vila Velha, por ter o ‘aglomerado sido removido’ para lugar de melhor defesa contra o gentio. A Sesmaria indicada está registrada nos Livros 11 e 13 das Sesmarias Antigas, atualmente arquivados no Tesouro Nacional da República, e foi assinada por Dyonísio da Costa, Capitão-Mór residente em Taubaté, então sede regional de todo o território entre São Paulo de Piratininga e o altiplano da Serra que limitava São Sebastião do Rio de Janeiro’.“
Pedaços e Pedacinhos
Um livro simplesmente delicioso!
“Pedaços e Pedacinhos”, uma coletânea dos escritos e pensamentos de Brasílio Duarte (1915-1998), que traz a viva lembrança de uma São José dos Campos de outrora, ainda estância climática, de uma vida mais simples e de uma gente mais tranquila. Ou de uma vida mais tranquila e de gente mais simples, como queiram!
Sobre esse livro, disse Altino Bondesan em carta ao autor: “A leitura dos originais de seu livro ‘Pedaços e Pedacinhos’ me empolgou e confortou. Fiquei conhecendo pormenores de sua vida, edificantes, dignos de menção. Vejo que você construiu o edifício de sua existência com muita fé, trabalho, persistência e honestidade. / Seu livro merece ser lido pelas novas gerações, tão carentes de exemplos de religiosidade, de idealismo, de espírito de luta, coisas que se encontram em abundância nas belas páginas de sua obra.”
Bem, para que tenham uma idéia, eis um trechinho:
Um Fato Decisivo e a Primeira Lição
No ano de 1925, com nove anos de idade completos, fui matriculado no Grupo Escolar Olímpio Catão.
Antecedendo a este fato, ocorre uma cena bastante singular e até pitoresca, resultando daí que se tornasse meu protetor, simplesmente o Prefeito Cel. João Cursino. Foi assim:
Sem que alguém soubesse, saí para a rua, determinado a pedir que me pusessem na escola.
Vinha sentindo essa vontade, ao ver, todos os dias, que os outros meninos iam às aulas e voltavam alegres e tagarelas. Grandemente ocupados com os muitos problemas da Santa Casa, meus pais [adotivos] não havia podido, até esse tempo, conseguir uma documentação legal para a minha matrícula escolar, uma vez que eu não tinha nem o registro de nascimento.
E era a primeira vez que eu saía sozinho na rua.
Na primeira esquina (antiga residência do Dr. Nelson), deparo com um roceiro e lhe pergunto: “O sr. sabe quem é o dono da cidade?”
E ele rindo, me diz: – “não é dono da cidade que se diz, é Perfeito. Ele mora perto do Mercado!”
Agradeci e andei para os lados da igreja Matriz.
Bem adiante, pergunto novamente a uma pessoa: “o sr. sabe onde mora o Perfeito?”
Rindo também, ele me ensina: “menino, não diga perfeito, diga Prefeito que é assim que se fala”, “ele mora ali ao lado do Mercado.”
Essa foi a primeira lição que recebi, e caminhei, pensando em como alcançar o que estava procurando.
Finalmente, chego ao lugar que me foram indicando.
Batendo palmas, logo me aparece um senhor gordo, de colete, meio calvo, que me pergunta:
“O que você quer?”
“Eu quero falar com o Perfeito.”
“Pode entrar.
Entrei. Havia um pequeno portão e a seguir, uma escada.
Fiquei olhando.
“Pode falar, eu sou o Prefeito!”
“Vim pedir para o sr. me pôr na escola.”
“Onde você mora?”
“Na Santa Casa.”
“Muito bem. Volte para lá, bem direitinho, eu vou tratar do seu caso.”
Agradeci e fui saindo. Parei, voltando-me para ele, advertindo-o que, se não fosse atendido, sairia de casa.
“Para onde você vai?”
“Não sei, mas creio que vou parar em algum lugar.”
“Vá sossegado. Amanhã mesmo você estará na escola.” E foi assim, mas antes saibam o que aconteceu. Ao chegar em casa, encontro o pessoal apavorado. Todos estavam me procurando.
Fui repreendido pela minha falta, mas não contei nada do que aconteceu. No dia seguinte, bem cedo e para espanto de todos, aparece o Sr. Zeca Bicudo, servente do Grupo Escolar, com ordem expressa do Prefeito para me levar à escola. Foi um corre-corre geral.
Cada um me fazia uma coisa, desde o banho, ao vestir e alimentar. Foi um dia de festa sem que alguém entendesse o porquê de tudo aquilo…
E os tempos foram passando…
Árvore de Costados
Ultimamente me dediquei a uma revisão de tudo aquilo que já escrevi. TUDO. Todos os quase dois mil posts pendurados neste blog pelos últimos anos. Vamos ver se disso ainda consigo fazer sair meu tão sonhado livro… Mas enquanto isso não ocorre, vamos falar de uma de minhas eternas paixões: genealogia.
Revendo alguns posts de 2005, lá nos comentários, percebi que há anos estavam pendentes algumas respostas. Ou pelo menos promessas de tentativas de respostas. A questão diz respeito a uma ilustre senhora chamada Maria Venância de Andrade, que foi irmã de Antônio Teodoro de Santana e de Joaquim Theodoro de Andrade (sendo estes dois meus antepassados diretos) – e, por sua vez, todos os três são filhos de Francisco Theodoro Teixeira e de Maria Emerenciana de Andrade.
Pois bem.
Essa Maria Venância casou-se com Diogo Joaquim Alves e, dentre outros filhos, tiveram Avelina Joaquina de Andrade. A pergunta feita pelo Euler lá em 2008 era a respeito dessa Avelina, pois teria sido casada com um certo Felisbino Rodrigues Teixeira (filho de Matheus Teixeira da Silva e neto de Antonio Teixeira da Silva). O primo Ademir também tinha dúvidas no mesmo sentido. A prima Maria Esther, autora do livro Carrancas – Laços e entrelaços familiares, também se colocou à disposição. E, ainda, o Homero, a Simone e a Célia, outros primos, demonstraram-se curiosos sobre o desfecho.
E, sim, em genealogia toooooodos somos primos…
Infelizmente não tenho muitas informações dessa linha de descendência – a da Avelina. Mas tenho muitas informações sobre a linha de ascendência e um bocado sobre os colaterais! Apesar de muito disso tudo estar contido em livros de minha modesta biblioteca, bem como em correspondências que troquei com outros genealogistas, depois de ver e rever minhas anotações baseadas em dados de terceiros, resolvi recriar toda essa linha através de “documentos primários”. Ou seja: ainda que alguém já tenham estudado e montado a árvore genealógica dessa linhagem, estou refazendo-a com as informações que consigo extrair diretamente de inventários, certidões de casamento, batistérios, etc. Então, caso ainda queiram, até podemos trocar umas figurinhas para completar nossos quadros genealógicos!
Mas, para os demais curiosos de plantão, antes de entrarmos propriamente no assunto, primeiramente vamos a uma pequena aula de cultura inútil sobre o que é uma “Árvore de Costados”.
Em genealogia existem, basicamente, dois tipos de árvores genealógicas, conforme ensina Werner Mabilde Dullius, em seu texto Comentários aos Sistemas de Numeração em Genealogia: a árvore de ascendentes e árvore de descendentes.
A árvore de ascendentes, também conhecida como árvore de costados, ou ainda como árvore genealógica inversa, é a árvore formada pelos antepassados de um indivíduo, partindo da atualidade e retroagindo no tempo, montando toda a linha de antepassados de um único indivíduo. Sua estrutura é geométrica e racional, pois para cada geração que subimos, dobra-se o número de antepassados: dois pais, quatro avós, oito bisavós, e assim por diante.
Já a árvore de descendentes, também conhecida como árvore de geração, ou ainda como árvore genealógica direta, é a árvore formada pelos descendentes de um indivíduo. Partindo do passado ela avança no tempo, multiplicando-se, geração após geração, e facilitando a visualização do antepassado comum de vários indivíduos na atualidade. Sua estrutura é orgânica e aleatória, pois não há como racionalizar o número de filhos de cada indivíduo.
Tradicionalmente existem duas maneiras de se representar os trabalhos genealógicos: graficamente, através de genogramas (diagramas genealógicos), e analiticamente, através da descrição detalhada de cada um dos indivíduos. Enquanto que naquele temos um trabalho quase que artístico, neste, para correta identificação de cada um dos componentes, é necessário lhes atribuir endereços ou códigos que permitam identificar corretamente sua posição dentro da estrutura familiar. Parece complicado, não? Mas até que não é.
Para atribuir esses endereços ou códigos de identificação, atualmente existem diversos sistemas de numeração, cada qual com suas vantagens e desvantagens. Para uma árvore de descendentes, por exemplo, existem os seguintes sistemas: de Registro, de Registro Modificado, Henry, Henry Modificado – Versão I, Henry Modificado – Versão II, D’Aboville I, Meurgey de Tupigny, Villiers/Pama, Felizardo/Carvalho/Xavier, Hunsche, Dullius/Stemmer. Sim, seus “inventores” modestamente lhe atribuíram o próprio nome… Só que a descrição de cada um desses sistemas foge ao escopo deste trabalho, pelo que recomendo a leitura de algum dos inúmeros sites especializados em genealogia que podem ser encontrados na Internet, nos quais poderão encontrar a explicação didática de cada um dos sistemas.
Para uma árvore de ascendentes, o sistema usualmente utilizado é a notação de Sosa-Stradonitz, equivocadamente conhecido como numeração de ahnentafel. Esse sistema foi utilizado em 1676 pelo sábio franciscano espanhol Jerónymo de Sosa (?-1711), tendo sido retomado mais tarde, em 1898, pelo genealogista e heraldista alemão Stephan Kekule von Stradonitz (1863-1933). A razão do equívoco quanto ao seu nome tem origem no fato de que a difusão desse sistema se deu com a publicação da obra deste último: o Ahnentafel Atlas, que acabou sendo adotado para descrevê-lo.
Na prática, funciona da seguinte maneira: dá-se ao indivíduo base o número 1 e ao pai deste o dobro de seu número, ou seja, 2 enquanto à sua mãe é atribuído o dobro mais um, ou seja, 3. Daí, a estes, repete-se o processo (os pais do homem 2 serão 4 e 5, enquanto que os pais da mulher 3 serão 6 e 7), e assim sucessivamente, retroagindo no tempo. Isso nos fornece um tipo de árvore infinita e contínua, onde todos os homens possuem número par e todas as mulheres ímpar, permitindo indefinidos acréscimos sem perturbação de sua rigorosa estrutura.
E esse é o sistema utilizado a seguir para que se possa visualizar a árvore de antepassados diretos relativos à minha linhagem, partindo de meus filhotes. Algumas sequências numéricas foram saltadas, ou melhor, interrompidas, simplesmente porque não tive (ainda) documentos para basear minhas pesquisas – mas em sua maioria são nomes e famílias tradicionais e conhecidas em outras obras genealógicas com as quais podem ser ligados.
Aliás, só pra adiantar: o “nó” se dá quando alguém casa com um parente e os pais de um e de outro começam a aparecer alternadamente nas gerações seguintes…
Primeira Geração
1. Kevin / Erik / Jean
Segunda Geração
2. Adauto de Andrade
3. Eliana Mieko Miura
Terceira Geração
4. José Bento de Andrade
5. Bernardete Nunes
6. Sussume Miura
7. Satiko Mizoguti
Quarta Geração
8. Antonio de Andrade
9. Sebastianna dos Santos
10. Bernardo Claudino Nunes
11. Maria Dionísia de Jesus
12. Hajime Miura
13. Hiro Miura
14. Narakiti Mizoguti
15. Tei Nadai
Quinta Geração
16. João Agnello de Andrade
17. Iria Rita de Bem
18. Alcindo de Paula Maia
19. Laura de Casaes Santos
20. Claudino de Moraes Nunes
21. Benedita Maria de Mello
22. Antonio Antunes Junior
23. Dyonísia Maria de Jesus
24. Kinemon Miura
25. Tsuru Miura
26. Kumaki Hamakiti
27. Massu Hamakiti
28. Massakiti
29. Rie
Sexta Geração
32. Joaquim Theodoro de Andrade
33. Maria da Glória Teixeira Guimarães – sobrinha de seu marido, Joaquim Theodoro de Andrade (32)
34. Braz Carneiro de Bem
35. Luiza Gonzaga de Novaes
36. Fausto de Magalhães Maia
37. Josephina Augusta de Paula
38. Antonio Carlos da Silva Santos
39. Olívia Augusta de Casaes
40. José Rodrigues de Moraes Nunes
41. Rufina Maria Sinhorinha
42. João Alves de Faria
43. ?
44. Antonio Antunes
45. Francisca de Paula Romana
48. Kinjirou Miura
49. Fushino Miura
Sétima Geração
64. Francisco Theodoro Teixeira
65. Maria Emerenciana de Andrade
66. Antônio Teodoro de Santana – irmão de Joaquim Theodoro de Andrade (32)
67. Margarida Teixeira Guimarães
Oitava Geração
128. Manuel Ribeiro Salgado
129. Margarida Teixeira de São José
130. Manuel Joaquim de Santana
131. Venância Constância de Andrade
132. Francisco Theodoro Teixeira #64
133. Maria Emerenciana de Andrade #65
134. Francisco de Paula Guimarães
135. Maria Venância Teixeira – irmã de Francisco Theodoro Teixeira (64)
Nona Geração
256. Bento Ribeiro Salgado
257. Ângela Ferreira Soares
260. José Garcia
261. Maria de Nazaré
262. Manoel Joaquim de Andrade
263. Lauriana de Souza Monteira
264. Manuel Ribeiro Salgado #128
265. Margarida Teixeira de São José #129
266. Manuel Joaquim de Santana #130
267. Venância Constância de Andrade #131
268. Pedro Custódio Guimarães
269. Theresa Maria de Jesus
270. Manuel Ribeiro Salgado #128
271. Margarida Teixeira de São José #129
Décima Geração
520. Diogo Garcia
521. Julia Maria da Caridade – uma das famosas Três Ilhoas…
522. José Rodrigues Goulart
523. Isabel Pedrosa
524. Antonio de Brito Peixoto
525. Maria de Moraes Ribeira
526. André Martins Ferreira
527. Maria de Souza Monteira
532. José Garcia #260
533. Maria de Nazaré #261
534. Manoel Joaquim de Andrade #262
535. Lauriana de Souza Monteira #263
536. Domingos da Costa Guimarães
537. Rita de Souza do Nascimento
538. Manoel Pereira do Amaral
539. Ana Maria do Nascimento
Décima Primeira Geração
1040. Matheus Luiz
1041. Ana Garcia
1048. Inácio de Andrade Peixoto – o mais antigo “Andrade” que encontrei em terras brasileiras, lá para o final do século XVII
1049. Clara de Brito
1050. André do Valle Ribeiro
1051. Tereza de Morais
1052. Manoel Martins
1053. Josefa Ferreira
1054. Domingos Monteiro Lopes
1055. Mariana de Souza Monteiro
1064. Diogo Garcia #520
1065. Julia Maria da Caridade #521
1066. José Rodrigues Goulart #522
1067. Isabel Pedrosa #523
1068. Antonio de Brito Peixoto #524
1069. Maria de Moraes Ribeira #525
1070. André Martins Ferreira #526
1071. Maria de Souza Monteira #527
1072. Cristóvão da Costa
1073. Felícia Guimarães
1074. José da Costa Fialho
1075. Maria de Souza Delgada
1076. Gonçalo Pereira
1077. Antonia do Amaral
1078. Diogo Garcia #520
1079. Julia Maria da Caridade #521
Décima Segunda Geração
2102. ?
2103. Francisca de Macedo e Moraes
2128. Matheus Luiz #1040
2129. Ana Garcia #1041
2138. André do Valle Ribeiro #1050
2139. Tereza de Morais #1051
2140. Manoel Martins #1052
2141. Josefa Ferreira #1053
2142. Domingos Monteiro Lopes #1054
2143. Mariana de Souza Monteiro #1055
2156. Matheus Luiz #1040
2157. Ana Garcia #1041
Quente, quente, muito quente
No meio desse marasmo criativo em que mergulhei, nada como lembrar de mergulhos de verdade…
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Numa ligeira caminhada debaixo de um sol escaldante para pegar minha moto na oficina após uma indispensável retífica no motor (sim, motos precisam de óleo), pude rememorar com saudade meus tempos de infância.
Nos verões insuportáveis de outrora – há uns vinte e tantos anos atrás – a molecada costumava se reunir com suas bicicletas e pegar a chamada “Estradinha de Monteiro” (que vai pra cidade de Monteiro Lobato) pra dar uns mergulhos no rio.
Eram bicicletas de todos os tipos: Monareta, Berlineta, Barra-circular, Barra-forte, Caloi 10, Sprint 10, BMX (sem tanquinho) e as invejadas Caloicross… Toda a tropa pedalava coisa de uns cinco a dez quilômetros até chegar na hoje extinta ponte de madeira do Rio Buquira, onde nadávamos por toda a tarde.
Nós chegávamos, empilhávamos todas as bicicletas na margem do rio, arrancávamos a roupa (não toda, o short ficava), e nos posicionávamos sobre o corrimão da ponte para o merecido mergulho após toda aquela árdua pedalada.
Lembro-me como se fosse hoje. O sol quente batendo nas costas, ainda arfando e suando devido ao trajeto de bicicleta, eu subia no corrimão (sei lá a quantos metros de altura do rio) e preparava-me para o mergulho. Esticava-me todo, numa pseudo-preparativa (como um nadador olímpico), abaixava-me, jogando os braços para trás e… IMPULSO!
Indescritível aquele momento de vazio, em pleno ar, antevendo as águas geladas do rio…
O próprio “cair”, totalmente envolvido pelo vento, já era o início do processo para refrescar…
E então o choque!
O corpo mergulhava totalmente na água e – por um breve momento – todos os problemas do mundo simplesmente não existiam. Ainda submerso, tudo que importava era aquele frescor vivenciado num momento de puro êxtase.
É lógico que tínhamos que voltar à superfície algum dia. Muitas vezes perdíamos a noção do tempo e quando emergíamos já estávamos adiantados, sendo arrastados pela correnteza, além da curva do rio. O chato era ter que voltar até a ponte, pela margem, a pé. O divertido era que podíamos começar tudo de novo.
Ah, bons tempos…