A vida na gaiola

Thomaz Wood Jr.

O trabalhador do século XIX foi, tipicamente, um agricultor, labutando ao ar livre e sofrendo a ação das intempéries. O trabalhador de parte considerável do século XX foi, tipicamente, um operário, labutando em uma fábrica e sofrendo com o calor, o ruído e o ritmo da linha de montagem. O trabalhador século XXI é, tipicamente, um ser dos escritórios, labutando de sol a sol com um computador à sua frente e dezenas de colegas ao seu redor.

Do fim do século XX para as primeiras décadas do presente século, a arquitetura dos escritórios mudou sensivelmente: o crescimento das empresas e o aumento do preço do metro quadrado nas grandes cidades levaram as organizações a adensarem seus espaços de trabalho. Com isso, as salas deram lugar às baias; as baias deram lugar às células com divisórias e, agora, as células estão dando lugar às mesas comunitárias.

Os modernos escritórios foram projetados para facilitar a comunicação, estimular o trabalho coletivo, fomentar a produtividade e a eficiência. No entanto, não são poucos aqueles que amaldiçoam a vida nas modernas gaiolas corporativas, com o ruído permanente de conversas indesejáveis, as interrupções frequentes de colegas inoportunos, o grasnar de celulares, o martelar ritmado de teclados, o coaxar estridente de cafeteiras e o uivar mecânico de copiadoras.

Por trás da arquitetura aberta há um conceito de gestão. O mundo corporativo tomou como premissa que a inteligência coletiva é superior à inteligência individual, e que trabalhar em grupo é melhor do que trabalhar sozinho. Os gênios solitários que se lixem. A vez agora é dos extrovertidos, dos entusiastas da vida social e do pensamento grupal. Contudo, como alerta Susan Cain, em artigo publicado pelo New York Times recentemente, é melhor ir devagar com o andor porque o santo é de barro. Com base em diversos estudos científicos, a autora coloca em xeque o pressuposto de que a colaboração e o trabalho em equipe tornam as organizações mais produtivas.

Primeiro argumento: algum trabalho em grupo pode ser estimulante e até divertido. Trocar experiências e aprender com a vivência de colegas enriquece a visão que temos da realidade, pode mudar nossa percepção sobre os problemas e até levar a soluções que não imaginaríamos sozinhos. Na prática, trabalhar em grupo significa, porém, participar de reuniões sem rumo nem fim e ser obrigado a interagir com colegas que não têm a mínima ideia do assunto tratado ou que agem exclusivamente em interesse próprio. Além disso, muitos indivíduos, quando atuam em grupos, portam-se como espectadores, mimetizam as opiniões de colegas e acomodam-se à pressão dos pares.

Segundo argumento: grupos frequentemente focam no próprio umbigo e desenvolvem raciocínios viciosos, ignorando perspectivas externas e reforçando o status quo. Eles costumam chegar a soluções de compromisso, que costuram interesses políticos, mas evitam correr riscos e tomar decisões mais duras, que podem ser necessárias em situações de crise.

Terceiro argumento: alguns estudos revelam que o trabalho em escritórios abertos é insalubre, tornando os profissionais mais predispostos a sofrer de pressão alta, estresse e exaustão. Além disso, os torna mais distraídos, inseguros e hostis, e ainda prejudica a produtividade.

Quarto argumento: em geral, as pessoas são mais criativas quando têm privacidade e ficam livres de interrupções. De fato, o isolamento ajuda a mente a se concentrar, induz a momentos de transcendência e facilita a criatividade. Significativamente, muitos profissionais inovadores são seres introvertidos e individualistas. Eles se sentem mais confortáveis trabalhando sozinhos, donos de sua própria agenda e do ritmo de ação.

Que fazer? Voltar ao modelo individualista e á arquitetura de salas separadas é inviável. Susan Cain sugere uma solução de equilíbrio, com ambientes de trabalho que permitam a interação entre os profissionais, porém, lhes facilite momentos de isolamento e reflexão. A autora acerta no diagnóstico, mas é ingênua na solução. Esquece que uma razão (implícita) para a existência de escritórios abertos é o chamado controle social. Ambientes abertos colocam os profissionais em constante situação de atenção.

O escritório do século XXI é uma reinvenção do Pan-Óptico idealizado por Jeremy Bentham no século XVIII: um centro penitenciário no qual os ocupantes estão permanentemente sob vigilância. Juntam-se à arquitetura os modernos meios de informação e comunicação, garantindo que os habitantes das gaiolas corporativas se comportem com o decoro esperado. Criadores, inovadores e empreendedores que procurem outro endereço.

(Publicado na Revista Carta Capital nº 684, de 15/02/12 – p. 63)

Internet, liberdade e censura

Mais um ótimo texto lá do Boteco Escola:

Há uns dois anos tive que aguardar um longo período para fazer entrevistas numa pesquisa que realizei numa faculdade. Gentilmente, uma das coordenadoras me cedeu uma sala para que eu pudesse usar a internet. Quis escrever um post no meu blog. Não foi possível. Quis verificar mensagens novas no meu twitter. Não foi possível. Em ambos os casos apareceu na tela um Protection Alert, comandado por um cão de guarda. Tal sistema protetor tinha algumas informações que resolvi ler. Uma das mensagens dizia que o twitter é um Social Networking (rede social). Motivo suficiente para ser censurado naquela escola. Como o protetor tinha um link para Social Networking fui conferir. Aprendi então que “redes sociais da internet podem conter material ofensivo”.

Narro outro episódio. Carta Capital na Escola publicou uma reportagem sobre WebGincanas, modelo de uso da internet que desenvolvi com meus alunos. Certo dia na universidade eu quis ver a reportagem em versão digital. Não consegui. A cada tentativa era informado que estava acontecendo um erro. Achei estranho, pois outras buscas na internet estavam funcionando normalmente. Demorei a entender o que estava acontecendo: o título da matéria procurada – Saberes em Jogo – contém uma palavra proibida. O bloqueador da universidade não deixa ninguém ler qualquer texto que tenha a palavra jogo. Problema sério para alunos de educação física. Em pesquisas sobre muitos esportes, eles precisam de permissão especial dos gestores da segurança de sistemas na universidade. Nesses casos, depois de muita burocracia, são destinadas aos pesquisadores algumas máquinas sem os bloqueios usuais.

Como é que as pessoas justificam esses atos de censura? Há duas explicações mais utilizadas. Uma tem a ver com disciplina intelectual. Outra, com moralidade. No primeiro caso, os censores dizem que a internet nas escolas deve ser usada apenas para atividades de estudo. No segundo caso, os censores dizem que é preciso proteger crianças e jovens contra os perigos de gente que usa a internet para explorar a inocência de nossos filhos. Acho que a censura promovida pelos bloqueadores não atinge nenhum dos objetivos propostos.

Examinemos o argumento da disciplina. A internet é um ambiente que pode dar margem a muita dispersão. Num laboratório de informática, quando professores propõem alguma atividade com apoio da rede mundial de computadores, é comum ver alunos navegando por sites que nada têm a ver com a matéria estudada. Já vi isso em toda parte, dos cursos de pós-graduação a aulas no ensino fundamental. A possibilidade de dispersão parece justificar bloqueio a redes sociais e a sítios dedicados a distração e lazer. Mas, os bloqueios não resolvem o problema; os alunos, se quiserem, sempre encontram meios de usar a internet de maneira dispersiva.

O segundo argumento parece mais sólido. Já ouvimos muitas histórias de como pessoas mal intencionadas utilizam a internet para corromper crianças e jovens. Crimes relacionados com sexo e drogas são as ocorrências mais freqüentes que os censores utilizam para justificar bloqueios em computadores das escolas. Mas a providência é inócua. O uso criminoso da internet não acontece em situações de uso público dos computadores.

A meu ver, num e noutro caso, escolas jogam dinheiro fora quando compram sistemas de bloqueio da internet. Esta, porém, não é minha preocupação principal. Preocupa-me a aceitação da censura no ambiente escolar. Algumas coisas que aprendemos nas escolas passam muito mais por meio do ambiente que por meio dos discursos feitos pelos educadores. Assim, um ambiente de censura passa para professores e alunos a mensagem tácita de que a comunidade escolar não merece viver em liberdade. O aluno de educação física que precisa de permissão especial para pesquisar jogos na internet aprende que a escola não confia nele. O aluno de ensino fundamental que vê seu twitter bloqueado aprende que ele é incapaz de fazer escolhas sem proteção contínua de adultos.

Volto à questão da disciplina nos estudos. Quando professores levam alunos ao laboratório de informática para pesquisas na internet, sem qualquer plano de trabalho consistente, a dispersão será inevitável. Bloqueio, como já disse não é solução no caso. A solução passa por propostas bem estruturadas de uso da internet para pesquisa. WebGincanas e WebQuests bem feitas, por exemplo, são muito mais efetivas que a censura a sites supostamente dispersivos. E, acima de tudo, a decisão de estudar é do aluno. A censura não ajuda ninguém a se dedicar à pesquisa. Aprender é um ato de liberdade.

A questão da moralidade é mais delicada. Proteger as crianças contra todo tipo de ameaça é uma tese aceita pela maioria dos adultos. Mas, crianças e jovens querem muitas vezes tomar decisões sem supervisão de pais ou professores. E esse desejo não é um capricho. É expressão de um sentimento de que a moralidade é fruto de escolhas livres.

Em qualquer dos casos comentados, parece-me que o caminho da liberdade é muito mais educativo que a censura à internet nas escolas.

Livros: uma (fantástica) fábula

Mais uma vez o Jarbas, lá no Boteco Escola, me encanta com seus achados pela Rede.

Essa animação – ou, melhor, essa fábula – é simplesmente encantadora. Fase por fase, vai bem ao encontro de tudo aquilo que sempre digo sobre livros, sobre escrever, sobre compartilhar os textos, sobre entregá-los para o mundo.

Nesse maravilhoso conto The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, que não tem absolutamente nenhum diálogo, “Um jovem escritor tenta colocar palavras em seu livro, quando um desastre natural acontece. Caminhando por um cenário devastado, com seu espírito abalado (acinzentado), ele encontra uma garota voando com livros como se fossem os passarinhos carregando-a. Entretanto, a garota deixa um livro para o rapaz, que o guia até um lugar onde ele aos poucos, redescobre a alegria dos livros, até escrever a sua própria história.”

Na minha leitura, fica claro aquele primeiro momento do escritor, que tenta exprimir – às vezes com muita dificuldade – tudo aquilo que sente, que quer passar. Seus livros, acumulados, não divididos, servem como consulta e como pesquisa somente para si. Mas Murphy, aquele velho sacana, interfere no destino desse cândido escritor, colocando-o frente a frente com um mundo devastado, sem palavras, sem esperança.

Mas eis que nosso herói se depara com algo. Curioso. Enigmático. Diferente. Impossível. E dali é guiado para um local onde realmente pode fazer toda a diferença no mundo.

Passo a passo, dia após dia, ele aprende cada vez mais e se doa cada vez mais para dar sentido a pequeninas vidas e concretizar sonhos – que, pasmem, não são seus! Ajuda a trazer um colorido especial para as pessoas e para o mundo e, com isso, para sua própria vida.

E o final é encantador.

Mas eu já não disse isso?

Confiram por si mesmos.

Garanto que serão quinze minutos muito bem utilizados de suas vidas.

 
Aliás, sobre o escrever e aquilo não mais lhe pertencer: me fez lembrar desse poema de Pessoa que já compartilhei aqui. Acontece que quase nunca escrevemos para nós mesmos. Escrevemos para outrem. Por outrem. Sobre outrem. Quase sempre.

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.

Alberto Caeiro

Relaxando

Em primeiríssimo lugar: esteja limpo.

Aquela história de mens sana in corpore sano é verdadeira. É humanamente impossível tentar qualquer técnica de relaxamento se você não estiver total e completamente à vontade. E limpeza é o item número um nesse quesito.

Já com seu banhinho tomado, deite-se em sua confortável cama. Suponho que por ser sua cama ela deva ser confortável, não é?

De costas, pernas esticadas, braços estirados, mãos espalmadas e olhos fechados. São três os estados pelos quais vamos passar: sólido, líquido e etéreo(1).

Na primeira fase sinta cada músculo de seu corpo. Contraia e estique todos aqueles que puder se lembrar (ou controlar). Sem sair do lugar, sem se mexer muito, espreguice-se total e completamente, desde a sola do pé até a nuca: batatas das pernas, glúteos, coxas, abdômen, costas, braços, pescoço, etc. Enrijeça-se e, ato contínuo, solte-se. Relaxe.

Na segunda fase, algo que serve para tentar focar o cérebro, deixando o corpo preparado para a fase seguinte: imagine-se num ambiente líquido. O que melhor lhe aprouver. Numa banheira, no mar, num lago, numa represa, não importa – desde que seja um ambiente calmo. Imagine a água ao seu redor. Todo seu corpo mergulhado nela. Imagine até mesmo aquele som surdo que ouvimos quando estamos mergulhados. Concentre-se nisso até que seu corpo realmente se convença de que está sob a água.

Na terceira fase imagine que está se desfazendo. Tornando-se etéreo. Comece a relaxar total e completamente, procurando deixar de sentir cada membro de seu corpo – um por vez. Concentre-se nisso. Comece pelos pés, como uma onda de energia que vai muito, mas muito mesmo, lentamente subindo e se apossando de cada partícula de todo seu corpo. Azul é uma boa cor para tentar focar. Lenta e inexoravelmente(2) subindo por cada milímetro e a cada milímetro passado nada mais se sente. Não se mexe mais. Não contrai. Não existe. Caso venha a se mexer, comece novamente do princípio. Insista. Essa onda sobe, passando pelas pernas latejantes, pelas coxas cansadas, cobrindo toda a virilha, subindo pelo tronco paralelamente às mãos e braços, chegando ao peito. Nesse momento ela, que já é lenta, torna-se ainda mais vagarosa. Ouça sua respiração. Sinta seu coração. Cada arfar. Cada batida. Cada expiração. Cada contração. Deixe a onda tomar conta de tudo isso sem interferir nisso tudo. Subindo pelo pescoço. Cobrindo sua cabeça. Cobrindo totalmente seu corpo.

E agora? Que fazer com essa mente irrequieta que, aina assim, não sossega?

Para resolver isso resolvi aliar a essa técnica uma outra, que pode ser chamada de “Técnica do Cavalo Selvagem”(3). Agora que o corpo efetivamente está relaxado, solte a mente. Deixe os pensamentos fluírem, tal qual uma manada de cavalos selvagens que correm numa pradaria qualquer. Cada pensamento, um cavalo. Mas você apenas os observa, não os monta. Não os doma. Não se prenda a nenhuma linha de pensamento. Não permita que seu raciocínio desenvolva nada mais elaborado a partir de nada. Se perceber que começou a se concentrar em algo, não o faça! Solte-os. Deixe-os livres. No começo é difícil (muito difícil), mas com o tempo a gente pega o jeito.

Com isso, quando menos perceber, já estará passando diretamente para os estágios três e quatro do sono, permitindo ao corpo recuperar plenamente as energias.

Particularmente, não importa o quão acordado, pilhado ou eufórico eu esteja. Pra mim funciona. Com essa “técnica” aí de cima no máximo em pouquíssimos minutos já estou dormindo. Profundamente. Aliás isso me permite uma noite de sono de aproximadamente umas quatro horas, pois, ao “pular etapas”, recarrego mais rapidamente as baterias…

Eu a aprendi com uma riponga, amiga de meu irmão, que conheci quando tinha uns treze anos. Ela devia ter uns dezessete, dezoito no máximo. Juntamente com uma outra amiga (que, se bem me lembro, arrastava a asa para o brother-san) passaram uns dias em casa, creio que antes de partirem para uma comunidade alternativa no Rio de Janeiro. Eu me deitava e ela ficava ao meu lado falando, passo a passo, muito calmamente, cada parte do corpo que eu deveria relaxar. Naquela época levava séculos. Não sei se porque ainda não sabia me concentrar, se porque era adolescente ou, provavelmente, ambos…

E antes que alguém pergunte, não, isso não é meditação.

É relaxamento.

É a busca de levar tanto o corpo quanto a mente para um estado que permita relaxar profundamente. É desligar. É apertar o botão off.

Diferente da meditação, na qual o corpo relaxa e a mente aquieta – mas mantém-se alerta. Expande-se. Transcende.

E não é esse meu propósito.

Ah, e é lógico: isso não funciona caso você esteja propenso a ataques de sono!

😀


(1) Sim, “etéreo”. Você achou que fosse o quê? Gasoso? A esta hora da noite? Sem saber o que você comeu? Num quarto fechado? Tá louco, é?

(2) “Inexoravelmente”… Sempre quis usar essa palavra desde que assisti Vincent Price interpretando o Dr. Phibes. A bem da verdade acho que já usei antes, mas não perco a oportunidade!

(3) Se não me falha a memória, creio que li isso em algum dos livros do Paulo Coelho, resolvi colocar em prática e realmente funcionou…

“Sonho”

Muita gente sabe o que é ter um sonho e trabalhar por ele.

Muita gente aprende desde cedo que se não tratar de concretizá-lo, ninguém fará isso em seu lugar.

Muita gente sabe o que é chegar bem pertinho e ser obrigado a abrir mão mais de uma vez, pelos mais variados motivos.

Muita gente, com o tempo, com a idade, com as contas para pagar e os filhos para criar, guarda o sonho com cuidado num cantinho acolchoado da vida – não abandonado, não esquecido – protegido de maiores frustrações.

Muita gente desiste.

Muita gente releva.

Muita gente se acostuma.

E o sonho fica lá, cochilando, incomodando cada vez menos.

E a vida segue seu rumo.

De vez em quando, muita gente ouve de outros que realizaram um sonho igual e sente o próprio sonho latejar.

Mas passa.

E em vez de viver para o sonho, muita gente passa a viver para o fim do mês, para a próxima prestação, para mais uma conta quitada.

Com as obrigações, vem o pragmatismo e muita gente se sente culpada até por acalentar um sonho.

O tempo continua passando e, não raro, muita gente passa a viver do sonho de outras gentes que foram aparecendo pelo caminho.

E a trabalhar para realizar os sonhos dos outros.

Eu só sei que muito pouca gente tem o privilégio de um dia, ouvir alguém dizer: “Ei, sabe aquele seu sonho? Aquele, de mais de vinte anos? Pois é. Eu vou realizar.”

Assim.

Do nada.

E, de repente, aquele sonho adormecido transborda com tanta força, que tira muita gente do rumo.

O sonho tira o sono, tira o foco, tira a fome e vai invadindo tudo até que não sobre espaço para mais nada, a não ser para a iminência da realização do sonho.

E eu aqui, em plena segunda-feira, ouvindo acordeons!


Este post não é meu.

Foi originalmente ao ar no finado blog Respira pela Barriga – “Reflexões, aventuras e desventuras de alguém que come com os olhos, fala pelos cotovelos, pensa com o coração e tenta, honestamente, respirar pela barriga” e também (re)publicado por aqui.

Reencontrei-o numa revisão nas entranhas aqui do Legal e percebo o quão atual ele é. Não quero deixar meus sonhos passarem. Não devo. Não posso. Não quero ninguém vindo me falar deste ou daquele sonho que realizei ou deixei de realizar. Corro eu mesmo atrás deles. Aqui. Hoje. Agora.

Mas não sozinho.

Em conjunto.

Em família.

Pois ao menos este é um dos que se concretizou…