Que venha 2017!

Não, não falo em tom de bravata, não! Pode vir, mesmo…

E hoje eu poderia falar aqui de tantas coisas, de questões políticas, de questões econômicas, do que nos aguarda no futuro (IMHO), de questões do coração (AH, marvado coração!…), de inúmeras outras questões e temas, relevantes ou não – mas decidi que o correto mesmo seria tratar do assunto que, tenho certeza, é de relevância internacional neste ano de 2017 que se inicia e que preocupa de igual maneira a grande maioria das pessoas que habitam os assim chamados “países civilizados”.

Isso mesmo, já adivinharam, né?

Tô falando do peso.

Não, não a moeda! O seu peso, mesmo, ô criatura!

Tá bom, o meu também. Aliás o de todos vocês! Arre!

Enfim, me digam o porquê, PORQUÊ, por qual desarrazoado motivo invariavelmente perdemos a razão no final de ano para, logo no primeiro dia do ano seguinte, já termos que começar à base de ENO??? Ainda bem que pelo menos eu tinha um aqui comigo…

JisuisMariaiJusé… Por que é que a gente faz dessas coisas? Pra completar só faltava ter tomado todas! Oi? Você tomou? Bem, boa sorte então! Ainda bem que (desta vez) eu não. Até porque já passou da hora de começar a ficar um pouco sóbrio. Ou, no mínimo, menos ébrio…

Enfim. Peso.

Queridas e queridos, não tem jeito. Não tem suco milagroso que resolva. Não tem receita de dieta espetacular que vá fazer aqueles “quilinhos” a mais simplesmente evaporarem. As calças não fecham, as camisas se agarram no corpo em formatos bizarros e o pino da fivela do cinto resolveu mudar de casa e – pior! – pulando sela.

Não há o que ser feito a curto prazo.

E, por mais que eu tenha um carinho todo especial pela sedentária vida que vinha levando, bem como por um apurado paladar que, ainda que não refinado, dotado de um certo eventual exagero (tá, guloso mesmo…), o negócio agora vai ser começar a suar e suar direitinho!

Vejam bem, no meu caso estou com aproximadamente sete arrobas e um terço. A porra do aplicativo que tive o desprazer de instalar no meu celular calcula que um cara como eu, 1,90m, na casa dos trinta e dezessete anos, boa pinta, gente boa, brincalhão – ainda que esteja com umas contas aí em atraso – deveria ter no máximo seis arrobas!

Carái!

Não contente fui consultar o oráculo deste meu próprio blog, num post do longínquo ano de 2004, onde consta uma formulazinha que calcula o IMC (Índice de Massa Corpórea) de cada um, com o pomposo nome de A Incrível Calculadora de IMC e Calorias Diárias de Madame Nat.

Ói o que a fiadaputa me disse:

Seu peso ideal é entre 66.8kg e 89.9kg.
Seu IMC atual é 30.5 e seu corpo gasta umas 2430 calorias por dia.
Você precisa consumir no máximo umas 2180 calorias por dia, divididas em até 311g de carboidratos, 73g de lipídeos e 71g de proteínas, para emagrecer uns 20.1 quilinhos amigos – e procure um médico, você está obeso.

Pô, gente, cá entre nós, eu até admito os “89,9kg”. Certa vez passei por uma nutricionista ensandecida que queria me fazer chegar aos 84kg (ainda que eu já tenha conseguido esse feito através de uma dieta maluca de anos atrás e que nunca mais NA VIDA volto a fazer), então esse número até que não seria nenhum despropósito.

Mas “66,8kg” é muita sacanagem, né???

Meus amigos, acho que nem quando eu era adolescente cheguei a pesar só isso. Acho que nem o Salsicha (do Scooby) pesa só isso…

Enfim, o que não tem remédio, remediado está. Então o plano é o seguinte: já desde o primeiro dia do ano ponha a preguiça de lado e comece, eu disse COMECE, a fazer alguma atividade física. É o ÚNICO jeito, meu povo.

Particularmente, em decorrência da preguiça monumental com que acordei hoje – aquela nada saudável leseira pós-ceia-de-réveillon -, por mais que eu prefira o período da manhã, foi somente à tardinha que consegui sair, devidamente paramentado com meus especiais tênis Olímpicos (presente dos deuses: do velocista Hermes e da guerreira Atena)… Primeiro dia, né gente? Vamos com calma. Ainda arrotando o resto do pernil da meia-noite, depois de alguns alongamentos (e, só acho, outros tantos estiramentos), fiz uma caminhadinha básica – e ligeira – de uns dois quilômetros com uma corridinha aqui, outra ali. É o que aguento. Por enquanto.

Vamos ver quanto tempo vai levar para colocar este enferrujado tanque de guerra em dia. Espero, sinceramente, que não muito. E sugiro que vocês comecem a se coçar desde já.

Heh… É bem como disse o bom e velho Ao Mirante Nelson, ainda ontem: “A única certeza: 2017 será um ano ímpar.”

E, no mais, manter o foco. Se Rocky conseguiu, não tem motivo para que eu também não o consiga… 😉

 

Volta ao Mundo em 80 Horas – VI

VI – Frustrado novamente

Ah, nada como uma hospitalizada noite de sono relativamente tranquila…

Bem, quase.

Após um bom banho quente (de verdade) – mas com cuidado para não ferrar com o tal do acesso que continuava espetado na minha mão esquerda – pude confortavelmente me deitar e ser reconectado a um frasco de soro para passar a noite. Se bem que “deitar” é um ponto de vista. Cama para hobbits, vocês se lembram? Como a noite estava agradável, o jeito foi enrolar o cobertor para usá-lo como almofada e suporte para os pés, bem em cima da… Quer dizer, do… Putz! Como é que se chama o oposto de cabeceira? Peseira? Zaga? Posterior? Ilharga? Retaguarda? Bem, acho que vocês entenderam, né?

Até me deixaram comer de novo! Uma sopinha – que era pra não pesar – mas que sorvi até a última gota do último bocado do caldinho. Podem falar o que for de comida de hospital – que, é óbvio, jamais vai ser como a comida de nossa própria casa -, mas, na minha opinião, estava uma delícia! Ou, talvez, por conta de fazer um dia e meio que não me alimentava de absolutamente nada, pode ser que qualquer coisa remotamente mastigável me pareceria estar extremamente saborosa…

Enfim, de fato, a noite foi tranquila, à exceção das poucas vezes que fui acordado para medir a pressão (cravados 12 x 8 em todas as amostras) e nada comparável à medição de 15 em 15 minutos da noite anterior.

Acordei no horário de praxe (cinco da matina, conforme previamente programado no meu maldito relógio biológico) e, ainda sem óculos, fiquei bestando até dar o horário de começar a aparecer gente.

E, logo cedo, antes do início do expediente, recebi a honorável visita de alguns amigos: Joseane, Marcela e Gil.

Curiosamente o período não estava favorável para pessoas saudáveis… Por aqueles dias minha amiga Dani, que também trabalha lá na instituição, estava com o maridóvski diarreico e a filhota do meio com muita dor (provavelmente pedra nos rins – tomara que não); fiquei sabendo que o sogro de meu cunhado passou mal e teve que ser internado; a própria irmã da Marcela também estava de molho, internada ali na Santa Casa, sob observação; e, bem na minha frente, o Gil havia recentemente feito uma cirurgia e também estava se recuperando.

Aliás, imaginem um caboclo sacana, rápido na resposta, muito bem humorado, carequinha, com um metro e sessenta e poucos de altura e aproximadamente (sei lá, tô chutando) uns 130 quilos. Se ficasse sentadinho, de pernas cruzadas e fosse pintado de dourado, passaria tranquilamente por uma estátua do Buda. Esse era o Gil.

Era.

Dentre outras intervenções que foi obrigado a fazer, decidiu melhorar a qualidade de vida e passou por uma bariátrica, a tal da gastroplastia ou cirurgia de redução de estômago. Somente o conheci após isso, mas eu diria que ele deve ter perdido em peso o equivalente a um saco de cimento. Dos grandes.

Já passados alguns anos e tendo conseguido se manter em torno de setenta e poucos quilos, resolveu que era hora de melhorar ainda mais um bocadinho a qualidade de vida e passou por uma nova cirurgia, desta vez para remover o excesso de pele flácida que restou de seus tempos rechonchudos. Durante a recuperação ele tem que usar uma espécie de “colete de contenção” – parece que, ao menos, até tirar os pontos.

Heh… Depois dessa acho que ele vai querer fazer uma cirurgia para não usar mais óculos. E, talvez, um implante capilar – por que não?…

Bem, apesar de ser eu o internado, estávamos todos curiosos sobre como ele estava. Conversamos um pouco e ele resolveu mostrar a tal da cirurgia. Tirou o colete, que deve ter uns quinhentos colchetes para abotoar e, bem nessa hora, me chega o Torquemada.

– Mas que zorra é essa???

Explica daqui, justifica dali, se envergonha dacolá e eu, sentado na cama, me matando de rir da cara do povo! Rapidinho, enquanto ainda explicava tudo, foi reabotoando os colchetes até que chegou no último. Errou de casa no primeiro e ficou tudo fora. Toca a desabotoar e abotoar tudo de novo. Roxo. E eu se rindo até me acabar!

Não demorou muito cada um tomou seu rumo, enxuguei as lágrimas do acesso de riso e começamos a conversar um tanto.

– É, parece que não tem jeito mesmo. Você não vai fazer a colonoscopia…

– Caceta, ainda essa história? Larga mão disso, cara! Será que hoje me liberam? Já deixei tudo arrumadinho e no esquema pra levantar voo…

– Provavelmente sim. Quem vai levar você embora?

– Ah, tô com o carro ali no estacionamento do trabalho e…

– NÃO, NÃO, NÃO! O senhor não vai dirigir. Hoje não.

– Mas, mas, mas…

– Sem “mas”. Arranje alguém para te levar e dê um jeito de pegar o carro depois.

Nisso chegou a Dona Patroa.

E – graças a Deus – com meus óculos!

Começamos a tabular uma conversa sobre como ir embora e ela já falou que nosso amigo Flávio se dispôs a levar o carro. E eu disse que também poderia contar com (quase) qualquer um lá do serviço que, tinha certeza, não se negaria a ajudar. O próprio Torquemada também se colocou à disposição. E o Ronaldo disse que não nos preocupássemos porque ele estava ali pra isso mesmo.

Oi?

Ronaldo?

Sim, Ronaldo, um amigo lá do serviço e que trabalha diretamente com a Chefa. Quando foi que ele chegou? Como foi que ele se materializou ali, do nada, e já foi entrando na conversa?

– Que é que você tá fazendo aqui, cara?

– Ah, é que a Chefinha pediu que, se fosse possível, eu te levasse pra casa, já que você vai ter alta hoje.

É como eu já disse antes: sendo quem é, já sabia de tudo que estava acontecendo, o que eu poderia ou não fazer, e, inclusive, quais seriam os próximos passos…

Pois bem, o negócio agora era aguardar o médico de plantão para um rápido proseio, me dar alta, enfiar a viola no saco e tomar o rumo de casa. Lá pela metade da manhã ele veio. Só que ele não era ele, era ela. Uma gordinha com cara de simpática que veio chegando, com a prancheta na mão, deu uma olhada pra mim e já foi tagarelando:

– Seu Adauto, né? Vi aqui o que lhe aconteceu e, na minha opinião, ainda faz muito pouco tempo do ocorrido. Isso porque situações como esta são definidas por um protocolo médico e, segundo esse protocolo, o senhor vai ter que passar mais um tempinho aqui em observação, ok?

Assifudê!!! Eu bem disse que eles devem ter cartões personalizados com essa fala decorada!

– Seu Adauto? Tudo bem?

– Não vou esconder a frustração de que vou ter que ficar mais um pouco por aqui, mas, paciência. Até amanhã, então?

– No mínimo, até sábado.

Mais dois dias! Caceta! Pelo menos eu teria tempo de sobra para ler os livros que estavam comigo, agora que eu já estava com meus óculos. A essa altura o Torquemada já tinha saído para rir longe da médica. Pedi mais uma muda de roupa para a Dona Patroa e, quando fui falar com o Ronaldo… Cadê? Puf! Sumiu! Como será que ele faz isso?…

Não demorou muito, ele ressurgiu e expliquei-lhe a situação. Não sem rir (da minha cara), ele ainda se colocou à disposição quando eu, de fato, saísse.

Novamente sozinho, resolvi que deveria esclarecer para a Chefa, de maneira adulta, coerente e salutar, o que havia ocorrido e o porquê não seria necessário que nosso amigo Ronaldo ficasse por ali. Como eu iria lhe mandar uma mensagem de texto, pensei um pouco, busquei no fundo do meu coração palavras conciliatórias, basicamente não ofensivas e que pudessem resumir a peculiar situação em que eu me encontrava. Saiu isso:

– A VACA DA MÉDICA NÃO ME DEU ALTA!!!

Ela riu, me recomendou que ficasse descansando, me cuidando, e que se assim não o fizesse ia pedir para a Dona Patroa tomar meus telefones. Como última “recomendação médica” me aconselhou a ficar quietinho no meu canto, só lendo coisa boa.

Melhor obedecer, né?

Antes de desligar os aparelhos (celulares, não os hospitalares – até porque já não estava mais conectado a nenhum), ainda troquei uns zaps com os amigos Nando e Fred, lá do Sr. Barba, atualizando-os do que aconteceu. Como são de uma sensibilidade ímpar me mandaram uma foto deles próprios tomando suas brejas e o Nando já antecipou que vai deixar lá na barbearia um estoque de Kronenbier (uma tradicional cerveja sem álcool). Fiadasputa.

Já entubado (não literalmente falando) pelo que me aguardava e pronto para me dedicar a horas de ócio somente na leitura, ainda recebi a visita de mais dois queridos amigos que estavam bem preocupados com minha situação: o caríssimo Casal Lux-Nerd… E que, inclusive me trouxeram mais alguns livros! Vejam só os títulos:

– “Três Dedos: um escândalo animado”;

– “Ser feliz”;

– “O oceano no fim do caminho”;

– “Andar do bêbado”; e

– “Obrigado por fumar”.

De fato é bem como diz o ditado: dá dinheiro, mas não dá intimidade. Tô cercado de humoristas. Ô bando de amigos tiradores de sarro que eu tenho!

Bem, novamente sozinho, agora era só questão de aguardar mais dois dias para a alta. Mas, lembrem-se: comigo nada é fácil! Até as expectativas quando dão certo, acabam dando errado. E essa era a lição que eu iria aprender no dia seguinte.

(Início da Saga)                        (Continua…)

Volta ao Mundo em 80 Horas – V

V – A alta #sqn

Rememorando os últimos eventos: nosso anti-herói, segurando temeroso o lençol que o cobria na altura do pescoço, fitava com um olhar atônito para as moçoilas que queriam desnudá-lo…

– Cumassim? Banho? Aqui na cama, mesmo? Mas não vai molhar tudo?

– O senhor já deve ter percebido que todos os colchões são revestidos de plástico. Com jeito e técnica, apenas duas bacias d’água já são suficientes para lhe dar um banho de leito completo.

Resignado, resignei-me.

Nada daquela história de “paninho”. O negócio foi mesmo na bucha (na realidade, uma esponja…), com bastante sabão e água para tudo quanto é lado. Sim. Inclusive lá. Bem, como sempre digo, trato é trato. Vim para me cuidar, não foi? Então vamo que vamo! Fui desplugado da fiação (sem remover os eletrodos), desconectado do soro, dos medidores de pressão arterial, etc.

– Eu sei que deve ser constrangedor para o senhor…

Constrangedor? Para mim? Imagina! Isso não é nada! Ainda semana passada duas morenas seminuas quase que fantasiadas de havaianas estavam me dando banho, massagem e até mesmo fazendo cafuné! Esse é meu dia-a-dia, querida: sempre estou rodeado de mulheres!

Adoraria poder dar uma resposta dessas, mas, ainda que somente a última parte seja verdadeira (e parte da minha sósifodência vem daí), limitei-me a concordar. Mas sem deixar de alfinetar:

– Verdade, verdade. Mas imagino que a primeira vez que você teve que dar banho em alguém também deve lhe ter sido constrangedor, não é?

Percebi um leve esgar de um sorriso e um momentâneo olhar perdido, como de quem acha graça em algo que, parece-me, já havia esquecido há muito no passado…

Antes de continuar, me permitam esclarecer uma coisa muito importante: como “funciona” o frio em nós, seres do sexo masculino. O melhor exemplo que tenho é a moto – ainda que eu não tenha mais a moto para dar o exemplo. Enfim. Sempre me perguntaram o porquê de andar de moto no inverno ou na chuva, pois seria muito desconfortável. Não, caríssimos, não é. Muitos podem pensar que o grande segredo é manter o peito aquecido (como Ra’s Al Ghul tentou ensinar para o jovem Bruce Waine); isso em parte até que é verdade, pois num dia frio e chuvoso, quando o capacete já não está mais cumprindo seu papel, os pés e pernas estão tão encharcados quanto as mãos e os braços, um peito bem agasalhado até que ajuda. Mas chega uma hora em que até mesmo ele se molha – e mesmo assim ainda é possível resistir. O problema é bem outro.

E, por mais que este seja um blog (quase) de família – e se você tem problemas com o palavreado chulo, pare de ler agora – preciso lhes contar o que é que realmente arrebenta o caboclo numa situação como essa, o que é que, uma vez encharcado, pode fazer com que o desinfeliz passe a tiritar tanto de frio que seja o suficiente até mesmo para cair da moto, o que é que, uma vez atingido pela chuva gelada, não tem mais salvação…

Continuou, né herege?

Mas é isso mesmo.

O saco.

Meu, vocês não têm ideia do que seja isso!

Bom, pelo menos parte de vocês, não…

Uma vez atingido esse órgão vital, o mundo parece desmoronar e se desmanchar ao seu redor. Uma vez afetado, não tem concentração, bebida, comida, carinho ou seja lá o que for que resolva o problema – a não ser, claro, devolver os ovos para um ninho quentinho (e, sim, isso foi uma metáfora…).

Pois bem.

Apesar de todo o constrangimento do banho não tão de paninho assim, até que tudo estava indo bem, comigo sendo ensaboado, literalmente, da cabeça aos pés. Ato contínuo, enxaguar. Uma água até que morninha, com muito jeito e técnica, sem fuzuê, sem encharcar foi sendo usada para tirar o sabão.

– Com licença.

Bem, até hoje nunca ninguém me “pediu licença”, assim formalmente, para mexer com o Little Dick, mas – que fazer? – que assim o seja. E ela simplesmente removeu todo o sabão dele com ÁGUA GELADA. Percebem a zica da coisa? Tudo bem que deve fazer parte do jeito e da técnica (até para evitar que algum abusado fique “confortável demais” com o banho), mas era ÁGUA GELADA, PORRA!

– Vamos lavar as costas agora.

Assim, de ladinho, comecei a tiritar de frio. Mesmo. Tremedeira, gente. E, apesar do clima quente e até da chuva que parecia derrubar o mundo lá fora, dentro da UTI o ar condicionado fica ligado 100% do tempo. Se antes estava fresquinho, agora parecia que tinham me jogado nu em um buraco na neve. E tapado. Vendo o quanto eu tremia, a moçoila ainda me soltou essa:

– Fique calmo, senhor!

– Calmo eu estou, o problema é QUE ESTOU COM FRIO, CARAMBA!!!

Foram mais alguns minutos daquela sessão tortura, secando e enxugando a mim e ao colchão com o que estava à mão até que minha temperatura começou a estabilizar eu a parar de tremer. Antes mesmo que eu perguntasse se já poderia ter de volta minha dignidade (ou seja, no mínimo, minha cueca), ela me veio com um forte jato de desodorante em aerossol pela axila esquerda, pela axila direita, pelo peito, pela boca, pelas narinas, pelos olhos, pela testa…

– Ai, meu Deus! Me desculpa!!!

Foi sem querer. De verdade. Ela ficou extremamente embaraçada, coitada. Mas ainda assim me senti Kafka reencarnado e até mesmo dei uma olhada para meus braços e pernas para ver se não estava me metamorfoseando. Juro que quase senti pena das baratas que já matei. Quase. Mas passou rapidinho.

Agora que estava limpinho, quentinho e reconectado a tudo que tinha que estar, restava-me a árdua tarefa de atravessar a noite de luzes acesas na UTI. Gente, na boa: o que para alguns poderia parecer uma solidão desesperadora, sem ninguém para conversar, nada para ler, nem TV para assistir, para mim foi simplesmente um exercício de tranquilidade. Mesmo o fato de estar sem comer absolutamente nada há mais de um dia sequer me incomodou. Quem me conhece sabe que sempre gostei de estar sozinho, de me perder nos meus pensamentos. E eu estava justamente no melhor lugar para fazer isso, onde somente seria abordado se chamasse alguém – o que, obviamente, não tinha motivo algum para fazê-lo.

Olhei para o medidor de pressão arterial. De quinze em quinze minutos o bendito inflava em meu braço e atualizava os números. Bem diferente dos 15 x 10 de quando dei entrada, estava em 12 x 8, que é o meu normal – e já vinha se mantendo assim em todo o decorrer do dia. Batimentos cardíacos em torno de 56 bpm (batimentos por minuto). Agora, vejam só, vocês podem até achar que é uma viagem minha, mas juro que é verdade: já falei por aqui antes acerca de meditação e técnicas de relaxamento. Como não tinha nada para fazer, resolvi colocar uma teoria à prova e comecei a fazer um relaxamento completo, inclusive reduzindo a respiração (que agora já estava muito bem, obrigado) ao mínimo indispensável. Fiquei olhando para aquele monitor e, plenamente relaxado, quase fora de mim, pude ver os números caírem para 10 x 6 e 44 bpm…

– O senhor está bem?

A enfermeira veio falar comigo no exato momento em que o medidor começou a inflar no meu braço novamente. Sorri e disse que sim, que estava tudo bem. Ela ficou me olhando com uma cara de preocupada, ficou aguardando os resultados do monitor e assim que os números se atualizaram (12 x 8 e 56 bpm novamente), fez uma cara de interrogação, deu uns tapinhas no aparelho e saiu de perto, meio que encafifada…

Pois bem.

Entre um cochilo e outro, atravessei a noite na UTI. Pouco antes da nova troca de turno, Torquemada veio fazer uma visitinha, perguntar se estava tudo bem e se eu realmente não queria fazer uma colonoscopia.

– Cara, essa sua insistência já tá virando ideia fixa! Deixa minhas intimidades em paz, pô! Que fique bem claro: exceto em caso de emergência hospitalar, ali é uma via de mão única!

– No hospital já estamos. Só falta criar uma emergência!

– Nem vem, cara!

– Tá bom, tá bom. Mas só pra você saber: já foi solicitado um ecocardiograma pra você. Assim que o médico fizer, você já deve ter alta, ok? Ele deve chegar aqui lá pelas dez da manhã.

– Beleza!

E realmente o sujeito veio, com sua maleta para fazer um ecocardiograma, que é um procedimento bem parecido com um ultrassom. A que horas? Oito da noite! Bem que eu disse que, comigo, nada é fácil.

Veio, viu, mediu, conversou com o médico de plantão, chegaram num acordo que os risquinhos do eletrocardiograma estavam de acordo com as imagens do ecocardiograma e concluíram que seria aconselhável primeiro fazer um teste de esforço numa esteira (devidamente monitorado, é lógico) e só então avaliar se seria necessária a realização de um cateterismo – que seria a introdução de um cateter (um tubo longo, fino e flexível) por alguma de minhas artérias para verificar a situação das veias. Particularmente eu preferiria a opção de “Viagem Fantástica”, de Asimov, mas creio que não teríamos isso à disposição…

– Pois é, seu Adauto. Como tudo está em ordem e o estado do senhor se apresenta estável, nada mais me resta senão lhe dar alta!

– Quer dizer que…

– Não, não, não. Até já sei o que o senhor vai perguntar. Acontece que vou lhe dar alta da UTI, mas situações como esta são definidas por um protocolo médico e, segundo esse protocolo, o senhor vai ter que passar mais um tempinho aqui em observação, ok?

Não é possível. Eles devem ter cartões personalizados com essa fala decorada. O que era uma visita em busca de um pouco de oxigênio se transformou num pernoite na UTI, a alta que era para de manhã ficou pra noite e agora fechamos em mais uma noite hospitalizado…

– Só que ainda vai demorar mais um pouquinho para que liberem um quarto. Pelo adiantado da hora o senhor gostaria de aguardar ou prefere que lhe deem banho aqui mesmo?

– QUARTO, QUARTO, NO QUARTO, POR FAVOR! Quer dizer… Tudo bem. Eu aguardo. Prefiro aguardar e tomar banho por mim mesmo…

Ele riu e se afastou para cuidar da papelada.

E assim, aproximadamente 36 horas depois, deixei a UTI para trás e retornei para o mesmo quarto em que estive antes. Mais uma vez fui desplugado dos aparelhos, foram removidos os medidores, fui desconectado do soro. Mas o acesso da mão esquerda permaneceu, aquela agulha pendurada ali na veia. Ah, sim, também retiraram os eletrodos. Todos eles. Juntamente com boa parte da pelagem peitoral deste que vos tecla… Nesse meio tempo Torquemada teve o cuidado de avisar a Dona Patroa que eu ainda precisaria passar a noite por ali – até que ele não é de todo sacana. Bem, médio.

Pouco mais de uma hora depois ela chegou com roupas (eu continuava sem lenço nem documento, lembram?), “objetos de higiene pessoal” (ou seja, shampoo, sabonete, escova de dentes, etc), celulares e – vejam só! – dois livros para eu passar o tempo! Tirinhas excelentes em “O livro de ouro de Hagar, o Horrível” e mais um tanto de política e história em “Uma ovelha negra no poder: confissões e intimidades de Pepe Mujica”.

– Caramba, que legal! Adorei! Depois do banho já vou mergulhar nesses livros! Cadê meus óculos?

– Oi?

– Óculos, dearing, óculos, lembra? Aquela armação de plástico ou metal, com uma lente para cada olho e que, para pessoas como eu, que não já conseguem mais enxergar absolutamente nada de perto, permitem ao menos o prazer da leitura.

– Xiii…

Dois pares de óculos. Dois. Um multifocal e outro só pra perto. E ambos ficaram em casa, a quilômetros e quilômetros dali. Livros, celulares carregados, tudo à mão e nada ao meu alcance. Eu mereço…

Bem, o jeito seria curtir uma boa noite de sono, sem aparelhos, sem medidores e com a luz apagada – ainda que naquela cama para hobbits. E, segundo o Torquemada, eu já teria alta no dia seguinte, logo pela manhã.

Ao menos era o que eu pensava…

(Início da Saga)                        (Continua…)

Volta ao Mundo em 80 Horas – IV

IV – Paciência com os pacientes

Mas antes que continuemos e passemos às cenas de nudez explícitas que ficaram implícitas no final de nosso último episódio, vamos a um pequeno interlúdio para falar um pouco do que é estar numa Santa Casa. Mais ainda, do que é estar dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva, bem como dos casos e causos pelos quais esse povo passa. Uns trágicos, outros nem tanto e mais alguns tragicômicos…

Compreendam: uma unidade de saúde – seja ela qual for – é um lugar feito para tratar gente. Quem vai pra lá ESTÁ com algum problema, sério ou não, mas que está, está. Em se falando de uma Santa Casa que tem por finalidade – ao menos por enquanto – tanto ser o hospital da cidade quanto a porta de entrada para o pronto socorro, infelizmente é um lugar onde, além de tratar gente, também morre gente. Isso é um fato.

Esclarecido isso, enquanto eu estava lá na UTI passei, ao menos em parte, pelo plantão de todas as quatro equipes que se revezam nos turnos de 12 x 36 (doze horas de trabalho ininterrupto por trinta e seis horas de descanso). Ah, sim, aquele negócio de “sair no mesmo dia” caiu por terra assim que ocupei o meu leito número 5: “Te disseram que sairia ainda hoje? Ha! Para o seu tipo de caso é necessário ficar, no mínimo, 12 horas em observação!”.

Ainda estava digerindo essa informação (e que era tudo que eu tinha para digerir, diga-se de passagem), quando uma das enfermeiras me trouxe uma máscara.

– O senhor gostaria de colocar uma máscara?

– Hmmm… Na realidade, não. Mas é necessário? Algo contagioso no ar?

– Não. É que vamos cuidar de um paciente que… Digamos, não está muito bem.

– Já que você recomenda, eu aceito.

Apesar de, na hora, não ter entendido nada, mais tarde fiquei sabendo. O sujeito deu entrada para passar por uma cirurgia e, quando o abriram, por dentro estava todo necrosado. Isso mesmo: em estado de decomposição. A família já não tinha mais esperança. E quando foram cuidar dele (era o número 1, estava longe de mim, do outro lado da sala, fora do meu campo de visão), vocês não tem noção do que foi aquilo.

O cheiro.

O CHEIRO!

Mesmo com a máscara e bem longe do sujeito, garanto que se eu tivesse algo no estômago, esse mesmo algo estaria abrindo caminho garganta acima naquele exato momento. Vocês não têm ideia do quanto já passei por inúmeros lugares e por insólitas situações, mas daquele cheiro não terei como tão cedo esquecer, pois vinha de alguém que já não tinha mais como estar vivo. Mas ainda estava.

Mesmo assim a equipe permanecia lá, de prontidão, fazendo o que era necessário até o último instante.

Deixando a tragédia de lado, havia também a número 6, minha pequenina vizinha. Quando cheguei já percebi que era uma criança, talvez de uns oito a dez anos, apesar de tudo que podia ver era seu pequenino pé, dedinhos todos alinhados, e de uma pele branca quase albina. Pelo pouco que entendi já estava ali há dias, parece-me que diabética e, pior, tendo que fazer hemodiálise. Alguns de algumas das equipes também já estavam desacreditados quanto à sua recuperação e eu não tinha lá muita certeza de que aqueles sorrisos e alegações de “nossa, como você está melhor” seriam a expressão de sentimentos verdadeiros ou somente para tentar lhe trazer alívio.

Mas que bom que também erram nas previsões! Talvez tenham mesmo que ser assim, criar essa verdadeira carapaça para aguentar o tranco do dia-a-dia, que não é nada fácil. Logo no final da manhã seguinte ela teve alta da UTI e poderia ir para um quarto. Ainda com todos os problemas, ainda com todos os cuidados, mas ao menos longe dali e próxima da família. Sorri sinceramente ao vê-la sendo transportada para fora daquela sala.

Mas mesmo num lugar como esse também estão presentes os salafrários de plantão!

Só para contextualizar: uma vez que é terminantemente proibido sair da cama, como fazer na hora das “necessidades fisiológicas”? Para isso existe o urinol masculino, uma vasilha com uma espécie de bico – que lhe valeu o apelido de “papagaio”. Você simplesmente ajeita a “ferramenta” dentro daquele troço e se alivia. Acabou? Chama alguém pra recolher e pronto. Tudo ali, na cama mesmo, discretinho, por baixo dos lençóis.

Pois bem, logo pela manhã uma das enfermeiras adentrou o recinto emputecida da vida. Acontece que ela foi dar uma olhada nos pacientes da outra sala de UTI e, creio eu, o número 9 pediu que ela o ajudasse a usar o papagaio, colocando e segurando o bilau ali dentro. Ela contou como foi a conversa:

– Como assim? Apesar de o braço esquerdo estar imobilizado, o seu braço direito não está bom?

– Ah, tá ruinzinho, sabe? Não tô conseguindo fazer nada com ele…

– Ah, é? E como foi que o senhor fez de madrugada, então?

– Pois é, né? A outra enfermeira foi muito gentil e me ajudou, por isso que eu te chamei!

– Ah, ajudou, é? Sei. Vamos fazer o seguinte: vou ali chamar o Fernando ou o Ângelo e eles vão poder ajudar o senhor, tá bom?

Disse e saiu pisando duro.

Todos riram – inclusive eu. Nisso entra o tal do Fernando, também rindo, ao que ela perguntou:

– E aí? “Ajudou” o infeliz?

– Que nada! Quando eu cheguei lá ele já tinha feito, direitinho. Mas tá num mau humor…

Perceberam? São uma equipe. Estão ali para cumprir com seu trabalho, com seus desígnios, com sua vocação e, para isso, se ajudam, se defendem e também brigam entre si, por que não? Um dos pontos de discórdia foi depois da liberação do número 3, um sujeito que até mesmo eu quando entrei percebi que não ia durar muito.

O porquê da discussão? Alguns ficaram indignados porque a família não permitiu a doação dos órgãos, o que talvez viesse a ser o único ato humanitário restante da vida daquele sujeito que, pelo que entendi, “não era flor que se cheirasse”… Outros lamentavam, mas defendiam o direito de a família decidir o que bem entendesse para com os seus. E os restantes ou ignoravam ou eram da turma do deixa disso.

Outro caso interessante era o número 8. Foi encontrado desacordado no banheiro da própria casa, socorrido, internado e desacordado permaneceu durante os quatro dias seguintes. No dia em que cheguei foi o dia em que ele “acordou”: entubado, amarrado, confuso e desesperado. Depois de algum tempo foi determinado que o desentubassem – e o cara continuava se debatendo, perdido. Passado algum tempo, assim que recuperou o domínio sobre as cordas vocais, começou:

– Socooooooorro!!!! Políííííciaaaa!!! Tô amarrado, tô preso! Socooooooorro!!!!

Isso foi bem na hora da troca de turno entre as equipes. O enfermeiro responsável pela equipe que estava chegando, ao se deparar com os intermináveis berros do tiozinho, não teve dúvidas. Chegou bem do lado da cama, engrossou a voz e soltou:

– Pois não, senhor? Eu sou o delegado. O que o senhor quer?

Ele, tonto como estava, caiu. Não, não no chão. Na conversa.

– Tô preso, doutor, tô preso. Olha isso, tô preso. Quero ir embora, doutor, embora…

– O senhor não tá preso, está internado e está sendo tratado, tenha paciência que daqui a pouco te liberam, tá bom?

– Mas olha isso, doutor!

– Tô olhando e é melhor o senhor se comportar! Senão sou eu quem vai te prender de verdade!

Disse e saiu, com cara de mau.

Dali em diante o número 8 ainda resmungava de quando em quando, mas ao menos não teve mais nenhum chilique…

Outra situação que tive notícia foi de um distinto que simplesmente fugiu da internação!

Na época até se cogitou em fazer um boletim de ocorrência, entretanto o responsável foi taxativo:

– Boletim de ocorrência pra quê? Preservar os direitos? Que direitos? Isso aqui não é uma prisão, é uma instituição de saúde, e não podemos manter ninguém que, conscientemente, esteja aqui contra a própria vontade!

Lúcido, lúcido, muito lúcido…

Enfim, este interlúdio foi só para mostrar algumas das inúmeras histórias e facetas desse pessoal que luta contra o tempo e a favor da vida. Sei que tudo faz parte de um grande organismo interdependente e necessário para o funcionamento de um complexo hospitalar, passando por TODOS, desde a área administrativa, contábil, médica, de enfermaria, de limpeza, de tudo. Ainda assim, os médicos que me perdoem, com todas as suas especializações e o escambau, mas a verdadeira humanização dos serviços de saúde está é com esse pessoal, que está próximo, que cuida, que segura na mão e conversa olho no olho. Não, não são todos assim, é claro. Mas dentre os poucos que conheci, a maioria até que o é.

E isso tudo é um resumo bem resumido do que aconteceu ao meu redor durante as quase 36 horas que passei lá na UTI. No próximo episódio voltaremos a nossa (a)normal programação, a qual inclui a ideia fixa de uma colonoscopia que o Torquemada teima em querer me submeter…

(Início da Saga)                        (Continua…)

Questão de escolha

Alexandre de Oliveira Périgo

Enquanto isso, no boteco da esquina dois amigos canhotos de coração tomam todas pra esquecer a lavada que a esquerda levou nas últimas eleições.

– Porra, meu querido, não ganhamos nada dessa vez, nada!

– É, mano, dessa vez foi braba a treta…

– Pois estou pensando em me filiar, saca? Fazer mais como militante, me mexer, me sinto muito acomodado e precisamos virar esse jogo político!

– Tá certíssimo, meu velho! As esquerdas precisam se unir, não dá mais pra aguentar essa direita trabalhando juntinha enquanto a gente vai cada um pra um lado! É hora de esquecer nossas diferenças e pensar em tudo que nos aproxima!

– Isso mesmo! E vou me filiar ao PT, meu querido!

– Ao PT, mano? Tá louco? O PT é o responsável por essa tragédia toda ai, tá ligado? Se mancomunou com o que há de pior na direita e deu no que deu! PT não, escolhe outro partido aí…

– É, acho que você tem razão. Então vou pro PDT!

– PDT? Porra, você tá de sacanagem? O PDT votou a favor da PEC do fim do mundo, entregou o Rio de Janeiro pros bandidos e não é mais um partido de esquerda desde a morte do Brizola…

– É verdade, é verdade… Bem, então vou me filiar ao PSOL!

– Se fizer isso dou na tua cara, mano! Que é isso, essa cerva aí tá estragada, é? Porra, o PSOL é alinhado com a direita, sempre contra o PT, o Freixo agorinha mesmo desdenhou o Lula e tal! Meu, PSOL não dá! Isso sem falar nos pós-modernos que infestam o partido! Não nem, mano! Não nem!

– Bem, e se eu entrar pro PSB?

– Piada isso, né meu? Esse partido é tão socialista quanto o PSDB! Golpistas profissionais! Outro partideco que jogou sua história na lata do lixo! Miguel Arraes se remexe no túmulo!

– É… Bem, acho então que vou de PSTU…

– Bucha de canhão do PT? Aquilo lá não é partido sério, é legenda de aluguel que faz o serviço sujo pros petistas, mano… Esquece isso!

– Hum, então tá dificil… Que tal o PCO?

– Ahahahaha, mano, você pirou de vez! Esses caras do PCO são todos malucos de carteirinha, vivem no século XIX! Fala sério, né? Os caras apoiam até a Coréia do Norte!

– É… Bem… Ham… Então vou de PC do B! Isso, PC do B!

– Ó mano, só tá piorando, hein? O PC do B é chamado por toda a esquerda de “pseudo B”, de tanto que tá avacalhado… Virou capacho petista, perdeu totalmente a identidade! Se João Amazonas estivesse vivo, se mataria como Getúlio vendo o que fizeram com o partido dele…

– Puxa, nem pensei nisso, tem razão… Bom, então vou de partidão mesmo, né? O PCB tem história!

– Só história, né? Força política meu filho de 3 anos tem mais que o PCB, mano! Os caras chegaram a 2% do eleitorado pra presidente em 1989 e nas últimas eleições não tiveram nem 0,002% dos votos! Um bando de egocêntricos que só querem mostrar quem sabe mais de marxismo, aquilo lá não funciona, não tem estratégia…

– É, tenho que te dar razão… Mas eu queria tanto me filiar, fazer mais como militante, saca?

– Claro, te entendo perfeitamente e te dou razão, meu velho! Precisamos mesmo fazer isso! Temos que esquecer nossas diferenças e unir as esquerdas! Essa história de ficar só criticando os outros partidos esquecendo o que de fato nos une deu no que deu, né? Direita na cabeça! Golpe e tudo o mais!

– É isso aí! Vamos pedir mais uma gelada enquanto as coisas não melhoram?

– Claro! E um brinde à união das esquerdas do Brasil!

– Tim-tim!

E viveram felizes, bêbados e derrubando governos no boteco para sempre (e eventualmente considerando a possibilidade de criar um novo partido).