Dez anos depois…

Tenho certeza que já ouviram – talvez mais de uma vez – velhos fósseis como eu narrando sobre a era pré-cataclísmica cambriana antes dos computadores…

Sim, pois essa coisa de “informação na ponta dos dedos” (dá-lhe Bill!) é recentíssima. Em termos info-evolucionários, ainda estamos engatinhando.

Mas estou me adiantando. Toda história se inicia no mesmo ponto: lá no começo.

E o começo de meu contato com computadores se deu bem no início da década de 80 – não me recordo bem (coisas da idade), creio que lá por 82 ou 83. E a fera tinha um nome: CP-500. Numa época onde as linguagens de programação que “importavam” para o mundo dos negócios eram o COBOL e o FORTRAN, aquela molecada aprendendo BASIC era uma inovação. Sim, BASIC, pois ainda não se falava em PCs e Sistema Operacional era uma coisa que simplesmente não existia. Os dados eram carregados no computador e nossos programas eram gravados em fitas cassete. Não, vocês não entenderam errado não, eram fitas K-7 mesmo – para que pudéssemos executar qualquer programa que tivéssemos escrito tínhamos que conectar um gravador (do tamanho de uma caixa de sabão em pó) no equipamento e carregar os dados. É LÓGICO que todo mundo ao menos uma vez já havia tentado colocar aquela bendita fita com dados no aparelho de som de casa (os chamados três-em-um) pra ver o que saía…

E o tempo passou. Fui acompanhando meio de longe a evolução da espécie, até que no final do ano de 1991 (quando descobri o que era palíndromo), mais por força da necessidade que da curiosidade voltei a ter contato direto com a vida virtual. Era um poderoso XT, com sua romântica tela verde, um drive para disquetes 5 1/4″ e – A-HA ! – tinha ainda um disco rígido de portentosos 10 Megabytes.

Aliás, os disquetes eram um caso à parte. O único disquete que eu havia visto antes era um enorme, de 8 polegadas, quando ainda trabalhava num banco. Já na época do XT, os disquetes de 1,44Mb ainda eram um sonho distante e os que usávamos armazenavam somente 360Kb – o suficiente para carregar um Sistema Operacional DOS 3.30 completo, mais um Wordstar para textos e dBase III Plus para dados. Planilhas precisavam de maior espaço, por isso o Lotus 1-2-3 ocupava um disquete inteiro. Já naquela época o que estava em voga era um programinha italiano que enganava o computador, elevando a capacidade do disquete para inimagináveis 800Kb! Ainda devo ter uma cópia dele perdida nas catacumbas do meu computador.

Mas o tempo foi passando, vieram os 386 com suas telas coloridas e co-processadores matemáticos (só pra quem rodava AutoCAD), bem como a coqueluche do momento: o Windows 3.11 – que rodava muito bem sobre o DOS 5.0.

E, em 1995 o que surgiu? O Windows 95, é claro, trazendo uma nova concepção para o mundo da informática. A multitarefa finalmente parecia que estava saindo dos livros e entrando na vida real. Também foi nesse período que tive meu primeiro contato com o Linux, mais especificamente uma das primeiras distribuições da Conectiva.

Naqueles tempos a Internet para o povão era só um mito, uma coisa que acontecia lá fora e sobre a qual líamos nas “revistas especializadas”. A solução caseira se dava através dos BBS, uma espécie de rede local via linha discada. Alás, a primeira placa de fax-modem a gente nunca esquece: era uma Zoltrix de velocíssimos 28.800 Kbps.

E então, no final de 1996, finalmente conheci a Internet. Havia acabado de me formar em Direito e o escritório no qual eu trabalhava resolveu assinar um pacote: míseros R$100,00 por uma hora de acesso no mês (fora a conta telefônica)! Uma verdadeira pechincha!

Mas os preços foram caindo e as possibilidades se ampliando e o tempo de conexão aumentando. E criei meu primeiro site lá pelo início de 1997. No começo era apenas uma coletânea de links jurídicos para o escritório, e que foi crescendo se multiplicando, passando a ter alguns textos, matérias e por aí afora. Já esteve hospedado nos mais diversos provedores, desde Geocities, Xoom, Iconet, UOL e outros que nem me recordo mais. Teve, também, diversas personalidades, tendo começado sem nome, mais tarde ganhando o título de “Ergaomnes”, se transformado em “Habeasdata”, até atingir a fase de agora: o “Legal”. Que traz em seu bojo um pouco de tudo pelo qual já passou. Ou melhor, já passei

E já decorreram dez anos desde então. Milhares de pessoas já o visitaram nas suas mais variadas fases, mas posso apenas me reportar para aqueles que passaram por aqui no último ano e meio: quase nove mil visitas. É um número modesto, eu sei, mas esse interesse alheio pelas garatujas deste humilde escriba me deixa sinceramente feliz.

Assim, sobre o retrato mais antigo da versão mais antiga que consegui achar deste site em suas origens, com nossas taças virtuais de champanhe, brindemos o soprar das dez velinhas que comemoramos neste mês de janeiro!

Zetética para todos

E eis que ocorre a primeira baixa na eterna batalha dos casais…

Sim, pois não se iludam! Por mais que não queiramos – e de fato não queremos – todo e qualquer casal (qual parte do “todo e qualquer casal” você não entendeu?) vive um diuturno conflito de personalidades, cada qual procurando sobrepujar as artes e manhas de seu cônjuge. Estratégias são traçadas, planos são elaborados, linhas de comportamento são delimitadas. É a guerra que se deflagra!

Não, não estou sendo pessimista (como de costume). Estou sendo realista (é o que todo pessimista diz).

Particularmente eu pensava ter superado essa fase já há anos, mas, recentemente, acabei virando meu grande e curioso olho clínico para mim mesmo – e acabei constatando que não sou diferente de qualquer outra pessoa, independente do tempo de relacionamento que tenham tido. Ou seja, não há que se falar em “fase”. Essa situação é contínua e constante.

Aliás, não há como se esperar coisa distinta do ser humano. Somos seres individuais, com experiências próprias que determinaram um crescimento e desenvolvimento próprio. A vida conjugal faz com que constantemente reavaliemos nossas necessidades, objetivos, desejos e obrigações – em prol um do outro, numa contínua busca de serenidade no relacionamento. Ora, colocar dois indivíduos (frise-se a palavra “indivíduos”) confinados num mesmo ambiente rotineiro é o mesmo que submetê-los ao cozimento em uma panela de pressão. Em fogo brando. E sem água.

E é pra isso que existe a válvula de escape.

Não na panela, na vida.

Tá bom, na panela também…

Mas voltemos ao assunto. Em primeiro lugar não há que se confundir válvula de escape com escapismo. Fugir do problema não vai fazer com que ele se resolva por si só. A válvula de escape à qual me refiro, bem dentro de uma filosofia zen-budista, é a eterna busca do caminho do meio. Já que o confronto é inevitável – e é – o negócio é minimizar seus efeitos. A vida conjugal não nos torna uma terceira pessoa, constituída das duas anteriores. Continuamos com toda a carga íntima de nossa experiência pessoal, de nossas virtudes e de nossos defeitos (frise-se a palavra “defeitos”), carga essa que cada cônjuge se dispôs a ajudar a carregar tanto a sua própria quanto a de seu parceiro.

Mas, às vezes, a carga pesa.

E é justamente nesse momento que devemos ter percepção suficiente para aliviar a carga de nossa cara-metade. E isso não significa necessariamente assumir seus problemas, mas simplesmente dar o estímulo necessário, o empurrão, a palavra de carinho e de consolo que se faz necessária naquele momento.

É abdicar de seus próprios anseios em busca da realização dos anseios do outro. Mas, cuidado! Uma constante abdicação implica numa neutralização do seu próprio eu. E isso também desequilibra a balança. Aquilo que chamo de caminho do meio é impossível de ser trilhado em linha reta: como no andar trôpego do ébrio, sempre vamos um pouco pra lá e um pouco pra cá, às vezes um pouco demais para cada lado, mas numa busca de se manter no caminho.

Equilíbrio. Acho que talvez seja essa a palavra que resume a necessidade dos casais. Uma eterna busca de equilíbrio. E esse equilíbrio só se faz possível com abdicações e imposições mútuas, mas aliado a uma constante análise de se não estamos a exigir ou ceder demais.

Ou seja, é tentar trilhar sempre o caminho do meio.

Hm? A baixa à qual me referi? Não, não se preocupem. Creio que eu e a Dona Patroa vamos muito bem, obrigado. Continuo amando-a de paixão. Quem sofreu um revés foi o mais novo membro da família, o recém-adquirido Opala. Não quer pegar de jeito nenhum. Particularmente suspeito de alguma sujeira no carburador, ou, ainda, da bomba de combustível.

Mas a carinha dela ao me ajudar a empurrar o carro (sim, ela teve que me ajudar a empurrar o Titanic para dentro da garagem), exprimia um misto de ódio e triunfo que, provavelmente, significava o seguinte:

“Bem que eu te disse…”

Navegando por águas perigosas

E então, cerca de quinze dias depois, finalmente parece que o ano de 2007 está começando a engrenar…

Passado aquele tradicional e famoso “chacoalhão” turbulento de virada de ano, uma saudável rotina começa a se fazer presente, trazendo-me calmamente de volta à realidade. Coisas de taurino, eu acho. O ano começou já complicado, pois um tio que sempre me foi muito caro faleceu justamente na madrugada do “Dia de Ano”. Dos doze filhos de minha avó, onde meu pai é o mais velho, Tio Jorge era o oitavo. Foi embora com apenas 54 anos. Coisas desse tipo dão uma quebrada no ânimo de qualquer um. Aí embaixo tem uma foto dele com minha outra tia (irmã dele), Pedrina.

Mas, para definitivamente tentar começar o ano com pé direito (entretanto para desespero absoluto da Dona Patroa), eis que comprei outro carro. Pr’aqueles que ainda se lembram, o finado Marajó – carinhosamente conhecido por “Rabecão” – teve que ser vendido pra saldar dívidas necessárias. Indesejadas, mas ainda assim necessárias.

Mas onde estávamos? Ah, sim. O carro. Primeiramente devo lembrá-los que os recursos financeiros familiares continuam sendo escassos, principalmente para aquisição de veículos, digamos, um pouco mais novos. Isso significa que, qualquer que seja a aquisição, vai demandar de um tempinho sob meus parcos cuidados mecânicos para que fique em plena forma. Segundamente, tenho 1,90m de altura. Ou seja, sim, sou grandalhão. Terceiramente, levando em conta as considerações anteriores, nada mais justo que comprar um carro “a altura” de tais necessidades.

Resumo da ópera: trata-se de um Opala 1979 !

As condições gerais do carro estão meio (muito) trash, mas com tempo e paciência vou colocá-lo em dia. De imediato devo apenas resolver um probleminha de uma chave de fenda segurando o vidro do passageiro, assim como do banco do motorista, que está apoiado em um pedaço de concreto…

O resto a gente vai arrumando devagarzinho.

Espero que a Dona Patroa volte a falar comigo ainda este ano…

Segue uma foto de um Opala do mesmo tipo (não, não é o meu), só pra terem uma idéia do tamanho da criança.

Made In Dependente Brasil

O CD “Made In Dependente Brasil – O melhor da música independente” foi lançado em 1994 e a cópia à qual tive acesso pertence à coleção particular do Joeci, que – com lágrimas de preocupação pairando nos olhos – emprestou-me por alguns dias.

O CD tem excelentes músicas de Juraíldes da Cruz, Dércio Marques, Paulinho Pedra Azul, Elomar, Rubinho do Vale, Adauto Oliveira, Sérgio Souto, Nilson Chaves, Henrique Abreu, João Omar, Dilson Pinheiro, Nonato Luiz, Xangai, Eudes Fraga, Saulo Laranjeira e Amaro Penna.

Sua característica inovadora (pra época) e underground foi demonstrada pelo trecho a seguir, que faz parte de seu encarte:

MACOJÉQUISSON?! EU, HÉIN?!

Os senhores da guerra e os senhores do dinheiro; prostituição, analfabetismo, Nações Unidas, Militares e Diplomatas das grandes potências; o sonho de desmobilização dos exércitos e a noite eterna da indústria bélica; MITOS e MOTES do Primeiro ao Quinto Mundo, com o silêncio do Segundo e a neutralidade do Quarto; Falência absoluta do Sistema de Radiofusão (?) no Brasil. O poder da mídia, a submissão da mídia, a canalhice da mídia, o entreguismo da mídia, a prepotência da mídia, os crimes da mídia, a mediocridade da mídia, enfim, a burrice da mídia que entrega o ouro da sensibilidade musical brasileira de bandeja para os bandidos nacionais e estrangeiros, e sai caminhando sobre as cabeças e os avisões. Diabéisso?

Tem muita originalidade, sabedoria e sensibilidade escondidas pelas curvas musicais desse país afora, que é preciso botar no ar. E a criação desses artistas será muito mais da alma popular quando ao povo for dada a oportunidade de ouvi-los através das centenas de emissoras desse imenso Brasil. A própria resposta popular ajustará ainda mais a sintonia desses cantadores com as expectativas dos seus ouvintes. (Eu, brasileiro, sinto-me um estrangeiro por aqui, de tanto ouvir lixo barulhento gritado em péssimo inglês nas nossas americanalhadas emissoras). Por isso escrevo assim, sem pé nem cabeça. Como já disse D. Helder Câmara: “Precisamos acabar com a miséria, no Brasil, até o ano 2.000”. Podemos acrescentar, especialmente para o radialista brasileiro: Daqui até o reveillon de 31 de dezembro de 1999, precisamos acabar com o colonialismo radiofônico (de fora e de dentro!) que envergonha a profissão, deixa o cérebro fora do ar e posiciona as nossas bundas no rumo de Manhatan.

Com o elenco reunido neste disco cria-se mais um instrumento de cultura e educação, mais um intercâmbio entre público e artistas de vários Estados brasileiros. E, obviamente, mais uma chance para o radialista brasileiro se… tocar.

E se for necessária uma revolução cultural, uai, sô, vamos lá: é bom que dói, explode corações, não derrama sangue e acaba com essa nossa miséria mental. Não pretendemos, com certeza, que os nossos filhos sejam produtos desse meio.

Vamos ao disco. Poetas e emocionados.

Odilon Camargo

Entreatos

Ontem, numa conversa etílica sobre currículos, veio à lembrança o causo a seguir, resgatado diretamente das catacumbas de meu disco rígido.

Esta ficha de emprego foi preenchida por um jovem rapaz para o McDonald’s no Rio de Janeiro. Serve também para se observar a quantidade de perguntas cretinas que são feitas ao candidato. Diz a lenda que a empresa o contratou por ter considerado a ficha honesta e engraçada…

FICHA DE EMPREGO

NOME: Julio Moura

SEXO: Ainda não. Estou esperando pela pessoa certa.

CARGO DESEJADO: Presidente ou Vice-Presidente da Companhia. Falando sério, qualquer um que esteja disponível. Se eu estivesse em posição de escolher, eu não estaria me inscrevendo aqui.

SALÁRIO DESEJADO: US$15.000,00 por mês e todos os privilégios existentes. Se não for possível façam uma oferta e poderemos chegar a um acordo.

EDUCAÇÃO: Sim.

ÚLTIMO CARGO OCUPADO: Alvo de hostilidade da gerência.

ÚLTIMO SALÁRIO: Menos do que mereço.

MAIS IMPORTANTE META ALCANÇADA NO ÚLTIMO EMPREGO: Minha incrível coleção de canetas roubadas e de mensagens post-it.

RAZÃO DA SAÍDA DO ÚLTIMO EMPREGO: Era um lixo.

HORÁRIO DISPONÍVEL PARA O TRABALHO: Qualquer um.

HORÁRIO PREFERIDO: Das 13:30h às 15:30h, segundas, terças e quintas.

VOCÊ TEM ALGUMA QUALIDADE ESPECIAL? Sim, mas é melhor se ela for colocada em prática em ambientes mais íntimos.

PODEMOS ENTRAR EM CONTATO COM SEU ATUAL EMPREGADOR? Se eu tivesse algum, eu estaria aqui?

VOCÊ TEM ALGUMA CONDIÇÃO FÍSICA QUE O PROÍBA DE LEVANTAR PESOS DE ATÉ 25kg? 25 kg de quê?

VOCÊ POSSUI CARRO? Eu acho que a pergunta mais apropriada seria: ‘Você tem um carro que funcione?’

VOCÊ JÁ RECEBEU ALGUM PRÊMIO OU MEDALHA DE RECONHECIMENTO? Talvez. Eu já fui um ganhador da Porta da Felicidade.

VOCÊ FUMA? No trabalho não, nos intervalos sim.

O QUE VOCÊ GOSTARIA DE ESTAR FAZENDO EM CINCO ANOS? Vivendo nas Bahamas, com uma super modelo morena, incrivelmente rica, burra, sexy e que pensa que eu sou a melhor coisa que surgiu desde a invenção do pão de forma. Na verdade, eu gostaria de estar fazendo isso agora.

VOCÊ AFIRMA QUE O CONTEÚDO ACIMA É VERDADE E COMPLETO DO SEU CONHECIMENTO? Sim. Com certeza.