Além da vida

Desde pequeno ele sempre quis realidades diferentes para sua vida. Queria, sobretudo, ser feliz. Mas sabia, não só por convicção como também por experiência de outrem, que realidades somente surgem após um longo e quase sempre árduo caminho.

Foi assim, almejando essas realidades, que começou a cultivar desejos e sonhos.

Era uma plantação linda: desejos das mais variadas formas, cores e tons. Alguns mais perfumados que outros, outros mais consistentes que uns. Mas desejos, por mais que crescessem depressa e rápido chegassem ao ponto de colheita, ainda assim não têm o condão de se tornar uma sólida realidade. São efêmeros e passageiros, esses desejos. Uma verdadeira realidade normalmente é fruto de um bem cultivado sonho.

E, naqueles seus campos existenciais, bem ao fundo, vislumbrava-se o bosque de sonhos que, desde sempre, vinha cultivando. Alguns mais consistentes que outros, outros mais enraizados que alguns. Mas sonhos são de crescimento lento e devem ser muito bem cuidados, acalentados. Deixe um sonho de lado, esqueça-o por algum tempo e provavelmente ele murchará por pura e simples falta de atenção. Não se tornará uma realidade e, muitas vezes, jamais voltará a brotar de novo.

E, a cada dia que passava, ele olhava para esse bosque com esperança…

Mas tinha seu dia a dia, seus afazeres, e, mais que todo o restante, suas responsabilidades… RES-PON-SA-BI-LI-DA-DES! Palavra complicada que nos traz sentimentos ambíguos, tanto implicando nos felizes resultados de um trabalho bem feito quanto nos levando a uma amarga sensação de ceticismo perante tudo e perante todos. E ceticismo é uma praga que se multiplica rapidamente.

E, esquecido que estava de seu bosque de sonhos, tendo deixado de lado sua plantação de desejos, não percebeu aquela nuvem de ceticismo que se avolumava, zumbindo, preenchendo os vãos de esperança, avidamente devorando seus campos, consumindo tudo aquilo que vinha acalentando e que, sem sequer perceber, acabou deixando de lado…

Quando finalmente, num intervalo indesejado entre uma responsabilidade e outra, decidiu dar atenção aos seus próprios campos existenciais que havia largado ao léu, surpreendeu-se com toda aquelas plagas vazias, com a erosão que invadiu aquela outrora terra fértil, única lembrança deixada pra trás por todo aquele ceticismo que sequer percebeu surgir.

Desolado, mas ainda no firme propósito de ter realidades em sua vida, de ser feliz, passou então a criar expectativas.

E expectativa é um bicho curioso, pois nasce e cresce solto, aqui e ali, ciscando as ranhuras de nossas memórias, às vezes vinculadas a alguém, às vezes do nada. E as expectativas que criava cresciam em tamanho e número. Mas, daí a se tornarem realidades, havia uma distância muito longa.

E ele, que já não fôra capaz de cuidar de uma bela plantação e de um frondoso bosque, que demandavam apenas de alguma atenção, que se dirá então com relação a essa criação de expectativas, que requerem vigília constante para que não sucumbam ou, pior, para que não se devorem umas às outras (pois expectativas, dizem os especialistas, são antropofágicas e as maiores sempre acabam devorando as menores).

E, pior, uma expectativa mal cuidada pode nem sequer vir a se tornar uma minguada realidade, mas certamente pode se transformar numa forte desilusão!

E, ocupado que sempre estava, com foco em suas responsabilidades (olha ela aí de novo…), uma a uma apenas percebia suas expectativas sucumbirem.

Até que nada mais sobrou.

E nos campos de sua própria existência quase mais área nenhuma restava, eis que em estado de desolação por sua própria falta de atenção.

Desejos ao pó…

Sonhos putrefatos…

Expectativas em decomposição…

E, aqui e ali, algumas gordas e fétidas desilusões chafurdavam naquela lama existencial… Sempre com algum ceticismo sobrevoando os campos, em busca de algum mínimo vestígio de esperança…

E, olhando de si para si, pela talvez primeira vez depois de tanto tempo, naquele restinho dos campos que intactos ainda lhe restava, descobriu um pequenino espaço cercado que nunca sequer tinha reparado que existia. Um pequenino jardim, protegido por vigorosas rochas de confiança, fé, paz, bem querer e outras mais da mesma natureza. Ali, bem no meio de um vistoso gramado de esperança, à parte do mundo devastado que ele mesmo deixara para si, rodeadas por alguns sonhos que sequer lembrava da existência, crescendo em algumas colunas de certeza, permanecia uma única e vigorosa roseira de amor.

Há quanto tempo estaria ali?

Como nasceu, floresceu e se manteve forte sem que jamais tivesse tomado nenhum cuidado com ela?

Por que não foi afetada como todo o resto que praticamente arruinou os campos de sua existência?

E, agora mais velho e mais sábio, acabou por perceber que nada disso importava. Não se questiona o imponderável! Era um dádiva. Estava ali – como, aliás, sempre estivera – com perfumadas rosas com amor de todas as matizes, prontas para serem colhidas. Independentemente das realidades que pairassem no mundo lá fora, quer tivessem sido criadas por ele ou não, à margem de seus desejos, sonhos, expectativas ou o que quer que fosse. Tudo que precisava era simplesmente ter prestado um pouco mais de atenção em si próprio. Ou, ao menos, que não tivesse dado tanta atenção fora de si.

E com o que lhe resta do campos de sua existência, despreocupado com o passado – que já foi, que já não pode mais lhe afetar – foi ao lado dessa roseira, desfrutando de todo esse amor que ela teria para lhe proporcionar, que pôde sorver com felicidade até a última gota do regato de vida que ainda o alimentava e o mantinha vivo.

E no seu último suspiro, renasceu.

E deparou-se com novos campos a serem explorados!

Mas desta vez fez diferente: tratou de, antes de mais nada, localizar todo o amor necessário para, desta vez, pautar sua vida da maneira certa desde o início.

E todo o restante seria apenas consequência…

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Os teus olhos

Tayná Freire

Os teus olhos. Por que eles me encantam tanto? Cara, é algo que eu não consigo entender… sou apaixonada por olhos escuros. Eles trazem em si um mistério. Uma coisa que vai além de qualquer entendimento. Além de qualquer além, entende?

Quando nos encontramos e conversamos, pode ter a total certeza de que eu estou totalmente perdida na tua imensidão, tão escura, tão desconhecida, tão excitante. Eu quero te desvendar, te descobrir. Mas os teus olhos de cores indefinidas, não me mostram quem é você. Sinto que eles estão sempre fixos a algo que só você vê. Enquanto os meus estão sempre perdidos por aí, procurando respostas que só os teus podem dar.

Quando te olho, me sinto afogando em um oceano escuro, um oceano que não sei ao certo quão profundo é. Mas não sinto medo de mergulhar. Pelo contrário, eu só não o faço porque você não permite. Sempre que tento mergulhar nos teus olhos – e em você, no teu corpo definido, nos teus braços donos de uma tatuagem que me enlouquece – você os fecha. E eu fico ali, a ponto de morrer na praia. Teus olhos são firmes. Encaram. Olham. Sem medo. Mas quando tentamos fazer o mesmo, eles somem. Teus olhos não são tão grandes assim, mas mesmo assim parecem ser imensos para poderem carregar todas as coisas que já presenciaram. Quando nossos olhos se encontram, os meus têm a certeza de que não trocaria aquela troca de olhares com os teus, nem por todos os olhos claros desse mundo. Eles têm a certeza de que os teus olhos – de cores indefinidas e sentimentos desconhecidos – são os mais lindos que eles já viram.

Eu não sei o que você tem. O que eles já viram. Muito menos o que eles sentem ou pensam. Só sei que, amigo, você é o dono dos olhos mais lindos que os meus olhos – cansados e perdidos – já viram nesse mundo. Nesse mundo de olhares mortos e frouxos. De olhares fracos e sem expressão. Só sei que teus olhos dizem tudo sem dizer nada. Convida-nos para um mergulho e secam quando decidimos entrar… É, talvez eu passe a vida sem entender quem é você. E como consegue ter os olhos mais lindos que os meus já viram.

Anos Oitenta

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Com toda a emoção que veio do segundo encontro dos ex-alunos do Rui Dória, já ficou o indelével desejo no coração de todos esses jurássicos sobreviventes da década de oitenta de se reunir novamente – provavelmente agora para um “bailinho”…

Bem, desde já vai aqui minha contribuição, com uma senhora seleção de músicas da época, quando ainda era na vitrola e nos discos de vinil que escutávamos nossos maiores ídolos. Aos interessados de plantão, no final da relação tem o link para baixar essas músicas – todas em MP3.

Ah, e sim: só internacionais. Mas me aguardem, pois ainda vou preparar uma outra relação com as nacionais… 😉

1999 – Prince
A little respect – Erasure
Addicted to love – Robert Palmer
Africa – Toto
All night long – Lionel Richie
Always – Bon Jovi
Always on my mind – Pet Shop Boys
Another one bites the dust – Queen
Ask – The Smiths
Axel F – Harold Faltermeyer
Baby I love your way – Will to Power
Beat it – Michael Jackson
Bette Davis eyes – Kim Carnes
Big in Japan – Alphavile
Billy Jean – Michael Jackson
Blaze of glory – Bon Jovi
Blue monday – New Order
Born in the U.S.A. – Bruce Springsteen
Boys don’t cry – The Cure
Broken wings – Mr. Mister
Burning heart – Survivor
Call me – Blondie
Careless whisper – George Michael
Come on Eileen – Dexy’s Midnight Runners
Come undone – Duran Duran
Cum’on feel the noize – Quiet Riot
Dancin’ with myself – Billy Idol
Dancing in the dark – Bruce Springsteen
Dancing on the ceiling – Lionel Richie
Danger zone – Kenny Loggins
Do you really want to hurt me – Culture Club
Don’t dream it’s over – Crowded House
Don’t get me wrong – The Pretenders
Don’t stop believin’ – Journey
Don’t you – Simple Minds
Don’t you want me – The Human League
Electric Avenue – Eddy Grant
Eternal flame – The Bangles
Every breath you take – Sting and The Police
Everybody wants to rule the world – Tears for Fears
Eye of the tiger – Survivor
Faith – George Michael
Fast car – Tracy Chapman
Father figure – George Michael
Footloose – Kenny Loggins
Forever young – Alphaville
Friday I’m in love – The Cure
Ghostbusters – Ray Parker Jr
Girls just want to have fun – Cindy Lauper
Give it up – KC and The Sunshine Band
Glory of love – Peter Cetera
Heaven – Bryan Adams
Hello – Lionel Richie
Here she comes – Bonnie Tyler
Hip to be square – Huey Lewis and The News
Hold me now – Thompson Twins
Holding out for a hero – Bonnie Tyler
Hungry like the wolf – Duran Duran
I drove all night – Cindy Lauper
I hate myself for loving you – Joan Jet and The Blackhearts
I still haven’t found what I’m looking for – U2
I will survive – Gloria Gaynor
I’ll be there for you – Bon Jovi
I’m so excited – The Pointer Sisters
In the air tonight – Phill Collins
Into the groove – Madonna
Is this love – Whitesnake
It’s a sin – Pet Shop Boys
It’s my life – Bon Jovi
It’s raining men – The Wheater Girls
It’s the end of the world as we know it – REM
Jump – Van Halen
Just can’t get enough – Depeche Mode
Karma Chameleon – Culture Club
Legal tender – The B-52’s
Let’s dance – David Bowie
Let’s groove – Earth Wind and Fire
Let’s hear it for the boy – Deniece Williams
Like a prayer – Madonna
Like a virgin – Madonna
Livin’ on a prayer – Bon Jovi
Love shack – The B-52’s
Lovesong – The Cure
Maneater – Daryl Hall and John Oates
Maniac – Michael Sembello
Manic monday – The Bangles
Material girl – Madonna
Money for nothing – Dire Straits
My oh my – Slade
Need you tonight – INXS
Never – Heart
Never gonna give you up – Rick Astley
Never tear us apart – INXS
Nine to five – Dolly Parton
Ninety nine red baloons – Nena
Nothing’s gonna stop us now – Starship
Panama – Van Halen
Papa don’t preach – Madonna
Physical – Olivia Newton-John
Purple rain – Prince
Relax – Frank Goes to Hollywood
Right here waiting – Richard Marx
Rock and roll is king – Electric Light Orchestra
Rock me Amadeus – Falco
Sexual healing – Marvin Gaye
Shake you down – Gregory Abbot
She drives me crazy – Fine Young Cannibals
Should I stay or should I go – The Clash
Shout – Tears for Fears
Somebody’s watching me – Rockwell
Sultans of swing – Dire Straits
Sweet dreams – Eurythmics
Tainted love – Soft Cell
Take my breath away – Berlin
Take on me – A-Ha
Tell it to my heart – Taylor Dayne
The boys of Summer – Don Henley
The final countdown – Europe
The glory of love – Peter Cetera
The power of love – Huey Lewis and The News
The time of my life – Bill Medley and Jennifer Warnes
The way it is – Bruce Hornsby
Time after time – Cindy Lauper
Together forever – Rick Astley
Tom Sawyer – Rush
Too shy – Kajagoogoo
Total eclipse of the heart – Bonny Tyler
Toy Soldiers – Martika
True – Spandau Ballet
True colors – Cyndi Lauper
Uptown girl – Billy Joel
Video killed the radio star – The Buggles
Voyage voyage – Desireless
Wake me up before you go-go – Wham
Walk like an egyptian – The Bangles
Walking on sunshine – Katrina and The Waves
We built this city – Jefferson Starship
West End girls – Pet Shop Boys
What a feeling – Irene Cara
Whip it – Devo
Wild boys – Duran Duran
With or without you – U2
You can call me Al – Paul Simon
You got it – Roy Orbison

Todas essas músicas estão disponíveis lá no Mega, neste link aqui.

Minha Casa

Minha casa não existe. Talvez já tenha existido em algum lugar de minha memória, quando eu era jovem e crédulo o suficiente para fazer planos, mesmo daquelas coisas que eu sabia que jamais viriam a se realizar.

Mas não desisti de minha casa.

Ainda que eu jamais venha a conhecê-la. Ou construí-la.

Minha casa será num terreno amplo – algo como uma chácara – mas não tão grande que se possa descuidar. Será cercada não por muros, mas por cercas – de madeira, bambu ou qualquer outra coisa do gênero. Serão cercas baixas o suficiente para se pular de uma só toada ou mesmo de se encostar para jogar fora um bom proseio com o vizinho.

Arame farpado, jamais. Ainda carrego no rosto a cicatriz do desinfeliz encontro com um desses…

Não terá portões, mas terá uma porteira. Perto o suficiente da entrada da casa para que se possa reconhecer o amigo que lhe bate à porta, mas longe o suficiente para ignorar quem não se queira receber. E da porteira até a soleira, árvores de ambos os lados. Árvores de sombra. Grandes o bastante para formar um túnel de frescor ao se adentrar, mas baixas o suficiente para que as crianças possam nelas subir e fazer suas estrepolias.

E será daquelas casas com três ou quatro degraus para subir, com varandas de todos os lados. Amplas varandas, para as festas, os amigos ou simplesmente para descanso numa tarde quente. Cadeiras de vime, almofadas e sofás descombinados espalhados aos quatro cantos. Afinal o conforto é mais importante. E mesinhas. Mesinhas de centro, altas, baixas, várias delas. Prontas para servir de apoio a um bom livro, alguma revista, uma cerveja bem gelada, um cinzeiro, uma taça de vinho ou mesmo um uísque. Caubói ou não.

O assoalho terá que ser de madeira, sempre bem encerada para permitir que as crianças (filhos, netos, visitas – não importa) possam se arrastar umas às outras em tapetes ou pedaços de carpete improvisados. Terá o pé direito alto, dando a sensação de espaço, para sempre me lembrar que uma casa não deve confinar seu morador, mas sim lhe dar espaço para poder viajar sem sair do lugar.

Terá muitos quartos espalhados de ambos os lados do amplo corredor que cortará a casa de ponta a ponta – todos eles com mais de uma janela. E serão janelas altas, de duas folhas, como aquelas antigas casas de fazenda. Os moradores e visitantes poderão sempre acordar com o frescor da manhã e abrir as janelas de par em par, deixando se espalhar pelo recinto um ar puro que renove as energias. Janelas na altura exata de se apoiar ou mesmo de se sentar, recostado, para chupar uma laranja enquanto se aprecia o por do sol.

Sim, é óbvio que as janelas não terão grades.

E na minha casa não haverá uma sala de jantar ou sala de estar – apenas uma sala de tamanho condizente com um aparelho de TV de bom porte, pois não consigo imaginar minha vida sem uns bons filmes para assistir, sozinho ou acompanhado. Sempre com pipoca. De preferência doce por baixo, salgada por cima – e com muita manteiga…

E a cozinha – ah, a cozinha! – será uma grande cozinha, com uma grande mesa, com mais lugares do que se possa preencher. Afinal toda casa tem seu coração, e é na cozinha que ele fica. Ali riremos, brindaremos, cearemos e nos divertiremos. Não basta dividir o pão, há que se dividir o suor e a alegria de fazê-lo. E ali, enquanto todos ajudam e riem e bebericam e provam deste ou daquele prato, levando um eventual tapinha na mão por ter provado aquilo que “ainda não está pronto”, comungaremos a felicidade da amizade e da família e todos esses bons fluidos ficarão indelevelmente impregnados nas paredes da casa para todo o sempre…

E, do lado de fora, junto da cozinha, junto da janela, haverá uma churrasqueira. Os amigos e amigas vegetarianos que me perdoem, mas não sou evoluído o suficiente para deixar de apreciar uma boa carne bem preparada, após horas sob meus cuidados, já antevendo o prazer da degustação.

E na minha casa haverá um pomar! Sim, um pomar com vários tipos de árvores com frutos das mais diversas espécies. Para se colher do pé e aproveitar ali mesmo. Para criançada correr e brincar de pique, para os adultos se recostarem e descansarem, para todos se saciarem. E, entre a casa e o pomar, uma horta bem cuidada, com os legumes, temperos, chás e seja mais lá o que for importante para dar sabor à vida.

E flores!

Sim, flores no chão, nos vasos, recostadas e penduradas. Samambaias, orquídeas, flores de maio e todas outras que servirão para dar prazer aos sentidos, para que se possa ver, para que se possa cheirar, para que se possa tocar.

Ainda do lado de fora, à parte da casa, um bom galpão que será uma garagem. Garagem de colocar veículos, máquinas, ferramentas, de pendurar bicicletas e de guardar todas aquelas quinquilharias que toda casa deve ter. Pois todo mundo no mundo tem alguma coisa guardada num canto, que arrasta uma mudança após a outra, mas nunca – nunca! – joga fora… Será um canto de refúgio para um conserto no carro, um reparo num móvel, para a feitura de um artesanato. E terá todas as ferramentas necessárias para tudo isso.

E, falando em refúgio, minha casa terá aquele que será meu refúgio predileto: um quarto com prateleiras até o teto repletas de todos os livros e revistas que tenho e que ainda vou ter. Aqueles que ainda não li e aqueles que vou reler. Será meu canto de repouso, de meditação, um lugar para que eu possa olhar para trás, para a frente e para o presente e poder escrever sobre tudo aquilo que fervilha em minha mente.

E minha casa terá tudo isso e muito mais: terá personalidade, terá alegria em seus cômodos, terá esperança em suas paredes, terá um tiquinho de tristeza também – não muito – pois faz parte da vida passar por tudo isso. E minha casa terá vida, uma vida feita para cuidar de quem nela habita, de refletir seus humores e dar-lhe conforto e segurança.

E é nessa casa que passarei o resto de meus dias com minha amada, onde compartilharemos as noites frias e os dias quentes do porvir, onde contarei em conto e prosa como foi minha passagem desta vez por esta vida, até que eu mesmo me vá.

E então, somente então, minha casa deixará de ser minha…