A vida dá munição…

Agora que finalmente consegui descongelar todos os dedos de ambas as mãos depois desses dias gelados pelos quais temos passado, eis que dou sinal de vida…

Pra quem ainda não sabe o Rabecão caiu na vida (ou seja, vendi minha Marajó 82) e agora estou só de moto. E nessas últimas manhãs criogênicas não tem luva, blusa ou capacete que dê conta.

Ainda ontem estava conversando com uma amiga sobre algumas dessas palestras de “auto-ajuda” (se realmente fosse assim, pra que ouvir um terceiro?), em especial acerca de um vídeo que recebi – e repassei pra um zilhão de pessoas – sobre o Joseph Cliver (é assim que se escreve?)… Chegamos à conclusão que esses apresentadores nada mais fazem do que pegar alguns elementos que já existem na vida real, seja na forma de piadas ou contos, e recontam de seu jeito para um monte de pessoas. E cobram por isso. E ganham dinheiro com isso. E o trouxa aqui fazendo isso de graça. Mas, zuzo bem, eu me divirto com isso!

O que me faz lembrar que há algum tempo o noivo dessa mesma amiga questionou sobre a veracidade ou não dos causos que correm pelos blogs da vida. Segundo ele, não seria possível uma pessoa passar por tanta coisa assim. O pior que é. É possível. Afinal de contas a arte imita a vida, não é assim? Segue uma lista de temas e títulos de possíveis contos, histórias e estórias que poderiam ser desenvolvidas a partir deles – alguns dignos de Agatha Christie! TODOS reais, quer tenham de fato ocorrido, quer tenham sido apenas cogitados em conversas.

– O homem que, sem sequer possuir uma casa, era o guardião de dezessete chaves, das quais jamais se separava (sendo que a mais importante era uma que estava quebrada).

– O mistério do desaparecimento simultâneo de três blogs (e um perfil) de uma publicitária com centenas de leitores.

– A discussão entre cento e cinquenta e seis ateus e um pastor (sim, ele perdeu).

– O assassinato do advogado que sabia demais.

– Uma garrafa de vinho, uma música, um amante e mil mulheres.

– As idiossincrasias, interpretações, confusões, sutilezas e sacanagens que surgiram só porque o prato do dia no restaurante foi “rabada”.

– O porquê da possível morte da mulher que não foi convidada.

– O conto do clube de advogados que não sabiam escrever.

– Um amor, duas vidas, três filhos, quatro casas, e uma grande confusão.

– A sogra que espezinhava o genro (ah, isso todo mundo tem!).

– Oito anos de namoro; três meses de casamento.

– Três meses de namoro; oito anos de casamento.

– O caso do atropelamento de uma árvore abilolada que absurdamente estava na rua às onze e meia da noite.

– A história do juiz que não julgava.

– Procuradores à beira de um ataque de nervos.

E segue por essa linha…

Bem x Mal?

Recentemente, visitando o Jesus me Chicoteia e acompanhando a discussão entre um pastor e o autor desse site acabei por descobrir um novo e interessante cantinho: ins-pirada. Segue uma perolazinha pinçada de lá:

Tem um diabinho sentado no meu ombro esquerdo:

– Toca um foda-se! Foge de casa! Mata o porteiro! Faça do mundo uma grande carreira!

E tem um outro diabinho sentado no meu ombro direito:

– É isso aí!

E a boa e velha dicotomia bem x mal?

Game world (The Revenge)

Alguém aí se lembra que outro dia, jogando xadrez com meu filho, lhe dei um fulminante xeque-mate?

Boisé.

Somente ontem tivemos a revanche. O território: Playstation II. As armas: o jogo Need for Speed Underground. O placar: dez a zero. Pra ele.

Desde então ele não se cansa de ficar me lembrando esse resultado. Em qualquer oportunidade. Falando, brincando, na maior parte das vezes cantarolando.

Quem será que fui que ensinei sarcasmo pra esse moleque?…

Criatividade

Conheci e aprendi a gostar do personagem Calvin graças ao amigo Fábio, advogado e fã incondicional desse maroto. Através de outro amigo, o Bicarato, recentemente resgatei esse gosto. Essa tira abaixo é simplesmente o máximo: traduz de forma excepcional não só os anseios de escritores com seus textos, como os de advogados ante o prazo final que se aproxima.

Arcaicidades

Com todo o respeito que tenho ao órgão de classe dos advogados no qual sou inscrito, já disse mais de uma vez que discordo de determinados posicionamentos tomados pelo mesmo, eis que soam arcaicos e dissociados da dinâmica realidade na qual vivemos nos dias de hoje. Isso pode ser comprovado pelo meu posicionamento (de quase uns seis anos atrás) que pode ser visto na barra ali de cima, sob o título de “CONSULTAS”.

Pois bem. Também sou sócio da AASP (Associação dos Advogados de São Paulo), a qual manda quase que semanalmente um excelente material de consulta na forma de Boletim – fora os livros bimestrais, os cursos a preços módicos, as publicações (sempre corretas) e inúmeros outros benefícios. No Boletim de início de agosto (nº 2482) foi veiculado mais um posicionamento do Tribunal de Ética do qual discordo, pois acho que o livre exercício da profissão deve ser um direito do advogado, não podendo se curvar a posicionamentos – sob minha ótica – egoísticos.

Mas vamos à notícia. Trata-se da ementa de um acórdão do Tribunal de Ética da OAB/SP:

Assistência jurídica gratuita a membros da comunidade – Entidades escolares ou de ensino – Impossibilidade – Concorrência com programas de assistência jurídica já estabelecidos pela PGE/OAB e Faculdades de Direito – Possibilidade, mesmo que remota, de captação de clientela – Precedente. A prestação de assistência ou assessoria jurídica a pessoas da comunidade, carentes ou não, em entidade escolar ou de ensino por meio de advogados, adentra no campo da antieticidade, da captação de clientela e concorrência desleal, concorrendo, ainda, com programas de assistência jurídica às pessoas carentes financeiramente prestados pelo convênio PGE/OAB e pelas faculdades de direito. Qualquer prestação de assistência jurídica em estabelecimentos de ensino, religiosos ou similares, por mais altruísta que possa ser, necessariamente advém contato pessoal e preferência profissional para os casos presentes e futuros, ocasionando infração ética, ora coibida. Precedentes: E-1.637/98 e E-2.930/04 (Processo E-3.149/2005 – v.u., em 19/5/2005, do parecer e ementa do Rel. Dr. João Luiz Lopes).

Isso, pra mim, chama-se “nivelar por baixo”…

Horário Eleitoral Gratuito

Realmente. Se fosse pago, COM CERTEZA, ninguém ousaria se expor da maneira como faz a grande maioria dos candidatos. Confesso que ontem, pela primeira vez, tive a pachorra de assisti-los. Também confesso que cochilei antes do final…

O que primeiro me chamou a atenção foi a necessidade de chamar a atenção que é demonstrada pelos candidatos. Mas, para situá-los no meu raciocínio, antes vamos a um pouco de história genealógica: há alguns séculos a maior parte do povo simplesmente não tinha o que hoje denominamos sobrenome. Esse tipo de coisa somente era uma constante na realeza, que vivia traçando sua ascendência para comprovar a “nobreza” de sua estirpe. Mas o povo, de uma forma natural, começou a necessitar de uma identificação familiar, algo que caracterizasse seus descendentes. Daí foram traçadas as primeiras tentativas de se destacar em seu meio, quer seja através de sua ascendência (Robson, filho de Rob), de uma característica natural (Oswaldo, o vermelho; Sebastião, o coxo), de sua profissão (Adriano, o ferreiro), da localidade em que morava (José, dos campos), enfim, algo que identificasse de forma exclusiva aquele determinado núcleo familiar. É lógico que com o passar do tempo e a miscigenação foram surgindo variantes e adaptações fonéticas que perduram até os dias de hoje.

Mas o porquê desse assunto? Simples. Na identificação dos candidatos pode-se perceber claramente que eles procuram desesperadamente chamar a atenção para si, tentando destacar-se dos demais, através de alcunhas “exclusivas”, como fazia o povo de antigamente. Daí surgem os candidatos “perueiros”, “doutores”, “pipoqueiros”, “fofões”, etc, etc, etc.

Outra maneira pela qual procuram fazer isso é dizendo o óbvio. Prometem regularizar, regulamentar ou defender coisas que até mesmo a propria Constituição já faz! Isso quando não trazem frases do tipo: “fui eu quem apresentou tal projeto de lei” – ou, pior ainda: “eu votei a favor no projeto de lei tal”…

Oras bolas! Depois de tantos ANOS no poder era de se esperar que tivessem feito alguma coisa, não é?

É nítido o despreparo de uma grande parcela dos candidatos. Alguns mal conseguem se expressar, e nos casos extremos ainda surge alguém um pouco mais “famoso” e fala pelo candidato! Será que alguém votaria numa pessoa assim? Será que ele próprio votaria em si mesmo?

Outro detalhe comicamente curioso são os candidatos do Prona (vulgo “meu nome é Enéas!”). Será que para se filiar ao partido eles são obrigados a fazer um cursinho pra falar daquele jeito? Não importa se jovem, velho, homem, mulher, seja lá o que for, todos eles trazem exatamente o mesmo tipo de discurso entusiástico. Burlesco e caricato. Mas entusiástico.

De um modo geral, as promessas continuam vazias. Muitos se propõe a consertar esta ou aquela situação, mas simplesmente não dizem COMO irão fazê-lo. É fácil criticar algo que existe e dizer que fará diferente. Mas prestem atenção nas entrelinhas e nas letrinhas miúdas: há que se ter uma proposta concreta, factível; caso contrário teremos pura e simplesmente mais uma promessa de político em campanha…

Hoje tentarei assistir novamente – se não estiver muito cansado tenho certeza de que darei boas risadas!

De minha parte, votarei nos mesmos candidatos nos quais já votei anteriormente. Afinal de contas, acompanhei sua trajetória e sei o que eles fizeram no verão passado. E vocês? Lembram-se em quem votaram? Sabem o que eles têm feito?

“in dubio pro reo”

Uma das presenças constantes na vida de um advogado em começo de carreira são os “clientes” da PGE – Procuradoria Geral do Estado – também carinhosamente conhecidos como “Jóta-Gê”, ou seja, Justiça Gratuita. Tratam-se de pessoas que necessitam da presença de um advogado – porque são demandantes ou demandadas em juízo – mas cujos rendimentos são tão baixos que o próprio Estado se incumbe de constituir um representante legal para eles.

Os advogados interessados se inscrevem numa listagem e, na medida em que os futuros clientes passam por uma prévia triagem, são encaminhados para esses defensores. Nenhum dos dois se conhece até o momento em que esse cliente entra no escritório do advogado munido de sua carta de encaminhamento. Após o final da demanda judicial o cartório envolvido emite uma certidão assinada pelo juiz de direito atestando que o advogado fulano de tal cumpriu com as tarefas para as quais foi nomeado. Essa certidão é apresentada para o Estado, o qual (normalmente depois de loooooooongo e tenebroso inverno) deposita os honorários advocatícios numa conta-corrente específica para isso. É LÓGICO que a tabela do Estado não tem NADA a ver com a tabela da OAB, estando bem aquém desta…

Ainda assim são muitos os advogados que se inscrevem. Inclusive como ocorreu com o nosso amigo, Alegado

Foi dessa maneira que ele se viu defendendo um sujeito contra o qual a mulher ajuizou ação de separação. Em tese seria uma audiência simples, um pouco de lavagem de roupa suja – como de praxe -, algum acordo e pronto. A audiência transcorreu conforme o esperado e, após a assinatura do termo pelas partes, pouco antes de sair, eis que, remexendo em seus papéis e um tanto quanto distraída, a juíza diz:

– Senhor Fulano, espere apenas mais um momento… Parece que temos também aqui uma ação de execução de alimentos correndo em outro cartório na qual o senhor ainda não foi citado e recebi o processo aqui para que se procedesse a dita citação em audiência… Deixe-me ver…

Mais tarde Alegado viria a saber que aquela senhorinha da separação havia ajuizado DUAS ações contra o tal do Fulano. Por se tratar de justiça gratuita, foram nomeados dois advogados distintos e as ações foram distribuídas em dois cartórios distintos. Entretanto, na de execução de alimentos, simplesmente não conseguiam citar seu cliente e quando descobriram que estava marcada uma audiência de separação… bem, num sinal de perspicácia da advogada dessa outra ação, foi só questão de requerer a citação em audiência.

Mas naquele momento, naquele átimo em que as últimas palavras da juíza ainda reverberavam pela sala de audiência, ante a lividez de seu cliente, e num estágio de pleno curto circuito cerebral, tudo que Alegado conseguiu lhe dizer foi o seguinte:

– Se você tem pernas, corre!

E lá se foi o Fulano porta afora…

Já disse antes que a sorte de Alegado anda de braços dados com o desastre iminente. Bem, nesse caso, foi pura estupidez mesmo. Todos os demais presentes na sala encararam Alegado com ar estupefato. Não era crível que alguém, em sã consciência, desse um “conselho” daquele tipo. Ainda mais NA FRENTE da juíza.

E esta, numa cena digna da fúria do mago Gandhalf em Senhor dos Anéis, colocou as mãos sobre a mesa, levantou-se, o olhar em chamas, e do alto de seus quatro metros de altura vociferou:

– O SENHOR FICOU LOUCO?!!! ACHA MESMO QUE ISSO VAI IMPEDIR A CITAÇÃO DO FULANO?!!! POIS SAIBA QUE NÃO SÓ VOU DÁ-LO COMO CITADO COMO AINDA VOU REPRESENTAR VOSSA SENHORIA NA ORDEM DOS ADVOGADOS!!!!!

Tudo que restou a Alegado foi desvanecer da sala de audiência, sentindo-se sem uma gota sequer de sangue no corpo. Ainda tentou, mais tarde, verificar com a advogada da ação de execução de alimentos o que exatamente a juíza teria certificado nos autos daquele processo (pois algumas ações de família correm em segredo de justiça), mas a única resposta que obteve – com uma certa satisfação dessa advogada, diga-se de passagem – foi:

– Faz o seguinte, doutor: o senhor junta uma procuração nesse processo e daí o senhor vai poder não só ver o que quiser como também peticionar se achar necessário…

Bem, no mundo real, um advogado que tivesse cometido tal sandice certamente seria representado na Ordem, com o sério risco de ter sua carteira cassada, nem que tivesse mais de treze anos de profissão. Mas como esse é o mundo do Alegado, o AdEvogado, e como ele ainda deverá passar por muita coisa por aqui, basta dizer que não foi desta vez que ele deu com os burros n’água.

Mas certamente não foi a última gafe que cometeu…

* Existem diversas histórias que permeiam os corredores dos fóruns da vida, que já aconteceram comigo, com você e com todo mundo, mas que seriam impublicáveis se conhecida a autoria. Pensando nisso criei o “Dr. Alegado”  – um personagem que possibilita compartilhar tais histórias – todas verídicas!