Novo: Asterix entre os McLanches…

PARIS – Uma nova propaganda do McDonald’s com o campeão gaulês Asterix comendo hambúrguer e batata frita causou indignação entre puristas do quadrinho francês, que consideraram o anúncio um insulto contra o patrimônio nacional.

O outdoor mostra o valente gaulês e seus amigos comemorando seu tradicional banquete na rede de fast-food – com o bardo Chatotorix, como sempre, amarrado a uma árvore ao lado de fora.

Direto daqui e daqui.

Comunicação

“Posso ajudá-lo, cavalheiro?”

“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles…”

“Pois não?”

“Um… como é mesmo o nome?”

“Sim?”

“Pomba! Um… um… Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.”

“Sim, senhor.”

“O senhor vai dar risada quando souber.”

“Sim, senhor.”

“Olha, é pontuda, certo?”

“O quê, cavalheiro?”

“Isso que, eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um… Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?”

“Infelizmente, cavalheiro…”

“Ora, você sabe do que eu estou falando.”

“Estou me esforçando, mas…”

“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?”

“Se o senhor diz, cavalheiro.”

“Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”

“Sim, senhor. Pontudo numa ponta.”

“Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?”

“Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?”

“Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.”

“Sinto muito.”

“Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando”

“Eu não estou pensando nada, cavalheiro.”

“Chame o gerente.”

“Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feita do quê?”

“É de, sei lá. De metal.”

“Muito bem. De metal. Ela se move?”

“Bem… É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.”

“Tem mais de uma peça? Já vem montado?”

“É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.”

“Francamente…”

“Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa.”

“Ah, tem clique. É elétrico.”

“Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.”

“Já sei!”

“Ótimo!”

“O senhor quer uma antena externa de televisão.”

“Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo…”

“Tentemos por outro lado. Para o que serve?”

“Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.”

“Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e…”

“Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!”

“Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!”

“É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um… um… Como é mesmo o nome?”

Luis Fernando Verissimo
(O verdadeiro, mesmo!)

Nota 1: Lembrei-me dessa crônica ao ler as sempre bem traçadas linhas da Clotilde Tavares, que, com seu texto de hoje, não só me fez rir como também aprender o nome original do zíper – e olha que eu, filho de costureira que sou, não tinha a mínima noção que em suas origens chamava-se “fecho éclair”, ou seja, numa livre tradução do francês, “fecho relâmpago”

Nota 2: Depois de umas e outras com essa criançada de hoje – que, diga-se de passagem, já nem são mais crianças – descobri que muitas vezes tenho que ilustrar algumas coisas que digo por aqui, caso contrário não terão a mínima idéia sobre o que estou falando. E, creio eu, seria o caso do “alfinete de segurança”. Não se vê mais, não se usa mais, não se conhece mais. Daí o porquê da imagem acima.

Ideologices

Às vezes tenho vontade de escrever muita coisa sobre algum tema – mas no final das contas acabo é escrevendo algumas coisas sobre muitos temas…

Já o mestre jedi Sergio Leo tem o dom! Consegue pegar alguns temas pesados que seriam pra lá de áridos e com sua verve crítica aguçada brinca com o texto, deixando-o leve e interessante…

Um ótimo exemplo é o que leva o nome “Ah, os tapa-olhos da ideologia“. Uma palhinha:

É lugar comum na cobertura jornalística acusar o governo de irresponsabilidade fiscal, sinônimo para gasto irresponsável. E há uma tese baseada na teoria econômica que, como toda tese simples, é fácil de entender e equivocada. Reza a teoria que gastos em capital, investimentos, são bons, porque geram capacidade produtiva, aumentam a eficiência da economia; e gastos correntes, gastos com pessoal e material, por exemplo, são ruins porque não podem ser comprimidos quando a crise aperta.

Parece sensato, mas, levada a ferro e fogo essa tese significaria que gastar aumentando o salário pífio dos professores e médicos é uma besteira e o melhor seria jogar bilhões na construção de um hospital sem equipamentos e de uma estrada para atender ao eleitorado de um vereador picareta.

Coisa normal, às vezes uma conta pode crescer em termos nominais, mas na prática, cair em, comparação ao que importa, ao tamanho da economia, por exemplo. Mas a matéria falava que o crescimento no superávit, em termos absolutos, em reais, foi só “ligeiramente”. Aí danou-se.

Adjetivo e advérbio em jornal, só se for muito bem explicado. E se alguém tentasse explicar esse ligeiramente, sairia ligeiramente desmoralizado.

O leitor comum _ e boa parte dos editores, temo eu _ lê os números sem checá-los, influenciado pelos adjetivos e advérbios. (…)

 
Mas não fiquem só nessas referências. Leiam o texto na íntegra – pois vale a pena! Tá bem aqui.

Creio que o Copoanheiro também vai gostar (se é que já não leu antes)…

No país do futebol

Carlos Eduardo Novaes

Juvenal ouriço aproximou-se de um vendedor parado à porta de uma loja de eletrodomésticos e perguntou:

― Qual desses oito televisores os senhores vão ligar na hora do jogo?

― Qualquer um – disse o vendedor desinteressado.

― Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa consideração.

― Pra que o senhor quer saber?

― Para já ir tomando posição diante dele.

O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada que o acompanha ao Maracanã e sentou-se no meio da calçada.

― Ei, ei, psiu – chamou-o um mendigo recostado na parede da loja – como é que é, meu irmão?

― Que foi? – perguntou Juvenal.

― Quer me botar na miséria? Esse ponto aqui é meu.

― Eu não vou pedir esmola.

― Então senta aqui ao meu lado.

― Aí não vai dar para eu ver o jogo.

― Na hora do jogo nós vamos lá pra casa.

― Você tem TV a cores?

― Claro. Você acha que eu fico me matando aqui pra quê?

Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns amigos que não via desde a final da copa de 78. O mendigo entendeu. E como gostou de Juvenal, lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.

― Não, não. Na cabeça não.

― Por que não?

― Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.

Aos poucos o público foi aumentando, operários, vendedores, contínuos, vagabundos e às 15h45 já não havia mais lugar diante das lojas de eletrodomésticos. Os retardatários corriam de uma para outra à procura de uma brecha. Alguns ficavam pulando atrás da multidão tentando enxergar a tela do aparelho.

― Quer que eu lhe ajude? – perguntou um cidadão já meio irritado com um contínuo pulando rente às suas costas.

― Quero.

― Então me diz onde é o seu controle da vertical.

― Controle da vertical, pra quê?

― Pra ver se você pára de pular aqui nas minhas costas.

As lojas concentravam multidões. As calçadas da cidade, que já são poucas, desapareciam completamente. Em jogos da seleção brasileira, durante a semana, cresce bastante o número de atropelamentos porque o pedestre é obrigado a circular pelas ruas. Além disso, os motoristas ficam muito mais ligados no rádio do que no trânsito.

Na porta da loja onde estava Juvenal, havia umas 200 pessoas do lado de fora e somente uma do lado de dentro: o gerente. Até os vendedores da loja já tinham se bandeado afirmando que assistir um jogo atrás da televisão não é a mesma coisa que vê-lo atrás do gol. Quando a bola saía entravam os comentários dos torcedores.

No início do segundo tempo, um cidadão que não se interessava por futebol (um dos 18 que a cidade abriga) foi pedindo licença à galera e com muita dificuldade conseguiu entrar na loja. O gerente foi ao seu encontro: “o senhor deseja algo?”

― Um aparelho de televisão.

― Por que o senhor não leva aquele?

― Qual?

― Aquele que está ligado ali na porta.

― É bom?

― O senhor ainda pergunta? Acha que haveria 200 pessoas diante dele se não tivesse uma boa imagem?

― Bem…

― E não é só isso – completou o gerente aproveitando a euforia do público com um gol do Brasil – que outro aparelho transmite emoções tão fortes?

― Essa gritaria toda foi diante do aparelho?

― Lógico. Esse é o novo televisor AP-007 dotado de controle de emoção. Só este televisor pode levá-lo do choro convulsivo à completa euforia.

― É mesmo? E se eu desejar vê-lo sentado quietinho na poltrona?

― Também pode, mas é aconselhável desligar o botão da emoção, se não o senhor não vai conseguir ficar quietinho na poltrona.

O cidadão convenceu-se. Disse que ia levá-lo. O gerente, precavido, pediu-lhe para ir à porta da loja apanhá-lo. O cidadão não teve dúvidas. Ignorando aquela massa toda diante do seu aparelho, foi lá tranquilamente e cleck.

Desligou-o.

O que aconteceu depois eu deixo por conta da imaginação de vocês.

Nota: graças ao amigo Sandino lembrei-me dessa antiga crônica e nada melhor que compartilhá-la por aqui em plena Copa do Mundo…

Removendo vuvuzelas da transmissão da Copa

Prestando mais um relevantíssimo serviço de utilidade pública, este humilde pseudo-blog vem compartilhar com todos seus quase quatro cinco leitores essa informação preciosíssima (recortada-e-colada daqui) acerca de um filtro de áudio que permite remover o som das vuvuzelas da transmissão da Copa.

Quem tem um PC perto da TV onde assiste os jogos da Copa pode se livrar do irritante som das vuvuzelas usando um filtro de áudio fácil de obter, e ligando a saída de áudio da TV à entrada certa da sua placa de som, é claro.

A mágica é feita com o bloqueio das frequências de áudio das infames cornetas, usando para isso o software Jack (e seus amigos) para processar o som da transmissão, que passará a sair pelas caixas de som do seu micro. Seria interessante também um filtro para evitar o efeito do Bingo do Galvão, mas pelo menos para isso há alternativas em outros canais.

Via Maurício Teixeira recebi esta dica que explica passo-a-passo como configurar este filtro no Fedora. As eventuais adaptações para outros sistemas ficam como um exercício para o leitor – ao menos enquanto não se confirma que a FIFA pensa em banir o famigerado instrumento. (via fetzig.org)

Resíduos sólidos

Em solidariedade ao Copoanheiro, eis aqui seu post – na íntegra.

Por conta da vaidade de dois senadores tucanos, com aval do líder do PSDB, Arthur Virgilio, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos foi, mais uma vez, engavetado — pelo menos temporariamente. Ontem o PNRS deveria ter sido votado, mas aí os senadores Cícero Lucena e Flexa Ribeiro fizeram nhenhenhém por não integrarem as comissões. O @Sérgio Abranches conta tudo como foi pro Heródoto, na CBN.

Mais no Correio Braziliense: Política para resíduos sólidos quase foi votada após duas décadas de tramitação, mas manobra encerrou a sessão.