Aquele que se perdeu no meio do caminho, mais pela pluralidade de caminhos que por sua própria indecisão. Não havendo caminho a seguir, seguiu o seu próprio. Assim o fazendo, criou um novo caminho. E aqueles que o viram criar um caminho, enxergaram-no como único, como aquele capaz de fazer o impossível – isso porque incapazes de suplantar suas próprias limitações.
Categoria: Martelando o Teclado
A volta dos que não foram
Nos últimos anos tenho feito mais bricolagem do que escrito propriamente dito. Quem me acompanha por aqui sabe que este blog não nasceu com cara de blog – até porque naquele longínquo ano de 1998 os blogs sequer existiam! Eu comecei compartilhando notícias e artigos que achava interessante, links úteis para quem quisesse acessar, mas, apesar de já me aventurar editando uma e-zine desde 1999, escrever, escrever mesmo, foi só lá pelo ano de 2004. Somente a partir daí comecei a dar cara e forma às minhas opiniões, sentimentos e paixões. Além de compartilhar o que acontecia pela Internet passei também a compartilhar o que me instigava o cérebro, tocava a alma e mexia com meu coração.
Escrevi muito. Muita coisa boa e também muita coisa ruim – se bem que nossos próprios textos, assim como nossos próprios filhos, sempre serão lindos, ainda que não. Mas os meus, são. Filhos e textos. Bem, no caso deste último, quase. Mas os últimos anos não foram tão graciosos assim em termos de produção. Acho que muito se deu por conta das chamadas redes sociais – Facebook, Twitter, Instagram, o escambau! – que com seu imediatismo e anonímia trouxe um ambiente mais “agradável” para todos aqueles que decidiram tirar seus monstros dos armários. Ou, ao menos, deixar à vista suas verdadeiras personalidades.
O blog, para mim, sempre foi uma grande “brincadeira”. É minha penseira virtual, onde de quando em quando compartilho minhas elucubrações, relembro de coisas que não quero esquecer e ainda utilizo como um quartinho de badulaques, acumulando pensamentos dos quais não quero me desfazer. Nunca quis ganhar dinheiro com isso, ou, como diria meu amigo Bicarato, “monetizar” este nosso cantinho virtual. Sei que não é muito para os profissionais do ramo, mas tenho uma média de aproximadamente 100 visitas diárias, dando mais de 2,5k de visualizações por mês. E isso sem escrever absolutamente nada. Nem que preste, nem que não preste.
Diante desses números é fácil entender o encanto das Redes Sociais. Coloque uma foto bonitinha ou faça algum comentário ferino sobre algum tema relevante ou polêmico e em pouquíssimo tempo já poderá ter centenas de “likes” – sendo este o verdadeiro combustível que movimenta essas redes. Conheço pessoas que postam alguma coisa como se fosse a mais trivial do mundo, mas ato contínuo fica monitorando a própria conta para verificar não só quantos vão curtir como também quem são as pessoas que curtiram e/ou comentaram.
Cansei de ver usuários que já começam escrevendo “desculpe pelo textão”, como se estivesse escrevendo um tratado, mas que na realidade trata-se de um mero textinho de três ou quatro parágrafos – que já é muito mais do que os parágrafos de duas linhas normalmente publicados. Só este texto aqui já ultrapassou – e muito! – essa métrica torta que procura prevenir os leitores de que seus cérebros deverão ser utilizados. Um verdadeiro desserviço à inteligência e à capacidade de raciocínio estruturado.
É lógico que existem exceções, mas mesmo essas me causam um certo desânimo. Mestres do jornalismo, literatura, pensamento filosófico e de tantas outras áreas que outrora tiveram seus próprios blogs com postagens interessantíssimas, cujas caixas de comentários traziam discussões excelentes que somente abrilhantavam ainda mais a postagem original, hoje permanecem somente nas redes sociais, ainda com textos interessantes (mas não mais com tanta profundidade), tendo em sua grande maioria se rendido ao encanto das curtidas e dos comentários vazios ou meramente bajulatórios…
Sei lá, ando meio cansado de tudo isso. Deve ser por esse motivo que faz tanto tempo que não escrevo, pois eu mesmo caí nessa armadilha por tempo demais. Faltou-me a sobriedade tanto física quanto espiritual para conseguir dar um passo para trás e compreender que, como disse o personagem, temos que escolher entre o que é certo e o que é fácil. E cada vez mais, para mim, escrever aqui no blog é que é o certo. Ainda que venha a cair no mais absoluto ostracismo.
Mas somente assim serei fiel às minhas origens.
Não tem como voltar no tempo. Não há um capacitor de fluxo à disposição para que eu possa selecionar o momento exato em que as coisas começaram a descambar (em todos os sentidos) e tentar consertar tudo aquilo que deu errado. O tempo é uma via de mão única e já passou da hora de eu colocar esse trem descarrilado de volta aos trilhos.
Já tentei fazer isso antes.
Por mais de uma vez.
Mas atualmente, em tempos de pandemia e destempero social, tendo um Coronavírus que pode estar me aguardando em alguma esquina e que poderá decidir meu futuro imediato a curto prazo e de forma definitiva, acho que é melhor tentar, novamente, tomar as rédeas da situação.
Vamos ver no que dá…
O Alfarrábio
Se você conheceu Paulo Bicarato, você conheceu O Alfarrábio. Se você conheceu O Alfarrábio, você conheceu Paulo Bicarato. No blog é que o Bica depositava seus pensamentos e opiniões, lá que ele compartilhou, discutiu, riu e se divertiu. Sempre. Este livro é uma pálida tentativa de fazer jus aos seus escritos – o livro que ele mesmo sempre quis publicar, mas o tempo não foi suficiente. Encantou-se. Este primeiro volume traz o período de 2001 a 2004 do blog e, conforme me foi dito pela nossa amiga Renata, nos faz “senti-lo por perto com textos atemporais, mesmo datados”. Ao passear pelas suas páginas é bem assim que nos sentimos… Esta obra não tem fins comerciais, pois o Bicarato jamais quis “monetizar” seus pensamentos. Qualquer mínima importância que vier a ser arrecadada com a venda deste livro será revertida para sua própria família. É isso. Agora já pode ir lá no Clube de Autores adquirir seu exemplar. Por nada.
Acabou!
No começo, ficou todo mundo meio sem acreditar. Parecia um sonho. Depois de tanto tempo fechados em casa, finalmente chegava o final da quarentena.
— Acabou! — gritou um na rua. Outro, outro. Uma senhora da janela. — Acabou!
A humanidade podia enfim respirar. Melhor: respirar sem uma máscara na cara. A vacina demorou, mas saiu. Meses depois, o primeiro antiviral eficaz contra o novo coronavírus. Com uma esforço tremendo de governos, corporações e indivíduos de todo o globo, a doença foi erradicada do planeta.
Quando saiu a notícia, todos ficaram desconfiados. Ninguém sabia mais como sair à rua, como respirar sem duas camadas de algodão separando o rosto da atmosfera. Aos poucos foram saindo. Um, outro, outro. Acabou! Nas ruas e calçadas, começou um movimento espontâneo: pessoas jogavam suas máscaras de todos os tamanhos e formatos, com todas as estampas, despejavam álcool gel sobre elas e acendiam o fogo. Nunca mais isso.
— Vou ficar três meses sem lavar a mão! — disse um.
— Eu não preciso mais dar banho nas minhas compras! — se deu conta uma moça, maravilhada.
E a alegria quando se deram conta de que era possível novamente tocar outras pessoas? Estranhos se abraçavam e beijavam na rua. Divórcios de quarentena se desfaziam, reconstruindo casamentos. Casais de namorados separados pela pandemia tiravam o atraso de meses de desejo represado.
Foram duas semanas de glória e esperança no futuro da humanidade. A vida seria melhor, mais leve, mais solidária. Velhos rancores se amainaram. Armistícios foram declarados. Dívidas, perdoadas. O otimismo geral refletiu no mercado financeiro. Havia no ar uma promessa de prosperidade inédita na história humana.
E aí veio o asteroide.
Sete Dicas de Quarentena
Ao chegar da rua (e me dê um bom motivo para ter saído, hein?):
1. lave bem as mãos (no mínimo vinte segundos, no máximo quarenta minutos);
2. deixe seu calçado do lado de fora (certifique-se que também esteja fora do alcance de seu cachorro);
3. ponha para lavar as roupas que estava usando (incineração também é uma boa opção);
4. tome um bom banho (no mínimo cinco minutos, no máximo uma hora e quarenta);
5. lave bem seus cabelos e barba, se tiver (não é necessário creolina – mas se resolver usar, evite fazer gargarejo);
6. ponha roupas limpas e confortáveis de ficar em casa (vale camiseta furada, bermuda esgarçada e chinelo havaiana – daquele branco e encardido por cima, tira que vive soltando e solado azul claro liso que nem um quiabo); e
7. FIQUE EM CASA.
Dona Flor de Cerejeira e seus “dois maridos”
Estávamos no início do ano de 1997.
Ao apagar das luzes do ano anterior eu, por minha conta e risco, resolvi encerrar um relacionamento de mais de dez anos e acabei por me separar de minha primeira esposa, Evanilda. Ainda nos encontraríamos por mais algumas vezes, de modo nada satisfatório, até o dia da audiência de divórcio, quando, ao final, ela decidiu que eu jamais voltaria a fazer parte de seu futuro. E assim continuamos até hoje. Foi por essa época que juntei minhas poucas tralhas e fui morar por uns tempos num quarto vago da casa de meu irmão.
Mais ou menos à mesma época a Mieko, também conhecida como Dona Patroa, por motivos diversos aos meus, também havia decidido colocar um ponto final em seu segundo noivado que já se arrastava por uns quatro anos. Seu nome era Noboru. Depois de terem se conhecido enquanto ainda estavam no Japão, quando voltaram ela veio cá para o interior e ele tocava seus negócios na Capital. Viam-se nos finais de semana. Mas esse noivado distante, sabendo-se lá o que ocorria durante a semana (mas suspeitando bastante) também demonstrou-se nada satisfatório. E, também à distância, ela meio que rompeu com ele. Mas nada ficou explícito.
Mudemos de cenário.
Com toda a bagagem emocional que rompimentos de longos relacionamentos podem trazer, eis que naquele início de ano nos encontrávamos ambos recém-formados, ambos advogados sem clientes, ambos trabalhando no mesmo escritório de nosso amigo Luisinho e ambos – naturalmente – começando a se engraçar um com o outro…
Acabei conhecendo um pouco mais da família dela – e ela, coitada, da minha – inclusive sua irmã que morava no litoral, em Caraguatatuba, local onde seu marido, poucos meses depois, viria a sofrer um acidente de moto gravíssimo, tendo que ser transferido com urgência para a UTI do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Pois bem.
Como ambos mal tínhamos clientes e limitávamo-nos a tocar as ações do Luisinho, não foi nada difícil deixar tudo pra trás e correr para São Paulo para ajudar sua irmã no que fosse possível naquele momento tão difícil. Ainda estávamos todos no hospital, meio que na expectativa, meio que na confusão, quando o inevitável aconteceu: de repente por lá surgiu o Noboru, eis que era também amigo da família de longos anos, para ajudar no que pudesse.
E eu lá.
E ele também.
Mas dado o momento e os acontecimentos, a saia nem ficou tão justa assim. O dia foi passando e como a parentada dela prontamente havia se colocado à disposição, acabaram combinando que ficaríamos no apartamento da Têro, sua prima enfermeira.
E como ir até lá?
De carona com o Noboru, claro, em seu novíssimo Gol GTi, um dos últimos modelos antes da reestilização da linha, e super equipado com um portentoso equipamento de som…
Ao chegarmos no apartamento ele disse que iria embora mas voltaria no dia seguinte para levar todo mundo para o hospital. Foi de senso racional e comum que aquilo seria bobagem, pois não fazia sentido ele atravessar a cidade àquela hora para ter que voltar no outro dia cedinho para buscar todo mundo, então o melhor seria que ele dormisse por ali também.
Então.
Estávamos todos ali, na lida, já lanchados e de banho tomado, arrumando colchões aqui, estendendo lençóis ali, ela ajeitando umas almofadas no meio da sala e eu e ele de costas um para o outro, defronte à porta de um dos quartos, cuidando de nossos cantos.
E eis que ela, sem levantar a cabeça, simplesmente chamou:
– Amor, faz um favor?
E eis que nós dois, exatamente ao mesmo tempo, olhamos para ela e respondemos em uníssono:
– OI, AMOR?
E, percebendo a situação, simultaneamente olhamos um para o outro, nos encaramos, e ato contínuo olhamos para ela novamente com cara de interrogação: qual de nós, afinal?
Não tem como descrever aquele momento. Por poucos segundos o tempo simplesmente parou. Não havia nenhum som no ambiente. Até mesmo a luz tornou-se fugidia. Todos que estavam na sala foram pegos de surpresa e praticamente congelaram enquanto aguardavam, de respiração suspensa, qual seria o próximo ato daquela tragicômica peça nada teatral.
E naquele breve momento em que o planeta deixou de girar, ela, nos encarando com os olhos DESTE TAMANHO e lentamente foi percebendo o que estava acontecendo…
E no meio daquela saia justíssima, embaraçosíssima situação que sozinha conseguiu criar, ela simplesmente baixou a cabeça, cobriu os olhos com uma mão enquanto que estendeu a outra fazendo sinal para que se aproximasse:
– ADAUTO. Adauto, faz favor. Você, Adauto, vem aqui um pouquinho pra me ajudar…
Com um pequeno solavanco o mundo recomeçou a girar, a sala novamente se iluminou, os sons voltaram a burburar, eu e ele ignoramo-nos mutuamente e cada qual foi cuidar de suas coisas.
Nos dias seguintes, apesar de toda a proximidade, foi difícil que se livrassem da minha sombra, sempre presente e próximo a ela. Mas eu também sabia que os dois precisavam de ao menos um momento a sós para concluir o que ficou inacabado, colocar os pingos nos “is”, terminar de vez um com o outro.
E foi com uma ciumenta fisgada no coração que este troglodita que vos tecla deixou o campo de batalha e voltou para o interior por algum tempo enquanto tudo se resolvia por lá – não sem, é lógico, tecer nas mais profundas catacumbas de minha mente as piores teorias da conspiração dos piores cenários possíveis…
Mas, enfim, terminaram.
E ainda foram necessários ainda mais vários dias de acompanhamento e monitoramento junto ao hospital, porém, infelizmente, no dia seguinte ao Dia das Mães daquele ano, o paciente veio a falecer.
E nos anos seguintes a história seguiu seu curso, nos casamos, tivemos nosso primeiro filho e ficamos bastante próximos da irmã dela e de suas três filhas adolescentes. Até que um dia tudo mudou, caiu sua vestimenta de ovelha e nunca mais voltamos a nos falar. Seguimos com nossas vidas e elas com as delas. Mas isso é uma outra história.
Mas, cá entre nós, desde então jamais deixei que a Dona Patroa pudesse esquecer aquele momento surreal de nossas vidas – mas hoje hilário – onde ela desenrolou seu nipônico papel de Dona Flor de Cerejeira e seus “dois maridos”! 😀
Volta ao Mundo em 80 Horas – VII
VII – Até quando tudo dá certo, ainda dá errado. Ou não.
(Para os desavisados de plantão: esta é a continuação da narrativa de uma de minhas desventuras que comecei a contar no final de 2016 – putz, já se vão quase quatro anos! – e que até agora ainda não tinha concluído. Nada demais, apenas um pré-infarto pelo qual passei. Se quiserem saber como tudo isso começou ou rememorar o causo desde o princípio, desçam direto lá para o final deste texto e cliquem no link “Início da Saga”.)
Quinta-feira. Dia três. Noite. Cerca de 60 horas de internação, sendo espetado, desespetado, medido, apalpado, remediado e outros tantos quetais. Porém já estava muito bem descansado e – até que enfim! – munido de óculos e muitos livros os quais poderia ficar lendo até bem tarde da noite de quinta para sexta (lembrem-se que eu havia dado entrada na Santa Casa por volta de dez da manhã de terça-feira).
Já era de madrugada e distraído como estava acabei levando um susto dos infernos quando ouvi batidas na janela, ao lado da minha cama. Alguém estava lá fora, no estacionamento.
– Mas que catzo…
Abri a janela, com cautela e armado de um livro volumoso o suficiente para causar o estrago na testa do primeiro desavisado.
Era o Torquemada. E a Marcela. E a Joseane.
Como obviamente já não era mais horário de visitação e já cientes que dentro em breve eu teria alta eles foram lá para me tripudiar consolar e não me deixar sozinho, ao menos por alguns momentos durante aquela longa noite. Tudo bem que eles já tinham acabado de chegar do Armazém, nosso boteco’s-bar predileto próximo do trabalho, onde deviam ter passado as últimas horas por lá. E pelo estrago estado geral da galera, eu tive absoluta certeza de que não estavam tomando suco de laranja…
Conversamos um tanto, rimos outro tanto (“Porra, não trouxeram nada pra mim? Sacanagem, hein?”), levei uma comida de rabo por essa frase e quando por fim perceberam que aquela janela não era um balcão de bar – e, em especial, que não tinha nenhuma bebida por lá – antes que fossem descobertos pela altura das risadas, resolveram ir embora. Despedimo-nos e, confesso, independentemente do estado geral que fisicamente meu coração poderia estar, espiritualmente ele estava bem mais leve e quentinho. Como é bom ter amigos! Mesmo um sádico como o Torquemada…
Depois dessa resolvi simplesmente deitar e dormir enquanto ainda estava com aquela sensação gostosa de aconchego.
No dia seguinte acordei tarde pra caramba (umas seis e meia), pois pelo visto meu relógio biológico havia resolvido tirar férias. Como eu já sabia que o café da manhã ainda iria demorar um pouco resolvi tomar um outro bom banho – ao menos para lembrar que ainda existia água quente no mundo. Carregando aquela parafernália de soros e acessos e camisola aberta no rego, com um pouco de trabalho – e quase pranchando no chão por umas duas vezes – finalmente consegui terminar a ducha. Bem na hora, pois o café havia acabado de chegar.
Apesar de nos últimos anos ter ostentado uma vetusta barba na maior parte do tempo, naquela época eu preferia ficar bem escanhoado. Mas como é cheia e cresce rápido, ao final de uns dias sem ver um barbeador eu já estava parecendo um indigente. Paciência. Só faltava mais um dia, segundo o “protocolo”, e no sábado eu iria para casa.
Passei o dia meio que bestando, cochilando um tanto e lendo outro tanto e no finalzinho da tarde me veio a médica para a visita de praxe.
– Parabéns, o senhor já vai ter alta.
– Sei, sei. Amanhã, né?
– Não, hoje mesmo. Só falta meu colega assinar comigo e o senhor já pode ir embora. Tem quem venha lhe buscar?
– Mas, mas… E o tal do protocolo? De que eu teria que ficar sei lá quanto tempo em observação?
– Ah, isso é mais uma orientação do que uma regra. Como o senhor está reagindo muito bem não há necessidade de mantê-lo por aqui.
“Mais uma orientação do que uma regra”? Caray! Não pude deixar de me lembrar do filme Piratas do Caribe onde, de acordo com o momento e a conveniência, a “parola” poderia ser considerada uma regra ou não. Sexta-feira, final de expediente, após cravadas oitenta horas longe da sociedade e eu sem uma muda de roupa sequer para ir embora. Liguei para a Dona Patroa – coitada… – e, não demorou muito, ela chegou com o que eu precisava. Separei todo o resto para já levar para o carro enquanto aguardaríamos a segunda assinatura e – enfim! – a alta.
E aguardamos.
E aguardamos.
Aguardamos.
Aguardamos mais um pouco.
E nada.
E já estava ficando muito tarde e ela precisava voltar para dar conta das crianças em casa.
E lá foi ela e lá fiquei eu.
De novo.
E ASSIM QUE ELA SAIU ME TROUXERAM O TAL DO PAPEL DA ALTA!!!
Que estava desde não sei que horas parado na mesa de não sei quem para levar não sei onde e depois entregar para mim.
E já não adiantava mais ligar para ela, pois era tarde e devia estar a meio caminho de casa.
Paciência.
No dia seguinte, cedinho, combinaríamos de ela vir me buscar.
Mas é lógico que não foi isso que aconteceu.