Vocês já observaram as ondas do mar? Elas vem e vão… vem e vão infinitamente… eternamente… E os acontecimentos da vida? Bons, ruins, felizes, tristes, inesperados, assustadores, surpreendentes são como as ondas do mar. Vem e vão… Nós brincamos no mar, pulamos as ondas baixas, mergulhamos nas ondas altas… nos despenteamos nas ondas que nos surpreende, não ficamos bravos quando a onda veio de um jeito que não queriamos, simplesmente não temos expectativas quanto às ondas… Porém, ainda não conseguimos lidar tão bem com as ondas da vida… Ainda brigamos com elas porque às vezes elas vão embora quando queremos que elas fiquem e às vezes elas chegam quando não estamos preparados. Não conseguimos flexibilizar nossos comportamentos diantes do inesperado. Ficamos parados à margem da vida, sem nos aprofundar na riqueza do oceano que é a vida. Não brigue com a onda, você sempre vai perder, porque é impossivel vencer a onda… se entrega e boia… porque ela vai e volta… mas você fica.
Categoria: Personalíssimo
Medra!
Vendo este vídeo aqui…
…lembrei-me deste post aqui.
Reli.
E recomendo.
Releiam!
Vale a pena!
E não, o título NÃO está escrito errado e também NÃO é um palavrão. Vai pro dicionário, ó filisteu!
Fé
Alone in the darkness
E então você chega em casa.
Silêncio.
Para minimizar o efeito você se concentra nas tarefas triviais. Limpeza da casa. Roupas no varal. Correspondência sob a porta. Coisas do cotidiano.
Mas, ainda assim…
Silêncio.
Checa seus e-mails, atualiza seu blog, publica no Twitter, passeia pelo Facebook.
Enquanto isso…
Silêncio.
Toma um banho, rememora o dia, resguarda quem queria ver, releva quem não pretendia, planeja o amanhã, imagina o depois, mas…
Silêncio.
E seu coração começa a ficar apertado (somente compreende plenamente essa expressão quem já por ela passou).
Come o último pão integral, repassa mentalmente uma lista de compras que sabe que vai esquecer e flerta por alguns momentos com uma garrafa de vinho ainda fechada que sedutoramente te encara da cristaleira.
Mas o vinho, ao contrário dos solitários destilados, é uma bebida para ser verdadeiramente apreciada, no mínimo, a dois.
Que fique, pois, a garrafa quieta em seu canto, sossegada em seu mais absoluto…
Silêncio.
Recosta-se na cama, arruma o travesseiro, cobre-se, puxa um dos vários livros para mais uma vez continuar alguma das várias leituras.
Mas depois de duas, três, quatro páginas percebe que sequer tem idéia do que está lendo. Seu corpo está presente, mas sua mente não. Deixa o marcador na mesma posição de quando pegou o livro, apaga a luz, aninha-se e fecha os olhos.
E escuta.
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Muito silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Um silêncio que se expande, que cobre, que envolve, se espalha e faz tremer as paredes.
Um aterrador silêncio.
Ainda que busque consolo nas memórias do dia, nas risadas compartilhadas, nas tarefas executadas, nas pessoas encontradas – ou, ainda mais distante, nas memórias recentes, na companhia dos amigos, nas viagens realizadas, na bagunça dos filhotes, nos lábios da amada, enfim, nos ruídos, nas percepções, nas experiências que poderiam preencher sua alma… Ainda assim ele se faz avassaladoramente presente.
Silêncio.
E a noite se estende e é cedo o suficiente para saber quão longa ela será. E nessa, em especial, na qual as famílias já se recolheram, os operários já se foram e as baladas acolhem seus devotos, mais uma vez é a solidão que em meio ao escuro do quarto se aproxima, se entremeia nas cobertas, te envolve nos frios braços e sussura em seus ouvidos.
Silêncio.
E você – pela bilionésima vez – se questiona acerca de seus caminhos, suas decisões, suas escolhas. As conversas que já teve, as que não teve, as que gostaria de ter, as que esperava ter, as que não terá.
E, animal social que é, percebe o quanto lhe faz falta o carinho, o aconchego, o sorriso, o abraço, o entrelaço de pernas, a pele na pele, a confiança largada, a segura companhia, a estável presença, o suave murmúrio das crianças na madrugada, o calor de realmente querer bem e de ser verdadeiramente correspondido, a simples e tenra ternura de sentir serenamente preenchido o coração. Sem efusão. Sem sofrimento. Doce acalento.
Mas não é esse o seu caminho.
Não hoje.
Não agora.
Resta, então, o abraço da solidão.
A noite que se distende.
E, obviamente.
Silêncio.
Aconchego
Às vezes é tudo o que a gente quer.
E é só o que a gente precisa.
Simples assim.
O poder da memória
Eu me lembro de uma estória – contada em verso, prosa e quadrinhos – de um mago que conseguiu ampliar seus poderes ao vender pedaços de sua memória a vários demônios. Lembranças tão antigas que ele sequer sabia mais que as tinha. Considerou-as inúteis e, pedaço por pedaço, as foi descartando.
“Primeiro dia na escola? Pode levar essa lembrança!”
“Brigas com meus pais? Para que vou querer isso?”
“Colegas de trabalho, conhecidos do dia-a-dia? Não me servem de nada.”
“Aquele relacionamento que não deu certo? Essa eu até pagaria para você levar!”
Enfim, cada uma daquelas memórias – ou sequência de memórias – foi sendo levada, substituída por mais e mais poder. Assim ele se tornou o mago mais poderoso de sua era.
E também o mais confuso.
Sem o auxílio das memórias – mesmo daquelas que ele sequer lembrava – todo seu embasamento moral, toda sua estrutura emocional acabou por ficar em frangalhos…
O mago em questão imaginou que estava fazendo um ótimo “negócio” simplesmente porque não tinha noção do verdadeiro poder da memória. São nossas memórias que nos fazem ser quem somos e como somos. Elas nos definem. Nos acalentam e nos protegem quando precisamos. Mas também doem. Também machucam. Também deixam o coração apertado, espremido e saturado.
Basta um cheiro. Uma música. Um lugar. Uma frase. Qualquer mínima fagulha serve para abrir os diques d’alma e nos inundar com memórias nem sempre desejadas.
E mais: é um erro pensar que manter-se em movimento ou em constante mudança evitaria essas fagulhas. Nada mais estamos fazendo que criando novas memórias – que, ao seu devido tempo, invariavelmente entrelaçadas com as anteriores, também poderão nos consumir…
Ou seja, não há fuga.
Não há onde se esconder.
Não há local, remédio, bebida, trabalho, diversão ou companhia que surta efeito quando tratamos do quesito apagar memórias. Exceto, talvez, a solução radical adotada em Sucker Punch…
Então, na prática, não tem jeito. A única alternativa (e se é única, por que seria alternativa?) é conviver com nossas memórias, tentando mantê-las sob controle, com rédeas curtas e, se preciso for, até mesmo focinheira! Pois as memórias estarão sempre ali, estáticas, esperando para nos pegar de assalto. Então é bom que estejamos prevenidos!
Aliás, é creditado a Bob Marley a frase de que “a única razão de sermos tão apegados em memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado”. E as pessoas mudam. Sempre. E é mais uma vez culpa da maldita memória a insuportável insistência que temos em tentar resgatar os bons momentos. O problema é que os bons momentos não podem ser resgatados. Eles já se foram. Podem apenas ser preservados. Onde? Sim, na memória.
O truque então é manter o foco em outro objetivo: criar novos bons momentos. E tentar mantê-los, protraí-los no tempo, distendê-los até que se tornem uma constante em nossas vidas. E, dessa maneira, esses novos bons momentos poderão fixar sua indelével marca na memória, talvez até mesmo sobrepujando aquelas que teimam em doer…
Porque a dor de uma memória é uma dor inigualável. É a dor que vem da sapiência do que foi, do reconhecimento do que poderia ter sido e do desespero do que não será. É uma dor que dilacera, que rasga, vira no avesso e torna a rasgar. E que invariavelmente nos leva às lágrimas.
Mas – incomensurável detalhe – essas lágrimas em especial não vêm do corpo.
Vêm da alma…
Whisky
(Sim, em tempo real… Digno do Copoanheiros!)