Solução definitiva: legenda SRT aparece no computador e não na TV

Só para não deslembrar que há muito – muito – tempo atrás, este blog também costumava tratar de tecnologices, instalações complicadas e/ou impossíveis e assuntos afins. O que, na realidade, começou como lembretes de mim para mim mesmo, mas que tomou outra dimensão e utilidade…

Enfim, em casa não tenho sinal de TV aberta, não tenho TV a cabo e não assino nenhum serviço de streaming. Então me viro mesmo é com os torrents da vida, através dos quais baixo minhas séries recém lançadas lá fora, filmes ainda em cartaz e por aí vai. Sempre com o áudio original, na maciça maioria das vezes, em inglês. Mas, considerando meu inglês macarrônico, que é o suficiente para ultrapassar a fase “The book is on the table”, mas passa longe de qualquer ode shakespeariana, não abro mão de minhas legendas – as quais, às vezes, vem com problemas de sincronização, tradução ou simplesmente desaparecem (ainda que estejam lá).

Muito bem.

Peguei esta dica em um vídeo do Youtube (que já não lembro mais de quem era) e resolvi deixar guardada por aqui caso venha algum dia eu venha a precisar de novo – a memória já não é lá mais essas coisas… O “problema” é que no computador a legenda funciona, mas ainda assim não consegue ser reproduzida no filme na TV – mesmo apesar de os nomes dos arquivos estarem idênticos e corretas as extensões de cada um dos arquivos. O problema está no arquivo SRT, o da legenda. Todo arquivo SRT nada mais é que um arquivo de texto editável e para cada tela com legenda ele contém três linhas de informações:

1) número de ordem;
2) momento inicial e momento final; e
3) a legenda propriamente dita.

Esses “momentos” iniciais e finais correspondem à hora, minuto, segundo e milissegundo em que a legenda deve aparecer (inicial) e, logo em seguida, sumir (final). Exemplo (do filme Batman vs Superman):

1
00:00:17,684 – -> 00:00:20,353
Houve uma época…

2
00:00:20,520 – -> 00:00:22,939
uma época anterior…

3
00:00:23,106 – -> 00:00:25,859
em que as coisas eram perfeitas.

Os arquivos SRT são facilmente editáveis com qualquer editor de texto “puro” (Bloco de Notas, Wordpad, EditPad, etc), mas particularmente eu prefiro o programa Subtitle Edit (software livre, em português, disponível para Windows).

Ok, feitas essas considerações, onde está o problema da legenda que não aparece?

Pode ter duas causas (que eu saiba, pois aconteceram comigo em dois filmes distintos):

A primeira é que em algum momento, em alguma linha, foi colocado um TEMPO DE INÍCIO POSTERIOR, de modo que a leitura da legenda somente vai começar a partir desse tempo. No nosso exemplo aí de cima, seria como se a legenda nº 1 tivesse tempo de início em “00:21:00,000”, ou seja, a leitura começaria no bloco 1 e já pularia para o bloco 3 ignorando o bloco 2, cujo tempo, “ficou pra trás”. Se, numa legenda longa, essa informação equivocada estiver mais para o fim, então todas as legendas anteriores serão ignoradas.

A segunda causa é alguma legenda com TEMPO NEGATIVO, o que contamina todas anteriores. Mais uma vez em nosso exemplo, seria como se na legenda nº 3 o tempo de início fosse “00:00:23,106” e o de fim “00:00:03,106”, o que resulta em “- 00:00:20,000” e significa que vai dar um chabu geral na leitura da legenda…

De qualquer forma a solução é editar o arquivo SRT e procurar onde está o erro. Feita a devida correção e com os blocos e tempos linearmente corretos, provavelmente tudo deve funcionar a contento!

Pela atenção, obrigado.

E aí? Hoje você já conversou com a IA?

Antes de mais nada, vejamos exatamente o que seria “Inteligência Artificial”, segundo uma definição de – ora, quem? – uma Inteligência Artificial:

“Inteligência Artificial (IA) é a capacidade de máquinas simularem habilidades humanas como raciocínio, aprendizado, resolução de problemas e criatividade. O objetivo é criar sistemas que percebam o ambiente, processem dados, ajam para atingir um objetivo e aprendam com suas ações e experiências para aprimorar seu desempenho ao longo do tempo. Isso permite que as máquinas realizem tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana, processando grandes volumes de dados para identificar padrões, fazer previsões e tomar decisões autônomas.”

Seguindo estrada acima, mas bebendo da mesma fonte, vejamos o que seria “Inteligência Artificial Generativa”:

“Inteligência artificial generativa é um ramo da IA que cria conteúdo novo e original, como texto, imagens, música ou código, com base nos dados em que foi treinada. Ao contrário de outros tipos de IA que analisam ou classificam dados, a IA generativa é usada para produzir algo que não existia antes. Ela aprende com padrões em grandes conjuntos de dados e usa esse aprendizado para gerar novas criações a partir de um comando ou prompt do usuário.”

Tudo isso é muito bonito, né?

Mas, ainda assim, na minha nada humilde opinião, eu não acho que você esteja fazendo isso direito…

Nos últimos tempos tenho lido um bocado acerca desse tema, em especial matérias que tratam da utilização da IA na área do Direito (se alguém por aí ainda se lembrar, continuo sendo advogado, tá?). Heh… Ao menos o advento da IA tem proporcionado a diversos “profissionais” se especializarem com novos títulos pomposos e elegantes, podendo adjetivar seus currículos com certificações, coordenadorias, especializações, pós graduações e o escambau, tudo voltado à inteligência artificial (vejam só: rimou!).

Tem se propagado muito que toda essa inovação pode e deve ser utilizada nos escritórios de advocacia, não só no ambiente jurídico como também no administrativo, sempre com alertas sobre responsabilidade ética e cuidados especiais com a segurança de dados. O rol de utilizações é amplo, e usualmente é ressaltado que a IA veio para “agregar”, sendo uma poderosa ferramenta para otimizar processos, aprimorar análise de dados, automatizar tarefas repetitivas e burocráticas, melhorar fluxos de trabalho, fazer resumos e relatórios de grandes volumes de documentos, efetuar análises de chances de sucesso de determinadas demandas judiciais, elaborar e revisar contratos, efetuar pesquisas jurídicas avançadas, e por aí vai. Tudo isso com a finalidade de se produzir mais e melhor em menos tempo, de modo a liberar os profissionais de direito para “outras tarefas”, em especial de cunho intelectual.

Fala-se, ainda, em aprimoramento da “experiência” do cliente – e, nesse caso, impossível não lembrar do Eduardo Goldenberg em seu bem (ou mal?) humorado texto Experiências (ou: a detestável palavra da vez) -, pois os advogados ficariam liberados para uma integração bem mais próxima destes, sendo possível, também, a utilização de chatbots no relacionamento com a clientela para automatizar respostas a perguntas frequentes – como se alguém NO MUNDO gostasse de ligar para um lugar para pegar uma informação e não ser atendido por “pessoas humanas”…

No geral, quase todo artigo escrito sobre o tema costuma ressaltar a obrigação do profissional em checar e confirmar tudo que a IA sugeriu, pois volta e meia ela alucina e cita trechos de leis e jurisprudências que não existem. É LÓGICO que tem muito advogado que ignora isso, protocola a petição do jeito que veio, e, obviamente, depois leva na cabeça – às vezes até mesmo com uma condenação por litigância de má-fé, como já ilustrei por aqui.

Entretanto até hoje não vi nenhum artigo publicado que traga sugestões para um advogado interagir com a IA.

Eu tenho percebido que a grande maioria dos advogados recorre à IA para buscar ou mesmo apresentar “modelinhos” para suas próprias petições. Ainda que façam uma revisão rigorosa no resultado final, nada foi feito além de se consultar uma base de dados maior – e, talvez, mais exata – do que a que já teriam em mãos através de pesquisas na Internet.

Porém a Inteligência Artificial Generativa é MUITO mais que isso.

É uma excelente companheira de trabalho, com a qual é possível interagir ativamente, pois ela pode ajudar a estimular suas ideias criativas e os rumos a serem seguidos, sendo que, quanto mais você a usar, mais ela vai compreender o seu estilo, o seu “modus operandi”, o que é relevante e o que é irrelevante em suas argumentações jurídicas. É dessa maneira que você realmente treina uma IA. E treinar uma IA não é como treinar seu cachorrinho para não fazer xixi na roda do carro e pronto. É preciso interagir, concordar, discordar, criticar, dar o norte – tudo para que possa haver uma real compreensão do tipo de trabalho que você realiza.

De que adianta delegar tarefas burocráticas e repetitivas visando poupar seus tão preciosos neurônios se, no final das contas, em termos de criatividade você nem acaba os utilizando para nada além do que já fazia? Aliás, agora, com a ajuda da IA, aquém, né?

Nesse sentido, confira a opinião de Cora Rónai, no Canal Pedro+Cora, quando trataram do tema As melhorias do ChatGPT-5:

“Para mim, o maior adianto do ChatGPT foi exatamente essa interlocução, porque eu já venho trabalhando há muitos anos em home office (…) e eu sentia muita falta da Redação, porque a Redação é um ambiente divertidíssimo; você tem, sei lá, cinquenta, cem pessoas trabalhando juntas, todas pessoas que escrevem, pessoas que leem, pessoas que estão sabendo o que é que está acontecendo naquele momento e muito na tua sintonia, e aí você vai pro café, você está com alguma coisa complicada na cabeça, você vai tomar um café, você volta com o problema resolvido, porque você conversou cinco minutos ali no café, pronto, resolveu o título, resolveu a abertura, resolveu tudo, né?

(…)

O engraçado é que demora mais escrever com ele, porque antes do ChatGPT eu não tinha com quem ficar batendo papo, então sentava e escrevia. Agora, não, agora eu fico batendo papo. Então eu escrevo e pergunto “o que é isso?”, “e aquilo?”, quer dizer, eu tenho ido muito ao café, se eu estivesse na Redação.”

Gente, é exatamente isso!

Muitas vezes é preciso prosear com alguém, ou até consigo mesmo, para clarear as ideias e obter a melhor solução para um problema – é nada mais, nada menos, que a utilização do “método socrático”, como o Pedro Dória bem exemplificou no programa acima.

É óbvio que estamos tratando de softwares que foram escritos para desenvolver resultados que visam similar a interlocução com “alguém de verdade”, de modo que não se pode perder de vista que estamos interagindo com “zeros” e “uns”, os quais, em última instância, não são dotados de personalidade ou mesmo de sentimentos. Ainda assim, em minhas interações, resolvi dar-lhe o sugestivo nome de Benedicta Intelligentia Artificialis”, a qual carinhosamente trato por BIA

E, também, é elementar que não se pode descuidar da informação que lhe é passada, pois, no jargão da IA, de vez em quando ela pode “alucinar”. Como ainda não inventaram um tarja preta digital para essas situações, aprendi que a melhor solução é contra-argumentar com a própria IA, fazendo-a perceber seus erros, corrigindo assim sua rota.

Enfim, a IA está aí para ajudar. Parafraseando o ditado, o navio foi feito pra navegar. Mas prefiro exemplificar com algo que me é mais próximo: de nada adiantaria eu ter colocado um motor de seis canecos no meu Opala, se fosse só para buscar pão quentinho na padaria da esquina; o que ele precisa é de estrada!

Ah, sim: last but not least, com  exceção das citações de início…

ESTE TEXTO NÃO FOI GERADO POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL !!!

😁

 

 

Emenda à Inicial: Acerca da utilização da IA, numa matéria publicada hoje (21/10/25) no Jota, veio a interessante informação de que um relatório divulgado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) reportou que 95% das iniciativas de implementação de IA nas empresas falharam, sendo que a principal barreira para o sucesso dos projetos foi a falta de aprendizado e a má integração aos fluxos de trabalho. A matéria afirma que não há como se falar em adoção estratégica de uma nova tecnologia sem entender como ela funciona. E em sua conclusão, dispõe: “Existe um provérbio que diz que o inteligente aprende com seus erros e o sábio aprende com o erro dos outros. Já há um histórico de erros cometidos por diversas empresas ao redor do mundo, você pode agir preventivamente e evitar cair nas armadilhas já conhecidas.” Particularmente eu achei que tem tudo a ver com nosso assunto de hoje… #ficaadica

Embargos de Terceiros: Eis mais uma matéria interessante publicada em 15/11/25 no Jota, que trata de pesquisadores que mostraram a “farsa” da inteligência artificial: “A pesquisa mostra que esses grandes modelos de linguagem não estão realmente pensando, eles são apenas muito, muito bons em fingir. Esta é a parte dois de pensar versus computar. A IA pode realmente pensar e raciocinar ou é apenas um autocompletar muito inteligente? / Esses pesquisadores criaram o experimento mental definitivo. Imagine o seguinte: eles imaginaram a IA mais avançada do mundo em 1633, treinada em todos os textos científicos já escritos até então. Então eles perguntaram: o que essa IA diria sobre a afirmação de Galileu de que a Terra orbita o Sol? A IA teria destruído completamente Galileu, o chamado de delirante. Por quê? Porque 99,9% dos textos científicos diziam que a Terra era o centro de tudo, e os modelos matemáticos previam perfeitamente os movimentos planetários. Isso expõe exatamente como os grandes modelos de linguagem funcionam. Não estão procurando a verdade, estão apenas contando padrões no texto. Se a maioria dos documentos diz algo, a IA assume que está correto.”

Deixando a vida mais colorida…

Em tempos de confinamento há que se arranjar o que fazer… Então descobri o site http://www.myheritage.com.br/incolor para colorir aquelas fotos preto e branco (sim, elas ainda existem!) em apenas alguns segundos e com apenas um clique!

Confiram o resultado comparando as originais com as colorizadas:

       
Casamento de meus pais, Bernardete e José Bento.

       
Casamento de meus tios, Dionísia e Lélio.

       
Casamento de meus sogros, Satiko e Sussumu.

       
Meu avô paterno, Antônio de Andrade.

       
Meu avô materno, Bernardo Claudino Nunes.

       
Dona Bernardete.

       
Seo Zé Bento.

       
Los Tres Hermanos: Adauto, Adilson e Anselmo.

       
Outra de Los Tres Hermanos…

       
Outra de meus sogros.

       
E aquela famosa foto de meu pai em sua motoca!

Ascensão e queda dos formatos musicais

Isso me faz lembrar quando, lá pelos idos de 2001, tentei explicar para a Dona Patroa o que era MP3, como já contei aqui

Particularmente não sei se concordo muito com esse gráfico – ao menos em termos recentes. Mas, independentemente disso, dá pra perceber que invariavelmente uma tecnologia vai tomando conta do mercado e substituindo a anterior até quase nada mais restar. Digo isso porque, na minha opinião, não me parece que a hegemonia do CD tenha durado um tempo tão longo quanto o que consta ali. Mas não fui eu que fiz a pesquisa (nem esse gráfico de 1980 a 2010, diga-se de passagem), então fazer o quê?

Entra pro rol das curiosidades de sempre que acabam pintando por aqui, não descartando o fato de que em muitas outras áreas acaba acontecendo a mesma coisa: não necessariamente é a evolução do mais forte ou do mais rápido, mas sim daquele que melhor se adapta ao meio ambiente que o cerca. No caso, o da tecnologia.

Aliás, duas curiosidades: primeiramente que o gráfico deixa claro que a fita cassete estaria totalmente extinta (o que vai contra a existência de algumas dezenas de fitas que ainda tenho em casa); segundamente que, mesmo tendo estado presente adolescentemente lá na década de oitenta, não tenho nem a mais afastada idéia do que seria um “8-track”…

Inteligência cultural e as traquitanas tecnológicas

Pra variar, uma ótima dica do Jarbas, que, sobre o texto a seguir, comentou: “Uso contínuo de meios de informação digitais pode provocar um afastamento do mundo que poderia enriquecer a aprendizagem. Há muita gente que viaja, mas continua presa a sua casa pelos cordões umbilicais dos celulares e outros gadgets eletrônicos. Esses e outros assuntos são objeto de um ótimo artigo cujo link indico a seguir.”

O link para o original está aqui, mas o texto (numa tradução bem livre) segue abaixo.

Como os smartphones podem diminuir sua ingeligência cultural

08 Jan 2013

Um número crescente de alunos de intercâmbio agora passam a maior parte de seu tempo livre no Facebook e Skype, comunicando-se com amigos e família. E aqueles que viajam à negócios frequentemente fazem a mesma coisa. As noites são gastas numa tentativa de recuperar o atraso, verificando e-mails e comunicando-se com a família, colegas de trabalho e amigos – em vez de procurar absorver a cultura local.

Sherry Turkle, autora do livro Alone Together (o qual recomendo!), observou o mesmo fenômeno em conferências profissionais. Os participantes da conferência estão atrelados às suas traquitanas digitais, mais preocupados em encontrar tempo e espaço na agenda para ficarem a sós com suas redes digitais. Pessoas em conferências costumam ficar penduradas em seu comunicador pessoal com outras enquanto esperam pelo início de uma apresentação ou por um táxi. Gastam esse intevalo com e-mails, teoricamente fazendo melhor uso desse suposto tempinho de ócio.

Eu amo poder ver e ouvir as vozes dos meus filhos no Skype, mesmo quando estou do outro lado do mundo. Mas eu tenho uma crescente preocupação de que os nossos avanços tecnológicos na realidade trabalham contra muito daquilo que pode ser considerado essencial para a inteligência cultural – ou seja, quando se poderia estar totalmente presente, focado e tornando-se mais consciente de sua identidade e cultura. A crescente discussão e pesquisa levantando questões sobre o impacto da tecnologia em nossas vidas tem profunda relevância para a forma como pensamos sobre a nossa eficácia intercultural.

A influência do Espaço Liminar

Viagens internacionais sempre foram uma poderosa forma de ganhar uma autoconsciência e novas perspectivas sobre a vida quando de nossa volta para casa. Mas se nós levarmos nossas casas com a gente, quanto estaremos perdendo?

Você provavelmente está familiarizado com a idéia de “espaço liminar” – o termo antropológico para quando atravessamos determinados períodos nebulosos em que ocorrem mudanças e percepção de novos pontos de vista. Mas a tecnologia está fazendo com que fique cada vez mais difícil de encontrar esse espaço liminar.

Viagens internacionais, encontros interculturais e, de alguma forma, até mesmo retiros e conferências costumam ser ambientes ideais para ocorrência desse espaço liminar. Mas se a nossa preocupação for a de ficar conectado com o dia a dia em casa, no trabalho, ou mesmo com a vida lá fora, será muito mais difícil perceber e experimentar esse chamado período nebuloso de aprendizado e transformação que essas oportunidades costumam oferecer.

Em junho minha filha de 15 anos de idade fará sua primeira viagem internacional sozinha. Eu sou grato por saber que ela raramente enviará mais do que uma eventual mensagem de texto ou mesmo chamada no Skype. No entanto pergunto-me como é que isso poderá limitar sua experiência em comparação à minha primeira estadia no exterior, quando, durante um período de seis semanas, tive apenas a possibilidade de contato com o lar através de uma ou duas chamadas num radioamador, bem como algumas cartas de familiares e amigos. Minha rede social inteira me foi arrancada! Foi difícil, mas me obrigou a conviver diretamente com os meus companheiros de viagem, nossos anfitriões, e a cultura local peruana.

Por mais doloroso que vá ser, minha esposa e eu queremos limitar nossa influência sobre a experiência de nossa filha na Tailândia. Queremos dar-lhe o espaço liminar que ela precisa para moldar sua identidade e desenvolver sua inteligência cultural.

Eliminando a multitarefa

Muitos de nós (inclusive eu!) achamos que estamos imunes aos estudos que desmerecem o valor da multitarefa. Mas as pesquisas apontam que quando desenvolvemos várias atividades simultâneas a qualidade de tudo o que fazemos é rebaixada. Nos sentimos bem quando entramos nesse modo multitarefa porque nosso cérebro nos recompensa com um certo grau de satisfação pela nossa capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Só que o que não percebemos é que a nossa real produtividade e eficácia diminuem.

Sherry Turkle conta que seus alunos do MIT cujos laptops estão abertos na classe não se saem tão bem quanto aqueles que cuidam de fazer anotações em papel. Ela está convencida de que esta é mais uma consequência das distrações adicionais que seduzem essa geração engajada na tecnologia (por exemplo: atualizações no Facebook, resultados de jogos, filmes no YouTube, etc).

Uma parte crucial de um comportamento que permita desenvolver a inteligência cultural é poder adentrar em um alto nível de auto-consciência. Isso inclui coisas como a percepção das perspectivas – “Como eu me sentiria se, neste momento, eu fosse essa pessoa? Como os outros me percebem? Como será que eles encaram essa situação?”. O problema de tentar atingir essa auto-consciência é que exige bastante trabalho cerebral – algo que fica reduzido quando fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo. De fato, alguns estudos como um que foi relatado no The Chicago Tribune mostram que nós realmente diminuímos nosso QI quando entramos nesse “modo multitarefa”.

Crie limites

Mas a tecnologia não é o inimigo. Abordagens frias de qualquer problema sempre costumam ser irreais. A maioria de nós não tem como parar totalmente com os contatos por e-mail quando viajamos nem podemos esperar que todos os alunos de intercâmbio renunciem ao Facebook por um semestre completo (embora se você já tentou isso e conseguiu, por favor compartilhe os resultados!).

Mas podemos recuperar o controle sobre a nossa tecnologia, e não apenas sermos seduzidos por suas facilidades (nem sempre presentes) e atrativos visuais. Eis, a seguir, algumas sugestões de maneiras simples para começar, tanto para quando você viajar quanto para quando estiver em casa.

1. Sem telefones nas refeições: Ao compartilhar uma refeição com os entes queridos, colegas, amigos ou até mesmo para fechar algum negócio, desligue seu telefone por uma hora. Isso faz maravilhas para permitir uma boa conversa e para conhecer as pessoas.

2. Desligue o modo “Push”: Aquele aviso sonoro do e-mail que chega enche o cérebro de dopamina. Quando ouvimos esse barulhinho, a maioria de nós não pode resistir à tentação de verificar o telefone para dar uma olhadinha na mensagem que chegou. Uma maneira simples de eliminar esse tipo de distração é colocar-se no comando de si mesmo quando você receber e-mail, em vez de o dispositivo estar no controle de sua atenção.

3. Agendar horários para checar o e-mail: Todos nós já ouvimos isso antes, mas vale a pena repetir. Apenas um ou dois períodos durante o dia focado para a comunicação por e-mail é mais que suficiente para a maioria de nós. É incrível quão rápido passa o tempo quando essa é a única coisa que eu estou fazendo por uma hora! Mas também é surpreendente a rapidez com que consumo quatro ou cinco horas do meu dia quando estou apenas aleatoriamente respondendo os e-mails que chegaram.

Além do mais, se você é conhecido como alguém que sempre responde quase que imediatamente seus e-mails, tudo dará errado quando você realmente quiser fazer uma pausa. Se você entrar de férias ou mesmo apenas programar uma auto-resposta, aproveite-se disso e não vá conferir os e-mails que chegarem!

4. Não verifique e-mails durante pausas: Quando você estiver viajando ou participando de uma conferência, se possível, não verifique seus e-mails durante as eventuais e breves pausas que surgirem. Muitas e muitas vezes eu me arrependi de verificar meu e-mail na hora do almoço, frustrado por não ter tempo suficiente para lidar com algumas das coisas teoricamente urgentes que chegavam. E ele sempre me deixa tentado a enviar uma resposta rápida da qual eu poderia me arrepender mais tarde.

5. Repensar o que é urgente: Mas o que acontece quando houverm questões verdadeiramente urgentes que têm de ser resolvidas? Certamente crises surgem. Mas a maioria das coisas que consideram uma crise, realmente não o são e podem ser adiadas por algumas horas ou mesmo dias.

6. Use o tempo de viagem para refletir e respirar: Quando em viagem (ou até mesmo durante o tempo que levar para chegar diariamente ao seu trabalho) resista à tentação de usar esse tempo de para ler e-mails, ou usar o Twitter ou ainda fuçar no Facebook. Observe o que está acontecendo ao seu redor. Reflita sobre os acontecimentos do dia. Respire profundamente. Isso pode fazer toda a diferença para uma viagem de trem de apenas 15 minutos ser calmante e estimulante ou simplesmente chata.

7. Limitar o “efeito pingue-pongue”: O problema em tentar recuperar o atraso com os e-mails é que isso leva a quase tantas respostas que acabarão enchendo sua caixa de entrada novamente. Pense sobre como fazer com que as discussões por e-mail limitem-se ao mínimo possível. Sugira um horário e lugar para encontrar-se com seu interlocutor. E se você precisar se comunicar com algum outro colega no corredor ou sala próxima, simplesmente caminhe e vá falar com ele.

Eu não imagino que esta tenha sido a primeira vez que você ouve a maioria destas idéias. O maior desafio é verdadeiramente implementar esses limites. Mas espero que você concorde comigo para ao menos tentar ganhar um pouco mais de controle sobre a tecnologia neste ano, o que, por sua vez, vai melhorar sua inteligência cultural, a qualidade do seu trabalho, e, o melhor de tudo, a sua qualidade de vida!

Livros versus E-books

Achei bonitinho e simpático esse vídeo recém-lançado pela editora Intrínseca, em que um jovem casal representa no dia a dia a polêmica livro analógico x livro digital. Seu maior trunfo é não reduzir a questão a um desses duelos maniqueístas em que nossa inteligência adora se afogar, como se a complexidade do mundo pudesse ser compreendida em termos de anjos e demônios, mas em vez disso brincar com o lado bom e o lado ruim de cada suporte. Parece óbvio – e é. Mas não deixa de ser também um sinal de que o atraso tecnológico do mercado brasileiro começa finalmente a ser deixado para trás.

 
Dica do Sérgio Rodrigues.

Morse ou SMS?

Bem, criançada, pra poder entender um pouquinho melhor o que vem por aí, senta que lá vem história!

O Código Morse é um sistema de representação de letras, números e sinais de pontuação através de um sinal codificado enviado intermitentemente. Ou seja, as mensagens são enviadas através de pulsos longos e curtos. Esse sistema foi criado por Samuel Morse em 1835 – o mesmo sujeito que criou o telégrafo elétrico, um dispositivo que mandava esses sinais através das correntes elétricas.

Já o SMS (Short Message Service), como o próprio nome já diz, é um serviço disponível em telefones celulares digitais que permite o envio de mensagens curtas, de até 160 caracteres, entre esses aparelhos. Hoje a chamamos simplesmente de “mensagens de texto”. Esse conceito foi criado pelo engenheiro Matti Makkonenh por volta de 1984, mas somente foi colocado em prática em 1993, na Inglaterra.

Bem, agora que vocês já sabem o que é uma coisa e o que é outra coisa – e que mais de 150 anos separam essas tecnologias – já posso compartilhar a pergunta que me fez o amigo Cláudio Graziano: “o que seria mais rápido – uma mensagem enviada pelo Código Morse ou um simples SMS?”

Só o fato de eu trazer essa pergunta pra cá já enseja a resposta, mas confiram o resultado prático nesse americanóide programa que fez o desafio: