Receita de Primavera

Pegue alguns passarinhos
de todos os tamanhos…
Escolha os bem ruidosos
e junte às borboletas.
Mas não guarde nem faça nada…
Pegue sem segurar,
capture com o olhar.
Separe umas formiguinhas
e abelhas pequenininhas.
Adquira piados,
coaxos e zunidos.
Ouça de olhos fechados
e alma escancarada.
Despeje alguns sorrisos,
uma ou outra gargalhada.
Aqueça o sol por primazia
até dourar o coração.
Assopre uma brisa fresca
e reserve muitas cores
(despreze o cinza).
Salpique pétalas de flores e espera…
Já, já está pronta a Primavera!

Rossana Masiero

Dica de autoajuda

Ler poesia é mais útil para o cérebro que livros de autoajuda, dizem cientistas

“O objetivo do poeta não é descobrir novas emoções, mas utilizar as corriqueiras e, trabalhando-as no elevado nível poético, exprimir sentimentos que não se encontram em absoluto nas emoções como tais.” (T. S. Eliot)

Ler poesia é mais útil para o cérebro que livros de autoajuda, dizem cientistas
Ler autores clássicos, como Shakespeare, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente e a poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool.

Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a “linguagem coloquial”.

Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico “Daily Telegraph”, mostram que a atividade do cérebro “dispara” quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.

Esses estímulos se mantêm durante um tempo, potencializando a atenção do indivíduo, segundo o estudo, que utilizou textos de autores ingleses como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin.
Os especialistas descobriram que a poesia “é mais útil que os livros de autoajuda”, já que afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.

“A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças”, explica o professor David, encarregado de apresentar o estudo.

Após o descobrimento, os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens.

Valorizando seu dinheiro – VI

O fim da Ditadura Militar
(e o começo da encrenca civil…)

Cruzado
(Cz$1,00 = Cr$1.000,00)

Marcando o fim da Ditadura Militar no Brasil, foi o presidente José Sarney que instituiu o Cruzado (Cz$) através do Decreto-Lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, tendo havido novamente um corte de três zeros no sistema monetário nacional. O nome da nova moeda foi inspirado numa antiga moeda de ouro portuguesa que circulou durante o período colonial.

Assim como aconteceu com o Cruzeiro Novo no final da década de sessenta, parte das cédulas do Cruzado foi aproveitada do sistema anterior, quer seja na simples aposição de um carimbo identificador, quer seja na reedição da mesma arte com três zeros a menos. As primeiras emissões foram cédulas de 10.000, 50.000 e 100.000 cruzeiros aproveitadas com um carimbo circular com a nova denominação em cruzados, respectivamente 10, 50 e 100 cruzados.

Ainda em 1986 entraram em circulação as novas cédulas no valor de 10, 50 e 100 cruzados, “aproveitando” os elementos das cédulas lançadas anteriormente, apenas com a adaptação das legendas e do valor facial para o novo padrão.

Cz$10,00. Na face possuía Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923) à direita, e uma composição representando sua mesa de trabalho ao centro; no verso, Rui Barbosa discursando na Segunda Conferência da Paz, realizada em Haia em 1907.

Cz$50,00. Na face possuía Oswaldo Cruz (1872-1917) à direita, e um microscópio óptico ao centro; no verso; no verso, o Edifício principal do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Cz$100,00. Na face possuía Juscelino Kubitschek de Oliveira, Presidente da República de 1956 a 1961, à direita, bem como estradas e redes de transmissão de energia elétrica ao centro; no verso, o Congresso Nacional em primeiro plano; ao fundo, à esquerda, “Catetinho” e, à direita, o Palácio da Alvorada.

Entre 1986 e 1988 foram colocadas em circulação novas cédulas, desta vez no valor de 500, 1.000, 5.000 e 10.000 cruzados, acompanhando a vertiginosa escalada da inflação, à época…

Cz$500,00. Na face possuía o retrato de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), ladeado por representação de vitórias-régias, em alusão a Amazônia; no verso, Villa-Lobos regendo e, ao fundo, vista de uma floresta brasileira, fonte de inspiração permanente do artista, baseada em gravura de Rugendas.

Cz$1.000,00. Na face possuía o retrato de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), tendo a esquerda o emblema da Academia Brasileira de Letras; no verso, a estampa representativa da Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, (antiga Rua Direita), baseada em foto de 1905.

Cz$5.000,00. Na face possuía o retrato de Cândido Torquato Portinari (1903-1962), tendo, à esquerda, gravura com trecho final do painel épico “Tiradentes”, concluído em 1949; no verso, à esquerda, gravura baseada em foto que mostra Portinari desenhando o painel “Baianas”, e à direita, outra gravura lembra elementos do painel “Paz”, que evoca cenas da infância do artista em Brodósqui, SP.

Cz$10.000,00. Na face possuía o retrato de Carlos Chagas (1879-1934), baseado em foto de 1931, tendo, à esquerda, gravura representando esquema clássico do ciclo evolutivo do protozoário “Trypanosoma cruzi” (o barbeiro); no verso, uma gravura mostrando Carlos Chagas trabalhando em laboratório.

Essa Crise – com “C” maiúsculo – já vinha desde o final dos anos setenta e início dos oitenta, herança do modelo econômico adotado durante a Ditadura Militar e que trouxe como resultados a redução do investimento estatal, a expansão da dívida pública, altíssimas taxas de inflação, a deterioração do valor da moeda, perdas reais nos salários e ampla estagnação econômica.

Todos os planos de (tentativa de) estabilização econômica lançados durante o governo de Sarney – Plano Cruzado, Cruzado II, Bresser e Verão – fracassaram no que diz respeito ao combate à inflação e ao crescimento da dívida pública. Apesar de um certo otimismo por parte da população por finalmente haver um presidente civil após mais de duas décadas de Ditadura Militar, essa sensação rapidamente deteriorou, juntamente com os salários e a própria economia brasileira, destacando-se a estagnação dos setores produtivos, o sucateamento dos serviços públicos e a acentuação das desigualdades sociais.

Para se ter uma vaga ideia do que foi aquela época, considerando que em 2016 (pela variação anual acumulada do IPC-FIPE) tivemos uma inflação anual de 6,55% – o que para muitos é considerado um “absurdo” -, quando Sarney iniciou seu governo já teve que encarar a inflação de 1985, que havia fechado em 228,22%! Mesmo mudando a moeda e tomando as medidas que entendeu necessárias, seu primeiro ano de governo conseguiu fechar com uma inflação de “apenas” 68,08%… E no final desse mesmo ano os preços seriam congelados – assim como os salários dos brasileiros.

Entretanto o dragão da inflação voltaria a rugir – e forte! Em 1987 a inflação anual estava em 367,13%, em 1988 fechou em 891,67% e em seu último ano de governo atingiu o inacreditável percentual de 1.635,85% ao ano!!!

Mas, como veremos a seguir, nada nunca está tão ruim que não possa piorar…


(Início da Saga)

(Continua…)