Os estertores do bolsonarismo

Christian Linch
Cientista político, editor da revista Insight Inteligência
e professor do IESP-UERJ

A direita brasileira vem sendo sabotada pelos que imaginavam ser seus principais representantes

Não será simples aos futuros historiadores compreender o bolsonarismo como fenômeno político e social brasileiro no limiar da década de 2020. Há nele algo simultaneamente ridículo, trágico e farsesco, que marcou não apenas o retorno da direita assumida, mas o reaparecimento de uma extrema-direita que a sociedade civil democrática julgava ter sido sepultada junto com a degradação final da ditadura militar.

A alternância entre conservadores, liberais e socialistas é constitutiva da democracia: conforme as circunstâncias, o eleitorado reage reforçando ordem, liberdade ou igualdade. O que singularizou o bolsonarismo foi a crise de representatividade do sistema inaugurado em 1988 — a erosão do presidencialismo de coalizão, a saturação da maré progressista dos anos 1990 e 2000 e a simultânea crise global da última onda de globalização. A direita, reduzida ao silêncio desde meados dos anos 1990, voltou a tomar forma num ambiente de descrédito das instituições.

Sem lideranças conservadoras carismáticas dentro do sistema político, a direita ressurgiu à margem dele, numa modalidade reacionária, difusa, disruptiva e anti-institucional. Não foi um renascimento organizado, como o progressismo durante a ditadura, que combinava grupos antigos e novos sob instituições e movimentos sociais. Ao contrário: surgiu sem partidos, sem enraizamento social, sem continuidade com o conservadorismo histórico brasileiro — articulada quase exclusivamente pelas redes sociais. A ausência de estrutura impediu o surgimento de lideranças orgânicas, abrindo espaço para que Bolsonaro ocupasse o vácuo como símbolo improvisado dessa nova direita.

Desde cedo, seus apoiadores tentaram vendê-lo como um “Lula de direita” — uma inversão caricata, reforçada pela incapacidade dos setores conservadores mais radicais de imaginar algo diferente da restauração de um passado idealizado. Essa estratégia imitativa nunca rendeu frutos: o bolsonarismo jamais atingiu a densidade, capilaridade ou solidez do lulismo. Foi espuma: um rótulo carismático para um movimento sem ossatura.

Bolsonaro nunca possuiu estofo de liderança. Não comandou nada, não formulou nada, não projetou nada. Foi sempre um deputado reacionário, histriônico, sem ideias, sem preparo, sem experiência administrativa, que construiu notoriedade explorando o reacionarismo como meio de enriquecimento pessoal e familiar. Tornou-se um fenômeno midiático, fabricado por influenciadores da ultradireita como “lacrador” irresponsável e debochado, cuja função era tensionar a ordem democrática, não construir alternativa para ela.

Isso não significa que parte do eleitorado não buscasse representação legítima de valores conservadores. Buscava — e encontrou em Bolsonaro um para-raios, não um líder. Mas ele foi um catalisador ruim: jamais correspondeu aos próprios valores que dizia encarnar. Foi mau pai, mau marido, mau cidadão, envolvido com criminosos, volúvel em religião, desprovido de integridade moral — um embuste para os que desejavam conservadorismo sério.

Eleito numa conjuntura excepcional — típica das crises de representação que o Brasil vive a cada trinta anos —, catalisada ainda pela Lava Jato e pela retirada do candidato mais competitivo, Bolsonaro governou sem programa, sem direção, sem projeto, limitando-se à destruição simbólica preguiçosa do existente. Seu governo foi uma combinação de despreparo, irresponsabilidade, histrionismo, autoritarismo e incompetência.

Organizou um governo familiar, doméstico, regido por lealdades privadas, sustentado por filhos, parentes, policiais de baixa patente, militares ressentidos e milicianos. Eram amadores que acreditavam poder governar por WhatsApp, ignorando instituições e constrangendo tribunais e o Congresso. Depois tiveram de aceitar militares mais graduados e, por fim, o próprio sistema político que desprezavam. Mesmo assim, com todos os instrumentos de poder, não conseguiram criar sequer um partido próprio. Derrotados nas urnas, tentaram prolongar seu governo por meio de um golpe de Estado.

Atribuir a derrocada do clã à perseguição institucional é ignorar a combinação de arrogância e incapacidade que sempre o caracterizou. Sem qualidades intelectuais ou morais, confundiram acaso com destino e acreditaram-se predestinados. Numa conjuntura normal, Jair, Flávio, Eduardo e Michelle seriam políticos provincianos de terceira linha. A conjuntura os elevou; o fim da conjuntura os devolveu ao que sempre foram: um clã disfuncional, interesseiro e inepto, cuja vocação é criar confusão, não governar.

A direita institucional — o Centrão — jamais aceitou sua liderança. Quer apenas apropriar-se do seu capital eleitoral para lançar um candidato próprio, enquanto deixa a família retornar ao esquecimento. O clã, incapaz de reconhecer a natureza acidental de sua ascensão, insiste em preservar sua centralidade e, a cada tentativa, produz mais uma trapalhada: tentativas risíveis de golpe, apelos estrangeiros, fugas, bravatas digitais — sempre movimentos grandiosos seguidos por fracassos proporcionais.

É assim que se define o quadro eleitoral do próximo ano no campo da direita: o clã Bolsonaro tenta garantir lugar na chapa; o establishment quer excluí-lo. A família deseja anistia e indulto sem oferecer nada em troca além da velha arrogância. Se o processo seguir assim, a direita chegará dividida — ou carregará um Bolsonaro, que preferirá ser derrotado a ceder lugar a quem não pertença ao clã. Como observei no início, não será simples aos historiadores explicar como a ressurreição da direita brasileira foi sabotada pelos que imaginavam ser seus principais representantes.

GRANDE DIA!

22/11/2025.

Vinte-e-dois-de-novembro-de-dois-mil-e-vinte-e-cinco.

Nunca antes, em todos esses anos nesta indústria vital, a vinheta do Plantão da Globo foi tão bem-vinda.

E me é muito difícil até mesmo tentar colocar em palavras meus sentimentos e percepções, quando tanta gente muito mais capacitada do que eu já o fez. Sim, é “Síndrome do Impostor” que se chama. Então, vida que segue. Mas como não podia deixar de fazer este registro histórico, segue nas palavras de outros.

Lá do Threads, temos Fabiana Mendez, Filósofa da Imagem e Posicionamento Etratégico.

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Por que a prisão domiciliar de Bolsonaro virou prisão preventiva na PF?

Explicando como se eu estivesse desenhando, e rindo pq tem gente se achando o intelectual explicando o que não sabe.

1. Começo básico:
Bolsonaro estava em prisão domiciliar.
Tradução: castigo. “Fica quieto em casa e não apronta.”
Mas né… estamos falando dele.

2. A LEI diz:
O art. 312 do CPP 1 permite a prisão preventiva quando há risco de fuga, ameaça à ordem pública, risco à investigação, etc.

O art. 318 [particularmente creio que aqui se enquadraria melhor o art. 317 do CPP 2] diz que a “domiciliar” é tipo um presente: só funciona se o indivíduo não for… digamos… “irresponsável”.

Adivinha.

3. A tornozeleira:
Meu anjo tentou tirar a tornozeleira.
Sim.
O homem que governou o país não conseguiu governar a própria panturrilha.

Moraes viu isso e pensou:
“Se deixar, foge pra Miami com a tornozeleira na mão dizendo que foi ‘coincidência’.”

4. A mobilização do filho:
Flávio Bolsonaro convocou não uma vigília, mas um mini-7 de setembro com cosplay de quartel.

Parecia anúncio de Black Friday para golpista: “CORRE PRA PORTA DO MEU PAI!!!”

Aí complica. Isso gera risco à ordem pública.
Tá no CPP. Tá no planeta Terra. Tá em qualquer manual de “como não parecer suspeito”.

5. O problema jurídico:
Tentativa de fuga + mobilização golpista + descumprimento de medidas = Requisitos COMPLETINHOS para prisão preventiva (art. 312, caput e §1º) 3.

Bolsonaro, sinceramente…
Conseguiu fazer um speedrun 4 da própria desgraça jurídica.

6. O resumo bem infantil:
• Prisão domiciliar = castigo.
• Regras = não fugir, não chamar multidão, não causar caos.
• Ele: faz tudo isso ao mesmo tempo.

Resultado?
• Vai pro quarto escuro da PF.
Com direito a lanche, ar condicionado, mas sem torcida e sem live.

7. A parte mais irônica:
Se Bolsonaro tivesse ficado quieto…
QUIETO!
Talvez continuasse em casa, comendo pão com leite condensado em paz.
Mas não.

O homem é tão frouxo que nem o próprio castigo consegue cumprir sem pedir ajuda pros filhos, pros militares e pra Nossa Senhora do Zap.

8. O X da questão:
Não foi o STF que endureceu.
Foi o Bolsonaro que… amoleceu.
Ele derrete juridicamente igual gelatina ao sol.

9. Em suma:
A lei existe. Ele descumpriu.
A PF agradeceu.
E Moraes, de caneta em punho, escreveu:
“Se não sabe brincar, volta pra cadeia.”

10. Como diria Kant, se estivesse no Brasil em 2025:
“A liberdade termina quando você tenta arrancar a tornozeleira e convoca golpe com o Wi-Fi da mansão.”

E ainda teve vigília na porta da PF, é claro, teve show para os seus fãs com direito a choro do Flávio Bolsonaro. Mas a melhor parte foi um pastor, da Frenteevangelica que falou a verdade na frente dos bolsonaristas e foi agredido. Afinal, nunca foi por Deus, pátria ou família, sempre foi por causa desse ser inescrupuloso e mentiroso.

Entendeu??

E tem mais; os governadores bolsonaristas que estão como urubu em cima de carne morta, defendendo o indefensável para pegar o capital político dessa familicia. Eita ferro!

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BÊ-Á-BÁ

1 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

2 Art. Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.

3 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. / § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º).

4 SPEEDRUN: é a prática de jogar um videogame ou uma parte dele o mais rápido possível, com o objetivo de terminar o jogo no menor tempo possível (Wikipedia).

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DECRETUM EST

E, vamos combinar? O Xandão ainda teve mais consideração por ele do que o próprio coiso jamais teve por todo o povo brasileiro. Além destes dois trechos finais, a quem interessar possa, a íntegra da decisão está disponível aqui.

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EXPECTATIVA X REALIDADE

 

Teclando sem parar (ou: para que serve a tecla Scroll Lock)

“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.”

Esse é o meu grau de satisfação de hoje…

Mas vamos por partes; deixa eu explicar melhor essa bagaça!

Pra começo de conversa, modéstia às favas, permitam-me explicar uma coisa: eu digito bem bagaráy!

Como já é de ampla sabedoria de quem já me conhece, sou daquelas criaturas do século, ou melhor, do milênio passado. Quando microcomputadores ainda estavam nas fraldas e celulares, como hoje os conhecemos, nem em filmes de ficção científica existiam. Sou da época da máquina de escrever e do “cursinho de datilografia” – no qual me diplomei em 1981 e com 8,5 de nota final!

Desse modo, quando a era digital chegou, teclados nunca foram um problema para mim. Vejam só, existem várias tabelas e parâmetros no que diz respeito à velocidade de digitação, sempre vinculados à taxa de precisão – afinal, não adianta nada digitar rápido e errado, né? Tirando uma média, temos que um usuário considerado “normal” digita aproximadamente numa taxa de 40 PPM (Palavras Por Minuto); um avançado chega a 60 PPM; o profissional já bate na casa dos 80 PPM; e daí pra cima as classificações ficam meio malucas… Mas basta saber que os digitadores mais rápidos do mundo, variando de acordo com seu idioma, conseguem, em média, digitar até 170 PPM, sempre considerando a utilização de um teclado QWERTY (depois eu explico).

Bem, de acordo com alguns desses testes online (fiz mais de um, só pra ter certeza), este nada modesto escriba que vos tecla consegue atingir uma média de 83 PPM com 98% de taxa de acerto. Ou seja, estou longe de ser um “astro”, mas tá pra lá de bom.

Só que para isso eu também sempre precisei de um teclado à altura, ou seja, um teclado que aguentasse o tranco – e da perspectiva de meu 1,90m de tamanho, com um par de mãos que parecem mais dois cachos de banana nanica, isso não é fácil não!

Foi por isso que meu primeiro teclado, que comprei em 1993 via “reembolso postal”, era um gigantesco DISMAC padrão ABNT2 (um dos primeiros do Brasil com essa disposição de teclas). Numa época em que cá na terrinha grassavam os 386 e o sonho de dez em cada dez engenheiros eram os 486 com coprocessador matemático, eu me contentava com o computador que estivesse à mão – mas sempre com o meu teclado me acompanhando. O que, naqueles tempos em que o usual eram os “teclados americanos”, sem o “Ç” (cê-cedilha), me dava uma trabalheira danada, pois eu sempre tinha que reconfigurar os arquivos de inicialização do MS-DOS – o Senhor Autoxec.bat e a Madame Config.sys – para “aceitarem” meu teclado diferentão…

E – pasmem! – ele me serviu muito bem durante 25 anos. Sério. Somente no ano de 2018 é que ele morreu de morte matada e não de morte morrida, por uma idiotice minha. É que o conector original desse teclado era do tipo DIN (cerca de 1cm de diâmetro e cinco pinos), de modo que por muito tempo eu o utilizei com um adaptador para PS/2 (mais moderno, com cerca de 0,5cm de diâmetro e seis pinos), mas eis que as placas dos computadores ainda mais modernos passaram a ter como porta de entrada somente o padrão USB (que hoje todo mundo conhece bem).

E apesar de estar muito feliz com meu teclado durante todo esse tempo, quando, em meados de 2018, meu querido Alfa-5 partiu para a “grande nuvem”, eu tive que buscar uma maneira de me (re)adaptar. Para quem não lembra, a história completa está neste link, na qual consta inclusive a seguinte notinha da época:

“NOTA DE FALECIMENTO: depois de sete anos de excelentes serviços prestados, comunico a passagem do meu aguerrido computador. Há tempos já vinha dando sinais de esgotamento nervoso, com eventuais lapsos de memória e desmaios repentinos. Passou por uma recente cirurgia de transplante, após uma súbita parada de fonte. Parecia estar bem, mas hoje, por volta de 06h10min, teve um colapso fulminante e não reagiu mais aos tratamentos de ressuscitação artificial. Deixará saudades e um grande vazio em minha mesa e outro maior ainda em meu bolso.“

Isso porque seu substituto, o Alfa-6 (que apesar de todos seus esforços de processamento, não teve vida longa), somente tinha portas de entradas no padrão USB, de modo que aquele monte de penduricalhos de adaptadores (do antigo para o moderno e deste para o atual) estava me incomodando – e muito!

Assim, pela primeira vez em toda sua longeva vida, levei meu teclado para um “técnico”, o qual havia me garantido ser possível fazer a troca daquele ultrapassado conector DIN por um novíssimo USB. Nunca antes tive que fazer nenhuma manutenção nele – exceto por uma única vez, quando pedi para minha querida amiga Ligia fazer uma profunda higienização no coitado e ela teve o zelo e cuidado de desmontá-lo inteirinho, limpar tecla por tecla, e tirar uma quantidade de imundície que resultou numa bola de sujeira do tamanho de uma bola de golfe!

Infelizmente o tal do técnico não teve o mesmo zelo e cuidado que ela…

Primeiro ele me disse que o teclado havia para de funcionar e estava tentando descobrir o porquê. Depois fechou a loja. Então se mudou pra roça. E a partir daí não tive mais notícias do falecido. O teclado, não o técnico.

Paciência. Vida que segue.

No início de 2019 rendi-me à modernidade e parti para o mundo dos notebooks. Um potente e modernoso Dell que veio a ser batizado de ALPHA7. E, como se pode imaginar, com aquele teclado do tamanho infantil, impossível para mim de utilizá-lo com desenvoltura, portanto fui experimentando o que tinha à mão: teclados com fio, teclados sem fio, de marca, sem marca, nada muito satisfatório (ou durável), mas que dava pro gasto. Ao menos por algum tempo.

Somente por sugestão do filhote mais velho é que lá pelos fins de 2023 resolvi testar um teclado mecânico gamer, teoricamente mais robusto do que tudo que eu vinha destruindo utilizando até então. Dei uma boa fuçada e numa razoável relação custo/benefício escolhi um da marca Aurum.

E não é que deu certo? Bastava desativar aquele árvore de natal de cores piscantes e pronto. Estava ali um teclado aparentemente resistente o suficiente para aguentar minhas extremamente longas marteladas diárias.

Já em meados de 2024, depois de cinco anos sofrendo na minha mão, o notebook começou a dar sinais de senilidade. Antes que fosse tarde demais, botei para correr os escorpiões de meus bolsos e comprei um novo notebook. Novamente da Dell. Gostei da marca, fazer o quê?

É meu equipamento atual, cuja designação Borg é ALPHA8, e tem superado minhas expectativas.

Porém, muito mais cedo do que eu esperava, esse “novo” teclado começou a dar um probleminha. Talvez uma coisa idiotamente irrelevante para qualquer outra pessoa, mas não para mim, que trabalho digitando e transcrevendo textos praticamente todos os dias, por horas a fio. De quando em quando, ao apertar a barra de espaços, em vez de dar um espaço, ele dava dois. Todo o resto funcionando perfeitamente, menos isso.

Até entendo do porquê dessa específica tecla apresentar defeito. Ela simplesmente é A MAIS UTILIZADA do teclado em qualquer texto, pois todas as 26 letras do alfabeto (mais acentos, números e outros símbolos) se alternam entre si para formação das palavras, mas entre elas SEMPRE vai ter um espaço. Ou seja, uma hora dessas tinha que dar xabu. E, no caso, se apresentou na forma desse soluço espacístico. Que nem seria tão relevante assim.

Mas, gente, eu sou perfeccionista. Ou, ao menos, tento ser.

Tá, somente talvez eu tenha um bocadinho de TOC também…

Mas já estava ficando insuportável ter que revisar tudo que eu digitava à caça dos espaços duplos!

Novamente conversei com o filhote mais velho – Técnico em Informática, Engenheiro da Computação, com formação em Marketing e prestes a se formar em Gastronomia (o_O) – e perguntei-lhe se não seria possível simplesmente fazer uma troca de switches, ou seja, da tecla da Barra de Espaço por uma outra que estivesse funcionando mas que não fosse utilizada, como, por exemplo, a tecla Scrol Lock.

(Cá entre nós: alguém NO MUNDO usa essa merda dessa tecla? Eu não uso. NUNCA usei. Aliás, nem sei pra que serve e o porquê de ainda continuar nos teclados atuais. E afinal de contas, para que serve a tecla Scroll Lock? Segundo o Sr. Google, ela remonta aos primórdios da computação, criada pela IBM com o objetivo de modificar o comportamento das teclas das setas direcionais. Num mundo de telas pequenas e ambientes baseados somente em texto, quando ativada, fazia com que as teclas de setas rolassem o texto sem precisar tirar o cursor do lugar. E nos dias de hoje? Como fazer essa “tão importante” tarefa? Basta usar a porra do botão de rolagem do mouse! Caráy! A tecla Scroll Lock é um anacronismo, uma relíquia desnecessária de um passado que ainda continua incorporada nos teclados e inútil para 99,9% de todas as pessoas DO MUNDO! E só não digo que é para 100%, porque vai que tem algum idiota preso no passado e que gosta de ficar usando funções e equipamentos de outra era…)

Enfim, o filhote disse que isso não era possível, pois o switch da barra de espaço era diferente dos das demais teclas e não seria intercambiável.

Dito isso, joguei a toalha e pedi para que ele escolhesse um teclado bão pra mim. Decidiu por um da Logitech. Déis vêiz sem juro no cartão e tá tudo certim. Inclusive já chegou, está aqui instalado e funcionando muito bem, obrigado.

Mas, ainda assim, permaneceu um gigantesco sifonáptero mordiscando na parte posterior de meu pavilhão auricular.

Pior do que estava não poderia ficar (na verdade, poderia sim, mas deixa pra lá), então resolvi desmontar o teclado defeituoso e verificar se ainda seria possível fazer alguma coisa com ele que não fosse usar de raquete para frescobol.

Pela segunda foto já deu para perceber que não existem diferenças entre as switches, né?

A única parte “complicada” é que a fixação de cada switch se dá através de duas perninhas soldadas na placa de circuito impresso. Ainda bem que meu pai me deu uma pistola de ferro de solda (a mais velhinha e detonada dentre as várias que ele tinha, mas zuzo bem), e mesmo com muito cagaço e pouca habilidade, consegui trocar as peças de lugar.

Depois de montado, conectei-o no note para testar.

Quinze minutos ininterruptos e cerca de 1.200 palavras depois, fui revisar o texto.

Sabem quantos espaços duplos?

NENHUM!

Baita orgulho de mim mesmo…

E já que estou MUITO satisfeito com meu novo teclado novo, sorte do filhote caçula, que ganhou um novo teclado velho em perfeito funcionamento!

*   *   *

Emenda à Inicial: Sobre o “Teclado QWERTY”. Imagino que para quem se depara com um teclado de computador pela primeira vez deve parecer um negócio bem esquisito. Por que todas as letras do alfabeto ficam assim “bagunçadas”? Não seria mais fácil – e mais lógico – simplesmente dispor essas letras em ordem, de modo a serem encontradas mais facilmente, sem precisar ficar decorando posições? Pois é. Mas isso é uma herança da época das máquinas de escrever. Para quem nunca se deparou com uma dessas “máquinas de digitação” (como contei aqui, quando meu filhote caçula tinha lá seus dez anos…), trata-se de um equipamento cujas teclas estão ligadas mecanicamente a hastes em cujas pontas estão os “tipos” (caracteres, como num carimbo); ao se pressionar a tecla a haste é movida para diante fazendo com que o tipo pressione uma fita com tinta e deixe sua marca no papel. Esse é o princípio básico da máquina de escrever. E, segundo diz a lenda, funcionaria muito bem se o datilógrafo teclasse DE-VA-GAR – o que, obviamente, não era o caso quando de sua criação, no longínquo século XIX, de modo que quanto maior a habilidade, mais as hastes simplesmente se encavalavam umas sobre as outras. Qual seria a solução? Rearranjar as teclas num padrão em que as hastes das letras mais utilizadas (na língua inglesa) ficassem distantes uma das outras, diminuindo a velocidade do operador e evitando o engarrafamento literário. Ou seja, o que se conta é que foi um padrão de disposição de letras criado para resolver um problema mecânico das máquinas de escrever. O que, de qualquer forma, não faz nenhum sentido para este nosso mundo digital!

Solução definitiva: legenda SRT aparece no computador e não na TV

Só para não deslembrar que há muito – muito – tempo atrás, este blog também costumava tratar de tecnologices, instalações complicadas e/ou impossíveis e assuntos afins. O que, na realidade, começou como lembretes de mim para mim mesmo, mas que tomou outra dimensão e utilidade…

Enfim, em casa não tenho sinal de TV aberta, não tenho TV a cabo e não assino nenhum serviço de streaming. Então me viro mesmo é com os torrents da vida, através dos quais baixo minhas séries recém lançadas lá fora, filmes ainda em cartaz e por aí vai. Sempre com o áudio original, na maciça maioria das vezes, em inglês. Mas, considerando meu inglês macarrônico, que é o suficiente para ultrapassar a fase “The book is on the table”, mas passa longe de qualquer ode shakespeariana, não abro mão de minhas legendas – as quais, às vezes, vem com problemas de sincronização, tradução ou simplesmente desaparecem (ainda que estejam lá).

Muito bem.

Peguei esta dica em um vídeo do Youtube (que já não lembro mais de quem era) e resolvi deixar guardada por aqui caso venha algum dia eu venha a precisar de novo – a memória já não é lá mais essas coisas… O “problema” é que no computador a legenda funciona, mas ainda assim não consegue ser reproduzida no filme na TV – mesmo apesar de os nomes dos arquivos estarem idênticos e corretas as extensões de cada um dos arquivos. O problema está no arquivo SRT, o da legenda. Todo arquivo SRT nada mais é que um arquivo de texto editável e para cada tela com legenda ele contém três linhas de informações:

1) número de ordem;
2) momento inicial e momento final; e
3) a legenda propriamente dita.

Esses “momentos” iniciais e finais correspondem à hora, minuto, segundo e milissegundo em que a legenda deve aparecer (inicial) e, logo em seguida, sumir (final). Exemplo (do filme Batman vs Superman):

1
00:00:17,684 – -> 00:00:20,353
Houve uma época…

2
00:00:20,520 – -> 00:00:22,939
uma época anterior…

3
00:00:23,106 – -> 00:00:25,859
em que as coisas eram perfeitas.

Os arquivos SRT são facilmente editáveis com qualquer editor de texto “puro” (Bloco de Notas, Wordpad, EditPad, etc), mas particularmente eu prefiro o programa Subtitle Edit (software livre, em português, disponível para Windows).

Ok, feitas essas considerações, onde está o problema da legenda que não aparece?

Pode ter duas causas (que eu saiba, pois aconteceram comigo em dois filmes distintos):

A primeira é que em algum momento, em alguma linha, foi colocado um TEMPO DE INÍCIO POSTERIOR, de modo que a leitura da legenda somente vai começar a partir desse tempo. No nosso exemplo aí de cima, seria como se a legenda nº 1 tivesse tempo de início em “00:21:00,000”, ou seja, a leitura começaria no bloco 1 e já pularia para o bloco 3 ignorando o bloco 2, cujo tempo, “ficou pra trás”. Se, numa legenda longa, essa informação equivocada estiver mais para o fim, então todas as legendas anteriores serão ignoradas.

A segunda causa é alguma legenda com TEMPO NEGATIVO, o que contamina todas anteriores. Mais uma vez em nosso exemplo, seria como se na legenda nº 3 o tempo de início fosse “00:00:23,106” e o de fim “00:00:03,106”, o que resulta em “- 00:00:20,000” e significa que vai dar um chabu geral na leitura da legenda…

De qualquer forma a solução é editar o arquivo SRT e procurar onde está o erro. Feita a devida correção e com os blocos e tempos linearmente corretos, provavelmente tudo deve funcionar a contento!

Pela atenção, obrigado.

O tempo dos escritórios: da banca individual às grandes firmas

Egon Bockmann Moreira
Professor Titular da Faculdade de Direito da UFPR.
Advogado.

Evolução da advocacia revela o desafio de conciliar modelos empresariais com a preservação da identidade e vínculo humano

Quando comecei a advogar, no século passado, vários escritórios de advocacia eram a extensão da casa de seus sócios. Poucas salas, armários escuros com uma mistura de livros novos e antigos, organizados segundo a memória do dono, máquinas de escrever e cinzeiros. O telefone soava poucas vezes ao dia. O advogado entrava na sala, se apresentava pelo nome e exercia sua profissão individualmente. As causas eram menos numerosas, mas bem pessoais: o cliente sentava-se, explicava o problema, e a relação se construía a partir da voz e do olhar. Os juízes sabiam quem éramos e com quem trabalhávamos. Todos – ou quase todos – se reconheciam no Fórum (ou nas livrarias). Era um ofício artesanal, intuitu personae, sustentado por reputação e palavra. Poucos eram os escritórios mais longevos do que seus fundadores.

Com o passar do tempo, e num ritmo impreciso, a paisagem se transformou. A multiplicação das normas, a especialização dos temas e a ampliação dos mercados tornaram insuficiente o modelo individual. A advocacia local, que cabia em uma sala, passou a exigir estrutura, coordenação e resposta imediata. Vieram as bancas de médio porte, depois as firmas quase-empresariais e, por fim, dezenas de organizações com centenas de advogados que se espalharam pelo mundo. Isso tudo aconteceu como muitas coisas acontecem na vida: rápido e devagar. “Como foi que você faliu?, Bill perguntou. De duas maneiras, respondeu Mike, primeiro lentamente e, depois, de um só golpe.” Essas linhas do O sol também se levanta, obra-prima de Hemingway, descrevem como se deu o crescimento e a multiplicação dos grandes escritórios de advocacia brasileiros: lentamente e de um só golpe. Então, as portas de madeira deram lugar às fachadas de vidro, às logomarcas de design estudado, à dispensa das gravatas, ao trabalho em poltronas de aviões e ao home-office. O sobrenome do fundador cedeu espaço à marca coletiva – uma sucessão de vogais e consoantes – e, com ela, à racionalidade da gestão de pessoas e processos.

Não me parece que essa transição tenha sido fruto de vaidade ou de modismo, mas tem causas econômicas e institucionais razoavelmente bem definidas. As empresas se tornaram complexas, as regulações se multiplicaram, os litígios aumentaram em valor e repercussão. Os tribunais cresceram e se multiplicaram. O cliente corporativo passou a exigir disponibilidade contínua, atendimento integrado, especialização técnica e padronização de condutas. As formas de comunicação instantânea – a crueldade do WhatsApp, que não respeita horários – a fazer com que tudo tenha de ser lido e respondido de modo breve, fugaz, em torrentes de pequenos monólogos. Não se olha no olho, mas na tela do celular. A advocacia entendeu o que se passava e reagiu criando estruturas compatíveis com essa demanda. O escritório deixou de ser apenas um espaço de trabalho para se converter em organização empresarial, com governança, controladoria, categorias de profissionais, metas e métricas de produtividade.

A racionalidade das grandes firmas de advocacia parece ser a da eficiência: coordenação de saberes, divisão de tarefas, gestão de riscos, receitas projetadas e remuneração com base em performance e captação. Nada disso é negativo em si. Permitiu que advogados e advogadas se tornassem interlocutores das maiores decisões empresariais e governamentais do país. Mas toda essa racionalidade de grandes negócios carrega um preço: as métricas e o controle substituíram a autonomia; a marca coletiva apagou a identidade pessoal; a estabilidade foi transformada em sucessão interminável de advogados e advogadas. A pessoa, que antes respondia apenas por suas convicções mais íntimas perante o seu cliente, passou a representar um conjunto institucional de políticas e procedimentos. O gesto de escrever uma petição, fazer uma audiência ou orientar um cliente tornou-se, muitas vezes, parte de um processo industrial despersonalizado de produção jurídica.

Há ganhos evidentes: clientes de envergadura, receitas colossais, qualidade constante, previsibilidade, integração multidisciplinar. Mas, também, pode haver perdas que não podem ser ignoradas. A primeira delas talvez seja a distância humana e a secura das vivências. Aquele vínculo personalíssimo, que nascia da escuta ativa e do conselho ponderado, foi substituído por fluxos de comunicação eletrônica impessoais, planilhas e reuniões com minuto para acabar. A segunda é a dispersão da responsabilidade intelectual: poucos sabem, de fato, quem concebeu a solução, elaborou a estratégia ou redigiu o documento. O trabalho coletivo é essencial, mas pode dissolver a autoria e, com ela, a consciência – e o orgulho – do ofício. Pode vir a neutralizar sentimentos que me parecem tão caros à advocacia.

Advogadas e advogados sempre viveram da confiança e da ética. Quando o cliente deixava um caso sobre a mesa, acreditava só naquela pessoa a quem entregava o seu destino. O tempo das grandes firmas inverteu, em parte, essa lógica: hoje se confia na estrutura, na capacidade de gerenciamento, na equipe e na reputação institucional de uma sigla. É natural que seja assim (seria ilusório desejar o retorno a um imaginado passado que não voltará jamais). O que importa é não perder de vista o sentido da profissão: oferecer orientação técnica e ética em nome do direito, e não apenas prestar um serviço eficiente pautado pelo volume de horas “biladas” (esse horrível anglicismo que hoje nos persegue).

A advocacia brasileira pode estar a atravessar, portanto, um paradoxo. Precisa das grandes firmas, que garantem escala, sofisticação e presença internacional. Mas, igualmente, necessita preservar o espírito das bancas pequenas, em que o advogado respondia pessoalmente por cada linha escrita e orgulhava-se de seus arroubos criativos, sendo identificado e identificando-se com o seu próprio trabalho. O desafio talvez esteja em conciliar essas dimensões: construir organizações que não percam a delicadeza do gesto individual, que saibam ser grandes sem se tornarem anônimas. Em que as pessoas valham mais dos que as métricas de performance. Depois de tantos anos, quem sabe o melhor escritório persista sendo aquele em que ainda se pode reconhecer pelo nome o advogado que entra na sala.

Nas asas da Graúna

Para quem ainda não conhece (assim como eu também não conhecia), esta é a galera que está à frente da Rede Graúna de Cultura, Diversidade e Solidariedade, atualmente capitaneada pela Sara e pela Stella. Sinceramente não sei bem como descrever essa entidade além daquilo que seu próprio nome já deixa bem evidente – mas, para simplificar, ela mesma se apresenta como uma “rede multiplicadora de afeto”.

Fundada em 13/10/2021, já foi anteriormente dirigida pela Vivian Pelodan e pelo Matheus Korting (foi o que acho que descobri, mas se eu estiver errado, me corrijam!), e o espaço que hoje ocupa foi inaugurado em 10/12/2021, onde, desde então, vem desenvolvendo suas atividades culturais, artísticas, sociais e outros quetais – às vezes aos trancos e barrancos, outras tantas, graças ao abnegado time do voluntariado, avançando a largos passos. Mas, vejam só: já passou de dois anos de existência, então provavelmente seu futuro deve, a cada vez mais, se estabilizar!

Mais do mesmo vocês podem encontrar no espaço virtual, em suas páginas do Facebook (aqui e aquimas algum dia alguém me explica do porquê de existirem duas…) e em sua conta no Instagram.

E em seu espaço físico, uma ampla dependência cedida pelo Carlos Alberto Leal (o CAL, ou CAU, ou CAO – eu nunca consigo me lembrar!), há um bom tempo já existia a Sala de Leitura Paulo Bicarato. Mas, pelo visto, a quantidade de livros foi crescendo, se avolumando, e, ao mesmo tempo, foram sendo organizados, chegando a um ponto que não fazia mais sentido ser tratada apenas como “sala de leitura”, pois já se tornara muito mais que isso. Era uma biblioteca. E, além: uma Biblioteca Comunitária!

Então, nada mais justo que essa árvore de livros, nascida daquelas sementes de leitura, permanecesse com o mesmo nome de seu patrono. Mas é preciso formalizar, é preciso inaugurar, é preciso ter festa, é preciso ter proseio, recordação e emoção!

E assim foi feito.

Bica, Bicarato, Paulo, Pô, Biquinha – e talvez até outras tantas alcunhas que eu ignoro -, esta é a mais justa homenagem para quem te conheceu. Você sabe. Você estava lá, conosco, comemorando e bebemorando. Um espaço que é a sua cara e, provavelmente, seria praticamente sua moradia se ainda estivesse por aqui. Nos reunimos e proseamos e rimos e rememoramos algumas de suas desventuras. De quando você foi “vendido” de uma redação de um jornal para outra pelo preço de duas cervejas; de uma de suas primeiras matérias – e ainda nem era contratado – que rendeu a primeira página do jornal (bem como uma rápida passagem pelo cárcere); de como você tão bem sabia escrever “com a letra dos outros” a partir do roteiro básico que lhe fosse dado (impossível não comparar, nos dias de hoje, com o prompt a ser passado para alguma inteligência artificial generativa executar suas tarefas); de suas sugestões, simples e desinteressadas, que acabavam rendendo a execução de projetos sociais e culturais que preenchiam a cidade; e de outros tantos causos que não vem ao caso elencar, pois aqui é um blog de família e não interessa a ninguém xeretar sobre essas histórias. Mas, se quiserem realmente saber, me perguntem no particular…

E confesso que foi com uma pontinha de orgulho (mas não muito, que é pra não estragar) que fiquei sabendo que algumas de minhas palavras, copiadas lá do prefácio  do seu livro O Alfarrábio – Elucubrações Diárias de um Roseano (2001 a 20204), acabaram integrando sua “minibiografia”:

Mas, afinal de contas, quem foi Paulo Bicarato? Ele foi um jornalista, fã incondicional da obra de Guimarães Rosa, riponga, palmeirense, ativista, canhoto, blogueiro das antigas, viajandão, mochileiro, temulento, amante da língua portuguesa, agitador de movimentos sociais, dono de um texto impecável, apaixonado pelo Brasil, de uma inteligência fora de série, um cara sincero, poeta de guardanapo de boteco, humilde, teimoso, com um coração de ouro, o senhor das crases, extremamente confiável, excelente copoanheiro, desapegado, de fina verve humorística e o melhor escritor que já conheci. Foi tudo isso e muito mais. Porém, sobretudo – ao menos para mim – o mais importante: Paulo Bicarato foi meu amigo.

Pô, Bica (e sua família, que estava presente, vai facilmente enxergar a redundância dessa expressão), foi uma noite muito Legal. E mesmo sabendo que você estava conosco, faltou você!

E eu não podia deixar de transcrever aqui a Balada para um Louco. Não vou nem explicar, pois só quem estava lá para entender…

Num dia desses ou, numa noite dessas
você sai pela sua rua ou, pela sua cidade ou,
ou, sei lá, pela sua vida, quando de repente,
por detrás de uma árvore, apareco eu!!!

Mescla rara de penúltimo mendigo
e primeiro astronauta a por os pés em vênus.
Meia melancia na cabeça, uma grossa meia sola em cada pé,
as flores da camisa desenhadas na própria pele
e uma bandeirinha de táxi livre em cada mão.

Ah! Ah! Ah! Você ri… Você ri porque só agora você me viu.
Mas eu flerto com os manequins,
o semáforo da esquina me abre três luzes celestes.
E as rosas da florista estao apaixonadas por mim, juro,
vem, vem, vamos passear.
E assim meio dançando, quase voando eu
te ofereço uma bandeirinha e te digo:

Já sei que já não sou, passei, passou.
A lua nos espera nessa rua é só tentar.
E um coro de astronautas, de anjos e crianças
bailando ao meu redor, te chama:
bem voar.

Já sei que já não sou, passei, passou.
Eu venho das calcadas que o tempo não guardou.
E vendo-te tão triste, te pergunto: O que te falta?
…talvez chegar ao sol, pois eu te levarei.

Ah! Ah! Ah! Ah!

Louco, louco, louco! Foi o que me disseram
quando disse que te amei.
Mas naveguei as águas puras dos teus olhos
e com versos tão antigos, eu quebrei teu coração.

Ah! Ah! Ah! Ah!

Louco, louco, louco, louco, louco!
Como um acrobata demente saltarei
dentro do abismo do teu beijo até sentir
que enlouqueci teu coração, e de tão livre, chorarei.

Vem voar comigo querida minha,
entra na minha ilusão super-esporte,
vamos correr pelos telhados com uma andorinha no motor.
Ah! Ah! Ah!
Do Vietnã nos aplaudem:
Viva! viva os loucos que inventaram o amor!
E um anjo, o soldado e uma criança repetem a ciranda
que eu já esqueci…
Vem, eu te ofereço a multidão, rostos brilhando, sorrisos brincando.
Que sou eu? Sei lá, um…
um tonto, um santo, ou um canto a meia voz.

Já sei que já não sou, nem sei quem sou.
Abraça essa ternura de louco que há em mim.
Derrete com teu beijo a pena de viver.
Angústias, nunca mais!!! Voar, enfim, voaaaarrr!!!

Ama-me como eu sou, passei, passou.
Sepulta os teus amores, vamos fugir, buscar,
numa corrida louca o instante que passou,
em busca do que foi, voar, enfim, voaaaarrr!!!

Ah! Ah! Ah! Ah!…

Viva! Viva os loucos!!! Viva!
Viva os loucos que inventaram o amor!
Viva! Viva! Viva!