Um canoro proseio

Num fim de noite qualquer, já num clima de começo de inverno (porque todo friozinho de inverno é bom para qualquer casal ficar abraçadinho e aconchegado) e depois de algumas taças de vinho, enquanto que com a palma de uma mão se apoiava na sacada do apartamento e com os dedos da outra tamborilava alguma música que só se desenrolava dentro de sua cabeça, ele olhava fixamente para um distante ponto invisível no horizonte, eis que ela resolveu começar a conversa que, há tempos, vinham adiando.

Pego de surpresa com aquela súbita quebra do silêncio que protegia seus pensamentos, ele buscou os olhos dela com um nítido ar de quem não entendeu, não ouviu, ou, mais provavelmente, ambas as coisas.

– Deixa eu repetir: o que eu perguntei é “e então, como é que a gente fica?”
– …

– Que foi? Por que esse sorrisinho bobo, seu bestão? Quero saber da gente: como ficamos?
– A dois passos do Paraíso! (Blitz)

– Oi? Como assim? Do que é que você está falando?…
– Assim será… (Los Hermanos)

– Assim será o que, seu doido? Não tô te entendendo! E por que é que você tá falando assim, cantado?
– Adivinha o quê? (Lulu Santos)

– Péraê… Essa eu conheço… Não, péra, as outras também! Isso tudo é nome de música, sei lá, da década de oitenta?
– Isso! (Titãs)

– Ah, tá. E justo agora você vai conversar comigo desse jeito?
– Bem vindo ao mundo adulto! (Biquini Cavadão)

– Tá bom! Mundo adulto só se for na sua cabeça! Sério mesmo que você vai fazer isso?
– Eu me sinto bem… (Titãs)

– Cara, como você é estranho…
– Muito Estranho! (Dalton)

– Mas eu não desisto assim tão fácil. Ainda quero minha resposta.
– Ainda é cedo. (Legião Urbana)

– Ah, não! Não me venha com essa! Assim você só me deixa pê da vida, sabia? Sai pra lá que vou pegar outro vinho!
– Volta pra mim… (Roupa Nova)

– Uéééé… Primeiro não queria nada, agora me quer aí pertinho, é?
– Insensível! (Titãs)

– Humpf! Acho que é isso mesmo, meu bem. Vou te deixar é de castigo por um tempo pra ver se você aprende…
– Tenha dó… (Los Hermanos)

– Tô brincando, bestão! Vem cá, me abraça!
– Chega mais! (Rita Lee)

– Eu ainda vou acabar te batendo por toda essa cantarolação…
– Impossível! (Biquini Cavadão)

– Ah é? Posso saber por quê?
– Tempo perdido. (Legião Urbana)

– É, disso eu sei. Você não aprende, mesmo.
– Não dá… (Roupa Nova)

– Amor, agora sério: o que é que foi? A gente estava tão bem… Pra você estar desse jeito, mais esquisito que o normal, alguma coisa mudou muito aí dentro dessa cabecinha.
– Nada tanto assim. (Kid Abelha)

– Sou eu, né?
– Tente outra vez. (Raul Seixas)

– Não, não preciso. Já sei que sou eu.
– Exagerado… (Cazuza)

– Eu? Exagerada? Exagerado é o teu focinho, tá bom?
– Essas emoções / À flor da pele… (Zeca Baleiro²)

– É você que me deixa assim!
– Desculpe o auê! (Rita Lee)

– Tá, tá… Deixa pra lá… Môr? Posso te perguntar uma coisa?
– Tá bom. (Los Hermanos)

– Você me acha bonita?
– Bicho de sete cabeças. (Zeca Baleiro)

– Seu chato! Escroto! Bestão!
– Terceiro… (Ultraje a Rigor)

– …
– …

– Sério que você me acha um bicho de sete cabeças?…
– Linda demais! (Roupa Nova)

– Sei lá, eu nem sou tão bonita assim…
– Perfeita simetria. (Engenheiros do Hawaii)

– Mesmo? Você não me acha feia?
– Nem pensar! (Kleiton & Kledir)

– Depois dessa, bem que você até mereceria um presente…
– Só se for a dois! (Cazuza)

– Então vem, vem comigo, agora!
– Como eu quero! (Kid Abelha)

– Então! Vem, me diz, me diz o que é que eu sou pra você?
– Deusa da minha cama! (Camisa de Vênus)

– Hmmm, gostei! Então vem! Então vamos!
– Me beija! (Lobão)

– Com certeza! Hmmm… Que bom… Oi? Que foi? Por que parou?
– Pra ser sincero… (Engenheiros do Hawaii)

– O quê? O que é que foi?
– Injuriado. (Eduardo Dusek)

– Como assim, “injuriado”? O que foi que eu te fiz?
– Você não soube me amar! (Blitz)

– Ah, cê tá me zoando! Desde o primeiro momento em que nos vimos, eu sempre te amei!
– Será?… (Legião Urbana)

– Ah, então agora a culpa é minha também? É isso?
– Eu quero sempre mais! (Ira!)

– Mais? E o que mais você quer?
– Um certo alguém… (Lulu Santos)

– Oi? Não! Cumassim? Fala comigo. Fala direito, por favor!
– Preciso me encontrar… (Marisa Monte)

– Se encontrar? Você… Você quer ficar com outra mulher? É isso? Ou… Ou outro homem?
– Eu gosto de mulher! (Ultraje a Rigor)

– Tá, tá, tudo bem, eu só tô tentanto te entender. Entender este nosso relacionamento que não vai, nem fica, não anda, nem desanda.
– Tédio. (Biquini Cavadão)

– Tédio??? Meu, eu aguento toda sua esquisitice, sempre estamos buscando algo novo e você vem me falar de tédio?
– O tempo não pára… (Cazuza)

– Então é isso, né? Cansou. Cansou de mim…
– Meu erro. (Os Paralamas do Sucesso)

– Você já não é mais um mocinho, sabia? Quer mesmo sair assim? Tentar começar tudo de novo com um outro alguém?
– Envelheço na cidade… (Ira!)

– Pois é. Então tá. Não vou mais insistir. E quer saber o que mais lhe desejo?
– As dores do mundo? (Jota Quest)

– Não, besta. Só você pra ainda me fazer rir numa hora dessas… Quero que você fique bem. Ainda te amo, mas não vou te prender. Melhor ainda, não vou me prender.
– Dias de luta… (Ira!)

– Mas você não vai me esquecer, vai? Você ainda vai lembrar de mim?…
– Aonde quer que eu vá! (Os Paralamas do Sucesso)

– Então tá. Olha, tá quase amanhecendo o dia. Se é assim que ficamos, acho que agora o melhor que você tem a fazer é ir embora, tá bom?
– Alvorada voraz! (RPM)

– Adeus, amor. Até algum dia. Ou nunca. O que for melhor. Ou menos pior…
– Adeus você… (Los Hermanos)

E lá se foi ele. Após aquele tumultuado namoro que não foi namoro, e que durou apenas onze dias, ainda que com um pouco de azedume, mas com sinceras lágrimas sofridas, desceu do sétimo andar e, com o pouco que sobrou de sua sobriedade, encarou a rua com aquele ar gelado, típico das madrugadas de inverno. Os pássaros começavam a cantar para uma Primavera que não estava lá enquanto que o vento quase que levou seu cachecol. Meteu as mãos nos bolsos e resolveu caminhar até sua casa. Tá bom, ele sabia que era um cara estranho. Mas ao menos agora também sabia que aquela morena tinha sido seu último romance. Isso porque enquanto ele estava com o olhar perdido naquele horizonte distante, buscando enxergar algo além do que se vê, teve uma longa conversa de botas batidas consigo mesmo, assim, do lado de dentro, e curiosamente teve a descoberta de quem verdadeiramente era o outro alguém com que deveria formar um par e deixar de se sentir sempre tão sozinho.

E do fundo de seu coração, bem lá de onde vem a calma, seguiu seu caminho assobiando a mesma música que estava em sua cabeça enquanto tamborilava os dedos na sacada. Uma antiga música de uma antiga banda chamada Ultraje a Rigor e que acabou desencadeando toda a série de eventos daquela noite.

O nome da música?

Eu me amo.

Ouvindo o que mesmo?

O negócio é que tá difícil…

Não, não a vida como ela é. Essa sempre foi impossível.

Mas escrever que é bom, nada. Faz tempo – MUITO TEMPO – que eu não escrevo nada por aqui que me faça ter orgulho… “Bloqueio”? “Branco”? “Bestagem”? Ou qualquer outra motivo que seja, com ou sem a letra B, o negócio é que tá difícil.

Tô trabalhando pra caramba, ganhando lá meus caraminguá, tomando minhas cajibrinas, tendo meus proseios por tudo quanto é canto por aí. Às vezes até vem alguma ideia legal, uma dica interessante, um causinho inédito – mas, não demora muito, desanimo.

Sei lá. Falta inspiração. Falta paixão. Falta tezão.

Então, como ultimamente tenho dividido minhas atividades profissionais com a de “Uber Familiar” (ou seja, passo boa parte do dia levando um filhote prum lado, outro pro outro, pai no médico, mãe na médica, Dona Patroa pra onde ela manda, e por aí afora), essas horas – sim, horas – que passo dentro do carro me servem para curtir minhas músicas. E eu costumava ouvir minhas músicas e viajar nos meus devaneios – que acabavam se transformando num ou noutro textinho – às vezes bão, às vezes nem tanto…

Enfim, sendo assim, resolvi dar uma editada na minha playlist de sempre que me acompanha no pendrive do Bilbo (também conhecido como o Sempre-Valente-Ford-Ka) e coloquei uma batelada de músicas totalmente inéditas para muitos de vocês jovenzinhos, mas que fizeram sucesso nas últimas décadas. E todas, todas, do meu gosto. Que não é lá nada muito refinado, mas é meu.

Mas ainda assim ainda continuo aberto a sugestões, ok?

E vamos ver se dando essa repaginada também dou uma refrescada nas ideias…

Aí embaixo está a lista com todas essas músicas escolhidas a dedo. Caso queiram baixar uma ou mais músicas dessa trilha sonora, tá tudo lá no meu Dropbox. Basta acessar o seguinte link:
https://mega.nz/#F!Eow2gQoK!3wasTaSkDQokrea1wSmyvA .

Divirtam-se! 😉

A Light in the black – Rainbow
A View to a Kill – Duran Duran
Aces High – Iron Maiden
All the War – Rival Sons
All you need is love – Beatles
Another Brick in the Wall – Pink Floyd
Aquarius – Hair
Around the World – Red Hot Chili Pepper
Assassin – Muse
Back on the streets – Saxon
Bad To The Bone – George Thorogood
Balls to the Wall – Judas Priest
Bark At The Moon – Ozzy Osbourne
Benzin – Rammstein
Black Betty – Spiderbait
Black Dog – Led Zeppelin
Black Ice – AC/DC
Blaze Of Glory – Bon Jovi
Blowing in the Wind – Bob Dylan
Born In 58 – Bruce Dickinson
Born in the USA – Bruce Springsteen
Born To Be Wild – Steppenwolf
Boys Don’t Cry – The Cure
Breaking all the rules – Peter Frampton
Bringin on the heartbreak – Def Leppard
Close To Me – The Cure
Comfortably Numb – Pink Floyd
Coming home – Stratovarius
Cross of thorns – Black Sabbath
Cum’on feel the noize – Quiet Riot
Desire – U2
Dive! Dive! Dive! – Bruce Dickinson
Don’t stop believer – Journey
Dying for love – Black Sabbath
Eternity – Stratovarius
Favorite Game – The Cardigans
Fire in the sky – Ozzy Osbourne
Flannigan’s Ball – Dropkick Murphys
Forever – Edguy
Freak on a leash – Korn
Friday I’m In Love – The Cure
Gasoline – Kick Harold
Ghost of freedom – Iced Earth
God Save The Queen – Sex Pistols
Golden Daze – Lamont
Hair – Hair
Helter skelter – Motley Crue
Hilf mir – Rammstein
Hit The Road Jack – Ray Charles
I feel good – James Brown
I Love It Loud – Kiss
I love rock and roll – Joan Jett
I Want It All – Queen
If I could fly – Helloween
I’m a believer – The Monkees
I’m Shipping Up To Boston – Dropkick Murphys
Imagine – John Lennon
In The Flesh – Pink Floyd
Into the light – Masterplan
Iron Man – Black Sabbath
It’s My Life – Bon Jovi
Johnny B. Goode – Chuck Berry
Johnny, I Hardly Knew Ya – Dropkick Murphys
Jump – Van Halen
Keep on Swinging – Rival Sons
Knocking on heavens doors – Guns N’Roses
Let It Be – Beatles
Live and let die – Guns N’Roses
Love ain’t no stranger – Whitesnake
Mann gegen Mann – Rammstein
Me and my wine – Def Leppard
Metamorphosis – Metalium
Money For Nothing – Dire Straits
More than a feeling – Boston
My oh my – Slade
Nothing Else Matters – Metallica
On The Road Again – Canned Heat
One of my turns – Pink Floyd
Original sin – Inxs
Over the hills and far away – Nightwish
Owner Of A Lonely Heart – Yes
Paint it black – Rolling Stones
Panama – Van Halen
Pride (In The Name Of Love) – U2
Princess Of The Dawn – Judas Priest
Radio Ga Ga – Queen
Rainbow in the dark – Dio
Raise your hand – Bon Jovi
Rock You Like A Hurricane – Scorpions
Rose Tattoo – Dropkick Murphys
Rosenrot – Rammstein
Rude Awakenings – Dropkick Murphys
Run To The Hills – Iron Maiden
Satisfaction – Rolling Stones
Seven Nation Army – The White Stripes
Shake Your Foundations – AC/DC
She Likes to Hide – Pain of Salvation
Should I Stay Or Go – The Clash
Shout at the devil – Motley Crue
Show me how to live – Audioslave
Sleeping in the fire – Wasp
Slow & Easy – Whitesnake
Smells Like Teen Spirit – Nirvana
Smoke On The Water – Deep Purple
Solitary Ground – Epica
Something to believe in – Poison
Spinning Wheel Blues – Status Quo
Stairway To Heaven – Led Zeppelin
Stiff Upper Lip – AC/DC
Still Loving You – Scorpions
Sunday Bloody Sunday – U2
Sweet child o’mine – Guns N’Roses
Sweet Dreams – Eurythmics
Take hold of the flame – Queensryche
Tell me you don’t know – Pain of Salvation
The Furor – AC/DC
The Jack – AC/DC
The Love Cats – The Cure
The Passenger – Iggy Pop
The price – Twisted Sisters
Thunderstruck – AC/DC
Twist and shout – Beatles
Two Minutes To Midnight – Iron Maiden
Under Pressure – Queen
Walk On The Wild Side – Lou Reed
War Machine – AC/DC
We Are The Champions – Queen
We will rock you – Queen
Welcome to the jungle – Guns N’Roses
When loves come close – Masterplan
When the night comes down – Judas Priest
Who Wants To Live Forever – Queen
Why Can’t I be You – The Cure
Wild Boys – Duran Duran
Wind of change – Scorpions
Wishmaster – Nightwish
You Really Got Me – Kinks
Zombie – Cranberries

É o que foi

Defender Lula não é coisa de petista, nem de “esquerdista”. Defender Lula é atitude de gente sensata, gente que sabe que o que está em jogo não é corrupção, apartamento triplex, sítio, pedalinho, nada disso.

O que está em jogo é o sistema democrático brasileiro. O que está em jogo é a falência do sistema judiciário brasileiro que se tornou partidário e tão ou mais corrupto que o sistema político.

O que está em jogo é a imagem do Brasil perante o mundo porque nem mesmo os que acusam Lula estão convictos de que haja provas de corrupção do ex-presidente.

Vamos ser honestos, o processo é político e tem por objetivo tirar a maior liderança mundial da esquerda das eleições num país que vive um golpe de Estado, um golpe que tirou do poder uma mulher honesta, uma mulher nunca acusada, julgada e condenada por corrupção.

Sejamos honestos, o crime de Lula foi gerar ódio nessa elite que jamais aceitou que um torneiro mecânico, operário, nordestino e sem diploma tenha se tornado respeitado mundialmente, uma espécie de Nelson Mandela brasileiro, só que no combate à fome.

Sejamos honestos, os que defendem a sua prisão são os mais corruptos, comprovadamente corruptos, homens sem amor ao povo brasileiro, homens que por dinheiro venderiam até a alma, quem dirá vender a riqueza nacional como estão a vender.

Defender Lula é hoje um dever de qualquer patriota, qualquer democrata, independente de partidarismo.

Defender Lula é defender o Brasil e o que resta de dignidade nesse país. Lula não roubou, não recebeu dinheiro, não teve conta secreta descoberta na Suíça, nem dólares em paraísos fiscais.

Não caiu em áudio mandando matar, nem teve malas com milhões de reais com suas digitais. Lula elevou a condição de vida de milhões de brasileiros, provou que um homem de origem pobre e humilde pode ser Presidente e mais, pode ser o maior Presidente da história. Por isso a elite brasileira com seu complexo de inferioridade, com seu complexo de vira-latas jamais o perdoará.

O crime de Lula, na verdade, foi comandar um governo voltado para os mais pobres, um governo mais popular e independente, soberano e isso, amigos e amigas, jamais será aceito pela Casa Grande.

Defender Lula é defender a história, é defender a justiça, pois um homem respeitado no mundo todo não merece nos seus 72 anos de idade ser preso, condenado por um crime que não cometeu.

Lula merece o apoio de todo o povo a quem ele tanto dedicou sua vida.

Não é ser petista, é ser justo.

Luiz Gonzaga Beluzzo


Se fosse respeitado o princípio do juiz natural, Moro não seria o juiz.

Se fosse respeitado o corpus probandi (as provas), Lula não seria condenado.

Se fossem respeitados os prazos do TRF4, Lula não teria sido julgado ainda em segunda instância.

Se fossem respeitadas as jurisprudências sobre crime de lavagem de dinheiro, Lula seria inocentado em segundo grau (eis que não há ligação entre os supostos pagamentos e o apartamento – e isso reconhecido pelo próprio Moro).

Se fosse respeitada a entrega do Habeas Corpus, sendo para a Turma e não para o Plenário, ele teria sido concedido em favor do Lula.

Se fosse respeitada a ideia de se colocar as discussões consittucionais antes dos casos concretos, o Habeas Corpus de Lula estaria assegurado.

Se fosse respeitada a independência do judiciário, sem ameaças militares e da Globo, o Habeas Corpus de Lula teria sido concedido.

Fernando Horta

Valorizando seu dinheiro – X

De volta ao Real

Real
(R$1,00 = CR$2.750,00 = US$1.00)

Com o dragão da inflação devidamente sob controle (e que, diferente dos anos anteriores, quando grassavam índices inflacionários usualmente de 4 dígitos, no decorrer dos vinte anos seguintes raramente extrapolariam a 1 dígito) e após quase quinhentos anos de história e de mudanças de moedas, meio que fechando um gigantesco ciclo, voltávamos às origens: tal qual o antigo Real Português da época da colonização, a moeda oficial do Brasil passaria a se chamar Real.

Em 1º de julho de 1994, ainda durante o governo de Itamar Franco, foi instituída como nova moeda brasileira o Real (R$), em conformidade com a Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994 (decorrente da MP nº 482/94), sendo que 1 Real equivalia a 2.750 Cruzeiros Reais (que foi também o último valor atribuído à URV, nessa mesma data), assim como a 1 Dólar Americano, ao qual ficou de início atrelado – ao menos até o começo de 1999, pois, em decorrência dos reflexos das crise financeira asiática de 97, a partir de então o Banco Central do Brasil abandonou esse modelo e passou a deixar o câmbio flutuar livremente.

Com a implantação do Real em 94 foi determinado o recolhimento de todas as cédulas do Cruzeiro Real, bem como quaisquer outras remanescentes dos padrões monetários anteriores, sendo que todas estas perderiam totalmente seu valor a partir de agosto daquele ano.

Ainda que tradicionalmente as cédulas costumassem homenagear personalidades da história nacional, cumpre lembrar que sempre era necessária a negociação e autorização das famílias do homenageado. Ora, uma vez que essas novas cédulas precisariam ser cunhadas muito rapidamente, sem tempo hábil para tal negociação, optou-se pela utilização de animais da fauna brasileira.

Isso mesmo: desta vez nada de carimbos, nada de reaproveitamento dos padrões anteriores. Tinha que ser pra valer!

A Primeira Família de notas de Real, todas com dimensões de 140 x 65mm e com a face contendo a efígie simbólica da República, interpretada sob a forma de escultura, era constituída pelas seguintes cédulas:

R$ 1,00. Lançada em 01/07/1994 e retirada de circulação em 2005, possui no verso a gravura de um Beija-Flor (Amazilia lactea), pássaro típico do continente americano e com mais de cem espécies no Brasil.

R$ 2,00. Lançada em 13/12/2001, possui no verso a gravura de uma Tartaruga Marinha (Eretmochelis imbricata ou tartaruga-de-pente), homenagem a uma espécie que estava em extinção e que, graças ao trabalho desenvolvido pelo Projeto Tamar, agora é preservada no litoral brasileiro.

R$ 5,00. Lançada em 01/07/1994, possui no verso a figura de uma Garça (Casmerodius albus), ave pernalta (família dos ardeídeos), espécie muito representativa da fauna encontrada no território brasileiro.

R$ 10,00. Lançada em 01/07/1994, possui no verso a gravura de uma Arara (Ara chloreptera), ave de grande porte da família dos psitacídeos, típica da fauna do Brasil e de outros países latino-americanos.

R$ 20,00. Lançada em 27/06/2002, possui no verso a figura de um Mico-leão-dourado (Leonthopitecus rosalia), primata de pelo alaranjado e cauda longa nativo da Mata Atlântica, que é o símbolo da luta pela preservação das espécies brasileiras ameaçadas de extinção.

R$ 50,00. Lançada em 01/07/1994, possui no verso a figura de uma Onça Pintada (Panthera onca), conhecido e belo felídeo de grande porte, ameaçado de extinção, mas ainda encontrado principalmente na Amazônia e no Pantanal Matogrossense.

R$ 100,00. Lançada em 01/07/1994, possui no verso a gravura de uma Garoupa (Epinephelus marginatus), peixe marinho da família dos serranídeos e um dos mais conhecidos dentre os encontrados nas costas brasileiras

A Segunda Família de notas de Real foi lançada visando deixar as cédulas mais modernas e protegidas; ainda que com as mesmas estampas, passou a possuir um novo projeto gráfico e novos elementos de segurança capazes de dificultar as tentativas de falsificação, além de promover a acessibilidade aos portadores de deficiência visual. Outra característica marcante é que passaram a possuir tamanhos diferenciados. Em 13/12/2011 passaram a circular as notas de 50 e 100 Reais; em 27/07/2012, as de 10 e 20 Reais; e em 29/07/2013, as de 2 e 5 Reais. A cédula de 1 Real já havia deixado de ser produzida desde 2005.

121 x 65mm

128 x 65mm

135 x 65mm

142 x 65mm

149 x 65mm

156 x 65mm

E esta é a nossa atual moeda. Já vem se mantendo razoavelmente estável há mais de 26 anos. Se não considerarmos o Real Imperial – uma moeda que nem era nossa e muito menos se manteve estável (ainda que tenha circulado por mais de 400 anos) – em termos de longevidade e estabilidade da moeda brasileira, o nosso Real superou até mesmo o Cruzeiro, criado em 1942 e que permaneceu circulando por aproximadamente 25 anos…

E, apesar de não estarmos mais numa inflação galopante, de modo a facilitar os saques em caixas eletrônicos em plena época da pandemia deflagrada pelo Novo Coronavírus, em 2020 foi lançada a nota de Duzentos Reais.

R$ 200,00. Lançada em 02/09/2020, possui no verso a figura de um Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus), canídeo típico do cerrado que pode ser encontrado na região central do Brasil e de outros países sul-americanos.

142 x 65mm

O advento dessa nova nota está mais relacionada à ocorrência de entesouramento observado pelo Banco Central desde que começou a pandemia do que com um eventual descontrole da inflação. O termo entesouramento refere-se ao fato de que as pessoas passaram a guardar o dinheiro em casa em vez de deixá-lo nos bancos ou mesmo colocá-lo em circulação. Suas possíveis causas seriam: saques para formação de reservas (tanto por pessoas quanto por empresas); diminuição no volume de compras no comércio em geral em decorrência do isolamento social; e valores pagos em espécie aos beneficiários de auxílios emergenciais e que não voltaram a circular na velocidade esperada.


(Início da Saga)

(Continua…)