Parque da Mônica – a epopéia (I)

I – A Viagem

Antes de mais nada, é INDISPENSÁVEL dizer que FOI divertido. Apesar de minha usual rabugice, o que se tornará evidente no decorrer do texto, posso afirmar – para tranquilidade dos envolvidos – que realmente foi divertido. Não repetiria a dose, ao menos não nesses moldes… Mas tudo a seu tempo…

Já há algumas semanas tínhamos combinado, Dona Patroa e um casal de amigos, que levaríamos nossos pimpolhos à Cidade da Criança, em São Paulo. Ficou marcado para o dia 29 (sábado último). Como todo mundo já estava meio curto de grana, seria uma boa opção, pois o ingresso lá é baratinho, faríamos uma piquenique (vulga “farofa”) e as crianças com certeza se divertiriam (três nossos e dois deles). De quebra convidamos mais um amigo (pai solteiro) para levar também seu bambino, pois havia espaço no carro.

Na véspera eu e a Dona Patroa ainda tivemos uma séria conversa se realmente iríamos ou não (grana curta, já disse), se eu não iria ficar chateado (leia-se “emburrado”), etc. Chegamos à conclusão que sim, deveríamos ir, afinal as crianças passaram as férias praticamente inteiras dentro de casa e, oras bolas, “mais vale um gosto que dinheiro no bolso”!

E eis que chegou o sábado. Amanheceu chuvoso. Isso, em tese, estragaria os planos, pois trata-se de um parque a céu aberto. Adiamos um pouco a saída, pra ver se o tempo melhorava. Apesar do frio e a umidade, naquele momento não estava chovendo, de modo que mantivemos os planos. Saímos de casa por volta de dez da manhã, pois ainda tínhamos que passar em alguns lugares e comprar algumas coisas.

Ficamos de encontrar o casal num ponto da Via Dutra para dar início à epopéia (vamos chamá-los de “Paulo” e “Andréa”), momento no qual transferiríamos para seu carro o pai solteiro separado e seu filhote (vamos chamá-lo de “Evandro”). Apesar de não estar chovendo o céu continuava negro, e nuvens cumulus nimbus de milhões de toneladas pairavam num lúgubre agouro do que nos aguardava.

Logo ao cumprimentá-los, Paulo disse: “E aí? Pronto para um P.I.?” (Programa de Índio).

“Ôpa!” – eu disse.

Eu deveria ter percebido os sinais…

Como eu NUNCA dirigi na Capital, fui na cola deles. Logo ao entrar na estrada (às onze horas), me lembrei de um recente post da Ju, quando foi ao aeroporto e seu filho começou a contar quanto tempo iria levar pra chegar.

Rimos um bocado.

Passados alguns minutos, meu filho mais velho me pergunta:

– Paiê, o que vem depois de cento e noventa e nove?

Com um pequeno solavanco na boca do estômago, respondi. E continuei respondendo até que atingisse o número mil, quando, ao perceber que ainda faltava muito pra chegar (dessa vez me lembrei do Burro, em Shrek 2), ele resolveu deixar de lado a contagem.

Cerca de uma hora e tanto depois, pouco antes de chegar à cidade de São Paulo, voltou a chover torrencialmente. Ainda assim permanecemos firmes em nosso propósito de chegar à Cidade da Criança. Mas, com um tempo daqueles, não teria jeito – em determinado ponto paramos e resolvemos rever os planos. Precisaríamos ir a um local que fosse coberto, pelo que optou-se pelo Parque da Mônica.

Como eu não tinha nem idéia de local ou distância, limitei-me a dizer: “Tãotáintão”…

A Capital paulista é algo que ao mesmo tempo me causa encanto e temor. Acho suas construções magníficas, em especial aquelas antigas, da virada do século passado. Certos bairros têm uma característica bucólica, quase de cidade do interior. Outros lembram verdadeiros cortiços, travestidos de miséria e sujeira. Isso sem falar nas grandes e modernas obras arquitetônicas, bem ao estilo do século XXI. Hoje, mais do que nunca, posso falar com certa propriedade, pois, com certeza, devemos ter passado por TODOS os bairros de São Paulo!

É bom lembrar que desde meu acidente, devido ao rompimento de parte dos ligamentos em meu joelho esquerdo, minha perna ficou meio prejudicada. Como acharam que ainda não era hora de sacrificar o equino que vos escreve, passei a me conformar que doravante o frio e esforços repetitivos passariam a deixar esse joelho dolorido. Ah, sim, perna esquerda é a do pedal da embreagem…

Pois bem. No meio do caminho (sim, do NOVO caminho) passamos a seguir por atalhos, ruas paralelas, subidas, descidas, viadutos, o escambau! Tentando sempre ficar logo atrás do carro do Paulo, pois se eu me perdesse NUNCA mais eu conseguiria voltar pra casa. Isso valeu até alguns buzinaços que tomei na orelha, porque simplesmente não podia perdê-los de vista. Em dado momento, no alto de um viaduto, vendo que ele sinalizou uma entrada à direita, acabei fechando violentamente um carro que estava a meu lado. Foi quando minha esposa falou:

– Parabéns, amor. Já está dirigindo como os nativos…

Mais tarde fiquei sabendo que o Paulo e o Evandro se perguntaram se eu estaria muito bravo lá atrás. Olharam para meu carro e todos os vidros estavam embaçados. Chegaram à conclusão que devia ser eu, bufando.

Cerca de duas horas depois de nossa saída, parados num semáforo, o Paulo colocou meio corpo pra fora e gritou: “Já estamos chegando! É logo ali!”. Maldito. Eu devia saber que estava mentindo…

Até então ele vinha dirigindo com calma, sempre de olho no retrovisor, sinalizando todas as curvas e viradas, preocupado se eu estaria ali, logo atrás. Num determinado momento passou a dirigir com mais desenvoltura, senhor de si, nem seta estava dando mais. Falei pra Dona Patroa:

– Ah! Agora devemos estar perto, mesmo! Parece que o Paulo se familiarizou com o caminho. Isso é que nem cachorro perdigueiro, que quando pega o rastro do bicho, desembesta a correr…

De fato. Pouco depois chegamos nas nababescas instalações do Shopping Eldorado, onde está localizado o Parque da Mônica. Cansados, com fome, a bunda parecendo uma pizza de cinco queijos e o joelho latejando, estacionamos no piso G2 (somente vim a saber disso mais tarde).

Continua…

Pimenta e Pipoca

Sabrina e Sara

Como eu já disse antes por aqui, meu pai é o mais velho de doze irmãos. Isso gera algumas situações interessantes, como sobrinhos mais velhos que tias, primas mais novas que netos, etc. Na linha de minha primaiada, as mais novas são as gêmeas, Sara e Sabrina, nove anos de idade e carinhosamente apelidadas por mim de Pimenta e Pipoca.

Por quê? Vou dar um exemplo. Como me autonomeei Genealogista da Família, Guardião de Histórias ou simplesmente Colecionador de Causos, me sinto no dever de compartilhar com o mundo essas curiosidades.

Juntamente com os pais e o casal de irmãos mais velhos, elas moram numa chácara nos arredores da cidade – que já não são tão arredores assim, pois a cidade simplesmente está envolvendo esse pedaço de terra. Num belo dia seu pai as estava procurando pela propriedade.

– Sara! Sabrina! Cadê vocês?

– Oi, pai! – Ouviu-se a voz da Sara, vinda do alto.

E lá em cima, no último galho de uma mangueira, estava encarapitada a menina, toda alegre e orgulhosa por sua façanha.

– Sara, minha filha… Será possível? Desse tamanhinho você já quebrou um braço, uma perna e o braço de novo. E agora está aí em cima! Você não tem juízo, minha filha! Por que você não é comportadinha como a sua irmã, a Bine?

– Mas a Sabrina também tá aqui em cima!

E logo no galho de baixo, saindo do meio da folhagem, aparece a Sabrina, dando um tchauzinho lá pra baixo.

– Oi, pai!

É mais ou menos esse o gênio dessas duas levadas das breca, minhas adoradas priminhas caçulas…

Sara e Sabrina

Versões

Volta e meia recebo algum texto cuja autoria é creditada a Luís Fernando Veríssimo. Já, há muito, aprendi a duvidar desse tipo de informação. O texto a seguir é mais um desses…

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito “sim”, dito “não”, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste… Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário. Sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:

– Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.

E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.

– Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?

– Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia…

– Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.

Olhamos para o intrometido. Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:

– Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

– Como é que você sabe?

– Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um “herói”, me atirei.

Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

– Ele chutaria para fora.

Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou:

– Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa.

Embarquei com festa no Rio…

– E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

– Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?

– Você…

– Morri com 28 anos.

– Bem que tínhamos notado sua palidez.

– Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…

– E ter levado o chute na cabeça…

– Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…

– Você deve estar brincando – disse alguém sentado a minha esquerda.

Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

– Quem é você?

– Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra.

As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração.

Olhei em volta. Eu lotava o bar.

Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.

Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.

– Quem é você? perguntei.

– Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.

– E?

Ele não respondeu.

Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo …

“As dez mais”

Numa conversa de ontem estávamos – pra variar – falando mal da vida alheia… Aí me lembrei de um e-mail que tinha escrito e enviado já há algum tempo sobre o tema em questão. Fuçando nas catacumbas de meu computador, achei-o! Foi enviado originalmente em 25/05/2004, pontualmente às 17h05min. Assim, ipsis litteris, direto do Túnel do Tempo, ei-lo:

Muitas vezes nós meros mortais ficamos chateados (pra não dizer emputecidos) com algumas atitudes tomadas pelos profissionais do departamento de informática.

Mas acontece que o que ninguém sabe é que existe um treinamento secreto padrão ao qual todos são submetidos antes de começar qualquer tipo de atendimento.

Assim, visando esclarecer alguns pontos controversos na prestação de serviços por parte dos profissionais de qualquer departamento de informática de qualquer empresa, seguem algumas explicações.

Todo profissional de atendimento enquadra-se, basicamente, em dois tipos:

a) “Testemunha de Jeová”. Senta em seu computador e NUNCA MAIS sai. Clica daqui, clica dali, abre janela, fecha janela, reinicia a máquina, começa de novo e… nada. Não adianta implorar, chorar, espernear, gritar, ou ameaçar. Somente após testar todas as possibilidades (como se verá a seguir) é que – talvez – ele devolva sua máquina para utilização. E ainda assim a deixará desfragmentando ou passando um anti-vírus, o que, segundo ele, não poderá ser interrompido em hipótese alguma, senão ele não se responsabiliza.

b) “Mocinha da Zona Azul”. Não adianta procurar. Não adianta ligar. Não adianta esperar. NUNCA vai aparecer ninguém, a menos, é lógico, que você saia de sua sala – que é quando alguém PODERÁ aparecer e dizer: “Ué, não tem ninguém aqui? Mas avisa que eu vim, tá?”.

Fora isso, temos os dez posicionamentos padrão que são adotados sempre que seu computador está com problemas:

1. “É vírus.”
2. “Já reinicializou a máquina?”
3. “É, tá muito estranho. Depois do Scandisk vou desfragmentar pra ver se resolve…”
4. “É que caiu a rede.”
5. “Ah! O problema é que esse programa não é original.”
6. “A placa está com problema.”
7. “Quem foi que mexeu na configuração?”
8. “Vamos ter que enviar para manutenção.”
9. “Com certeza o problema não é aqui. Deve ser no servidor deles.”
10. “É que a rede tá com vírus.”

Particularmente, hoje eu acrescentaria mais dois posicionamentos:

11. “Ah, o seu é Linux? Então vou ter que chamar outra pessoa.”
12. “Vai ter que formatar…”

Torta de Morango… (versão masculina)

Já há alguns finais de semana estou ensaiando para colocar em prática a receita de “Torta de Morango Tão Fácil de Fazer, que eu Tenho Até Vergonha de Dar a Receita” que a Ju (Respira pela Barriga) passou em seu site. Finalmente chegou o momento!

Primeiramente é preciso deixar bem claro que nós, homens, temos uma dificuldade enorme para quantificar e pressupor determinadas coisas. Por exemplo, não adianta dizer que tem que misturar todos os ingredientes e pronto. Cumassim? (Sim, isso é plágio descarado!) Qual ingrediente vai primeiro? Em que quantidade? Vira, amassa, mexe ou aperta? Pode ser que essa deficiência seja só minha, mas como já me deparei com muitos outros seres com o mesmo problema, ouso dizer que é generalizada.

Por isso mesmo, vou tentar descrever a “Operação Torta de Morango” da maneira mais detalhada possível.

Como não passo de um exímio-fritador-eventual-de-ovo-na-manteiga, com algumas recaídas para doces, bolos e afins, já aprendi que a primeira coisa a fazer é separar e deixar a mão os ingredientes que vai usar. Sim, TODOS. Nada pior que, no meio de uma receita, descobrir que acabou alguma coisa…

A Ju passou o rol, mas, devido a circunstâncias específicas, fui obrigado a improvisar um pouco. Leia-se “circunstâncias específicas” o fato de que não tenho nada que se assemelhe remotamente a uma balança em casa. Até mesmo aquela de banheiro foi sumariamente aposentada quando me aproximei perigosamente dos três dígitos (o pior cego é aquele que não quer ver). Ainda que não aparente (tanto) – pois com 1,90m de altura a coisa fica bem distribuída – para resolver o problema de sobrepeso fiz o que qualquer pessoa sensata faria: parei de me pesar.

Mas voltemos à receita.

Num primeiro momento serão necessários:

– 300g de farinha de trigo (que dá um pouco menos que um terço de um pacote de 1kg, OU 3 copos americanos até a boca, OU pouco menos que 3 medidas de xícara (daqueles frascos que já vem com os risquinhos dizendo quanto é o quê);

– 175g de manteiga (que dá um pouco mais que a metade de uma daquelas barrinhas que você compra na padaria quando não teve tempo de ir até o supermercado e ainda levou bronca por causa disso);

– 100g de açúcar (vide logo acima a maneira científica de mensurar isso);

– 1 gema (sim, de ovo);

– 1 pitada de sal (generosa).

Falou-se em multiprocessador na receita original, mas “não trabalhamos com multiprocessadores”. Então, munido de uma tigela ou bacia de médio tamanho (da largura de uma frigideira grande, por exemplo), coloque a farinha, o açúcar e a generosa pitada de sal. Mexa lentamente com uma colher até que fique tudo com uma cor homogênea. Agora vem a luta.

Quebre um ovo, colocando o conteúdo numa xícara, depois, com uma colher, retire a gema e coloque na tigela. Esse é o modo básico. Nós, exímios-fritadores-eventuais-de-ovo-na-manteiga, podemos trabalhar com o modo avançado, mantendo a gema na casca enquanto despejamos a clara na xícara – crianças, não tentem isso sem estar acompanhadas de um adulto!

Você mal vai começar a mexer aquela única e solitária gema no meio daquele mundo farináceo e ela já vai sumir. Não se preocupe. Em tese, é assim mesmo. E quanto à clara? Guarde carinhosamente a xícara com a clara dentro da geladeira – até que venha a ser necessária em alguma outra receita ou então que estrague de vez em decorrência do tempo sem uso. Provavelmente opção “b”, se você for solteiro.

Pegue a manteiga. É LÓGICO que você já a tinha retirado da geladeira ANTES de começar com tudo isso. Se não o fez, dê um tempinho para amolecer. Coloque-a dentro da tigela e, com a colher, corte-a em pedaços misturando-a de leve. Caroços enormes surgirão em sua tigela…

Pois é. Agora não tem jeito. Teremos que – literalmente – botar a mão na massa. Recomendo veementemente, pelo bem dos degustadores, que lave as mãos ANTES de começar. Aliás, mais veementemente ainda, sugiro que, se o caso, tire e guarde a aliança em local seguro. Também ANTES de começar.

Essa parte é mais ou menos como fazer bonequinhos de areia na praia, ou de argila na beira da represa (conforme tenha sido sua infância). Vai apertando, virando, apertando, mexendo, apertando, puxando, apertando, até que aquela massa farinácea comece a ter uma muito sutil consistência. Ou que seus antebraços comecem a ficar dormentes e os dedos formigando, numa nítida sensação de estar sendo afetado por L.E.R. O que vier primeiro.

Particularmente acho que jamais vou conseguir voltar a segurar um copo de cerveja com firmeza novamente…

Depois disso, descanse e deixe a massa descansar por 10 minutos. Como foi dito no original: “Por descansar, entenda: deixe a massa quieta, num canto, em paz.”

Passados os 10 minutos, ligue o forno (para ir aquecendo), e, enquanto isso, coloque toda a massa numa forma com fundo desmontável. É uma espécie de prato com colarinho – um disco de metal cujas laterais podem ser removidas (só vim a descobrir que esse tipo de coisa existia depois de uns trinta anos de vida e dois casamentos). Vá ajeitando a massa na forma com a mão mesmo (droga, esqueci de tirar a aliança!), deixando-a firme, uniformemente distribuída no fundo e com uma ligeira borda subindo pelas extremidades. Para que a massa não estufe, dê asas à criatividade, fazendo furos com um garfo por toda ela. Manda pro forno pelos próximos 15 minutos.

Enquanto isso, pegue os morangos que estavam de molho no hipoclorito (você pôs de molho, não pôs?) e enxague-os abundantemente. Com cabinhos e tudo. Deixe escorrer e secar por um tempinho, e então, munido de uma boa faca corte esses cabinhos (ou cabelinhos, como disseram meus filhos). Após todos ficarem carecas, quer dizer, sem cabinhos, corte os morangos no meio, colocando-os de bruços sobre uma toalha de papel absorvente.

Que cheiro é esse? Putz, a massa!

Tire-a do forno, rápido! Não! Aaaaiiii!!! Pega uma luva, pano de prato, sei lá! Isso. Ufa…

Não sei se era pra esperar esfriar tudo, mas, com medo de queimar, já desmontei a forma desmontável (quente mesmo) e tirei a massa. Ela ficou com uma certa consistência e no formato de uma espécie de prato.

Enquanto a massa esfria e os morangos secam, vamos à geléia. Na receita fala-se de geléia de framboesa, amora, laranja e mesmo morango. Ataquei com o que tinha à mão, ou seja, tuti-frutti… Vale a dica original de, se a geléia for muito encorpada, aquecê-la ligeiramente no fogo, diluindo com pouquíssima água.

Com tudo frio e seco, basta voltar a dar asas à imaginação, distribuindo os morangos sobre a massa e cobrindo tudo com a geléia. Foi aí que descobri que um potinho de geléia não era suficiente – deveriam ser, no mínimo, dois. Paciência. Cobri apenas os vãos. Aliás, para esse tipo de operação, sugiro procurar morangos aproximadamente do mesmo tamanho. Ficaria beeeem mais bonito.

A Ju deu algumas sugestões para complementar essa iguaria, mas acho que já abusei da sorte por demais. Então a torta ficou assim mesmo, na sua versão básica. Como dá pra perceber, pode não ter ficado lá muito bonita, mas que ficou uma alegre delícia – hmmmmmmm – isso eu garanto! Com direito a atestado do Inmetro conferido pela Dona Patroa e mais três experts (adivinhem)…

Torta de Morango Tão Fácil de Fazer, que eu Tenho Até Vergonha de Dar a Receita

Ah! E não adianta querer fugir. Sobrou a louça pra lavar, viu?

Da propaganda enganosa

Jean

Hoje eu acordei com um pontapé bem no meio do queixo – ôôôôô maneira desgraçada de acordar!

Não, não, não.

Não foi briga, não.

Foi meu caçula, de dois anos e quatro meses, o Jean. Pra variar, ele foi pra nossa cama no decorrer da noite e acomodou-se em seu lugar predileto: atravessado, sobre nossas cabeças. Como ele costuma se mexer muito durante o sono… bem, foi dali que veio o malfadado pontapé!

Isso me levou a algumas elucubrações mentais logo pela manhã…

Sabe aquele momento, entre o “acabar-de-acordar” e o “criar-coragem-pra-sair-da-cama”? Perguntei pra mim mesmo: “Mim mesmo, por que cargas d’água esse bandidinho veio parar aqui? Será que foi o frio? Afinal ele se mexe MUITO quando dorme (nesse momento levei a mão ao queixo, massageando-o…) Será que fez xixi? Mas eu troquei a fralda de madrugada – tinha cerca de meia tonelada de xixi e ele ainda deveria estar sequinho…”

Foi quando comecei a pensar nas propagandas de fraldas, onde mostram aquela mulher sorridente despejando um jarro d’água numa fralda, mostrando suas vantagens, e como a camada de seu exclusivíssimo hiper super ultra mega blaster ômega avant plus gel especial, deixa o bebê sequinho.

Pois bem, deixe-me acabar com a ilusão de vocês: aquilo não é verdade! Bem, pelo menos não corresponde exatamente à realidade. Seria mais correto se ela despejasse seguidamente umas três jarras de água na fralda, até que ela atingisse a forma e consistência de um daqueles ursos de pelúcia gigantes que costumam dar como brinde se você vender algumas rifas até o final.

Além disso, por mais “noturna” que sejam, as fraldas não vêm com um sistema automático distribuidor de cremes anti-assadura (leia-se Hipoglós), pois nos casos de excesso as dobrinhas do pequerrucho sempre acabam ficando ardidas.

Ah! E esqueceram do show de contorcionismo. Não, zelosa mãe, cauteloso pai, aquelas crianças comportadas e sorridentes que aparecem nas propagandas não podem ser reais (robôs animatrônicos, talvez?), pois a probabilidade de que fiquem calminhos numa troca de fraldas é inversamente proporcional à pressa ou sono que você tiver no momento. Lembro-me de ter lido certa vez que uma boa maneira de treinar como vestir bebês, seria tentar colocar uma blusinha num polvo. Vivo. Não adianta ter acabado de acordar, ou de tomar banho, ou até mesmo de dormir. ELES. NÃO. SOSSEGAM! Acerta a fralda, eles viram. Gruda um lado, descola outro. Põe um pé, o outro sai. E a coluna vai pro espaço.

E o choro? Pois é, invariavelmente eles choram. E isso os comerciais também não mostram. Os irmãos que acabaram de dormir começam a se mexer na cama, e o bichinho, lá, chorando. Você já trocou a fralda, trocou a blusa, trocou a calça, e o bichinho, lá, chorando. Fez “SHHHH!”, embalou, acalentou, e o bichinho, lá, chorando. Deu chupeta (que caiu de lado, pela boca aberta), e o bichinho, lá, chorando. Nessas horas, não adianta: a única coisa que resolve é o “ursinho de estimação” com o qual ele adora dormir agarradinho. Ou seja, a mãe.

Há algum tempo existia ainda um outro tipo de problema: haviam dois tipos de adesivos para fechar as fraldas: o que jamais gruda e o que não solta nunca mais. Ao menos esse foi resolvido pela indústria fraldífera…

Por fim, restaria solucionar o derradeiro problema – que, inclusive, deu azo a esse texto: que raio de teletransportador hiperdimensional já vem embutido nos bebês? Quando, finalmente, superados todos os obstáculos, você o coloca no berço – e ainda prende a respiração no momento em que ele dá uma viradinha e uma resmungadinha aconchegando-se – e você volta, guerreiro, cansado, perto do limite da exaustão, para sua cama, aninhando-se no braço de sua amada, começando a cochilar, a dormitar, sentindo-se envolvido numa inebriante onda de cansaço… eis que do nada você sente uma presença estranha na cama, pois ele se materializou entre vocês, e ainda dormindo, deu-lhe um respeitável pontapé no queixo.

Pois é, gente. As agências de publicidade não colocam nada disso nos anúncios de fralda…

Virus Genealogicus

E, pra quem não sabe, há anos venho montando a árvore genealógica de nossa família. Já consegui muito material e informação, não só relativo aos parentes atuais, como também dos antepassados. E olha que isso não é pouco, considerando que meu pai é o mais velho de doze irmãos, que meu avô materno se casou três vezes, assim como meu bisavô (também três vezes), sendo que só de um desses casamentos teve dezoito filhos.

Na linha direta dos “Andrade”, por enquanto, consegui rastrear até fins do século XVII, e nas linhas auxiliares já cheguei na Idade Média. Ainda preciso explorar mais o lado da Dona Patroa, pois ela é descendente legítima de verdadeiros samurais da época feudal do Japão – acho que isso explica seu temperamento…

Sim, isso é coisa de doido. É um hobbie que não tem fim. Mas não tem como explicar. A esse respeito, do muito que já li em diversos textos e obras me identifiquei com o posicionamento do Padre Reynato Breves, no artigo Novas Revelações da Genealogia, publicado no Jornal da Cidade, de Barra do Piraí, em sua edição de 12 de setembro de 1998. Diz o seguinte:

Há pessoas que não apreciam ‘Genealogia’, não se interessam por saber quem é seu avô, bisavô ou trisavô; não querem saber de onde vêm, quais são os seus ascendentes. Ora, a Genealogia é a Ciência da nossa racionalidade, da marca indelével das nossas origens; diz de onde viemos, diz quem somos, diz quais são as nossas raízes, mostra-nos a nossa importância. A Genealogia exige paciência, perseverança e intercâmbio, mostra a necessidade da comunicação com outros Genealogistas e causa grandes surpresas e grandes emoções. Enfrenta grandes obstáculos, terríveis barreiras, surpreendentes interrogações. A Genealogia é uma paixão e quem nela entra dela não sai mais. A Genealogia é amor; amor aos antepassados. A Genealogia é gratidão; gratidão aos que nos antecederam nesta vida. A Genealogia é memória imperecível. A Genealogia quase se confunde com a Heráldica. A Genealogia atesta a importância de uma Família. A Genealogia é como o Livro; conserva a memória das gerações passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens, que ainda é a maior tirania, e enaltece as gerações hodiernas. A Genealogia move os ânimos e causa grandes efeitos.

Pois é. Ainda voltaremos a falar sobre isso por aqui…