Twitescas

E eu aqui pensando nas tranqueiras que já aprontamos… Quando eu era um mero adolescente e você, Carlão, meu primo, era um jovem inconsequente… Faleceu cedo, fiadaputa, mardito câncer, mas deixou tantas saudades… Quantas viagens, quantos passeios, quantos porres homéricos, quantas cantadas inconsequentes, quantas danceterias, quantos parquinhos nós já não fomos naquele raio de moto TT 125 e nos divertíamos tanto naquela longínqua década de oitenta! Eu tinha uns 15, você uns 30, mas nossas idades não eram compatíveis com nossas almas! E ainda assim éramos almas gêmeas… Trinta e tantos anos já se passaram, mas ainda sinto como se tivesse sido ontem! Que falta lhe sinto… Teríamos tanto, mas TANTO pra prosear… O mundo tá cada vez mais pequeno e as pessoas que realmente me importam teimaram em ir embora mais cedo do que deviam… Que saudades docê primo Carlão!

Tudo por um brinco?

Então.

Estávamos na década de oitenta.

Tudo era proibido, tudo não era permitido e tudo era maravilhoso.

Nossa função, enquanto adolescentes era de compurscar esse limite que nos era impingido.

Daí eu tinha meus 14 anos e fiz uma tatuagem. Daí eu tinha meus 14 anos e furei a orelha. Brinco. Contestadores de fundo de quintal. Escondidos dos pais. Sim, esse era eu.

Cai o pano.

Trinta anos se passaram. A tatuagem ainda estava lá (um lixo, confesso, eu a fiz quando tinha 14 e 70kg, aos 50 e 105, ficou MUITO diferente…) e o furo na orelha ainda presente. Quase tapado.

Boteco. Pé sujo. Eu encontro com meu amigo Flávio. “Cara, o dia que você encontrar um brinco igual a esse que você usa, me avisa. Eu quero. Assim, argola.”.

Na hora: “Este?” Meteu a mão na orelha e tirou o próprio brinco. “É seu.” Só me restou, entre descrédito e estupefato: “Cumassim????”. Ele mo deu. O brinco. “É prata espanhola. Cuida bem dele”. Quase não acreditei. Foda-se se é prata espanhola ou não, meu amigo tirou ali, na hora, o que estava usando e me deu. Do nada. É meu maior tesouro.

Flávio se foi. Pra sempre. Talvez um dia nos encontremos, ou não. Depende de nossa fé. Mas o brinco está comigo. Meu maior tesouro. Cuido dele como Jack Sparrow cuidava de sua bússola. A cada dia que eu o coloco, lembro-me de meu amigo. E sempre me pergunto: “O que ele faria nesta situação? Como ele iria se livrar desta encrenca?” Vejo o tempo passar e ele a me ajudar, ainda agora, depois de seu tempo passado, pois consigo ver seu sorriso infantil, seus olhos brilhantes e sua gargalhada contagiante a me orientar.

Obrigado, Flávio. De minha vida inteira eu posso contar nos dedos de uma mão quem foram meus melhores amigos. E todos já se foram. Mas você, dentre poucos, ainda continua presente, meu indicador e meu orientador. Continuemos juntos. Sempre.

Até já…

Twitescas

Exercício de Sanidade: eu num boteco (respeitado o distanciamento) e escutando calado uma bolsominion (sobrinha do dono) desfiar sandices do porquê o país hoje estaria no “rumo correto”… O porquê de calado? Na minha idade não tenho mais saco pra discutir com esse tipo de gente.

Twitescas

Do alto de minha sacada, vendo a filha do vizinho atravessar a rua com seu pequenino petiz “com probleminhas”: “ANDA LOGO SENÃO VOCÊ LEVA UM TAPA!”. Desculpa aí. Minhas esperanças nessa raça humana estão cada vez menores… 🙁