Desaparecidos: os mortos sem tumba, as tumbas sem nome.
E também:
os bosques nativos,
as estrelas na noite das cidades,
o aroma das flores,
o sabor das frutas,
as cartas escritas à mão,
os velhos cafés onde havia tempo para perder tempo,
o futebol de rua,
o direito a caminhar,
o direito a respirar,
os empregos seguros,
as aposentadorias seguras,
as casas sem grades,
as portas sem fechaduras,
o senso comunitário
e o bom-senso.
Pequena coletânea do Sebastião Salgados (@sebastiao.salgados) pescada lá no Instragram…
. Das expressões brasileiras, uma das que mais gosto é a “nem tchun” usada para se referir quando alguém não dá a devida importância a alguma coisa. eduardo – @eueduramos
. A expressão “vapt vupt” é muito boa e eu irei protegê-la. thaís paranhos – @thaisparanhos
. Amo a expressão “menina, nem te conto”, porque em seguida a pessoa conta. gurincrível – @araujofmp
. Amo a riqueza da expressão brasileira “tô com fome de comida” para dizer que quer comer arroz com feijão. joy – @joycexliveira
. Eu amo a expressão “vou me dar ao luxo”, que consiste em basicamente você gastar um dinheiro que vai além do que pode gastar mas sem se culpar por isso. brenda – @brendasafra
. Eu amo a expressão “mas não vou me importar com isso” depois de ter ficado meia hora desabafando porque me importei. Galo de Botas – @bicagalobicudo
. Acho engraçada a expressão “ser feliz com pouco” porque ela engloba coisas que passam longe de ser pouco, como ter saúde, viver em paz, pagar as contas e ser amado. tio do balão – @luis7md
. Eu acho a expressão “trabalhando igual cachorro” muito inválida, pois eu queria muito a vida do meu cachorro… Ele apenas dorme, come, brinca, passeia e recebe carinho. Marcella – @marcellalouiisa
. Uso muito a expressão “deu pra entender?” e fico com medo de a pessoa achar que estou subestimando a capacidade de compreensão dela, mas na verdade eu estou subestimando a MINHA capacidade de articulação e síntese. joão miguel – @joamiguelbdb
. A expressão “é sobre isso” é sobre o quê? João, o Justo – @coimbrasousa
Vocês se lembram que isso aqui – ao menos de vez em quando – ainda tem o intuito de ser um “blog jurídico”, certo? Então vamos lá:
Já começamos o ano de 2024 e antes mesmo de vocês consultarem a folhinha para saber quantos feriados, emendas e o escambau teremos, vejamos o que o próprio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, pelo Conselho Superior de Magistratura, já determinou através do Provimento CSM nº 2.728, de 17 de novembro de 2023, que divulgou o calendário do expediente forense para este exercício.
. 12 de fevereiro – segunda-feira – Carnaval ;
. 13 de fevereiro – terça-feira – Carnaval (não adianta o teor ou a qualidade da ressaca, quarta-feira de cinzas será expediente normal…) ;
. 28 de março – quinta-feira – Endoenças (apesar do nome esquisito, essa é a Quinta-feira Santa.) ;
. 29 de março – sexta-feira – Paixão (e a consequente Sexta-feira Santa – emenda!) ;
. 21 de abril – domingo – Tiradentes (não faz parte do provimento, mas só para lembrar a sacanagem que é ter um feriado no final de semana…) ;
. 01 de maio – quarta-feira – Dia do Trabalho (feriado justo na quarta-feira, ninguém merece…) ;
. 30 de maio – quinta-feira – Corpus-Christi ;
. 31 de maio – sexta-feira – suspensão do expediente (outra emenda!) ;
. 08 de julho – segunda-feira – suspensão do expediente ;
. 09 de julho – terça-feira – Data Magna do Estado de SP (demorou, mas temos mais uma emenda!) ;
. 07 de setembro – sábado – Independência do Brasil (também não está no provimento, mas é outro feriado no final de semana…) ;
. 12 de outubro – sábado – Dia de Nossa Senhora Aparecida (novamente fora do provimento e novamente no final de semana.) ;
. 28 de outubro – segunda-feira – Dia do Servidor Público (bem que poderia ter caído na terça…) ;
. 02 de novembro – sábado – Finados (arre! outro fora do provimento!) ;
. 15 de novembro – sexta-feira – Proclamação da República (e este bem que poderia ter caído na quinta.) ; e
. 20 de novembro – quarta-feira – Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (quarta, de novo…) .
No período entre 1º a 6 de janeiro e de 20 a 31 dezembro de 2024 também não haverá expediente (recesso forense do começo e do final do ano).
Um último detalhe (BEM) digno de nota: conforme Comunicado Conjunto nº 906/2023 da Presidência do Tribunal de Justiça e a Corregedoria Geral de Justiça, somente a partir do dia 22/01/2024 é que voltam efetivamente a correr os prazos processuais.
Crônica publicada por Rubem Braga originalmente em 14/12/1957 com o título “O ano vai acabar” e, novamente, em 13/01/1968, com o título “Balanço de fim de ano”. Apesar das décadas que se passaram, continua atualíssima…
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Os cronistas mais organizados costumam escolher, no fim de ano, os dez melhores, os dez maiores, os dez mais isto ou aquilo do ano que passou. Essas escolhas públicas não têm o encanto das escolhas particulares, feitas em uma pequena roda, em que se costuma decidir, depois de severos debates, qual foi o maior “fora”, o pior vexame, o melhor golpe do baú, o maior chato do ano, a mais bela dor de cotovelo, o mais louvável infarto do miocárdio, o party mais fracassado, a cena mais ridícula, o marido mais manso etc. Note-se que para a escolha deste último deve-se levar em conta que há muitos cavalheiros que não podem ser aceitos no páreo, devem ser considerados hors-concours. É preciso incentivar os valores novos.
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Depois desse salutar exercício, proponho que cada pessoa faça um exame de consciência e pergunte a si mesma com que direito se arvora em juiz dos outros. Pense nos seus próprios ridículos. Procure ver a si mesmo como se fosse alguém a quem quisesse ridicularizar. Como seria fácil! Quem sabe que a virtude de que você mais se envaidece é menos uma virtude do que medo da polícia, ou, mais comumente, do ridículo?
Dizem que o crime não compensa. E a virtude, compensará? Espero que sim, mas talvez só no outro mundo. Neste aqui não sei; mas conheço pessoas virtuosas que me parecem tão azedas, tão infelizes, tão entediadas, tão sem graça com a própria virtude que dão vontade da gente dizer:
— Está muito bem, nossa amizade, você é formidável. Mas assim também enjoa. Peque pelo menos uma vezinha, sim? É bom para relaxar.
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Raul de Leoni sonhava com “um cristianismo ideal, que não existe, onde a virtude não precisasse ser triste, onde a tristeza fosse um pecado venial…”.
Acho que a pessoa querer buscar a felicidade em pecados e sujeiras só não é um erro quando a pessoa tem mesmo muita vocação para essas coisas. Mas isso é raríssimo. A maior parte dos sujos tem uma inveja secreta e imensa dos honrados, dos limpos. Sofre com isto. Sofre tanto quanto os que vivem além do gabarito da própria virtude.
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Desejo a todos, no Ano Novo, muitas virtudes e boas ações e alguns pecados agradáveis, excitantes, discretos, e, principalmente, bem-sucedidos.
Sair da cama depois das dez é um ato libertário, subversivo e anticapitalista
Antonio Prata
A luta contra o racismo não é, absolutamente, “vitimismo”. A luta contra o machismo, a homofobia e todas outras formas de opressão, tampouco. Tais considerações, porém, não nos impedem de reconhecer, para além das causas urgentes e legítimas, carcado no espírito do tempo, certo pendor para a autocomiseração. Hobsbawm, em sua tumba, deve estar murmurando: “Ah, era do mimimi!”.
Parece que nada mais é válido se não vier da dor. Você vai ver um “Chef’s Table” da vida e o cozinheiro diz que foi a separação dos pais que o fez prestar atenção na beterraba, que a beterraba o salvou da depressão, e, portanto, seu borsch é um consolo para a nossa sofrida humanidade — aí ele chora sobre a sopa. A CEO explica num TED Talk que enquanto presa nas ferragens, depois de um acidente, bombeiros serrando o carro, desenvolveu um método de pensamento positivo capaz de revolucionar as vendas on-line no varejo da pesca esportiva — e na moda íntima LGBTQIA+ no mercado de luxo do leste europeu.
Licença, Raul: já que “agora pra fazer sucesso/ Pra vender disco de protesto/ Todo mundo tem que reclamar// Eu vou tirar meu pé da estrada/ E vou entrar também nessa jogada/ E vamos ver agora quem é que vai guentar”: desde criança, sou vítima da opressão brutal do horarismo. Você talvez nunca tenha escutado o termo (afinal, o inventei na frase anterior), mas é um mal onipresente, insidioso e discreto, cujo objetivo é desacreditar os milhões que, como eu, acordam tarde. “Deus ajuda quem cedo madruga” está para o horarismo como “Direitos humanos para humanos direitos” para o bolsonarismo.
( Raul Seixas – Eu também vou reclamar )
Durmo todo dia às três ou quatro da manhã, acordo 11 ou meio-dia. Não interessa se entre a meia-noite e as quatro eu encontre a cura pra caspa ou acabe com a chaga da água no ketchup, aos olhos da sociedade, meus olhos inchados no horário de almoço revelarão sempre um vagabundo. Um preguiçoso. Improdutivo.
Se hoje, aqui, aceito a dor da exposição, assumindo-me um acordatardista, é para despertar os outros que sofrem em silêncio (ou roncando). Precisamos denunciar a opressão. Mais do que isso, precisamos mostrar que aquilo visto como vício, na verdade, é virtude. Sair da cama depois das dez é um ato libertário, subversivo e anticapitalista.
Certeza que dá pra puxar alguma frase do Foucault para dar embasamento. “A microfísica do poder opera no adestramento dos corpos, preparando-os para a exploração do capital, a partir do panóptico de pulso, i. e., o relógio”. (A frase não é do Foucault, mas ninguém precisa saber, precisa?).
Citei Raul, mas nosso hino, que bradaremos de peito aberto aonde quer que formos (das 11 em diante), será com esses versos do Chico Buarque (representante fundamental, ao lado do Caetano, dos acordatardistas): “Eu faço samba e amor até mais tarde/ E tenho muito sono de manhã/ Escuto a correria da cidade, que arde/ E apressa o dia de amanhã// De madrugada a gente ainda se ama/ E a fábrica começa a buzinar/ O trânsito contorna a nossa cama, reclama/ Do nosso eterno espreguiçar// No colo da bem-vinda companheira/ No corpo do bendito violão/ Eu faço samba e amor a noite inteira/ Não tenho a quem prestar satisfação.”
Uma das contas que sigo lá no Instagram é o Questão de Linguagem (@instagram.com/qlinguagem), criada por um professor de português e com dicas e curiosidades muito legais. Uma das mais recentes foi a seguinte:
“Você sabe qual é a relação entre as palavras “idiota” e “política”? Os gregos antigos inventaram muitas coisas, ideias e conceitos que a gente usa até hoje. Uma das principais invenções deles foi a “pólis”. A gente pode traduzir “pólis” por “cidade”, mas era uma cidade com mais autonomia que as de hoje, uma organização social constituída de cidadãos livres, que discutiam e elaboravam as leis. Tudo que dizia respeito à “pólis”, formava a “polítika”. Portanto a política era de interesse de todo cidadão, embora nem todo cidadão se interessasse por ela. Naquele tempo havia algumas pessoas que não se preocupavam com os outros cidadãos da “pólis”, eram egoístas, só desejavam saber de si mesmos, não se interessavam por política. Os gregos chamavam que não queria participar da política de “idiotes” [idiotas], que queria dizer, literalmente, habitante de si mesmo, morador de si próprio.”
Bicho desconfiado que sou, ainda assim fui dar mais uma fuçada na Internet e encontrei lá no Dicionário Oxford:
“ETIM gr. idiotes: indivíduo particular (em oposição a homem do Estado), cidadão plebeu; ignorante, sem educação, pelo lat. idiota,ae: pessoa sem instrução, ignorante, tolo”
Pois é
Pelo quadro político brasileiro hoje, qualquer coincidência é mera semelhança…