Teclando sem parar (ou: para que serve a tecla Scroll Lock)

“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.”

Esse é o meu grau de satisfação de hoje…

Mas vamos por partes; deixa eu explicar melhor essa bagaça!

Pra começo de conversa, modéstia às favas, permitam-me explicar uma coisa: eu digito bem bagaráy!

Como já é de ampla sabedoria de quem já me conhece, sou daquelas criaturas do século, ou melhor, do milênio passado. Quando microcomputadores ainda estavam nas fraldas e celulares, como hoje os conhecemos, nem em filmes de ficção científica existiam. Sou da época da máquina de escrever e do “cursinho de datilografia” – no qual me diplomei em 1981 e com 8,5 de nota final!

Desse modo, quando a era digital chegou, teclados nunca foram um problema para mim. Vejam só, existem várias tabelas e parâmetros no que diz respeito à velocidade de digitação, sempre vinculados à taxa de precisão – afinal, não adianta nada digitar rápido e errado, né? Tirando uma média, temos que um usuário considerado “normal” digita aproximadamente numa taxa de 40 PPM (Palavras Por Minuto); um avançado chega a 60 PPM; o profissional já bate na casa dos 80 PPM; e daí pra cima as classificações ficam meio malucas… Mas basta saber que os digitadores mais rápidos do mundo, variando de acordo com seu idioma, conseguem, em média, digitar até 170 PPM, sempre considerando a utilização de um teclado QWERTY (depois eu explico).

Bem, de acordo com alguns desses testes online (fiz mais de um, só pra ter certeza), este nada modesto escriba que vos tecla consegue atingir uma média de 83 PPM com 98% de taxa de acerto. Ou seja, estou longe de ser um “astro”, mas tá pra lá de bom.

Só que para isso eu também sempre precisei de um teclado à altura, ou seja, um teclado que aguentasse o tranco – e da perspectiva de meu 1,90m de tamanho, com um par de mãos que parecem mais dois cachos de banana nanica, isso não é fácil não!

Foi por isso que meu primeiro teclado, que comprei em 1993 via “reembolso postal”, era um gigantesco DISMAC padrão ABNT2 (um dos primeiros do Brasil com essa disposição de teclas). Numa época em que cá na terrinha grassavam os 386 e o sonho de dez em cada dez engenheiros eram os 486 com coprocessador matemático, eu me contentava com o computador que estivesse à mão – mas sempre com o meu teclado me acompanhando. O que, naqueles tempos em que o usual eram os “teclados americanos”, sem o “Ç” (cê-cedilha), me dava uma trabalheira danada, pois eu sempre tinha que reconfigurar os arquivos de inicialização do MS-DOS – o Senhor Autoxec.bat e a Madame Config.sys – para “aceitarem” meu teclado diferentão…

E – pasmem! – ele me serviu muito bem durante 25 anos. Sério. Somente no ano de 2018 é que ele morreu de morte matada e não de morte morrida, por uma idiotice minha. É que o conector original desse teclado era do tipo DIN (cerca de 1cm de diâmetro e cinco pinos), de modo que por muito tempo eu o utilizei com um adaptador para PS/2 (mais moderno, com cerca de 0,5cm de diâmetro e seis pinos), mas eis que as placas dos computadores ainda mais modernos passaram a ter como porta de entrada somente o padrão USB (que hoje todo mundo conhece bem).

E apesar de estar muito feliz com meu teclado durante todo esse tempo, quando, em meados de 2018, meu querido Alfa-5 partiu para a “grande nuvem”, eu tive que buscar uma maneira de me (re)adaptar. Para quem não lembra, a história completa está neste link, na qual consta inclusive a seguinte notinha da época:

“NOTA DE FALECIMENTO: depois de sete anos de excelentes serviços prestados, comunico a passagem do meu aguerrido computador. Há tempos já vinha dando sinais de esgotamento nervoso, com eventuais lapsos de memória e desmaios repentinos. Passou por uma recente cirurgia de transplante, após uma súbita parada de fonte. Parecia estar bem, mas hoje, por volta de 06h10min, teve um colapso fulminante e não reagiu mais aos tratamentos de ressuscitação artificial. Deixará saudades e um grande vazio em minha mesa e outro maior ainda em meu bolso.“

Isso porque seu substituto, o Alfa-6 (que apesar de todos seus esforços de processamento, não teve vida longa), somente tinha portas de entradas no padrão USB, de modo que aquele monte de penduricalhos de adaptadores (do antigo para o moderno e deste para o atual) estava me incomodando – e muito!

Assim, pela primeira vez em toda sua longeva vida, levei meu teclado para um “técnico”, o qual havia me garantido ser possível fazer a troca daquele ultrapassado conector DIN por um novíssimo USB. Nunca antes tive que fazer nenhuma manutenção nele – exceto por uma única vez, quando pedi para minha querida amiga Ligia fazer uma profunda higienização no coitado e ela teve o zelo e cuidado de desmontá-lo inteirinho, limpar tecla por tecla, e tirar uma quantidade de imundície que resultou numa bola de sujeira do tamanho de uma bola de golfe!

Infelizmente o tal do técnico não teve o mesmo zelo e cuidado que ela…

Primeiro ele me disse que o teclado havia para de funcionar e estava tentando descobrir o porquê. Depois fechou a loja. Então se mudou pra roça. E a partir daí não tive mais notícias do falecido. O teclado, não o técnico.

Paciência. Vida que segue.

No início de 2019 rendi-me à modernidade e parti para o mundo dos notebooks. Um potente e modernoso Dell que veio a ser batizado de ALPHA7. E, como se pode imaginar, com aquele teclado do tamanho infantil, impossível para mim de utilizá-lo com desenvoltura, portanto fui experimentando o que tinha à mão: teclados com fio, teclados sem fio, de marca, sem marca, nada muito satisfatório (ou durável), mas que dava pro gasto. Ao menos por algum tempo.

Somente por sugestão do filhote mais velho é que lá pelos fins de 2023 resolvi testar um teclado mecânico gamer, teoricamente mais robusto do que tudo que eu vinha destruindo utilizando até então. Dei uma boa fuçada e numa razoável relação custo/benefício escolhi um da marca Aurum.

E não é que deu certo? Bastava desativar aquele árvore de natal de cores piscantes e pronto. Estava ali um teclado aparentemente resistente o suficiente para aguentar minhas extremamente longas marteladas diárias.

Já em meados de 2024, depois de cinco anos sofrendo na minha mão, o notebook começou a dar sinais de senilidade. Antes que fosse tarde demais, botei para correr os escorpiões de meus bolsos e comprei um novo notebook. Novamente da Dell. Gostei da marca, fazer o quê?

É meu equipamento atual, cuja designação Borg é ALPHA8, e tem superado minhas expectativas.

Porém, muito mais cedo do que eu esperava, esse “novo” teclado começou a dar um probleminha. Talvez uma coisa idiotamente irrelevante para qualquer outra pessoa, mas não para mim, que trabalho digitando e transcrevendo textos praticamente todos os dias, por horas a fio. De quando em quando, ao apertar a barra de espaços, em vez de dar um espaço, ele dava dois. Todo o resto funcionando perfeitamente, menos isso.

Até entendo do porquê dessa específica tecla apresentar defeito. Ela simplesmente é A MAIS UTILIZADA do teclado em qualquer texto, pois todas as 26 letras do alfabeto (mais acentos, números e outros símbolos) se alternam entre si para formação das palavras, mas entre elas SEMPRE vai ter um espaço. Ou seja, uma hora dessas tinha que dar xabu. E, no caso, se apresentou na forma desse soluço espacístico. Que nem seria tão relevante assim.

Mas, gente, eu sou perfeccionista. Ou, ao menos, tento ser.

Tá, somente talvez eu tenha um bocadinho de TOC também…

Mas já estava ficando insuportável ter que revisar tudo que eu digitava à caça dos espaços duplos!

Novamente conversei com o filhote mais velho – Técnico em Informática, Engenheiro da Computação, com formação em Marketing e prestes a se formar em Gastronomia (o_O) – e perguntei-lhe se não seria possível simplesmente fazer uma troca de switches, ou seja, da tecla da Barra de Espaço por uma outra que estivesse funcionando mas que não fosse utilizada, como, por exemplo, a tecla Scrol Lock.

(Cá entre nós: alguém NO MUNDO usa essa merda dessa tecla? Eu não uso. NUNCA usei. Aliás, nem sei pra que serve e o porquê de ainda continuar nos teclados atuais. E afinal de contas, para que serve a tecla Scroll Lock? Segundo o Sr. Google, ela remonta aos primórdios da computação, criada pela IBM com o objetivo de modificar o comportamento das teclas das setas direcionais. Num mundo de telas pequenas e ambientes baseados somente em texto, quando ativada, fazia com que as teclas de setas rolassem o texto sem precisar tirar o cursor do lugar. E nos dias de hoje? Como fazer essa “tão importante” tarefa? Basta usar a porra do botão de rolagem do mouse! Caráy! A tecla Scroll Lock é um anacronismo, uma relíquia desnecessária de um passado que ainda continua incorporada nos teclados e inútil para 99,9% de todas as pessoas DO MUNDO! E só não digo que é para 100%, porque vai que tem algum idiota preso no passado e que gosta de ficar usando funções e equipamentos de outra era…)

Enfim, o filhote disse que isso não era possível, pois o switch da barra de espaço era diferente dos das demais teclas e não seria intercambiável.

Dito isso, joguei a toalha e pedi para que ele escolhesse um teclado bão pra mim. Decidiu por um da Logitech. Déis vêiz sem juro no cartão e tá tudo certim. Inclusive já chegou, está aqui instalado e funcionando muito bem, obrigado.

Mas, ainda assim, permaneceu um gigantesco sifonáptero mordiscando na parte posterior de meu pavilhão auricular.

Pior do que estava não poderia ficar (na verdade, poderia sim, mas deixa pra lá), então resolvi desmontar o teclado defeituoso e verificar se ainda seria possível fazer alguma coisa com ele que não fosse usar de raquete para frescobol.

Pela segunda foto já deu para perceber que não existem diferenças entre as switches, né?

A única parte “complicada” é que a fixação de cada switch se dá através de duas perninhas soldadas na placa de circuito impresso. Ainda bem que meu pai me deu uma pistola de ferro de solda (a mais velhinha e detonada dentre as várias que ele tinha, mas zuzo bem), e mesmo com muito cagaço e pouca habilidade, consegui trocar as peças de lugar.

Depois de montado, conectei-o no note para testar.

Quinze minutos ininterruptos e cerca de 1.200 palavras depois, fui revisar o texto.

Sabem quantos espaços duplos?

NENHUM!

Baita orgulho de mim mesmo…

E já que estou MUITO satisfeito com meu novo teclado novo, sorte do filhote caçula, que ganhou um novo teclado velho em perfeito funcionamento!

*   *   *

Emenda à Inicial: Sobre o “Teclado QWERTY”. Imagino que para quem se depara com um teclado de computador pela primeira vez deve parecer um negócio bem esquisito. Por que todas as letras do alfabeto ficam assim “bagunçadas”? Não seria mais fácil – e mais lógico – simplesmente dispor essas letras em ordem, de modo a serem encontradas mais facilmente, sem precisar ficar decorando posições? Pois é. Mas isso é uma herança da época das máquinas de escrever. Para quem nunca se deparou com uma dessas “máquinas de digitação” (como contei aqui, quando meu filhote caçula tinha lá seus dez anos…), trata-se de um equipamento cujas teclas estão ligadas mecanicamente a hastes em cujas pontas estão os “tipos” (caracteres, como num carimbo); ao se pressionar a tecla a haste é movida para diante fazendo com que o tipo pressione uma fita com tinta e deixe sua marca no papel. Esse é o princípio básico da máquina de escrever. E, segundo diz a lenda, funcionaria muito bem se o datilógrafo teclasse DE-VA-GAR – o que, obviamente, não era o caso quando de sua criação, no longínquo século XIX, de modo que quanto maior a habilidade, mais as hastes simplesmente se encavalavam umas sobre as outras. Qual seria a solução? Rearranjar as teclas num padrão em que as hastes das letras mais utilizadas (na língua inglesa) ficassem distantes uma das outras, diminuindo a velocidade do operador e evitando o engarrafamento literário. Ou seja, o que se conta é que foi um padrão de disposição de letras criado para resolver um problema mecânico das máquinas de escrever. O que, de qualquer forma, não faz nenhum sentido para este nosso mundo digital!

Assim, do nada…

Hoje sonhei com o Bica.

Para os que não sabem ou não se lembram, o Bicarato (Paulo Henrique de Almeida Bicarato) foi um de meus melhores amigos, mas faleceu em 2020 (e não, não foi por conta da Covid). Um cara zenzacional e qualquer pessoa que tente descrevê-lo vai descobrir que não existirão duas descrições idênticas, pois ele era único, inclusive com cada pessoa com a qual se relacionava. Apesar de vários pontos em comum, cada um lembra dele por alguma característica específica.

No sonho estávamos aprontando das nossas, nos divertindo, e ele, como sempre, fazendo suas bicaratices

Mas em determinado momento me dei conta que ele já havia falecido, então como ele poderia estar ali, comigo? Então, sem acordar, percebi que estava sonhando. E, idiota que sou, em vez de aproveitar e desfrutar a oportunidade de mais uma vez ter o prazer de sua adorável companhia, fui para um canto e fiquei contemplando o cenário onde estávamos.

E chorei.

No sonho, chorei.

Amargamente, chorei.

Torta de Limão (com comentários)

Lembram-se da famosa receita da “Torta de Morango… (versão masculina)”? Aquela baseada na “Torta de Morango Tão Fácil de Fazer, que eu Tenho Até Vergonha de Dar a Receita”? Então. Acho que desde essa época nunca mais compartilhei nenhuma outra receita por aqui. Só acho, mas de certeza não tenho nada… Sendo assim, vamos recuperar o tempo perdido (como se isso fosse possível) e bora pra cozinha!

A iguaria a seguir, no original, foi sugerida lá no Nossa Cozinha, do UOL. Já os comentários foram deste humilde escriba que vos tecla…

Deliciosa e refrescante, torta de limão não é difícil de fazer; aprenda

A torta de limão é uma sobremesa fácil de fazer, refrescante e que agrada muita gente. Veja como preparar uma, sem complicações.

INGREDIENTES

Massa

2 xícaras de chá de farinha
(É “xícara de chá”, e não “chá de farinha”, ok?)
3 colheres de sopa de açúcar
(Mesma coisa: não me venham com “sopa de açúcar”…)
1 pitada de sal
80 gramas de manteiga gelada
(É LÓGICO que TODO MUNDO tem uma balança de cozinha em casa para pesar isso, né?)
1 ovo
3 colheres de sopa de água
(Alguém me explica o que é uma “sopa de água”, faz favor…)

Recheio

1 lata de leite condensado
(Use o conteúdo, não a lata.)
1/2 lata de creme de leite
(Ou você também usa o conteúdo ou serra a lata no meio.)
1/2 xícara de chá de suco de limão
(Olha aí! De novo! “Chá de suco de limão”. Pfff…)
Raspas de limão

Merengue e finalização

Merengue (francês, suíço ou italiano)
(“Merengue” nada mais é que a clara de ovo batida com açúcar. Mas aí começa a viadagem… MERENGUE FRANCÊS (utilizado para suspiros e receitas que vão ao forno, pois as claras ainda estão cruas): para cada quantidade de claras, acrescenta metade do açúcar e bate até dar volume; depois acrescenta a outra metade do açúcar. MERENGUE ITALIANO (indicado para marshmallow, para “maçaricar”, para substituir o creme de leite na preparação de mousses): é feito a partir de uma calda de açúcar com água; ferve a calda sem mexer até chegar no ponto de bala mole; agora basta pegar seu termômetro de cozinha (!!!) e aos 115° começa a bater as claras em neve, ao chegar aos 121° despeje a calda sobre as claras em neve, ainda batendo, e deixe continuar batendo até esfriar. MERENGUE SUIÇO (para sobremesas que vão na geladeira, para cobrir um bolo ou um cupcake): leve as claras com o açúcar ao fogo e vai mexendo até atingir 60°; daí leva para a batedeira até dar consistência. OU SEJA: BATE LOGO ESSA CLARA E ESSE AÇÚCAR E JÁ TÁ DE BOM TAMANHO!!!)

MODO DE PREPARO

Massa

Em um bowl (Que nada mais é que uma tigela, uma cuia, um iremono redondo. “Bowl”… Que frescura!), coloque a farinha, o açúcar, o sal e a manteiga em pedacinhos (Mas é TUDO em pedacinhos? Como é que se faz isso com a farinha, o açúcar e o sal?). Misture tudo, amassando com as mãos (Favor lavá-las ANTES de, literalmente, botar a mão na massa, tá bom?) até virar uma farofa grossa. Adicione o ovo e continue misturando. Em seguida, adicione a água aos poucos até unir todos os ingredientes. Embrulhe a massa no papel filme (OPA, OPA!!! Na parte de ingredientes ninguém falou nada de “papel filme”! E agora, se não tiver?) e deixe na geladeira para descansar por 30 minutos (Ou, se estiver com muita pressa, deixe apenas meia hora.). Abra a massa com o rolo (Rolo? Que rolo? Serve garrafa de vidro? Tem umas de cerveja sobrando aqui num canto…) e cubra sua forma. Fure o fundo da massa com um garfo e leve para assar em forno preaquecido a 200° até dourar (A massa, não a forma.).

Recheio

Misture com o fuet (Esse povo tá me tirando… “Fuet”, ou fuê, ou fouet, ou vara de arames, ou – A-HA! – um BATEDOR DE CLARAS!) o suco de limão e o leite condensado. Adicione o creme de leite e misture novamente. Despeje na torta já assada e fria e leve para gelar por 30 minutos (Mas se não tiver nenhuma pressa, pode então deixar por meia hora.).

Merengue

Coloque as claras e o açúcar dentro de uma tigela de vidro ou inox (Decida-se. Não sei cozinhar e esse monte de opções só me embaralha a cabeça…), para cozinhar em banho-maria, mexendo sempre com um fuet (Ói ele aí de novo…). Tome cuidado para não cozinhar as claras (Mas se cozinhar, bota num pão, taca sal, lancha, e começa tudo de novo.).

Para verificar o ponto, retire uma porção da mistura com uma colher e com a ponta dos dedos (Você tinha lavado as mãos, não tinha?) verifique se as claras estão aquecidas e sem grãos de açúcar. Transfira a mistura para a tigela da batedeira e bata em velocidade alta (Tome cuidado com as vias com radares para evitar multas!) por cerca de 10 minutos ou até esfriar (Opções, opções, opções… Conto o tempo ou espero esfriar? DECIDA-SE!) e formar um merengue firme.

Finalização

Desligue a batedeira (Não é óbvio? Mas se quiser fazer com ela ligada, tudo bem. Só que, antes, deixe filmando para que a gente também possa se divertir com o resultado, tá bom?), retire a torta da geladeira e cubra-a com o merengue. Retorne a torta ao forno por cerca de 10 minutos. Sirva a torta gelada (Como, se acabou de sair do forno???).

Receita de Cris Freitas, culinarista; sarcasmo do Adauto de Andrade, anarquista.

 

☝️ Minha parte eu já fiz. Trouxe a receita. Quando estiver pronto, por favor, me chamem. Tô aqui, esperando.

E esse alemão me deixa louco…

… ou não.

Mas vamos lá.

Meus pais já estão bem velhinhos.

Isso é fato.

Meu pai, com seus 86 anos completos, até que ainda está razoavelmente lúcido, apesar de o raciocínio estar beeeeeem devagarzinho; porém, fisicamente, está muito debilitado. Não que as condições gerais do organismo não estejam boas, tais como coração, pulmão, circulação, etc. Mas é que nos últimos anos ele simplesmente “desistiu”. Não quis mais saber de executar as pequenas tarefas de casa, de sair, de andar, de tomar sol, de ver gente, de nada. Atualmente só fica deitado. O dia inteiro. E, é lógico, o corpo atrofia, né?

Já minha mãe, com quase 80, fisicamente até que está bem, apesar da batelada de remédios que tem que tomar diariamente. Mas há aproximadamente um mês a cabecinha desarranjou. Teima que “aquele homem” deitado na cama não é o marido dela, que o “verdadeiro” marido saiu e vai voltar a qualquer momento, às vezes não lembra que tem netos, não lembra que tem noras (nesse caso não sei se seria de propósito…), e de quando em quando ainda teima que quer ir embora, pois não reconhece a casa onde ela viveu praticamente desde que casou.

Aparentemente é “esse tal de Alzheimer”

Mas vamos tentar entender melhor essa bagaça. Na prática, “demência” é um termo geral que engloba várias doenças que se manifestam com declínio na memória ou de outras habilidades de pensamento suficientemente severas para reduzir a capacidade de uma pessoa de realizar as atividades diárias, sendo que a Doença de Alzheimer é responsável por aproximadamente uns 70% dos casos de demência. Antigamente a demência era incorretamente referida como “senilidade” ou “demência senil”, o que refletia a crença generalizada, porém incorreta, de que um declínio mental grave seria uma parte normal do envelhecimento.

O nome oficial dessa doença se deve ao médico alemão Alois Alzheimer, o primeiro a descrever a doença, ainda em 1906. Ele estudou e publicou o caso de uma paciente, uma mulher saudável que, aos 51 anos, desenvolveu um quadro de perda progressiva de memória, desorientação, distúrbio de linguagem, dificuldade para compreender e se expressar, tornando-se incapaz até mesma de cuidar de si própria.

E, ao que parece, é “esse tal de alemão” que anda atormentando minha mãe…

Dia desses, por exemplo, ela me ligou e não dizia coisa com coisa, que queria ir embora daquela casa e coisa e tal. Pacientemente falei com ela e acabei desligando. Segundos depois ela ligou novamente com a mesma ladainha. Ainda com paciência, conversamos. E em seguida novamente. A mesma coisa. E depois de novo. E de novo. E mais uma vez. E novamente, de novo, outra vez. Na décima quinta vez (e não, não estou exagerando), simplesmente parei de atender os telefonemas.

Toda essa história foi somente para situar.

Hoje estou aqui na casa de meus pais, dando-lhes suporte para passar este final de semana, no que revezo com meus irmãos nos demais finais de semana. Muito bem. Conectei meu notebook na tomada do telefone e, estando eu na lida com meus processos, vejo minha mãe indo e vindo, passando de um lado para outro, resmungando em voz baixa. É que ela queria ligar para uma de minhas tias para apresentar a ladainha de reclamações de praxe. Tentou o celular (sem bateria), tentou o fixo (desconectado) e já tem coisa de mais de uma hora que ela está com o controle da televisão tentando fazer uma ligação…

E eu aqui, quieto.

Tudo bem, me julguem.

Já sei mesmo que, por essas e outras, devo ir para o inferno.

Mas pelo menos, por hoje, estou conseguindo trabalhar…

Esse povo do Zap ainda me mata…

Gente, vocês têm que prestar mais atenção.

Tubo bem que hoje é Dia das Mães e tudo o mais, mas tem coisa que não se faz.

Olha só, eu participo de um grupo do WhatsApp criado recentemente visando marcar uma festa par reunir todo um povo que trabalhou junto trinta anos atrás! Por mais aguerridos que todos sejam, principalmente no que diz respeito à política, desde o começo já ficou combinado que esse grupo seria bem específico, para matar as saudades, descobrir por onde andam estas ou aquelas pessoas e combinar o dia do evento. E só.

E, ressalvadas raras exceções, o povo até que vem se comportando bem, vá lá. Às vezes um aniversariante daqui, uma dica dali, uma lembrança acolá, e assim vai. Pessoal ajuizado, da velha guarda e na época em que trabalhamos juntos eu mal tinha trinta anos de idade.

Mas gente, mesmo sendo um dos “caçulas” do grupo, eu já passei do meio século de vida!

Já faço parte da turma que é mais convidado para funerais do que para casamentos, meus grupos de amigos tendem mais a diminuir do que aumentar, tenho reservado no guarda-roupa uns conjuntos de “pretinhos básicos” conforme seja a pompa e circunstância da ocasião, até mesmo meu celular já conecta automaticamente na rede wi-fi do crematório local!

Ou seja, fora dos dias e horários comerciais, muito pela manhã ou já à noite, quando toca o alerta do meu celular avisando que chegou mensagem, caramba, isso me gela a alma! NINGUÉM vai te escrever de madrugada dizendo que está com saudades, ou tarde da noite para te convidar para uma festa, ou, ainda, no meio de um domingo modorrento para tratar de algum trabalho pendente. Quando isso acontece, invariavelmente é desgraça ou desgraça. A gente já corre para o telefone pensando em quem morreu, quem foi preso, qual foi o acidente com o carro de quem, se alguém se machucou e assim por diante.

O chegar da idade pode ser, sim, terrível, mas ainda é melhor que a alternativa.

Então, com todo respeito aos mais bem intencionados integrantes desse grupo do qual faço parte, por caríssima e extremíssima gentileza, tenham em mente que SEIS HORAS DA MANHÃ DE DOMINGO NÃO É HORÁRIO PARA COMEÇAR A ENVIAR MENSAGEM DE FELIZ DIA DAS MÃES !!!

E tenho dito.

Pela atenção, esta companhia agradece.

Hebdomadário de um Temulento – II

“Mudança de hábitos”… Whoopi Goldberg que me perdoe, mas isso não é lá muito fácil, não. Ainda mais para um cara como eu, que adora uma rotina. Por exemplo: uma das coisas que costumeiramente costumo, como de costume, fazer, é ir no barbeiro. Nem sempre para cortar o cabelo, mas simplesmente para ficar vagabundeando por lá e tomando umas brejas, pois o ambiente é para lá de acolhedor, como já lhes contei no meu texto Os Barbeiros, lá de 2015. Apesar de que, desde o advento da pandemia, eu não comparecer com a mesma frequência de antes, sempre foi um local que gostei de estar. E, lógico, de beber.

Já tem mais de mês que eu estava ensaiando para ir até lá dar uma aparada na juba, até por uma questão de fidelidade ao Nando, meu barbeiro de plantão. Mas se mudanças são necessárias, por que não começar por aí? Deixemos as brejas de lado! Então combinei com o Vinícius, filho de meu amigo Evandro e que acabou de concluir um curso de cabeleireiro, que no sábado ele iria tosquiar este velho que vos tecla. É não é que ficou muito bom?

         

Um detalhe interessante para os novatos de plantão é que esse Vinícius já conheço de longa data, como dá para perceber nessa foto a seguir, de 2005, onde ele está junto com meu filhote caçula, o Jean (que hoje tem 18 anos), tomando o lanchinho da tarde…

Não mudou praticamente nada, né? Mas o que não mudou também foi minha capacidade etílica de sempre. A operação de desmatamento capilar se deu na casa do pai dele, meu amigo Evandro, copoanheiro das antigas e o remanescente de Los Três Amigos. Ou seja, obviamente, findo os trabalhos, sentamo-nos para tomar umas brejas. É, parece que essa “mudança” meio que não mudou muita coisa para a finalidade abstêmia que eu esperava…

E, pior, por motivos profissionais não pude comparecer na sessão desta semana lá na psicóloga, de modo que também não pude informar que falhei fragorosamente nas duas únicas tarefas que ela me deu: criar novos hábitos (distantes de ambientes etílicos) e tentar me reaproximar de meus filhotes. Até porque uma coisa leva à outra, pois mantendo meus hábitos e minha rotina, de igual maneira mantemos também nosso distanciamento e nossa contumaz falta de assunto.

Mas…

Talvez não seja o caso de simplesmente mudar meus hábitos. Talvez eu possa obter algum sucesso se retomar velhos hábitos que deixei de lado diante dessa minha temulenta desregrada vida. Vejamos o que temos: a reforma do meu Opala 79; a revisão e pintura de minha CB 400 81; pequenos reparos a serem feitos na casa (terei que ordená-los e criar uma lista de tarefas a cumprir); retomar minhas pesquisas genealógicas; organizar as informações para o próximo livro; retomar o projeto do livro de licitações (já perdi o bonde da história uma vez, quando do advento da chamada “Informática Jurídica”); voltar a escrever com regularidade no blog; retomar a digitalização e organização dos processos antigos de quando eu ainda tinha escritório… Enfim, há o que se fazer. Há com que ocupar minha mente para que eu mesmo me afaste dos encantos etílicos que, literalmente, usualmente embriagam minha alma.

Basta começar.

Boa sorte pra mim.

Hebdomadário de um Temulento – I

E eis que finalmente, depois de longo e tenebroso inverno (mais longo que tenebroso), finalmente resolvi dar o primeiro passo.

“Para onde?”, perguntar-me-iam vocês. “Não ‘para onde’, mas para quê”, responder-lhes-ia eu.

Já há muitos anos – eu disse ANOS !!! – que eu estou mergulhado no álcool. E nem é para ver se daria uma boa conserva, hein? Beber, beber, bebi desde a adolescência e durante toda minha fase adulta, mas era aquele negócio de final de semana, ou somente quando tinha uma festa, evento, sei lá, essas coisas. Muito de vez em quando um porre homérico, mas isso era mais exceção do que regra.

Porém de uns tempos pra cá comecei a tomar minhas cajibrinas praticamente todos os dias. Basicamente basta eu por o pé na rua e vou parar em algum canto específico para encher o caneco (na realidade são apenas três os botecos “pé-sujo” que frequento e gosto de frequentar). Não que amarre um porre diário, mas invariavelmente um semanal acaba acontecendo. E – oh, descoberta das descobertas! – percebi que isso está me fazendo mal. Fisicamente e financeiramente. Psicologicamente ainda vou muito bem, obrigado.

Mas mesmo assim somente com um trabalho psicológico é que eu terei como, se não me livrar, ao menos deixar essa bagaça sob controle. Eu acho.

Há meses a Dona Patroa vem me cobrando para tomar uma atitude, inclusive com bons argumentos, para todos os quais eu solenemente faço ouvidos moucos. Mas em determinado momento, nem eu sei o porquê, resolvi aceitar um desses conselhos. E então ela conseguiu o contato de uma psicóloga especializada no assunto, indicada por uma amiga, e o repassou para mim. E levou apenas algumas semanas para que eu agendasse uma consulta com ela…

E lá fui eu para o tal do proseio.

Conversamos um tanto, ela meio que tateando, tentando descobrir um tanto de quem eu sou e como fui parar ali. Minha vontade era já lhe dar alguns de meus livros de presente. “Faz o seguinte: dá uma lida aí no geral e quando concluir daí você me chama, tá bom? Desse jeito poderemos poupar um tanto de palavrório entre a gente e outro tanto de dinheiro para mim.” Mas alguma coisa me disse que não ia rolar. Talvez seja aquele fiapo que restou do que eu costumava chamar de consciência.

Num resumo do resumo do resumo da ópera, basicamente lhe disse que, apesar de ter consciência de meu alcoolismo, não me considero um viciado. Se eu não sair de casa posso ficar dias sem beber e até sem fumar e não sentir vontade nenhuma disso. O que eu quero dizer é que não sinto falta da bebida ou do cigarro, pois meu problema mesmo seria o “sair de casa”. E também não bebo por negação, trauma, fuga, ou seja lá o escambau que for. Bebo porque gosto. Porque é divertido. Eu diria que sou um alcoólatra do tipo do Mussum (quem aí ainda se lembra?), ou seja, um bêbado de bem com a vida. Algo assim.

Ela, por sua vez, me disse que o alcoolismo pode ter três fatores como gatilho: a personalidade, pois o indivíduo tímido bebe para se soltar (nem com o mais hercúleo esforço, simplesmente não consigo me imaginar como uma pessoa tímida que precisa beber para se soltar – antes o contrário, taca cachaça em mim pra ver se eu calo a boca!); a genética, pois o indivíduo pode ter um histórico familiar de alcoólatras (e nesse caso não teria o que se fazer, pois se tá no sangue, tá no sangue – que o digam meus avôs tanto paterno quanto materno, que adoravam tomar um porre de vez em sempre); e a sociedade, pois o indivíduo bebe para estar com os amigos, para fazer parte de uma “turma” ou algo do gênero (é, acho que a coisa deve ser mais ou menos por aí mesmo…).

Ela também citou que o primeiro passo mais importante já foi dado, que é eu reconhecer que tenho um problema. Comentou que, apesar de não adotar esse sistema, no grupo dos Alcoólicos Anônimos esse é o primeiro dos doze passos para se tornar um abstêmio, conforme consta lá no site deles: “1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”.

Passinho meio exagerado pro meu gosto, quando assim descrito. Prefiro simplesmente reconhecer que tenho um problema, mas de jeito nenhum que eu tenha perdido o domínio sobre minha vida. Já perdi o domínio sobre a conta corrente, sobre o cartão de crédito, sobre ter razão numa discussão com a Dona Patroa e até sobre “desta vez é mesmo a saideira, verdade”. Mas sobre minha vida? Nãnãninãnão!

Bão, enfim, proseia daqui, proseia dali, conto um tantinho do meu dia a dia e da minha vida e ela chegou a algumas conclusões e me deu algumas orientações:

Primeiro: eu estou tentando parar de beber porque gosto de mim, faço isso por mim, e não o faço porque quero agradar alguém ou atender o desejo de seja lá quem for.

Segundo: mudança de hábitos são importantes, ou seja, sair da espiral descendente na qual me meti e criar novos hábitos, novos percursos, novas tentativas, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais est… Pôrra! Eu sempre caio nessa mesma esparrela do Star Trek! Caráy… Enfim, devo criar novos hábitos. É isso.

Terceiro: tentar me reaproximar de meus filhotes, restabelecer o vínculo que, antes mesmo de cair na bebedeira, eu já havia perdido, conforme deixei claro no meu texto Pais e Filhos.

Muito bem, são essas as minhas “tarefinhas” para a semana, mas mesmo assim confesso, sem nenhuma culpa ou modéstia, que só não passei num boteco depois da consulta porque já estava tarde e eu tinha que voltar pra casa…

Tá certo que o que eu queria mesmo era fazer como Mário Prata descreveu em seu livro Diário de um Magro – e ói que eu até consegui achar qual foi o spa que ele citou no livro: é o São Pedro Spa Médico, que fica em Sorocaba, SP. Eu cheguei até mesmo a fazer uma cotação de quanto seria ficar pelo menos uma semaninha por lá, e me responderam que o pacote de uma semana para uma pessoa, no apartamento suíte standard (ar condicionado, frigobar, TV a cabo, Internet wireless, telefone e secador de cabelo), com eletrocardiograma, acompanhamento médico, clínico geral, psicólogo, avaliação geral com fisioterapeuta e nutricionista, com enfermagem 24 horas, direito a uma massagem anti-stress (hmmmm….), atividades físicas (caminhadas, hidroginástica, alongamento, ginástica localizada, aulas de ritmos, aula de tênis, etc), tendo sinuca, ping-pong e pebolim, com café da manhã, almoço, jantar e lanches inclusos, e mais uma caralhada de coisas, sairia pela módica quantia de R$ 4.500,00 à vista (ou 6 vezes no cartão, com juros extorsivos).

o_O

Foda-se.

Vou ficar mesmo é com minha psicóloga de cem contos por sessão.