Não, não, vocês não estão no blog errado não!
Mas temos que dar a mão à palmatória que, dos modelos nacionais disponíveis à época, o Maverick foi o único capaz de competir com o Opala. Tanto assim o é que restam perguntas idiotas até hoje, capaz de arrepiar qualquer opaleiro: “é V-4, V-6 ou V-8?”
E mais: esses “45 anos” são do lançamento dele lá fora, pois no Brasil ele somente viria a ser lançado anos depois, em 1973, especificamente para “combater” o Opala que já havia sido lançado em 1969. Mas o Maverick não durou muito. Já em 1979, com pouco mais de 100.000 unidades fabricadas, deixou de ser produzido. Enquanto que o Opala resistiu até 1992, encostando em um milhão de unidades…
Mas vamos à matéria em si, que roubartilhei daqui:
Exatamente 5 anos mais novo que o Mustang, carro “econômico” da Ford também foi fabricado no Brasil
É bem verdade que o Ford Mustang é mais marcante e famoso, e 50 anos é algo realmente marcante, mas não podemos nos esquecer de outro Ford que nasceu exatamente 5 anos depois com objetivo oposto e que também tem uma legião de fãs – ao menos no Brasil: o Maverick.
Era o final da década de 60. A Ford já experimentava o sucesso do Mustang, o primeiro dos “Pony Car” e a crise do petróleo ainda pertencia ao futuro. Mesmo assim, buscava um veículo compacto, barato e econômico – nos padrões da época – para concorrer com carros europeus e japoneses, como Fusca e Corolla, algo que o Ford Falcon, grande e obsoleto não era capaz de fazer.
Sendo assim, em 17 de abril de 1969 a Ford lançava o Maverick. Custava 1.995 dólares e tinha 15 opções de cores. O sucesso foi fulminante. Ainda no primeiro ano de vendas o modelo teve 579.000 unidades comercializadas, superando o próprio Mustang. Os motores eram dois, um 2.8 de 82 cv e 17,8 kgfm e 3.3 de 91 cv e 21,3 kgfm, ambos de seis cilindros. As linhas do carro eram semelhantes às do Mustang, porém simplificadas. Apesar de tudo, não deixava de ser um belo carro.
Logo surgiriam outras versões. Em 1971 o Maverick recebia o famoso V8 de 302 Polegadas Cúbicas que equipava algumas versões do Mustang, mesmo com a Ford temerosa acreditando que isso macularia a imagem de seu carro “econômico”. Ela estava errada… Logo surgiam versões esportivas e até mais luxuosas, como os Maverick Sprint e Grabber e o Mercury Comet, que por fora tinha apenas capô e grade diferente. Os dois modelos fizeram sucesso mesmo depois do estouro da crise do petróleo, em 1973 e foram produzidos, com poucas modificações, até 1977.
Já no Brasil…
No final da década de 60 as operações da Ford no Brasil eram modestas. Do que restou da recém-adquirida Willys Overland conseguira criar o Corcel e manteve em linha modelos já existentes, como o Aero Willys 2600 e sua versão de luxo Itamaraty. O Galaxy já era fabricado, mas era muito luxuoso – tinha direção hidráulica, ar condicionado e câmbio automático! – e caro. O lançamento do Chevrolet Opala fez a Ford procurar um modelo médio-grande para assumir um posto intermediário em sua linha.
Isso motivou a Ford a criar uma das clínicas de produtos mais curiosas de que se tem notícia no Brasil: fez evento secreto, com a participação de 1.300 consumidores, onde apresentou diferentes veículos sem nenhuma identificação. Entre eles estavam o inglês Ford Cortina, o alemão Ford Taunus, o norte-americano Ford Maverick e até o Chevrolet Opala, cedido pela própria GM. O modelo preferido foi o Taunus, mas sua produção por aqui seria inviável devido à alta tecnologia que o modelo empregava, tanto na suspensão quanto nos motores, pequenos e modernos demais para o Brasil daquela época.
Sobrou pra quem? Pro carro econômico, barato e concorrente do Fusca vendido nos Estados Unidos, uma atitude que seria repetida centenas de vezes pela indústria nas décadas seguintes.
Como o motor original do Maverick era de seis cilindros e o Salão de São Paulo de 1972 já estava se aproximando, a Ford optou por produzir o modelo, adaptando o bloco utilizado pelos Willys de seis cilindros na época. O motor era grande demais para o capô do Maverick, por isso modificações precisaram ser feitas. O redesenho do coletor de escape causou queima da junta do cabeçote nos testes, sendo necessário recorrer a uma galeria externa de refrigeração específica para o cilindro mais distante na frente. A taxa de compressão do motor foi reduzida para 7,7: 1. O motor 184 3.0 de modestos 112 cavalos estava pronto para ser lançado como versão de entrada, tendo como topo de linha o V8 302 5.0 de origem mexicana, que produzia 197 cavalos.
O primeiro Maverick brasileiro saiu das linhas de montagem em São Bernardo do Campo em 4 de junho de 1973. Em 20 de junho acontecera sua apresentação para a imprensa no Autódromo de Jacarepaguá (R.I.P.). As versões disponíveis eram três, Super (básica), Super Luxo ou SL (intermediária) e GT (top de linha). O Super e o Super Luxo podiam ser encontrados tanto na versão coupé, de duas portas, e sedan, de quatro portas. O motor era o 3.0 seis cilindros, mas opcionalmente poderia contar com bloco V8 5.0. A transmissão era manual de quatro marchas no assoalho ou automática de três velocidades na coluna de direção. Elogiou-se muito sua agilidade, conforto e silêncio ao rodar.
Mas logo os defeitos do carro viriam à tona. Ele era apertado no banco traseiro, a visibilidade traseira era ruim por causa de seu formato fastback e o seis cilindros que não convertia toda a gasolina que consumia – e não era pouca – em potência. Chegava a beber mais que o V8 e andava menos que um quatro cilindros. A crise do petróleo que superava nos Estados Unidos, por aqui era um obstáculo.
Em 1976 o seis cilindros foi trocado por um mais moderno, quatro cilindros de 2.3 e 99 cavalos de potência, com torque de 16,9 kgfm. O 3.0 fazia 0 a 100 km/h em 19,4 segundos, atingindo pouco mais de 150 km/h. O 2.3 por sua vez demorava 17 segundos para alcançar os 100 km/h partindo da imobilidade. Se a melhora no desempenho não foi significativa o consumo foi beneficiado. O 5.0 V8, por exemplo, fazia 0 a 100 km/h em 11 segundos, segundo a Ford.
O Maverick não foi um sucesso nas vendas por aqui. Uma grande parte da culpa por isso ter acontecido foi o motor 3.0 de seis cilindros que bebia muito e rendia pouco. Nos anos da crise do petróleo isso foi fatal para a imagem do modelo. Os danos foram tão graves que nem o novo bloco 2.3 conseguiu apagar a fama de beberrão do Maverick.
Em 1977 uma nova tentativa de fazer as vendas do Maverick subirem: chegava o Maverick fase 2. Esteticamente este modelo trazia nova grade, novas lanternas traseiras maiores, novas faixas decorativas, entre outros detalhes. O interior era novo. Na mecânica, a suspensão foi revisada para o uso de pneus radiais, os freios foram melhorados e a bitola do eixo traseiro estava mais larga.
A versão LDO – Luxuosa Decoração Opcional – era novidade. O Maverick GT agora vinha com motor 2.3 de série, sendo o 5.0 V8 um opcional para os que queriam mais desempenho, sem se preocupar com o consumo. Com estas mudanças o Maverick sobreviveu até 1979, quando deixou de ser produzido. Ao todo, foram 108.106 unidades fabricadas no Brasil.
A vida após a aposentadoria
Com a segunda crise do petróleo o preço de carros como o Maverick no mercado de usados despencou. Com o alto consumo de combustíveis e a manutenção, que havia se tornado mais cara após o fim da produção, o Maverick saiu das casas de famílias de classe média e foi para subúrbios, onde era mal cuidado. Foi marginalizado e logo esquecido.
Alguns proprietários contornavam os problemas substituindo o motor original de seis cilindros por outros, mais econômicos, o que incluía até o 4.1 do Opala, eterno rival do Ford. Apesar de tudo, alguns proprietários ainda mantinham seus carros originais. Ainda bem!
Hoje raro e valorizado por colecionadores, sobretudo na versão V8 5.0 GT – unidades impecáveis chegam aos seis dígitos -, o Maverick é um objeto de desejo, um clássico! Sem dúvidas, um ícone da indústria automotiva nacional, que completa 45 anos!