Notícias do Front

18 de janeiro

Última vez que escrevi neste Diário de Guerra. O Opala 79 foi recolhido ao estaleiro para manutenção definitiva de seu casco. O preço combinado será acertado conforme vá sendo necessária a reposição de armamento nos estoques do armeiro-mestre (também conhecido como “O Pintor”). Tenho esperanças que, após essa batalha em especial, o conflito gerado por essa guerra esteja próximo do fim.

20 de janeiro

Foi necessária uma mudança estratégica. Devido às divergências verificadas no alto comando do lar fui obrigado a mudar para outra trincheira. Meus soldados (filhotes) ficaram sob o comando da General. Tive que abandonar todo o armamento de reposição do Opala, que ficou sob ferrenha guarda na garagem do bunker. Nas instalações dessa nova trincheira não há espaço suficiente para manutenção do veículo. Vou me virando.

1º de fevereiro

O armeiro-mestre pediu que lhe fizesse a primeira parte do pagamento. “O que é combinado não é caro” – eu sempre digo. Mas sou obrigado a admitir que esse pedido não veio em boa hora. Os recursos e mantimentos estão escassos nessa nova trincheira. Com isso tornam-se ainda mais profundos os ferimentos infligidos à minha conta-corrente. Tentei estancar esse derrame com empréstimos e malabarismos no pagamento das contas, mas sem muito efeito. O tom de vermelho se alastra cada vez mais e começo a ficar preocupado.

27 de fevereiro

Primeiro sinal de um armistício. Fomos, eu, a General e os pequenos soldados, almoçar todos juntos numa zona neutra, noutra cidade. O local: Engenho Velho,  em Santa Branca. O meio de locomoção foi o Corsa. Sem maiores conflitos, mas os soldados – ainda que não o demonstrem – parecem apreensivos. Na volta fico na minha trincheira. Preocupações inúmeras me passam pela cabeça. Concluo que preciso dar início a um fim nessa guerra.

13 de março

Nova tentativa de armistício. Todos juntos novamente, dessa vez para o Restaurante das Águas, em Igaratá. Meio de locomoção: Poseidon, a viatura também conhecida como Opala 90. Gentilezas e afabilidades durante todo o dia de negociação (até porque era aniversário da General). Mas ainda paira um clima tenso no ar. As questões referentes ao Opala 79 parecem nem existir. Continuo preocupado.

26 de março

Exércitos amigos (família) se reúnem para comemorar o aniversário do soldado mais novo, Jean. Assumo meu tradicional posto na artilharia da churrasqueira. Exagero no combustível. Tanta cerveja e cachaça afetaram minha mira e acabo atirando e acertando onde não devia. Comoção nos exércitos. Recolho-me à minha trincheira e rezo para um fim de tudo aquilo. Até porque não me lembro de nada. Todas negociações voltaram à estaca zero.

9 de abril

No meio dos combates, ao menos um alento. Grande desfile de máquinas de guerra de outrora (também conhecido como X Encontro de Veículos Antigos de Jacareí). Maravilhas de máquinas! Entretanto o céu foi inclemente e muitas delas foram abandonadas à própria sorte no meio da batalha das águas, numa vã tentativa de demonstrar seus atributos anfíbios. Nenhuma o tinha. É certo o seu recolhimento às docas e aos estaleiros para minimizar as avarias. Fico triste, mas compreendo que são perdas da guerra contra o tempo…

2 de maio

Meu aniversário. E eu aqui, solitário, ainda recolhido às trincheiras, sem notícias do Opala 79. Nem mesmo para novos pagamentos. Encontro com o armeiro-mestre e ele me garante que tudo está bem. Fico preocupado, mas confio. Até porque a conta-corrente ainda sangra. Ainda mais em dias frios.

4 dejunho

Pequena licença que me auto-impus nas altas paragens de São Francisco Xavier, para refrescar a cabeça.

24 de junho

Resolvi fugir do confronto. Munido do Poseidon, um tanto de coragem e mais nada, rumei para as devastadas plagas de São Luiz do Paraitinga. Realmente foi possível esquecer um pouco dos horrores da guerra, mas eis que as forças inimigas (inimigas?) conseguiram me localizar e providenciar minha dentenção. Amarguei horrores (sem cerveja) recolhido atrás das grades (da cadeia da festa junina). Traumatizei. Com muita lábia, experiência de guerra e perícia em geral (paguei dérreal pra sair) consegui abandonar aquele ambiente inóspito e peguei estrada de volta, camuflado pela madrugada. No dia seguinte verifiquei que o pára-choque do Poseidon estava totalmente amassado. “Bêbado é uma merda”, pensei.

30 de junho

Levei o Poseidon, verdadeira máquina de guerra, ao latoeiro para consertar o pára-choque, lataria e mais um pouco. Uma semana. Ficarei desarmado nesse meio tempo, a mercê de caronas alheias. Mais um pouco da conta-corrente que, certamente, irá sangrar. Tenso.

9 de julho

Missão especial à FLIP, em Paraty. Grande aventura na trilha de uma estrada interditada que não apresenta nenhuma condição de tráfego, a que faz ligação entre Cunha e Paraty. Dificuldades inomináveis. Detalhe: a viatura da missão era um Astra. Ainda assim, conseguimos o impossível. Sobrevivemos. E o veículo também.

30 de julho

Rendo-me ao inevitável. A batalha junto ao alto comando atingiu níveis insustentáveis. Sinto muito a falta de minha Tropinha de Elite. Negociei os termos de minha rendição. Por enquanto continuo em minha trincheira, mas com um possível e gradual retorno ao quartel. Entretanto as negociações (muitas vezes tensas) continuam, assim como tabém a guerra da reforma – esta sem trégua.

1º de agosto

Primeiras baixas. O pacto de rendição cobrou seu inevitável preço. Além de links que se perderam, caíram também o Facebook e o Twitter. O Orkut já tinha sido o primeiro a cair, antes mesmo da mudança de trincheiras. Aguento firme e me convenço de que será o melhor para o moral da tropa.

15 de agosto

Resolvo furar o bloqueio do silêncio imposto até então e mando notícias às Tropas Aliadas (outros opaleiros). Afinal tenho que ter um mínimo de consideração por aqueles que sempre estiveram do meu lado nas mais diversas fases das mais diversas batalhas dessa guerra. Manifestações de apoio e de apreço me dão ânimo pra continuar. Respiro fundo. O que tiver que ser, será.

20 de agosto

Acirrada negociação com o alto comando. Corpo a corpo inevitável. Pactuamos os termos finais da rendição. O desmanche da trincheira tem início.

22 de agosto

Acabo a decodificação de imagens do Projeto 676. Todas estão linkadas corretamente, o que importa na possibilidade de desvinculação do antigo – e ultrapassado – Opala Adventure. Com esse novo armamento à mão fico mais confiante. Ainda falta decodificar as mensagens do antigo para o novo (sessenta e cinco páginas de comentários), até porque muitas mensagens encaminhadas ao antigo precisam ser transpostas para o novo, bem como devidamente respondidas – por mais que o tempo tenha passado (nenhuma o foi nos últimos meses de conflito). Devo-lhes isso. A todas as Tropas Aliadas. Espero que tenham paciência. Ainda hoje começo.

Mas, sobretudo, acerca da reforma é preciso que saibam: a luta continua!!!

11 comentários em “Notícias do Front”

  1. Adauto.

    Quero o parabenizar pela página.
    Tive a feliz sorte de ao acaso encontrá-la e poder conhecer suas diversas empreitadas com os diferentes carros e ao mesmo tempo também poder mergulhar de certa forma em sua vida.

    Se antes tinhas 6 que o acompanham, me some neste grupo.
    Sou de Porto Alegre/RS, propritário de um coupe 72.

    Força!!! Momentos difíceis são superados … grande abraço!

  2. saudaçoes, nao desista do seu projeto pois quando terminar vai valer a pena, e espero sinceramente que voce resolva seus problemas conjugais, e dinheiro a gente com o tempo sempre da um jeito abraços.

  3. Em uma das minhas pequisas noturnas na internet, sobre minha área de atuação projetos mecânicos, encontrei um site entitulado de projeto 676. Fiquei curioso e acabei entrando para dar uma conferida sobre seu conteúdo.
    Para minha surpresa era um blog de um entusiasta do famoso bolido, opala 6 cil. até hoje marca presença no quesito de carros de alta performance.

    Olha gostei muito do conteúdo, li cada detalhe e achei muito interessante o projeto e também como é rico de informações de cada detalhe. E me fez lembrar da época quando eu montei um maverick super 1974 6 cil.
    No qual eu mesmo desmontei mandei para pintura e o montei novamente, porém com um propursor 302cc. V8 com uma pequena alteração na alimentação aumentando pequena proporção sua capacidade de potência.

    Mas enfim, sem delongas parabenizo pelo projeto e também o jeito que vc retrata no blog muito legal mesmo.
    Espero que continue, e eu acompanharei sempre que possível.

    Sorte na sua empreitada, e um conselho; “cuidado isso vicia” quando terminar vai querer fazer mais um.

  4. Lucas, caríssimo opaleiro riograndesulense! Apesar das diversas empreitadas, o “foco” ainda continua – e continuará – sendo o bom e velho Opala 79. Ah, um dia eu termino!

    Sheilíssima (assim, sempre no superlativo), as batalhas não necessariamente terminaram, mas a vida no quartel tem lá seus prazeres – se é que me entende… Vamos levando e aguardando o desmontar da trincheira… 😉

    Renon, só pra constar – e, talvez, diferentemente da maioria dos opaleiros que conheço: não, não foi o Opala o estopim dessa guerra. Na realidade, como de praxe, eu consegui SOZINHO me meter em toda essa confusão… O Opala – graças aos céus – ficou fora de todo esse enrosco e posso retomar as atividades reformísticas sem maiores neuras!

    Eduardo (AC? DC, não?…), do projeto não desisto, dos problemas conjugais vou dando um jeito… agora… dinheiro? Não se tem problemas quando não se tem a fonte dos problemas! 😉

    Mr. “ó-ponto-éle”, diários de guerra são assim mesmo… Mas não se preocupe, pois, como já lhe disse, as coisas vão se ajeitando…

    Daniel, que mais posso dizer senão obrigado! E que vicia, vicia, é claro! A ferrugem já corre nas veias de maneira total e completamente inafastável!!!

    😀

  5. Adauto, eventualmente acessava o Opala Adventure na época em que tive meu 1° opala 73. Agora que adquiri um outro, ano 79, e volto a buscar antigas referências, me deparo com o seu relato dos últimos acontecimentos

    Vejo que a vida imita a reforma das nossas máquinas – as coisas nem sempre funcionam como gostaríamos

    Já passei por situação similar há uns anos atrás, infelizmente o quartel se desfez, a General debandou e a tropinha foi junto. Na época só me sobrou um bólido que me fez compania nos piores (e por que não dizer em eventuais bons) momentos. Reconstruir o que foi devastado e continuar firme nos seus propósitos é outra guerra sem tamanho

    Admiro a sua iniciativa pelo site e a teimosia em não abandonar os seus objetivos perante as tribulações, pois estas vão e voltam, os projetos permanecem, muitos eternamente inacabáveis. Mas o que nos faz mais humanos ainda é essa paixão inexplicável por sonhos que contraria qualquer argumento racional, a esperança de algum dia vê-los concluídos independentemente dos obstáculos a serem transpostos

    Boa sorte no desfecho e força para permanecer firme na frente de batalha, abç

  6. Meu caríssimo “Angoleiro”, me diga: o que é essa lágrima teimosa que, do nada, apareceu por aqui? Você, assim como eu, e provavelmente como os demais membros dessa classe opaleira, só acabou corroborando que por trás de toda essa teimosia, ferrugem e toneladas de ferro e aço, também bate um coração…

    Batalhas vêm e vão e virão – mas a guerra está longe de terminar! Então, como diria meu copoanheiro Bicarato, “hasta la victoria siempre, pero parando en los bares de lo caminito!!!”

    😀

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